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sábado, 7 de maio de 2022

Dólar fecha em R$ 5,07, maior valor em quase 2 meses

 Moeda norte-americana engatou a terceira semana de alta


O dólar emendou o segundo dia de alta firme no mercado doméstico na sessão desta sexta-feira superando a barreira de R$ 5,10 nos momentos de maior pressão, e encerrou a primeira semana de maio com valorização de 2,68%, vindo de uma escalada de 3,81% em abril. Pela manhã, operadores voltaram a relatar fluxo de saída de ativos locais, com investidores dando continuidade a movimentos de ajustes e realização de lucros acumulados ao longo do primeiro trimestre para cobrir prejuízos em outros mercados.

Dados da B3 divulgados nesta sexta mostram que os estrangeiros retiraram R$ 2,309 bilhões da bolsa na quarta-feira levando os saques em maio a R$ 5,667 bilhões - mais da metade das retiradas líquidas em abril (R$ 7,6 bilhões). Com isso, o saldo positivo acumulado no ano, que chegou a superar R$ 60 bilhões, passou a ser de R$ 51,983 bilhões. Não há números atualizados sobre o fluxo cambial, dada a paralisação dos servidores do Banco Central, mas analistas acreditam que houve saídas expressivas pelo canal financeiro em abril e neste início de maio.

A busca pela moeda norte-americana se dá em meio à inflação elevada e a temores de desaceleração da economia global, em razão da perspectiva de aperto monetário mais intenso nos EUA e da perda de fôlego da atividade na China, que passa por lockdowns para conter a covid. Há também preocupações com impacto inflacionário provocado pela continuidade da guerra na Ucrânia e pelas sanções do Ocidente à Rússia. A União Europeia debate um embargo completo ao petróleo russo.

Dados do relatório de emprego nos Estados Unidos (payroll) em abril, divulgados pela manhã, ajudaram a encorpar a visão de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) terá que acelerar a alta de juros para domar a inflação.

Monitoramento da CME Group mostra que as apostas de elevação da taxa básica americana em 75 pontos-base em junho chegaram a ultrapassar 90%. Isso a despeito de o presidente do BC americano, Jerome Powell, ter dito na quarta-feira, após a decisão de subir a taxa em 50 pontos-base, para a faixa entre 0,75% e 1%, que uma alta dos juros em 75 pontos-base não é algo que o Fed esteja "ativamente considerando". O BC americano também ratificou na quarta o início da redução do balanço patrimonial a partir de junho, o que significa redução da liquidez.

No exterior, o dólar subiu em relação à maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, embora recuado frente a alguns pares do real, como peso mexicano e chileno. As bolsas em Nova York tombaram e a taxa da T-note de 10 anos, principal ativo do mundo, subiu mais de 2%, atingindo 3,12% na máxima. O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - chegou a ensaiar um ajuste maior de baixa pela manhã, em razão da recuperação do euro após declarações em tom duro do Banco Central Europeu (BCE). Quando o mercado local fechou, porém, já operava com queda moderada, na casa dos 103,600 pontos, nível mais elevado em 20 anos.

Por aqui, o dólar trabalhou em alta ao longo de toda a sessão e superou a casa de R$ 5,10 ainda pela manhã, correndo até a máxima de R$ 5,1147 (+1,96%), com investidores digerindo dados do emprego nos Estados Unidos. Já no início da tarde, divisa moderava os ganhos e operava abaixo de R$ 5,10. No fim do dia, o dólar era cotado a R$ 5,0754, em alta de 1,17%, fechando a semana com valorização de 2,68%. Com a arrancada dos últimos dias, a baixa acumulada em 2022 passou a ficar abaixo de dois dígitos (-8,98%).

Principal indicador do dia, o payroll mostrou criação de 428 mil vagas de emprego nos EUA em abril, acima do esperado (400 mil). Houve revisão para baixo nos dados de março (de 431 mil para 428 mil) e de fevereiro (de 750 mil para 714 mil). A taxa de desemprego permaneceu em 3,6%, levemente acima do esperado (3,5%). Já o salário por hora subiu 0,3% em abril, ante previsão de 0,4%, mas teve alta de 5,5% na comparação anual de abril, em linha com as expectativas.

"O mercado já não acredita que altas de 50 pontos-base vão conseguir conter a inflação. O Fed vai ter que aumentar mais os juros e isso terá impacto no crescimento da economia. Isso fez o dólar subir no mundo inteiro", afirma o especialista em renda fixa da Blue3, Nicolas Giacometti. "Não temos dados do fluxo cambial, mas o mercado já começa a enxergar uma reversão da postura do estrangeiro neste segundo trimestre."

Para o time de Macro & Estratégia do BTG Pactual, o Fed vai promover mais quatro elevações da taxa básica em 50 pontos-base nas próximas reuniões, com uma alta de 25 pontos no último encontro do ano, para a faixa entre 3% e 3,25%. "O quadro de juros nos EUA é um dos vetores contrários para o real e as demais moedas emergentes", afirma.

Por aqui, o BTG Pactual aposta em fim do ciclo aperto monetário em junho, com uma alta final da taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, para 13,25% ao ano, "patamar atrativo para investidores estrangeiros". A equipe do banco ressalta, contudo, que os riscos fiscais voltam a ter protagonismo no debate econômico doméstico, dada a indefinição em torno do reajuste salarial dos servidores.

Apesar da depreciação do real em abril e neste início de maio, a equipe do BTG Pactual mantém a projeção de dólar no fim de 2022 a R$ 4,80. A perspectiva é que o aperto monetário americano, que traz um movimento de depreciação ao real, deve ser contrabalançado, a partir de novembro, pela redução das incertezas domésticas e pelo preço elevado das commodities, em linha com a estimativa de superávit comercial de US$ 76 bilhões neste ano.

Taxas de juros

Os juros futuros sustentaram-se em alta durante toda a sexta-feira, refletindo preocupações com o efeito do avanço do dólar e do petróleo sobre os preços dos combustíveis e, logo, na inflação. Dado que estes dois fatores orientam a política de preços de paridade de importação (PPI) da Petrobras, a percepção é de iminência de reajustes sobre preços já salgados. A postura defensiva teve ainda respaldo da abertura das taxas longas dos Treasuries.

Na semana, as taxas locais fecharam em níveis bem mais elevados do que os da última sexta-feira, mas sem mudança significativa nas inclinações, na medida em que a curva subiu em bloco.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou a etapa regular em 13,34%, de 13,239% no ajuste de quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2024 avançou de 12,886% para 13,055%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa na máxima de 12,565%, de 12,325% na quinta-feira, e a do DI para janeiro de 2027, também na máxima, terminou em 12,39%, de 12,19%.

A atenção do mercado de juros esteve nesta sexta-feira bastante direcionada ao petróleo e ao dólar, que voltaram a subir, alimentando a percepção de que, a despeito das críticas do governo à política de preços da Petrobras, um reajuste da gasolina e diesel está a caminho. O petróleo subiu perto de 5% esta semana e o dólar nesta sexta chegou a R$ 5,11 nas máximas do dia, fechando em R$ 5,0754.

As cotações das commodities agrícolas até cederam nesta sexta, mas o economista-chefe da Greenbay Investimentos, Flávio Serrano, afirma que "está todo mundo de olho nos combustíveis, dado que a defasagem esta aumentando".

Analistas calculam em mais de 20% o diferencial ante os preços internacionais. Caso o aumento dos combustíveis se concretize, a tendência é de piora nas estimativas de inflação, que já rodam bem acima das metas para este e o próximo ano, exigindo mais da política monetária.

Na pesquisa do Projeções Broadcast, realizada enquanto durar a paralisação do boletim Focus devido à greve de servidores do Banco Central, a mediana de IPCA para 2023 manteve-se em 4,10%, ante meta central de 3,25% para o ano que vem. Para a Selic, a mediana caiu de 9,25% para 9,0%.

O Copom já avisou no comunicado que pretende dar mais uma dose de aperto na Selic em junho, em menor magnitude do que a de 1 ponto porcentual desta semana. Qual será o grau de redução é o que o mercado espera depreender da ata da reunião que sai na terça-feira e se já será possível vislumbrar o fim do ciclo de ajuste.

No exterior, os juros dos Treasuries de longo prazo avançaram com o payroll acima do esperado e o mercado ampliando as fichas na possibilidade de aceleração do ritmo de aperto monetário nos Estados Unidos, para 75 pontos-base. O yield da T-note de 10 anos avançava a 3,122% no fim da tarde.

Bolsa

Em dia volátil, o Ibovespa até tentou se ancorar em bons resultados corporativos domésticos para esboçar uma alta consistente, mas foi prejudicada pelo cenário de aversão a risco global. O sentimento que atrapalha os mercados acionários no mundo é alimentado por uma aposta do mercado de que, a despeito da sinalização dessa semana, o Federal Reserve terá de ser mais agressivo no aumento dos juros, levando as bolsas aqui e lá fora a um dia no vermelho.

O índice brasileiro só não foi pior pelo desempenho sólido do setor financeiro e Petrobras, ancorados em balanços positivos da estatal e do Bradesco, o que chegou a levar a Bolsa momentaneamente aos 106 mil pontos em seu melhor momento (106.267,57).

No dia e na semana, contudo, o Ibovespa acumula perdas. Nesta sexta, de 0,16%, aos 105.134,73 pontos, melhor que os pares em Nova York, com Nasdaq chegando a cair 1,40%. Na semana, o índice brasileiro teve queda de 2,54%.

A Petrobras encerrou o dia em alta acima de 3%, desprezando, ao menos por esta sexta-feira, as provocações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro e o apelo para que não suba os combustíveis. O chefe de Estado chegou a chamar de "estupro" aos brasileiros o lucro da empresa e o consequente repasse da variação do petróleo aos preços nas bombas. O bom desempenho também foi ajudado pelo petróleo, que terminou o dia em alta de 1,34% (Brent). Na seara das commodities, a queda de 4,20% no minério em Qingdao, na China, não permitiu o mesmo ânimo entre as metalúrgicas e mineradoras, com Vale recuando 0,71%.

Lá fora, pesaram os dados de emprego mais aquecidos do que o esperado nos Estados Unidos. "A preocupação voltou aos players e probabilidades implícitas na curva de juros americana precificaram alta de 75 pontos nos juros na próxima reunião", apontou Luiz Adriano Martinez, gestor de portfólio da Kilima Asset.

Com os juros mais altos, o mercado vê um crescimento global ainda mais machucado. A percepção de atividade do mundo se deteriorou muito nas últimas semanas, após dados fracos na Europa e, sobretudo, na China. Com os lockdowns chineses, a percepção é de que há pouco espaço para melhora, mesmo com os anúncios chineses de medidas para estimular a economia. Na ponta positiva do Ibovespa nesta sexta, Alpargatas (+7,44%), Lojas Renner (+5,99%) e Petrobrás ON (+3,78%) e PN (+3,28%). Entre as maiores quedas, por sua vez, Petz (-12,72%), Banco Inter (7,99%) e Locaweb (-7,62%).


Agência Estado e Correio do Povo

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