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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Sobre bustos e pombos

 Guilherme Baumhardt


O deputado distrital Chico Vigilante, do PT, defendeu nesta semana que o Brasil renda homenagens ao ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes. Vigilante, que é legislador no Distrito Federal (não na Câmara dos Deputados – graças a Deus!) gostaria de ver bustos de Moraes espalhados por praças, parques e espaços públicos país afora. É uma ideia cujo único destino plausível, neste momento, é a lata do lixo.

Para o petista, Moraes “enquadrou todos os malfeitores contra a democracia”. Fidel Castro, Pol Pot e Mao Tsé-Tung também gostavam dessa ideia de enquadrar, especialmente aqueles que levantavam a voz contra o regime e a revolução. Vigilante não parou por aí. “Alexandre de Moraes merece um busto em cada praça, em cada recanto deste país, em função da coragem cívica que ele está tendo”, completou. A verborragia do nosso valente democrata e atento vigilante pela “democracia do cala a boca” foi além: “(A atuação de Alexandre) foi determinante para que a República continuasse de pé”. Como uma estultice destas não merece ser levada a sério, vamos partir logo para o deboche.

No Brasil Maravilha, esta ilha criada durante a campanha pelo inebriado petismo do Grande Líder Vermelho, a Associação Brasileira de Pombas e Assemelhados saudou a decisão. Em nota, a entidade escreveu: “Vemos com bons olhos – e intestinos – a iniciativa. Bustos ajudam na hora de cumprir a missão de emporcalhar a cidade. Funcionam como alvos. Aproveitamos o ensejo para solicitar uma medida cautelar, junto ao ministro Moraes, contra aqueles que nos agridem com chutes e pontapés quando caminham nas calçadas das grandes cidades brasileiras”.
A Associação Democrática e Popular do Marketing aproveitou para faturar um tutu. No embalo da Copa do Mundo e bebendo na ideia lançada por um fabricante de refrigerantes, que criou os “mini craques”, a entidade resolveu oferecer aos associados o “Mini Xande”. Um pequeno boneco, dotado de pouco cabelo, posicionado sobre a Constituição. Um sucesso de vendas. Nunca antes na história “deztepaís” um fenômeno assim foi visto. Uma febre nacional!

Como a ideia de Chico Vigilante ecoou pelo país, não faltaram parlamentares tentando tirar uma casquinha. Aqui e ali surgiam outras iniciativas semelhantes, sempre buscando homenagear o ministro. Nomes de ruas, escolas, viadutos, pontes. Mas nada, nada, nada comparado à proposta de grêmios estudantis e diretórios acadêmicos de universidades. Por que não batizar nossa capital nacional com o nome do grande líder? A inspiração desta turma é soviética. Sai Brasília e entra uma nova “nomenklatura”. O que é melhor? Alexandringrado? Ou Moraeslingrado?
Voltando à vida real e deixando o delírio de lado, pergunto: quais as chances de uma ideia assim, sem pé (mas com cabeça, afinal, é um busto) prosperar? Em um país sério, eu diria que zero. Mas estamos em Banânia, este lugar sui generis, que se ofende com palavrão dito por governante, mas não vê grandes problemas em corrupção, censura e prisões arbitrárias, produzidas à margem da lei.

A liberdade respira

A Prefeitura de Porto Alegre deu uma excelente lição sobre como deve ser encarada a manifestação que acontece em frente ao Comando Militar do Sul. No lugar de agir como se fosse uma espécie de Gestapo, identificando e registrando aqueles que ali estão, a procuradoria do município lembrou que o direito à manifestação está garantido na Constituição. Até segunda ordem, não houve ali qualquer incidente que justificasse a intervenção do poder público. Além disso, diferentemente de manifestações do MST e afins, a vida da cidade não foi prejudicada pelo grupo que há dias se reúne na região. Parabéns ao prefeito Sebastião Melo, ao procurador-geral do município e todos os demais envolvidos. Ventos de liberdade ainda sopram na capital.

Correio do Povo

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