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sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Com cautela no mercado internacional, dólar volta a cair e fecha em R$ 5,31

 Bolsa reage e termina o dia em alta de 0,52%, aos 106.669,90 pontos


A disposição de investidores estrangeiros em aportar recursos nos mercados emergentes, incluindo o Brasil, não dá sinais de perda de fôlego e o dólar voltou a cair nesta quinta-feira. Tesourarias de bancos contam que, além de a Bolsa estar recebendo aportes recordes, que já somam R$ 25 bilhões este mês, começaram a entrar também recursos em ritmo mais acelerado para a renda fixa. Um dos reflexos é que o dólar bateu mínimas hoje, a R$ 5,30, durante o leilão do Tesouro. O fluxo de capital externo e ainda o alívio causado pela sinalização de atuação mais forte do Banco Central até o fim do ano seguem retirando pressão do câmbio, fazendo investidores reduzirem apostas contra o real no mercado futuro, ressaltam profissionais das mesas de operação.

O dólar fechou a quinta-feira cotado em R$ 5,3141, em baixa de 0,44%. No mercado futuro, o dólar para dezembro fechou em queda de 1,09%, em R$ 5,3065.

A quinta-feira foi marcada por cautela no mercado internacional, em meio ao rápido crescimento dos casos de coronavírus nos Estados Unidos e Europa. Com isso, o dólar subiu ante divisas fortes, mas acabou caindo nos emergentes. Segundo o Instituto Internacional de Finanças (IIF), formado pelos 500 maiores bancos do mundo, os fluxos de recursos continuam fortes para a região, em volume "impressionante".

No Brasil, a Bolsa paulista recebeu R$ 2,1 bilhões no pregão da última terça-feira, com o total no mês chegando a R$ 25 bilhões. Além da renda variável, o sócio da gestora Armor Capital, Alfredo Menezes, chama atenção para o fato de que estrangeiros entraram no leilão hoje do Tesouro, comprando Notas do Tesouro Nacional - Série F (NTN-F), papel de prazo mais longo, que teve lote integral vendido, com volume de R$ 3,5 bilhões. O dólar chegou a registrar mínimas na hora que saiu o resultado da operação, caindo a R$ 5,30.

Apesar da valorização este mês do real, com o dólar acumulando queda de 7,5% em novembro, o IIF estima que a moeda brasileira está 20% subvalorizada, enquanto a de países vizinhos - Chile e Colômbia - estão apenas 12%. Ou seja, o valor justo do dólar hoje seria ao redor de R$ 4,50. Como destaca o economista do IIF, Robin Brooks, há ainda muito prêmio de risco precificado nas cotações do câmbio brasileiro, sendo o risco fiscal um dos principais. No ano, o dólar acumula alta de 32% ante o real, a maior dos emergentes, junto com a lira turca.

Ibovespa

O ajuste negativo nas ações do setor elétrico e a cautela externa contribuíam para segurar o Ibovespa pelo segundo dia, ainda acima da máxima do ciclo de recuperação, de 105,7 mil pontos, que prevalecia até o fim de julho, marca superada na última segunda-feira, após ter sido igualada no intradia da terça anterior, dia 10.

Hoje, o índice da B3 variou entre mínima de 105.545,37 e máxima de 106.972,88, para fechar em alta de 0,52%, aos 106.669,90 pontos, com giro financeiro ainda alto, embora um pouco mais próximo à normalidade, a R$ 30,2 bilhões nesta sessão. A mudança de sinal em Nova Iorque, em direção única no final da tarde, contribuiu para que o Ibovespa se firmasse acima dos 106 mil pontos pela quarta sessão consecutiva. Na semana, o índice avança 1,86% e, no mês, 13,54% - as perdas do ano estão limitadas agora a 7,76%.

O quadro de fundo permanece dividido entre os resultados promissores na reta final de desenvolvimento de vacinas e os sinais de recrudescimento da pandemia, inclusive no Brasil. Por aqui, o afastamento da diretoria da Aneel e do Operador Nacional do Sistema (ONS), determinado por um juiz em razão do apagão no Amapá, pressionou as ações do segmento, em dia positivo para commodities, siderurgia e, ao final, também para bancos. No encerramento, o ajuste negativo nas elétricas se mostrou bem moderado, chegando a 1,04% para Eletrobras ON.

"Os bancos centrais vão permanecer ativos nos próximos meses, sendo que o Fed e o BCE deverão adicionar mais estímulos em dezembro, o que pode contribuir para um final de ano forte para os mercados de ações. A desvantagem óbvia é o risco de o inverno (no hemisfério norte) ser muito mais devastador do que o previsto, pelo lado da Covid", aponta em nota o analista de mercado sênior da OANDA na Europa, Craig Erlam. Ele chama atenção para reação "decrescente" dos mercados aos mais recentes anúncios referentes a vacinas, nesta semana, como o da Moderna e a "atualização da Oxford nesta manhã".

Apesar das incertezas que ainda prevalecem no cenário, grandes instituições financeiras internacionais têm apontado os mercados emergentes entre os maiores beneficiários da recuperação que se espera para o próximo ano, especialmente pela retomada dos preços de commodities agrícolas, metálicas e do petróleo segundo o Morgan Stanley, que prevê o Ibovespa a 120 mil pontos em 2021.

No quadro doméstico, o aumento das internações hospitalares em diversos estados neste mês de novembro recoloca o temor de que, a exemplo do observado na Europa e em certas partes dos EUA, as iniciativas de distanciamento social tenham que voltar a ser adotadas no Brasil para conter a progressão do coronavírus. Hoje o secretário de Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, negou que o Estado esteja a caminho de um novo lockdown. Por outro lado, o governo estadual publicará decreto que proíbe em todos os hospitais paulistas - públicos, filantrópicos e privados - a desmobilização de leitos para o atendimento a pacientes de Covid-19 - um sinal de que a doença ainda preocupa.

"Ainda que a pandemia esteja por aí, a Covid começa a ficar para trás com a proximidade das vacinas. Houve uma euforia desde a eleição do Biden, com forte entrada de estrangeiros na B3, e dólar mais fraco. A recuperação veio mais intensa, antes do que se previa, o que leva parte do mercado a ver o Ibovespa a 120 mil pontos já em 2020", diz Marcel Zambello, analista da Necton Investimentos.

Na B3, a série invicta de aportes estrangeiros em novembro prosseguiu na terça-feira, de acordo com dados divulgados nesta quinta-feira. Anteontem, os estrangeiros ingressaram com R$ 2,101 bilhões no mercado à vista. Foi a quinta sessão deste mês com aporte estrangeiro acima de R$ 2 bilhões: em termos líquidos, a entrada chega a R$ 24,761 bilhões em novembro, o maior nível da série iniciada em 1995. No ano, os estrangeiros retiraram R$ 60,125 bilhões, mas até o final de outubro o saldo estava negativo em R$ 84,887 bilhões.

Nesta quinta-feira, ainda entre as ações bem atrasadas no ano, Petrobras e bancos tiveram desempenho positivo, com as ações PN e ON da petrolífera mostrando ganhos no fechamento de 1,15% e 0,91%, respectivamente, enquanto os papéis das grandes instituições financeiras, após terem operado sem direção única, encerraram com leves ganhos, de até 0,99% (BB ON).

Destaque para Vale ON (+1,91%, na máxima do dia no fechamento) e, na siderurgia, para CSN (+3,41%, também no pico ao fechar). Na ponta do Ibovespa, PetroRio teve alta de 29,24% com a surpreendente compra de dois campos no pré-sal - bem à frente de Gol (+4,92%) e Azul (+4,02%) no fechamento. No lado oposto, Cogna caiu 2,92%, Marfrig, 2,50%, e BRF, 2,49%.

Juros

Os juros fecharam perto da estabilidade, com viés de alta, após percorrerem a manhã com recuo firme. O mercado reagiu positivamente ao anúncio das condições do leilão do Tesouro, que trouxe oferta global menor de papéis, mas conseguindo bom resultado para os títulos de longo prazo. Passada a operação, as taxas se acomodaram perto dos ajustes anteriores, mas preservando um leve sinal de queda que se apagou nos ajustes finais da sessão regular. Os recuos do dólar e dos juros dos Treasuries e a decisão da Fitch de manter a nota do Brasil em BB- também foram citados como fatores que ajudaram a ancorar a curva, a despeito da falta de avanço das reformas no Congresso.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2022 fechou a etapa regular e a estendida em 3,29%, de 3,285% ontem no ajuste. A do DI para janeiro de 2023 passou de 4,956% no ajuste para 4,98% na regular e 5,00% na estendida, e a do DI para janeiro de 2025 fechou em 6,80% (regular e estendida), de 6,795% ontem no ajuste. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 7,60% (regular e estendida), de 7,594%.

Ontem, no período da tarde, o mercado se movimentou na expectativa de um leilão mais pesado do Tesouro. No entanto, a oferta de LTN foi de 12 milhões, menos da metade dos 31 milhões da semana passada. Mas a encontrou demanda para quase dobrar o lote de NTN-F, que são os prefixados mais longos, de 1,8 milhão para 3 milhões. Ambas as ofertas hoje foram vendidas integralmente. Segundo a Renascença, o DV01 (risco do leilão), que na semana passada era de R$ 5,16 milhões caiu para R$ 3,46 milhões, o que ajudou a tranquilizar o mercado.

Os consecutivos aumentos nos lotes de NTN-F chamam a atenção neste momento em que o fluxo de recursos estrangeiros tem pressionado o dólar para baixo, uma vez que estes são papéis preferidos dos não-residentes. Paulo Nepomuceno, operador de renda fixa da Terra Investimentos, diz que a leitura da venda integral da oferta das NTN-F no leilão desta quinta-feira é positiva, mostrando "interesse de gringos" mesmo com todos os problemas fiscais do País.

Com a segunda onda de covid se espalhando pelo mundo, cresce a expectativa de um período prolongado de juros globais mais baixos, o que pode estar atraindo recursos para a renda fixa brasileira, que tem a curva ainda bastante inclinada e com prêmios atrativos. Hoje o Banco Central da Indonésia surpreendeu ao cortar os juros para 3,75%, na contramão da Turquia, onde a autoridade monetária elevou a taxa. "Mas ali foi por motivos bastante localizados", disse um gestor. A África do Sul também teve reunião de política monetária e a taxa foi mantida em 3,50%.

Na curva americana, o dia foi de queda no rendimento dos yields, provocada pela busca de segurança dos Treasuries, em meio às preocupações com a covid e o impacto na economia global. "Mas acho que isso não se sustenta na medida em que as vacinas forem avançando", disse o gestor citado acima.


Agência Estado e Correio do Povo

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