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sexta-feira, 21 de janeiro de 2022

Pioneira na aviação de combate a incêndios

 


Gaúcha de Não-Me-Toque está entre as primeiras mulheres que pilotam aeronaves agrícolas e também abre caminhos em mais um serviço de proteção ao campo

Nascida em Não-Me-Toque, há 32 anos, Joelize Friedrichs acostumou-se a voar pelos céus do Brasil como integrante de um grupo ainda restrito, o de mulheres que pilotam aeronaves agrícolas, e se tornou a primeira delas a ingressar na aviação de combate a incêndios em áreas rurais, trabalho que faz desde agosto de 2021 em parceria com bombeiros da Bahia. A conexão com esse meio começou em 2006, quando conheceu o aeroclube de Carazinho. Foi lá que ela voou pela primeira vez e, por ter gostado da experiência, decidiu aprender a pilotar. Em 2012, já trabalhando em serviços de táxi aéreo, Joelize tirou sua carteira de piloto agrícola e desde então se dedica à atividade. “Já trabalhei em alguns estados: aqui no Rio Grande do Sul, São Paulo, Minas Gerais e agora na Bahia”, relata. No início, a aviação agrícola era o limite, mas no caminho os horizontes se ampliaram e agora ela costuma dizer que realizou dois novos sonhos, o de conduzir aeronaves Air Tractor e combater incêndios ao mesmo tempo. Em entrevista ao Correio do Povo Rural, ela fala de seu rotina e de como as mulheres estão entrando também nestas atividades ligadas ao agronegócio e à proteção do campo.

Como funciona o combate a incêndios com aeronave agrícola e quais foram os principais desafios que você encontrou nesse ramo?

No tipo de combate que eu atuo, a gente trabalha em conjunto com os bombeiros militares. A gente realmente decola com água carregada e faz os lançamentos de água para ajudar os bombeiros a apagar as chamas. Acho que uma das maiores dificuldades que eu tive foi para aprender como funciona uma operação: como o fogo funciona, quais são as melhores maneiras para atacar o incêndio... Porque geralmente são incêndios de grandes proporções, então é algo um pouco assustador e tu precisas entender como funciona tudo, para realmente conseguir atacar da melhor maneira, porque não é só sair jogando água, assim acaba não funcionando. Tu tens que atacar nos pontos mais sensíveis do incêndio para conseguir eliminar ele e entender como funciona. Isso foi o mais difícil, porque o voo em si é um pouco complicado também, mas eu tive instrução prática e instrução teórica antes de ir para a missão real mesmo, então foi tranquilo.

Qual foi o maior desafio na sua carreira e formação como piloto?

Acho que o mais difícil até hoje é, com certeza, ficar longe de casa. Às vezes uma dificuldade pequena que a gente tem acaba ficando maior porque a gente se vê sozinha em muitos momentos. Já são muitos anos longe de casa, mas acredito que continua sendo a maior dificuldade. Porque as questões de trabalho, a questão do voo e de ser só eu de mulher voando dá para tirar muito de letra.

Como funciona a sua rotina de trabalho?

A gente procura acordar antes do sol nascer para estar no avião no momento em que começa a clarear o dia. E vai até o final do dia voando. Aí, após a gente encerrar o dia de voo, às vezes a gente ainda tem reunião com bombeiros para traçar a estratégia para o próximo dia, para ver como foi o dia de trabalho, o que tem para melhorar, o que foi muito bom, o que a gente vai repetir... É bem puxado. São poucos dias de trabalho, mas os dias são bem intensos.

Como foi a sua experiência como única mulher nesse meio, o que mais se destacou?

Ah, foi bem bacana. Eu me senti bastante orgulhosa por ser a primeira a estar atuando nisso. Eu tento fazer o melhor trabalho possível, para deixar uma boa imagem e abrir portas para outras mulheres chegarem para voar. Às vezes algumas pessoas até se espantam, porque nunca viram uma mulher voar no combate. A maioria parabeniza, admira e tudo mais. Mas eu acho que o principal, com o que eu me preocupo, é realmente deixar as portas abertas para mais mulheres chegarem para voar no combate a incêndio.

O que você diria para outras mulheres que gostariam de entrar no ramo da aviação?

Felizmente tem algumas meninas que já estão fazendo as carteiras de piloto, que almejam a aviação agrícola e que estão chegando para aumentar o número de mulheres no meio. Quando algumas pessoas vêm perguntar se tem problema ou preconceito, eu sempre falo que quando tu almejas chegar num lugar bacana, falando no sentido profissional, tu vais enfrentar desafios. Não é porque a gente é mulher que é só a gente que enfrenta desafios. Os pilotos em geral têm problemas de ficar longe de casa, às vezes de ficar em alojamento precário e tudo mais. Então eu sempre falo: foca no objetivo maior e evita ficar tropeçando em pequenas adversidades, porque problema todo mundo tem e não dá para ficar usando como desculpa. Fácil não é, mas é totalmente possível, tanto que eu estou aqui.

O que precisa mudar para que mais mulheres entrem nesse tipo de carreira?

Eu acho que muita coisa vem mudando já. As pessoas que estão à frente da aviação agrícola, as pessoas que trabalham no escritório, que trabalham pela aviação agrícola para melhorar as leis, têm trabalhado muito o incentivo às mulheres. Os aeroclubes também, onde começa a formação, têm incentivado cada vez mais mulheres a voar e, se falando da questão de prática da aviação agrícola, as fazendas têm melhorado muito os alojamentos, têm criado alojamentos femininos, o que melhora muito o nosso dia de trabalho. As próprias fazendas têm cada vez mais mulheres trabalhando no setor administrativo, têm mais agrônomas trabalhando. Então está se criando devagarinho, até porque não é uma coisa que eu imagino que vai acontecer tão rápido, de um ano para o outro, mas está crescendo muito o número de mulheres trabalhando junto ao agro e isso facilita muito a inserção de mais mulheres na aviação agrícola. Tudo isso vai facilitando. E nós, as pioneiras, as que estão agora no combate e outras meninas que voam agrícola também, precisamos tentar deixar sempre a melhor imagem para facilitar a chegada de mais mulheres.

Correio do Povo

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