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quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

Estiagem afeta abastecimento de água do Sistema Belém Novo, em Porto Alegre

 Reflexo do calorão e das altas temperaturas verificadas nos últimos dias pode ser percebido à beira da Prainha de Copacabana



O abastecimento de água da população das zonas Sul, Extremo-Sul, Lomba do Pinheiro e Restinga, em Porto Alegre, tem sido prejudicado pelos efeitos da estiagem e da falta de chuva. O problema atinge aproximadamente 240 mil pessoas. Na Estação de Bombeamento de Água Bruta (EBAB) Belém Novo, localizada na avenida do Lami, nº 23, o reflexo do calorão e das altas temperaturas verificadas nos últimos dias pode ser percebido à beira da Prainha de Copacabana. No local há duas captações, uma mais próxima da margem (150 metros) e outra a 2 mil metros de distância.

“A captação da água está situada a dois quilômetros daqui deste ponto. E aquele cone de concreto que dá para ver daqui está praticamente fora da água. Nele podemos enxergar uma linha de onde estaria o Guaíba se o nível estivesse normal”, explicou o diretor-geral do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae), Alexandre Garcia. Segundo informou o dirigente, “nossa capacidade de captação de água é de 1,2 mil litros por segundo, mas quando a obra da Estação Ponta do Arado estiver pronta será de 3 mil litros por segundo, o que deve evitar o problema da falta de água.” Com investimento em torno de R$ 250 milhões, a previsão de conclusão total das obras está prevista para 2024.

O próprio prefeito Sebastião Melo, em entrevista concedida ontem ao programa Agora, da Rádio Guaíba, pediu para que as pessoas poupem água e evitem lavar calçadas e carros. “Com a baixa do nível do rio Guaíba, a captação ficou prejudicada e a qualidade da água captada piorou. É um momento muito difícil e por isso apelo para que façam a economia de água em todas áreas da cidade”, salientou o chefe do Executivo em trecho da entrevista.

A turbidez é diretamente afetada pelo baixo nível do Guaíba, porque acaba trazendo junto muitos resíduos, sedimentos e a própria água chega turva. Conforme o Dmae, no ponto de captação da água na baía de Belém Novo, o atual nível mais baixo no Guaíba, associado ao vento, tem gerado alta turbidez da água bruta. A qualidade da água captada normalmente no Guaíba atinge uma média de 30 a 50 unidades de turbidez (NTU). Atualmente, o valor chegou a 1.000 NTUs, que é o ponto mais alto da escala do turbidímetro (medidor).

Quando a água bruta entra na Estação de Tratamento com alta turbidez, é necessário aumentar a dosagem de coagulantes e reduzir a vazão, para manter o padrão de potabilidade e a qualidade da água. “Neste momento de nível baixo, fica mais difícil de tratar a água vinda da turbidez, que está oscilante. A água é cinza, como dizemos”, relata a diretora de Tratamento e Meio Ambiente, Joicineli Fagundes Becker. “Com os efeitos do La Niña, o lago varia muito e a própria régua de medição localizada na Usina do Gasômetro também varia muito”, acrescenta, citando outras dificuldades enfrentadas em função da falta de chuva.

Na Estação de Bombeamento de Água Bruta (EBAB) Belém Novo, a turbidez ontem era de 150, o que representa cinco vezes mais do que o rotineiro. “Todo o nosso sistema está trabalhando a pleno e a qualidade da água se mantém. Se não houver nenhum outro problema, hoje [ontem] não deverá faltar água na Zona Sul”, garantiu Alexandre Garcia.

Outras medidas utilizadas para atenuar os problemas da população são o uso de mergulhadores para melhorar o entorno da captação da água e manobras de parada das estações de bombeamento para encher os reservatórios e retomar a distribuição. Além disso, há planejamento de caminhões-pipa para atender as comunidades e tem sido realizada a instalação de comportas para isolar as captações em momentos de maior turbidez do Guaíba.

Após a captação de água no Guaíba, seguem as demais etapas do processo, o que acontece na Estação de Tratamento de Água (ETA) Belém Novo, situada na avenida Inácio Antônio da Silva, nº 300. Por causa da situação, os problemas no tratamento de água afetam o abastecimento nas regiões mais extremas, como Lomba do Pinheiro e Restinga. A maior turbidez da água bruta atinge também as unidades de ultrafiltração (UFs) 100% automatizadas e contratadas pelo Dmae para dar suporte ao tratamento enquanto as obras do novo sistema da Ponta do Arado não ficam prontas. Porém, a elevada carga de sólidos da água bruta impede que os equipamentos funcionem em sua plenitude.


Problemas no tratamento de água afetam o abastecimento nas regiões mais extremas | Foto: Guilherme Almeida

O objetivo da ultrafiltração é ampliar a produção no local em até 300 litros por segundo. Com cinco unidades instaladas até o momento, é possível tratar até 220 litros por segundo, mas a instabilidade obriga que as UFs precisem ficar paradas em determinados momentos. “Enquanto as obras da Ponta do Arado não ficam prontas, as unidades de ultrafiltração alugadas dão um gás para ajudar. Estamos com cinco operantes e outras duas estarão em funcionamento para o próximo verão”, salienta o diretor-geral do Dmae, destacando que é preciso produzir no local 1,2 mil litros de água por segundo, o que equivale a mais de 100 milhões de litros de água por dia.

Com a dificuldade na captação, está sendo produzido uma média de 856 litros por segundo (cerca de 74 milhões de litros por dia). Nos horários de pico de consumo, a produção não é suficiente para manter os reservatórios cheios e atender a demanda.

Na sequência do processo, a água passa por várias etapas como dosagem, decantação, filtração e desinfecção. “O nível do Guaíba está muito baixo para o nosso processo de tratamento. A gente acaba limitando a produção e falta água. Nosso problema é a turbidez elevada, pois há muitos dejetos sólidos na água”, revela o coordenador das Estações de Tratamento de Água Sul, Ilo César Garcia da Silva.

Enquanto a solução definitiva não chega, o Dmae apela para o bom senso das pessoas no uso da água. “Estamos agindo muito nesta região, construímos reservatórios novos, substituímos sistemas de bombeamento, entre outras coisas. Mas o sistema está no limite e a solução será a obra da Ponta do Arado. Agora precisamos do apoio de todos, não lavando calçadas ou carros e não desperdiçando água”, conclui Alexandre Garcia.

Correio do Povo

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