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quarta-feira, 8 de julho de 2020

Após dois dias de alta, dólar fecha em baixa, em R$ 5,34

Ibovespa terminou em alta de 2,05%, aos 99.769,88 pontos, com a retomada do varejo

O desempenho na B3 foi bem superior ao observado nos mercados do exterior

O dólar firmou queda nos negócios da tarde, após dois dias de alta. A sessão foi marcada pelo enfraquecimento da moeda americana no exterior, após notícias animadoras sobre uma vacina para combater o coronavírus, mas com o crescimento de casos nos Estados Unidos no radar. A melhora da atividade doméstica, hoje evidenciada por vendas no varejo melhores que o previsto, também ajudou a fortalecer o real, enquanto o Ibovespa voltou a encostar nos 100 mil pontos, que haviam sido perdidos com a pandemia do coronavírus.
Ao mesmo tempo, pesaram nos negócios no mercado de câmbio preocupações com possíveis infecções do coronavírus na cúpula do governo brasileiro após o presidente Jair Bolsonaro ter contraído a doença. Com esse temor, o dólar chegou a operar em alta por alguns momentos e, na máxima, foi a R$ 5,3942 (+0,20%). No final dos negócios, o dólar à vista terminou em baixa de 0,63%, cotado em R$ 5,3496.
As vendas do varejo cresceram 13,9% em maio, acima do previsto e ajudaram a aumentar a visão nas mesas de operação de que o ciclo de cortes de juros pelo Banco Central pode ter chegado ao fim. Nos juros futuros, as apostas de interrupção dos cortes subiram para 75%.
O diretor e economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, avalia que os números do varejo vieram "sólidos" e são um indício de que o fundo do poço da atividade econômica foi em abril. Ele espera que a recuperação prossiga nos próximos meses, mas alerta que o quadro ainda de crescimento dos casos de covid no Brasil pode atrapalhar esta recuperação. Na avaliação de Ramos, a inflação comportada sugere que é mais provável um corte pequeno de juros na reunião de agosto do Comitê de Política Monetária (Copom).
O economista-chefe do BNP Paribas, Gustavo Arruda, destaca que o cenário do banco francês é de dólar enfraquecido na economia mundial, por conta da liquidez em excesso despejada pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano). "Essa liquidez tende a vazar, ir para outros ativos e mercados. A moeda americana deve ficar um pouco mais fraca", disse ele em entrevista a jornalistas pela internet.
Com o dólar em queda mundial, o economista do BNP acredita que a moeda americana pode cair abaixo de R$ 5,00 aqui no final do ano, desde que a economia doméstica siga se recuperando. Para o economista do BNP, é importante que o governo retome a agenda de ajuste fiscal e reformas pró-crescimento, especialmente aquelas que deem segurança jurídica para os estrangeiros. A gestora americana Franklin Templeton avalia que o ambiente político no Brasil "melhorou significativamente", com uma "aparente trégua" entre o governo, o Congresso e o Supremo Tribunal Federal. Assim, a expectativa é que o Planalto possa tentar retomar a agenda de reformas.

Ibovespa

No dia em que as vendas do varejo surpreenderam muito positivamente, em recuperação de 13,9% em maio ante queda na casa de 16% em abril, ambas na margem, o Ibovespa encontrou fôlego para fechar em alta de 2,05%, aos 99.769,88 pontos, tendo chegado bem perto dos 100 mil, a 99.972,78 pontos na máxima da sessão, por volta das 16h40. O desempenho na B3 foi bem superior ao observado nos mercados do exterior, onde se viram fechamentos negativos na Europa e relativamente moderados em Nova Iorque até perto do fim da sessão, quando os três índices ganharam vigor, liderados pelo Nasdaq (+1,44%) em nova máxima de encerramento - o que deu ânimo extra para o Ibovespa.
Tanto a queda de abril como a alta de maio foram as maiores da série histórica do IBGE para o varejo, que retrocede a janeiro de 2000. Comparado a maio de 2019, houve retração de 7% nas vendas este ano, refletindo o estrago da pandemia - algo que já vinha sendo colocado na conta desde o fim de março, quando o distanciamento social foi iniciado e o mercado passou a se concentrar em leituras na margem para aferir a retomada.
Assim, o desempenho das vendas em maio frente a abril, bem acima do consenso, alimentou a demanda por ações na B3 nesta quarta-feira. Saindo de mínima na abertura a 97.764,95 pontos, o Ibovespa atingiu hoje o maior nível de fechamento desde 5 de março, então aos 102.233,24 pontos. O giro financeiro totalizou R$ 26,5 bilhões e, na semana, o índice acumula agora ganho de 3,11% - no mês, avança 4,96%, limitando as perdas do ano a 13,73%.
"O mercado quer ver o que viu hoje: dados que reflitam a materialização de uma melhora econômica que faça os 100 mil pontos serem não apenas um ponto (do Ibovespa no gráfico), mas uma consequência", diz Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos. Ele chama atenção para o desempenho também bem superior ao consenso para o varejo ampliado (+19,6% no resultado de maio, o maior da série, desde 2003).
O ampliado inclui os segmentos automotivo e de construção civil, de maior valor agregado e sobre os quais "havia um grau maior de dúvida" quanto ao potencial de recuperação em meio à pandemia, observa o analista. "O desempenho do varejo ampliado corrobora a visão de que o fundo do poço já passou", diz Arbetman, acrescentando que, para a PMC de maio, a maior projeção que havia visto para as vendas do varejo como um todo era de 11%. "Veio acima do topo das expectativas."
"Hoje foi varejo na veia, o que se refletiu no avanço de ações como Natura (+6,04%, terceira maior alta do Ibovespa na sessão) e Vivara (+6,86%). Ajudou também a alta de 3,4% no preço do minério de ferro em Qingdao (China), que impulsionou as ações da Vale (+1,69%) e das siderúrgicas (CSN +3,84%). E para complementar, os bancos, de grande peso no Ibovespa, andaram bem hoje (Bradesco PN +3,41%). "Como se vê, há muito entusiasmo para testar os 100 mil pontos logo", diz Márcio Gomes, analista da Necton.
Na ponta do Ibovespa, Braskem subiu hoje 6,51%, seguida por B3 (+6,09%). No lado oposto, CVC caiu 6,07% e Marfrig cedeu 2,28%.

Juros

Os juros futuros de curto e médio prazo fecharam a quarta-feira em alta, em meio a ajustes de posições refletindo o aumento do conservadorismo no quadro das apostas para a Selic. A percepção de que o ciclo de queda da taxa básica chegou ao fim já vinha ganhando força nos últimos dias e hoje cresceu mais com os dados do varejo acima do esperado. A curva já aponta 75% de chance de manutenção no próximo Copom. Em consequência, os vencimentos longos oscilaram em queda boa parte do dia, mas fecharam perto da estabilidade, dado também que a quarta-feira foi de agenda esvaziada no exterior.
O contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) fechou com taxa de 3,08%, de 2,952% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2023 subiu de 4,063% para 4,17%. O DI para janeiro de 2027 encerrou com taxa de 6,48%, ante 6,513% ontem.
"A surpresa na atividade foi o grande driver de hoje. O resultado da PMC foi bastante expressivo. Para além disso, tivemos as falas recentes do Roberto Campos Neto mostrando certo otimismo com a retomada do crescimento", afirmou André Rodrigues, economista da MAG Investimentos.
As vendas do varejo restrito e ampliado subiram, em maio ante abril, 13,9% e 19,6%, respectivamente, acima do teto das estimativas coletadas pelo Projeções Broadcast, de 11,60% e 13,10%. Com o resultado, o UBS Brasil revisou a projeção para o PIB no segundo trimestre, esperando agora queda de 11,5%, menor do que o recuo de 13,5% estimado anteriormente. Além disso, a estimativa atual 2020, de queda de 7,5%, pode ser alterada para uma retração mais branda.
O conjunto de dados recentes, como os do varejo, indústria e Caged em maio, além de indicadores antecedentes já conhecidos em junho, como os da Anfavea, tem levado o mercado a ajustar a expectativa de novos cortes para a Selic. Pela precificação da curva a termo, segundo cálculos do Haitong Banco de Investimentos, a probabilidade de Selic estável em agosto subiu de 70% ontem para 75% hoje, enquanto a chance de corte de 0,25 ponto porcentual recuou de 30% para 25%.
A quarta-feira teve ainda IGP-DI de junho (1,60%) acima da mediana das estimativas de 1,40%.
Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Mizuho, afirma que há cerca de 15 pontos-base de alta precificados na curva para o fim de 2020 e para o fim de 2021 a curva projeta Selic de 5%. "Ou seja, o mercado já começa a colocar alguma chance real de alta de juros este ano, o que vejo como algo muito agressivo", afirma ele, argumentando que nível de ociosidade da economia é elevado e os dados do varejo subiram em bases de comparação muito fracas. "Ainda há um longo caminho a se percorrer", disse. Na sua avaliação, a perspectiva para o médio prazo não é boa, em função da expectativa de deterioração do mercado de trabalho e considerando o caráter temporário das medidas emergenciais nas quais está amparada a melhora da economia no curtíssimo prazo.

Agência Estado e Correio do Povo

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