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sábado, 14 de maio de 2022

Dólar cai 1,61% e fecha semana cotado a R$ 5,05

 Moeda norte-americana acumulou baixa de 0,35% na semana



A recuperação de ativos de risco mundo afora, atribuída à percepção de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não vai acelerar o passo do ajuste monetário, abriu espaço para uma queda firme do dólar no mercado doméstico de câmbio nesta sexta-feira. Operadores relataram fluxo de recursos estrangeiros para a Bolsa brasileira, em dia marcado por valorização das commodities agrícolas e metálicas, e para renda fixa local, dado o diferencial de juros interno e externo.

Afora uma alta pontual na primeira hora de negócios, quando cravou R$ 5,15 na máxima, o dólar operou em queda por todo pregão. Em uma sequência de mínimas ao longo da tarde, chegou a romper o piso de R$ 5,05 e desceu até R$ 5,0475 (-1,81%). No fim do dia, o dólar era cotado a R$ 5,0575, em baixa de 1,61% - o que levou a moeda a encerrar esta semana em leve queda (-0,35%), após ter subido 2,86% na semana passada. Com isso, os ganhos do dólar em maio agora são de 2,32%. Em 2022, a divisa acumula perdas de 9,30%.

Retomando dinâmica vista no primeiro trimestre, o real, que vinha apanhando mais que seus pares nos surtos de aversão ao risco, nesta sexta liderou os ganhos entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities. Profissionais do mercado afirmam que, após a forte reprecificação do real em abril, a divisa começa a encontrar dificuldades para se manter acima de R$ 5,10, dado o alto custo de manter posições compradas em dólar em razão da taxa de juros doméstica elevada.

O índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de divisas fortes - trabalhou em queda, na casa dos 104,500 pontos. O tombo poderia ter sido até maior não fosse a derrocada do iene, após o Banco do Japão sinalizar que vai manter a política monetária expansiva para tentar trazer a inflação para cerca de 2% no curto prazo.

Na quinta, o presidente do Banco Central americano, Jerome Powell, reiterou que o plano de voo da instituição é promover altas de 50 pontos-base na taxa básica dos EUA nas próximas duas reuniões, embora tenha ressaltado que pode "fazer mais ou menos" dependendo do desempenho da economia.

Nesta sexta, o presidente do Federal Reserve (Fed) de Minneapolis, Neel Kashkari, disse que o BC americano vai fazer tudo que for necessário para controlar a inflação, mas que tem esperança de que o aperto monetário não precise ser tão agressivo. A presidente do Fed de Cleveland, Loretta Mester, que na terça-feira causou bulício no mercado ao dizer que uma elevação da taxa americana em 75 pontos base não estava descartada, defendeu nesta sexta altas de 50 pontos-base na reunião do Fed em junho e julho. A decisão de acelerar ou diminuir o passo ficaria para setembro.

"Não nos parece essencialmente relevante essa discussão 50 pontos base versus 0,75 pontos base, mas o mercado tem essa tendência de se apegar a pontos focais", afirmam, em relatório, economistas do Banco Original, ressaltando que o índice de preços ao consumidor (CPI) nos EUA em abril, acima das expectativas, "conversa com mais juros" e que a velocidade do aperto passa pelo ajuste fino do Fed. "Olhando para nossa moeda e demais exportadores de commodities, podemos credenciar à desvalorização do yuan (moeda chinesa) boa parte da desvalorização do real e de seus pares nas últimas semanas. Notícias positivas por lá deveriam repercutir positivamente por aqui", afirmam os economistas do Original.

Para o gestor e sócio da Galapagos Capital, Sergio Zanini, o debate em torno de uma alta dos Fed Funds em 75 pontos base "deve voltar à mesa", dada a necessidade de desinflacionar a economia americana. "Vai ser uma pedra no sapato do mercado e impedir uma melhora mais substancial dos ativos", diz Zanini, que pinta um quadro de desaceleração da atividade global em ambiente de inflação ainda em níveis elevados nos próximos meses.

Além da perda de fôlego da economia americana, Zanini mostra preocupação com a China, em razão da política de tolerância zero com a covid-19, e com a Europa. Países da região, como a Itália, apresentam fragilidade fiscal e devem sofrer com a provável alta de juros pelo Banco Central Europeu (BCE) neste ano. "Os apertos monetários nos países desenvolvidos retiram liquidez global em um ambiente de desaceleração da economia, o que é muito negativo para ativos de risco", diz Zanini. "O ambiente é de dólar forte no mundo. O euro pode vir abaixo da paridade com o dólar nos próximos 12 meses."

Apesar do cenário global conturbado e da provável volta da questão fiscal doméstica ao radar dos mercados com a proximidade das eleições, Zanini acredita que o real não deve enfrentar uma rodada forte de depreciação. A moeda local conta com dois trunfos: perspectiva de manutenção de preços de commodities ainda em nível elevados, em razão de gargalos específicos de oferta, e taxa real de juros robusta, quando se compara a taxa Selic com a inflação projetada doze meses à frente.

"O risco maior para o real vai ser o segundo semestre, até a eleição e no pós-eleição, porque não se sabe qual vai ser o regime fiscal. Mas o Brasil deve se beneficiar da questão estrutural das commodities e do juro alto. O dólar deve ficar nesse patamar de R$ 5", diz Zanini, que também aponta o fato da China ter depreciado o yuan como motivo principal para a derrocada do real em abril e na primeira semana de maio.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam com taxas de curto e médio prazos em alta e as longas, em baixa, após alternância de sinais durante toda a sessão e amarradas por um jogo de forças envolvendo o avanço do rendimento dos Treasuries e dos preços do petróleo, com a fraqueza do dólar na contraparte. O noticiário e a agenda estiveram esvaziados, abrindo espaço para que o mercado olhasse mais o exterior, mas ao mesmo tempo desconfiando do apetite ao risco que impulsionou as bolsas, uma vez que o cenário de inflação e atividade global segue cheio de incertezas. Na semana de surpresas com o IPCA, varejo e serviços, a ponta curta se deslocou para cima e a longa, levemente para baixo, configurando perda de inclinação.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 encerrou a sessão regular em 13,44%, de 13,405% no ajuste anterior, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 13,161% para 13,20%. O DI para janeiro de 2025 terminou com taxa de 12,57%, de 12,52% na quinta, e a do DI para janeiro de 2027, em 12,33%, de 12,36%.

Assim como na quinta, as taxas tentaram se firmar em baixa pela manhã, em ajuste ao acúmulo de prêmios promovido principalmente depois do IPCA de abril acima do consenso, mas, sem um respaldo consistente, o movimento perdeu força já no fim da primeira etapa. O apetite pelo risco no exterior não conseguiu estimular a tomada de risco prefixado.

Lá fora, o que animou os investidores foram as declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na quinta, voltando a defender altas de 50 pontos no juro americano e sinais de melhora no quadro de casos de covid-19 na China. Os juros dos Treasuries subiram, com o fluxo direcionado às Bolsas, que tiveram ganho expressivo.

Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Mirae Asset, diz que o mercado está muito sensível ao que vai acontecer com o juro nos Estados Unidos, e, ao mesmo tempo, pessimista em relação à convergência da inflação para as metas. "Não vejo nada no curto prazo que possa trazer a inflação substancialmente para baixo. O Copom até saiu na frente, mas ficou subindo a Selic a conta gotas e agora a política monetária está demorando a ter efeito", avalia. Para ele, se o BC tivesse promovido um "minichoque" de juros, as expectativas poderiam já estar mais ancoradas.

A perspectiva de melhora no sentimento dos agentes fica ainda mais distante considerando-se que o câmbio não deve mais voltar a ficar abaixo de R$ 5 e que a eleição em breve deve começar a fazer preço nos ativos. "Daqui a pouco, com os ataques e questionamentos, a curva vai começar a incorporar prêmio de risco eleitoral", disse Nepomuceno.

Com a divulgação da pesquisa Focus suspensa por causa da greve dos funcionários do Banco Central, o Projeções Broadcast apurou que a estimativa mediana do mercado para o IPCA de 2022 avançou de 8,0% para 8,40% esta semana e a de 2023 foi a 4,30%, de 4,10%.

Bolsa

Em alta entre a última quarta e esta sexta-feira, as três sessões de recuperação do Ibovespa levaram a referência da B3 a acumular ganho de 1,70% na semana, após cinco intervalos de queda, entre todo o mês de abril e a primeira semana de maio. Com o ganho de 1,17% na sessão desta sexta-feira, aos 106.924,18 pontos, vindo de altas superiores a 1% nos dias anteriores, o índice limita a perda acumulada no mês a 0,88%, após correção de 10,10% em abril, a maior perda mensal desde o mergulho de 29,90% em março de 2020, no auge da aversão a risco em torno da pandemia.

Nesta sexta, com giro a R$ 31,8 bilhões, o Ibovespa oscilou entre mínima de 105.690,55, da abertura, e máxima de 107.772,82 pontos, do começo da tarde, tendo encerrado abril a 107.876,16 pontos.

Em dia de recuperação, embora menos vigorosa perto do fim da sessão, os ganhos se distribuíram pelos setores e empresas de maior peso no índice, desde parte dos bancos (Itaú PN +1,18%) até commodities (Petrobras PN +1,30%), em dia de forte alta para o petróleo, com Brent a US$ 111 por barril, e siderurgia (CSN ON +3,94%), após avanço de 1,24% para o minério na China (Qingdao). Na ponta do Ibovespa, Yduqs (+12,11%), Gol (+11,79%) e Azul (+10,65%). No lado oposto, B3 (-3,61%), Cogna (-2,30%) e Raia Drogasil (-1,91%).

Perto do fim da sessão, algumas ações de maior liquidez oscilaram e se firmaram em leve baixa, como Vale ON (-0,12%) e Banco do Brasil (ON -0,14%), o que contribuiu para que o Ibovespa aparasse os ganhos do dia e a recuperação na semana, tendo se mantido acima dos 107 mil pontos ao longo da tarde, chegando a limitar as perdas do mês a menos de 0,2% no melhor momento da sessão. No ano, o Ibovespa sobe 2,01%.

"Na correção que houve desde abril, muita coisa já foi para o preço. No Brasil, essa correção veio com o fechamento, o <i>lockdown</i> na China, que resultou em grande ajuste nas commodities - e também com a inflação em alta nos Estados Unidos, que lança incerteza sobre a extensão e o grau do ciclo de ajuste de juros americanos", diz Cesar Mikail, gestor de renda variável na Western Asset.

Ele observa também que, enquanto a inflação não der sinais de estabilização nos EUA, tal incerteza deve persistir, mesmo com a recente sinalização do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que a opção na mesa para as próximas reuniões é de alta mantida ao ritmo de 0,50 ponto porcentual, e não de 0,75 ponto como se chegou a temer, com o mercado ainda manifestando alguma preocupação quanto à chance de recessão no país em meio ao enxugamento e restrição da liquidez.

"Vimos nesta semana uma cobertura de 'shorts' 'vendidos', os que se posicionavam para quedas, uma correção técnica, também perceptível lá fora. Os 'valuations' precificação dos ativos continuam muito descontados. Algo parecido também se vê na moeda: com juros próximos a 13%, o carrego do câmbio não é brincadeira, dói", diz o gestor.

"O trabalho de casa com relação à Selic está em final de ciclo (de elevação), foi feito em boa parte de 2021, se considerarmos onde os juros estavam no início daquele ano e onde estão agora. Estamos bem adiantados em relação a outras economias, inclusive as grandes, como as de Estados Unidos e Europa. Se a inflação se estabilizar no segundo semestre, ali por setembro ou outubro a discussão no mercado passa a ser de quando os juros começarão a cair em 2023", aponta Mikail, para quem a volatilidade pré-eleitoral tende a ser menor do que em pleitos passados, na medida em que Lula e Bolsonaro, os virtuais finalistas, são conhecidos do mercado, inclusive no exercício do cargo.

Assim, observa o gestor, o principal fator de risco, daqui até lá, permanecerá fora do país: a inflação e a reação dos juros nos Estados Unidos. "A China deve reabrir aos poucos", flexibilizando a tolerância zero à Covid, o que contribui para uma volatilidade menor nas commodities, em momento no qual o setor de bancos - segmento de maior peso no Ibovespa -, muito descontado nos últimos anos, é favorecido por uma boa temporada de balanços e pelo cenário de elevação de juros.

Nos Estados Unidos, na quinta-feira, "Powell foi bastante enfático com relação à trajetória dos juros, com mais duas altas de meio (ponto porcentual), numa entrevista que causou grande repercussão ainda hoje (sexta), com os mercados mais calmos neste fim da semana", observa Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master. "Vai doer um pouco, não dá para controlar a inflação sem desacelerar a demanda, mas ele (Powell) considera possível um 'soft landing' aterrissagem suave, mesmo com o 'mea culpa' de que o Fed deveria ter considerado subir, antes, os juros", acrescenta.

Agência Estado e Correio do Povo

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