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sexta-feira, 31 de julho de 2020

Especialistas defendem investimento em infraestrutura na retomada da crise

Aumento da capacidade do Porto de Rio Grande aparece como grande potencial para investimentos em larga escala. Energia termelétrica e eólica necessitam mais atenção

Aumento da capacidade de calado do porto de Rio Grande de 40 para 60 pés permitiria redução nos custos de embarque

Um dos gargalos históricos da economia do Rio Grande do Sul é a falta de investimentos em infraestrutura de larga escala e padrões internacionais. Especialistas são unânimes em afirmar que se o Estado possuísse estradas melhores, portos mais capacitados, hidrovias e um aeroporto ainda maior, certamente tornaria o setor mais atrativo e despertaria maior interesse de investidores externos. Esse desleixo é, dizem, um legado deixado por quase todos os governantes que passaram pelo Piratini. Mesmo assim, há saídas e soluções para um dos mais importantes eixos da economia gaúcha.
O superporto de Rio Grande, um dos principais do país, é um exemplo de potencial reprimido. Diversas entidades empresariais vêm defendendo, há décadas, a expansão e otimização das estruturas disponíveis. Anos atrás, o foco das discussões era a duplicação das rodovias que ligam a região Sul à Capital e regiões produtoras, assunto que adormeceu com as obras na BR-290, BR-116 e BR-392, mesmo que ainda não concluídas. A materialização de uma briga antiga, que era essencial para o desenvolvimento da região, serviu de motivação para seguir lutando pelo pólo Pelotas-Rio Grande. Wilen Manteli, ex-presidente da Associação Brasileira de Terminais Portuários (ABTP) e atual presidente da Associação das Hidrovias do RS, é uma das vozes que não cansam de pensar em soluções. O dirigente acredita que o desenvolvimento estadual, num cenário pós-crise, possa vir por meio de um plano estratégico e políticas públicas permanentes de fomento para portos e hidrovias. Segundo ele, o aumento da capacidade de calado do porto de Rio Grande de 40 para 60 pés é um dos pontos cruciais. Isto permitiria a redução nos custos em embarques de cargas internacionais e também geraria mais produtividade nas operações.
“Há alguns anos enfrento essa falta de vontade de investir no setor. Os governos estaduais nunca dão prioridade. As secretarias estão sempre sem verbas, sem investimentos contínuos. São promessas que não saem do papel. Falta uma mentalidade de primeiro mundo”, analisa. Para ele, o país que tiver um porto com calado de 60 pés no continente sul americano vai virar uma potência, e esse projeto precisa ter uma campanha forte e poder atrair grandes empresas e gerar mais competitividade com Montevidéu e Buenos Aires, por exemplo. “Esse é o grande desafio que temos pela frente no setor”, ressalta Manteli. O ex-presidente da ABTP sugere, ainda, a criação de uma empresa pública para administrar os três portos gaúchos (Rio Grande, Pelotas e Porto Alegre) e investir na rede hidroviária.
Outra pauta que por muitos anos rendeu debates em infraestrutura é o Aeroporto Internacional Salgado Filho. No entanto, a área que agora está sob administração da Fraport Brasil  vem recebendo mais investimentos. Em junho deste ano, a empresa deu início às obras do terminal internacional de cargas (TECA). Antes, em março de 2018, já havia dado início às obras de ampliação da pista de pouso e decolagem. O investimento, somente no complexo de cargas, é de R$ 50 milhões e a previsão de entrega está programada para o segundo semestre de 2021. A expansão da pista deve ser concluída até o fim do ano que vem. Porém, atrasos já estão previstos devido à dificuldade de realocação das famílias da Vila Nazaré em meio à pandemia. O novo terminal triplicará a capacidade de processamento e movimentação de cargas, aumentando de 35 mil para até 100 mil toneladas ao ano. Com uma área de 10.615 metros quadrados quase o dobro da atual em funcionamento), o complexo possibilitará melhor capacidade de armazenamento e processamento. “O novo TECA Internacional não faz parte das obrigações do nosso contrato de concessão com a Agência Nacional de Aviação Civil, mas exercerá papel fundamental para alavancar a logística no Rio Grande do Sul, o que certamente acreditamos apesar do cenário atual gerado pela Covid-19”, comenta Andreea Pal, presidente da Fraport Brasil - Porto Alegre.

Energia carbonífera e eólica precisam de mais atenção

Além das melhorias em infraestrutura, o Rio Grande do Sul também poderia apostar mais no sistema termelétrico e na exploração do carvão. Fernando Zancan, presidente da Associação Brasileira de Carvão Mineral, destaca que os buracos deixados pelo fechamento das usinas em Candiota nas fases A e B ainda não foram tapados, apesar do sucesso recente da Pampa Sul, que entrou em operação em 2019. “A Pampa hoje é uma referência no setor. É um exemplo positivo de usina térmica para efeitos de custo operacional e de tecnologia. Foi o maior investimento que tivemos no setor nos últimos anos no RS”, aponta.
De acordo com Zancan, a criação de uma nova usina em Candiota geraria em torno de 5 mil empregos para fomentar a economia da região, sendo estes empregos na planta e também em hotéis, restaurantes e outros serviços locais para suprir a demanda. Ele também aposta na diversificação dos produtos que podem ser produzidos a partir da matéria-prima. No mercado atual, existe demanda para itens como grafeno, esponja de carvão, carvão ativado, entre outros. Porém, o dirigente acredita que a polêmica ambiental em torno da exploração do carvão é uma pauta que está travando investimentos em solo gaúcho. Ele afirma, no entanto, que a tecnologia atual ajudou usinas e minas de exploração a reduzir o impacto ao meio ambiente. “Infelizmente tivemos exemplos ruins no passado. É claro que o carvão polui se não é queimado da maneira correta. O problema, então, está na forma de uso e não na fonte. O que se discute hoje é a operação. E a parte digital das indústrias, a tecnologia, avançou muito para reduzir estes impactos ambientais”, ressalta.
A questão ambiental também é um ponto em comum a ser discutido para investimentos em energia eólica no Estado. Conforme João Nunes Ramis, diretor-presidente do Complexo Eólico Campos Neutrais, em Santa Vitória do Palmar, a exigência para obter licenças são demasiadamente altas, bem como os custos de operação. "Os maiores desafios para o nosso setor nesse momento são licenciamento ambiental e conexão elétrica. Temos mais de 20 gigawatts em projetos prontos para sair do papel. Projetos não faltam, mas existem estes entraves importantes a serem solucionados”, diz.
Correio do Povo

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