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domingo, 18 de setembro de 2022

Monarquia referendada, mas há graves problemas

 Desafios que Charles III tem que enfrentar abalam a unidade do Reino Unido



A monarquia britânica está passando com sucesso por mais um teste de popularidade. Impressionam não só a pomba com que tem se revestido todos os atos realizados desde a morte da rainha Elizabeth II, mas, principalmente, a comoção da população britânica, com a reverência que tem prestado à falecida monarca. Filas em Londres que se estendem por mais de 6 quilômetros, desde o Palácio de Westminster, onde está o caixão, ao longo do rio Tâmisa, passando da Torre de Londres. Mais de 12 horas de espera para poder passar defronte ao caixão. Buquês de flores serpenteiam pelo Hyde Park. Para completar, o sepultamento da rainha nesta segunda-feira deverá contar com as presenças de vários chefes de Estado e de Governo.

Tudo isto se deve em grande parte ao carisma de Elizabeth II, a soberana mais longeva no trono britânico. Daí o desafio que se apresenta para Charles III no sentido de preservar este culto à monarquia. Tarefa difícil para quem não tem o carisma da mãe. E que ainda deve se defrontar com crescentes problemas que vêm abalando a unidade do Reino Unido. Problemas estes que se acentuaram com o Brexit, a saída do RU da União Europeia. Tudo que vinha sem imposto dos demais países europeus agora é taxado. Na Escócia, que votou pelo não à saída, cresce o movimento separatista. Já está em organização outro plebiscito para que a população se manifeste sobre a permanência ou não como membro do Reino Unido.

Na Irlanda do Norte o problema é mais grave. O Brexit reabriu uma ferida que fora cicatrizada depois de muitos anos de lutas entre católicos, defensores da união do território à república da Irlanda e protestantes que querem a manutenção do presente status quo. Não é sem razão que, tão pronto assumiu, Charles III tratou de visitar aquela área do reino. O que ocorre é que a república da Irlanda é uma ilha e na sua formação original era composta por 32 condados e uma população majoritariamente católica. Pertencia ao Reino Unido. Quando desenvolveu seu movimento de independência, Londres tratou de povoar com protestantes uma área de seis condados ao Norte da ilha. Assim, concedeu a independência à Irlanda, mas a apenas 26 condados, conservando os seis que chamou de Irlanda do Norte. Ao longo de muitos anos foi mantida uma luta cruel entre as duas partes, a qual só acabou com o chamado “Acordo da Sexta-feira Santa”, assinado em abril de 1998. A rainha Elizabeth II foi parte importante para a pacificação. O Brexit trouxe de volta a fronteira alfandegária que havia sido eliminada com a adesão à União Europeia.

Assim é que, passada a comoção da morte da rainha, Charles III vai ter que lidar com todos esses desafios. E esta é uma herança nada boa que recebe.

Correio do Povo

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