AdsTerra

banner

sábado, 8 de janeiro de 2022

Inflação no Brasil deverá ser menor em 2022, mas acima da meta

 


Sem choques nos preços de combustíveis e energia, como os observados em 2021, no horizonte deste ano, ao menos por enquanto, a expectativa dos economistas é que a inflação desacelere bem em 2022, respondendo ainda ao ciclo de aperto monetário e à normalização das cadeias produtivas globais. Incertezas fiscais e eleitorais e alguma inércia (o quanto a inflação passada impacta a futura), no entanto, impedem que as projeções se aproximem mais do centro da meta de inflação para o ano, de 3,5%.

Pesquisa com 103 instituições financeiras e consultorias aponta um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) mediano no teto de tolerância para 2022, que é de 5%. A “prévia” da inflação de dezembro de 2021, cujo número fechado será conhecido na próxima semana, acumula alta de 10,42% em 12 meses.

A inflação deve desacelerar mais fortemente a partir do segundo semestre de 2022, com o IPCA podendo encerrar 12 meses em 5,2%, estima André Braz, coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia (FGV Ibre). “Energia e combustíveis respondem por quase 50% da inflação do IPCA de 2021. Neste ano, não devemos ter isso nessa magnitude”, diz.

O volume de chuvas se mostrou mais consistente, e “é provável que a gente tenha uma bandeira tarifária menos onerosa em maio”, afirma Braz. “Se o verão continuar chuvoso como começou, isso pode se fortalecer até o fim da estação, impedindo que a gente pague bandeiras muito elevadas no ano.”

Neste caso, não só a conta de luz diminui, como também é uma pressão a menos para indústria e serviços. Os preços de bens industriais devem responder ainda ao aumento dos juros, já que boa parte é comprada com financiamento e parcelamento, lembra Braz.

No caso dos combustíveis, diz ele, o preço do petróleo deve ficar mais comportado, devido a eventuais impactos de novas variantes do coronavírus sobre a atividade global, mas, principalmente, pela retirada de estímulos de política monetária em diversos países.

Com promessas de safras boas — e não só para grandes commodities, como também no arroz e no feijão, por exemplo —, a oferta de alimentos deverá ser capaz de garantir preços mais baixos, afirma Braz. “Se deve fechar 2021 com uma alta de cerca de 8%, neste ano será algo em torno de 4%. Eles não vão ficar mais baratos, mas vão subir menos”, reforça.

Embora parte importante da hipótese dos economistas para a desaceleração da inflação em 2022 dependa dos preços de alimentos e energia, há uma “esfriada de curto prazo” nas expectativas, observa Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original.

“O que vemos no último mês é o milho e a soja querendo voltar para patamares das máximas recentes; o boi pressionado para cima e o petróleo Brent voltando para US$ 80/barril”, exemplifica. “É uma briga entre fundamento de longo prazo sugerindo alívio, mas o curto prazo com coisas invertendo.”

Diante desse cenário, diz ele, a previsão de IPCA para janeiro deste ano fica mais turva. “Abriu um pouco a dispersão das projeções. No último Relatório de Inflação [de dezembro de 2021], o Banco Central tinha 0,15% de IPCA para janeiro, muito por causa da perspectiva mais tranquila para essas commodities. Nós temos algo mais perto de 0,50%”, afirma.

Para 2022, o Original projeta um IPCA de 5,2%. “É uma inflação que desacelera, mas ainda está pressionada”, diz Caruso. Para ele, qualitativamente o número não é bom.

“A parte de preços mais voláteis, ligados às commodities, deveria dar um alívio. Mas, nos preços mais rígidos, como de serviços, temos números mais salgados, próximos de 5,5%. Ou seja, aqueles preços que têm inércia maior continuam subindo.”

A economia brasileira ainda é muito indexada, o que traz uma persistência inflacionária grande para este ano, diz Braz. “Tem muita coisa que vai subir de preço em 2022 devido à inflação de 2021, como salários, aluguéis, impostos.”

A alta, em 2022, do IPVA, imposto calculado sobre o valor dos veículos, cujos preços subiram por causa de gargalos na cadeia, é um exemplo, afirma. Sua projeção de IPCA um pouco acima do teto da meta de 2022 reflete, ainda, incertezas do ambiente fiscal, que contribuem para que o real permaneça desvalorizado.

O Sul

Nenhum comentário:

Postar um comentário