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terça-feira, 26 de abril de 2022

Bolsonaro está mais perto da reeleição

 Deysi Cioccari


Maquiavel dizia que o ambiente social e político é imprevisível e o governante deve saber agir. Construir bons acordos é uma arte. E o governante deve ter a inteligência (virtu) para dominar o acaso (Fortuna) e fazer com que esse lhe favoreça. Mas como Maquiavel explicaria Bolsonaro?

A vantagem de Lula sobre o presidente caiu 5 pontos na última pesquisa de intenção de voto. Mesmo com toda a mídia negativa de quem é vidraça Bolsonaro consegue se manter em crescimento. O ex-presidente Lula ainda não conseguiu organizar sua campanha nem fazer coligações que o garanta nos estados. Bolsonaro foi beneficiado pela janela partidária onde o PL, seu partido, saiu como o maior do país, e o Centrão, que o apóia como a grande base do Congresso.

E é aqui que eu retomo Maquiavel: um bom governante precisa de Fortuna e Virtu, mas é impressionante como Bolsonaro abusa da Fortuna a seu favor (o acaso lhe sorri demais!). Sem muita capacidade de construir acordos a sorte parece lhe favorecer.

Os 27 anos como parlamentar inexpressivo no Congresso foram usados na campanha de 2018 como tudo o que é distante da velha política. Bolsonaro conseguiu fazer prevalecer a ideia de que era a nova política confundindo no eleitor falta de historicidade com o novo. Uma série de acasos o levaram à eleição. E, a história parece se repetir.

Bolsonaro foi presidente na pior pandemia que o país já viveu em sua história. Foi contra a vacina, um dos temas mais caros ao brasileiro, que sempre se vacinou, sendo, inclusive exemplo mundial. Trocou de ministro da saúde um sem número de vezes. Tem nas suas costas 600 mil mortos. E, segue subindo nas pesquisas.

Pautou o voto impresso, até então considerado um absurdo num país que tem a urna eletrônica como um de seus maiores objetos de modernidade quando o assunto é eleição. Jogou o decoro presidencial no lixo.

Mas o acaso parece seguir lhe sorrindo. Com a economia desandando, Bolsonaro se faz valer daqueles 30% da população brasileira que ainda abraçam o passado. Quando digo isso me refiro ao fato de uma parte do eleitorado que ainda não cai bem com discussões progressistas. O passo é mais confortável e eu conheço. “Deus, pátria e família” são assuntos que existem desde o Brasil colonial e estão introjetados na população. Aborto, casamento entre pessoas do mesmo sexo são temas novos demais para ocupar uma população que está preocupada com o preço da gasolina. Já dizia Bauman: “vamos reconstruir nossa sociedade em valores baseados no passado como o nacionalismo exacerbado e não com a ideia de um futuro a ser construído”.

Se a Ciência Política consegue explicar alguns pontos sobre o crescimento de Jair Bolsonaro, certamente nem ela imaginava que a Fortuna seria tão eficiente num caso real. Janela partidária, desorganização de Lula, Moro desidratado...tudo conspira para Bolsonaro que, sem o uso da inteligência, parece ser favorecido novamente pelo jogo político. A política é o que é, não o que gostaríamos que fosse.


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