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segunda-feira, 21 de março de 2022

Disparada de alimentos deve seguir 'espremendo' os brasileiros

 por Fernando Canzian

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"Temos como baixar os preços? Não" , diz técnico do governo; produção não acompanhou alta SÃO PAULO

O Ministério da Agricultura acredita que os preços dos alimentos continuarão em patamar elevado e descartou redução de exportações durante a guerra entre Rússia e Ucrânia, medida adotada por alguns países para aumentar estoques.

No Brasil, os principais grãos têm reservas equivalentes entre um e dois meses de consumo, concentradas no setor privado.

Segundo Sílvio Farnese, diretor de Comercialização e Abastecimento do ministério, o governo não tem como adotar medidas para conter a disparada dos preços. Nem como agir para elevar estoques. "Temos como baixar os preços dos alimentos? Não. Aumentar os estoques nesse momento também só traria mais pressão de alta", afirma. "Os preços estão elevados e a tendência é de alta. Mas o melhor remédio para preço alto é preço alto. É isso que incentiva a produção."   Nos últimos dois anos, alguns dos principais grãos produzidos, consumidos e exportados pelo Brasil tiveram aumentos superiores a 100%, casos de trigo, milho e soja. Arroz e feijão, básicos na alimentação, subiram entre 40% e 50%.

Mas a produção de grãos ainda não aumentou substancialmente. Em relação à safra 2019/2020, a alta para a atual será inferior a 4% —considerando a colheita prevista, de 268,2 milhões de toneladas.

Antes mesmo da nova disparada de preços ao longo de 2021 e neste ano, quase 20 milhões de brasileiros, um Chile, declaravam passar 24 horas ou mais sem ter o que comer em alguns dias da semana.

No total, mais da metade (55%) dos brasileiros sofriam de algum tipo de insegurança alimentar (grave, moderada ou leve), segundo inquérito da Rede Penssan.

O quadro vem se agravando com a queda sustentada na renda nos últimos anos. No trimestre de novembro de 2021 a janeiro deste ano, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) registrou nova baixa no rendimento médio do trabalho. A renda real habitual foi estimada em R$ 2.489, menor valor para trimestres comparáveis na série histórica, iniciada em 2012.

Em termos relativos, taxa de desemprego (11,2%) e patamar de renda encontram-se bastante piores no Brasil do que nos países ricos. Como eles ainda têm "gordura" para absorver e sustentar alguma alta nos alimentos, pessoas mais pobres de países como o Brasil devem continuar sendo "espremidos" pela tendência de alta.

Desde que a guerra na Ucrânia estourou, há quatro semanas, os preços de alguns itens como trigo dispararam mais 30%, com ucranianos e russos respondendo por 25% da oferta global do produto. Além da alta na esteira do conflito, os preços de alguns fertilizantes explodiram —o que deve encarecer alimentos em todo o mundo.

Farnese afirma que o Brasil tem estoques de fertilizantes garantidos neste ano e que, mesmo com menos insumos, produtores teriam o campo preparado para aguentar uma nova safra.

"Temos um bom estoque de fertilizantes no solo. Os produtores podem reduzir à metade a fertilização por um período sem comprometer a competitividade", afirma.

Farnese considera que restringir exportações de alimentos no Brasil neste período crítico, a exemplo de Egito e Indonésia, entre outros, provocaria distorções no mercado.

"Fechar a porta [das exportações] para resolver um problema pontual em uma estrutura totalmente integrada ao mercado internacional só traria prejuízos." Segundo ele, a Argentina também considera restringir exportações de trigo.

Além da produção local de cerca de 7,7 milhões de toneladas/ano de trigo, o Brasil importa um montante equivalente a esse para suprir a demanda interna. Cerca de 90% do produto vêm do Mercosul —e não há dependência de trigo ucraniano ou russo.

Farnese afirma que grande parte do consumo de alimentos do dia-a-dia no Brasil é suprida pela agricultura familiar, menos influenciada pelas variações internacionais de preços de grãos/commodities.

Isso se dá sobretudo em frutas, legumes e verduras de propriedades que faturam entre R$ 300 mil e R$ 400 mil por ano. Segundo ele, mais de um terço dos financiamentos do Ministério da Agricultura são destinados a esses produtores.

Fonte: Folha Online - 18/03/2022 e SOS Consumidor

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