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segunda-feira, 15 de junho de 2020

Selic deve cair abaixo da faixa mínima de inflação; O que fazer?

por Michael Viriato
Se as expectativas do mercado forem confirmadas, o Comitê de Política Monetária (COPOM) deve reduzir a taxa básica da economia, a Selic, para 2,25% ao ano na próxima quarta-feira.
Esse percentual é inferior à faixa mínima de inflação perseguida pelo Banco Central (BC). Discuto abaixo qual reflexo este movimento deve ter em como os brasileiros investem e nos preços dos ativos de risco.
Este movimento impactará consideravelmente o investimento mais popular dentre os brasileiros, a caderneta de poupança.
A tradicional caderneta de poupança tem um volume de quase R$ 1 trilhão em aplicações. Para entender como este volume é relevante, veja a comparação. O total de investimentos em todas as categorias de títulos públicos na plataforma do Tesouro Direto era de R$60 bilhões ao final de abril, ou seja, 6% do que há aplicado na poupança.
Como a poupança rende apenas 70% da taxa Selic, ela vai ter um retorno de apenas 0,13% ao mês a partir da próxima semana, equivalente a 1,58% ao ano.
Assim, se você aplicar R$ 10 mil na poupança, vai ganhar por mês R$13. Ou seja, o suficiente apenas para pagar dois cafés expressos.
Com esta rentabilidade, o investimento na poupança demoraria 45 anos para dobrar. Mesmo que não se importe de esperar este prazo, o investidor ainda deve ficar insatisfeito, pois a maior probabilidade é que o retorno não será suficiente para repor o poder de compra. O IPCA esperado para os próximos doze meses é superior a 2% ao ano.
Talvez você imagine que todos já sabem disso. No entanto, a captação líquida dos meses de maio e junho de 2020 (até o dia 05/ 06) mostra que não. Nestes 36 dias a captação líquida da caderneta foi de quase R$50 bilhões. Esse volume foi superior a toda a captação de do ano de 2020 em fundos de ações no país.
Muitos que investem em poupança não se deram conta desta mudança de rentabilidade. A maior parte dos investidores toma a decisão de investimento olhando para o retorno nos doze meses anteriores. Neste período, a rentabilidade da caderneta foi de 3,3%. Logo, a rentabilidade passada foi o dobro do que será o retorno no próximo ano.
Portanto, a caderneta de poupança perde qualquer atratividade.
Aos poucos, estes aplicadores perceberão esta desvantagem e devem migrar parte de suas poupanças para alternativas de maior risco e de maior prazo. Esta alteração deve trazer um fluxo importante de investimentos que pode favorecer os ativos de risco no país.
Pessoas ouvem com tom assustador o volume de R$75 bilhões de saída de investidores estrangeiros da B3 em 2020. No entanto, mais espantoso é saber que a captação líquida da poupança supera este valor no mesmo período. Se o fluxo para a caderneta tivesse sido direcionado para o mercado acionário, os preços dos ativos estariam bem mais elevados.
Desconheço estudos sobre qual o horizonte de investimento dos poupadores de poupança, mas possivelmente mais de 30% dos recursos aplicados não são resgatados por mais de três anos. É muito razoável imaginar que em três anos, a bolsa deve se valorizar mais de 10%. Portanto, podendo apresentar o dobro do retorno da poupança no mesmo período.
A queda da taxa de juros a ser implementada pelo Copom não tem impacto imediato, mas ao longo dos próximos meses deve favorecer aplicações de maior risco com o deslocamento de investimentos desfavoráveis como o da poupança ou de títulos referenciados à Selic.
Fonte: Folha Online - 14/06/2020 e SOS Consumidor

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