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sábado, 14 de novembro de 2020

Com preocupações fiscais com o Brasil, dólar encerra em alta, em R$ 5,47

 Bolsa fecha em alta de 2,16%, com ganho de 3,76% na semana



O dólar fechou a semana acumulando alta de 1,5%, devolvendo parte da queda da semana passada, quando recuou 6%. Os últimos dias foram marcados por forte volatilidade no mercado de câmbio e pela volta ao radar das preocupações fiscais com o Brasil, após uma trégua em meio às eleições americanas. As principais dúvidas dos investidores sobre o orçamento brasileiro continuam sem resposta, sendo a principal delas como o governo pretende financiar seus programas sociais em 2021. Esse ambiente de incerteza fiscal em alta ajudou o real a se descolar de outras moedas emergentes nos últimos dias, mesmo com o forte ingresso de capital externo para a Bolsa, com entradas diárias recordes, superando os R$ 11,7 bilhões esta semana.

O dólar à vista, após novo dia volátil, encerrou a semana em R$ 5,4756, mas ao longo do dia chegou a superar os R$ 5,52. No mercado futuro, o dólar para dezembro fechou estável, em R$ 5,4620.

Para o gerente de tesouraria do Travelex Bank, Felipe Pellegrini, após a forte queda da semana passada e a cair a R$ 5,22, era esperado um ajuste no câmbio. "Houve exagero na semana passada", disse ele. Ele comenta que o crescimento acelerado dos casos de Covid na Europa e Estados Unidos voltou a preocupar, depois de ficar em segundo plano em meio à apuração da eleição americana. Outro fator a gerar desconforto foi o fato de Donald Trump ainda não ter reconhecido sua derrota nas urnas.

No Brasil, Pellegrini ressalta que o principal foco dos investidores segue na agenda fiscal do governo, ainda sem respostas. "As reformas não andam", destaca ele, ressaltando que as mesas de câmbio vão continuar se focando neste assunto nas próximas semanas. Hoje, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a mostrar compromisso fiscal, falar da necessidade de respeitar o teto em 2021 e repetiu que o auxílio emergencial termina dia 31 de dezembro e que o novo programa de renda não será criado se não houver responsabilidade fiscal.

"A semana foi bem instável de forma geral, não só aqui, mas no mercado de moedas global", comenta o diretor de um banco, na condição de anonimato. Para ele, muitos fatores induziram a movimentos "fortes e às vezes erráticos" do real, como a volta dos ruídos envolvendo a prorrogação de benefícios sociais a partir de janeiro, como sinalizou Guedes ontem caso haja uma segunda onda de coronavírus. Este ambiente somado a uma apreciação acima dos pares na semana anterior, explica parte dos movimentos atípicos dos últimos dias, disse o diretor.

"As incertezas quanto à dinâmica fiscal nos próximos anos devem seguir impactando o prêmio de risco brasileiro", afirma o Itaú nesta sexta-feira. O aumento do risco fiscal levou o Itaú a subir a projeção de dólar para o final de 2021, de R$ 4,50 para R$ 5,00. A taxa de câmbio do final deste ano foi mantida em R$ 5,25. É o avanço do ajuste fiscal que vai definir se o real fica mais ou menos apreciado, conclui o Itaú.

Ibovespa

Após duas sessões de ajuste, uma combinação de fatores domésticos e externos contribuiu para que o Ibovespa encerrasse a semana em tom positivo, tendo tocado importante linha de resistência neste intervalo, aos 105,7 mil na máxima de terça-feira. O reconhecimento pela China da vitória de Joe Biden na eleição americana e sinais de que o atual presidente, Donald Trump, está a ponto de reconhecer a derrota mantiveram Wall Street em alta, acentuada à tarde. Os índices de NY também se animaram com a indicação do democrata de que manterá contato com o Congresso para levar adiante nova rodada de estímulos.

Além disso, o sentimento favorável se ancorou em reiteração do compromisso do ministro da Economia, Paulo Guedes, com o teto de gastos, após comentários dele no dia anterior, sobre a possibilidade de prorrogação do auxílio emergencial na eventualidade de segunda onda de Covid-19 no País, terem sido mal recebidos pelo mercado. Por sua vez, o bom desempenho do IBC-Br em setembro, na margem, contribui para melhorar a perspectiva para o PIB.

Em alta de 2,16% no fechamento desta sexta-feira, aos 104.723,00 pontos, o Ibovespa acumulou ganho de 3,76% na semana, estendendo o do mês a 11,46% e limitando as perdas do ano a 9,44%. O giro financeiro totalizou R$ 33,5 bilhões na sessão, com o Ibovespa saindo de mínima na abertura a 102.508,77 e chegando na máxima aos 104.725,79 pontos. O ganho desta semana sucedeu avanço de 7,42% na anterior, quando o Ibovespa vinha de perda de 7,22% na antecedente.

"O mercado ainda está anestesiado pelo efeito Biden e, na B3, o desempenho positivo das ações de bancos, pelo peso que possuem no índice, assegurou dinamismo ao Ibovespa. O viés é positivo, mas sujeito a correções, na medida em que a questão fiscal ainda pode atrapalhar. Guedes precisará saber jogar com o Congresso. Afora isso, os juros estão baixos ou mesmo negativos, no mundo todo, o que reforça o apelo da exposição a risco", diz Marcio Gomes, analista da Necton Investimentos.

Nesta sexta-feira, os ganhos nas ações de bancos chegaram a 3,55% no fechamento (Bradesco PN), ficando na semana entre 8,40% (BB ON) e 15,47% (Bradesco PN). As ações de commodities também tiveram desempenho positivo na sessão, com destaque para Petrobras PN, em alta de 3,29% - na semana, a ação avançou 14,58%, enquanto a ON teve ganho de 16,66% no intervalo. Na ponta do Ibovespa nesta sexta-feira, Yduqs fechou em alta de 9,76%, à frente de IRB (+7,70%) e Intermédica (+7,46%). No lado oposto, Multiplan caiu 2,35%, Magazine Luiza, 1,49%, e CSN, 1,18%.

No exterior, o reconhecimento pela China da vitória de Biden é fator de otimismo, em particular pelo tom amigável observado na imprensa oficial. A saída de cena de Donald Trump em 20 de janeiro parece ter começado a ser construída nesta sexta-feira com a retirada, pelos advogados da campanha republicana, de ação judicial que questionava a votação no Arizona, concluída conforme se projetava com vitória de Biden. Próximo a Trump, o jornalista Geraldo Rivera, apresentador da Fox, disse hoje que o presidente é um "realista" e "fará a coisa certa" em relação ao resultado da eleição.

Juros

A sexta-feira foi de queda para os juros futuros. O alívio de prêmios foi conduzido pelo bom humor no exterior, principalmente via câmbio, e também pelas declarações do ministro da Economia, Paulo Guedes, em defesa da austeridade fiscal e do teto de gastos. As mínimas foram atingidas à tarde, justamente quando o dólar voltou a cair ante o real, alinhado ao aumento do apetite pelo risco lá fora.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a sessão regular e a estendida em 3,34%, de 3,385% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 caiu de 4,986% para 4,94% na regular e 4,92% na estendida. A taxa do DI para janeiro de 2025 fechou a regular a 6,70% e estendida em 6,68%, de 6,755% ontem. O DI para janeiro de 2027 fechou com taxas de 7,46% (regular) e 7,43% (estendida), de 7,564% ontem.

As taxas começaram o dia sem trajetória muito definida, mas um viés de queda foi se fortalecendo ainda pela manhã na medida em que o ministro discursava no 39º Encontro Nacional de Comércio Exterior (Enaex). "O discurso agradou e desarmou a pressão de ontem. Ele atuou como bombeiro", disse o economista-chefe da SulAmérica Investimentos, Newton Camargo Rosa. O mercado vinha bastante estressado nos últimos dias em função do risco de extensão do auxílio-emergencial para 2021, admitido ontem pelo próprio ministro em caso de uma segunda onda de Covid no Brasil.

Hoje, ele voltou a afirmar que o auxílio termina em 31 de dezembro e que a partir desta data, os gastos sociais do governo vão aterrissar no Bolsa Família. Sobre a criação de um novo programa de renda, Guedes disse que não haverá populismo e que ele não será criado se não tiver responsabilidade fiscal. "Vamos travar despesas, pagar pela crise. Não vamos deixar dívidas para nossos filhos e netos", disse. Guedes ainda exaltou o ritmo de melhora da economia, de criação de empregos e disse que o Brasil está saindo da recessão. Tudo o que o mercado gosta de ouvir.

Para o diretor de Gestão de Renda Fixa e Multimercados da Quantitas Asset, Rogério Braga, o ministro não disse "nada de novo", mas esse tipo de declaração num governo que é cheio de ruídos é importante. "O mercado vê que o ministro está firme, esperançoso. É necessário mesmo que ele faça essa renovação de votos", comparou.

Analistas afirmam ainda que Fabio Kanczuk, diretor de Política Econômica do Banco Central, em reunião com representantes de várias instituições financeiras nesta manhã, reforçou a mensagem dos documentos do BC em relação ao forward guidance, que indica manutenção da Selic nos atuais 2% por um longo período.

No exterior, os mercados operaram no modo "risk on", resultando em valorização para boa parte da moedas emergentes. De acordo com um gestor, porém, o câmbio local estava "esquisito" pela manhã. "Todas as moedas ganhando contra o dólar e o real apanhava 1%, mas acabou não pegando tanto no juro longo nem na Bolsa. Mas quanto o dólar devolveu à tarde, os juros também andaram", disse.


Agência Estado e Correio do Povo

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