
A tradição historiográfica e política consagrou a invasão da Polônia pela Alemanha, em 1° de setembro de 1939, como o início da Segunda Guerra Mundial. Este momento marcou, na realidade, apenas a generalização da guerra na Europa, como o envolvimento oficial de grandes potências. Desde 1931, com o ataque japonês à Manchúria, uma série de conflitos, aparentemente isolados, faz parte de um mesmo processo histórico, que em 1939 se intensificou e em 1941 se globalizou. Entretanto, raízes mais profundas do grande conflito mundial se encontram nos problemas e transformações geradas pela Primeira Guerra Mundial.
A herança da Primeira Guerra Mundial
A Grande Guerra de 1914-18 foi um típico conflito entre potências industriais capitalistas por uma nova repartição de áreas de expansão econômica, opondo primeiramente o jovem Império Alemão, em ascensão econômico militar, e o Império Britânico, em nítida perda de ritmo de crescimento. A guerra rapidamente atingiu dimensões mundiais e alcançou níveis sem precedentes de destruição e morte, graças à aplicação da tecnologia industrial à produção de armamentos. O conflito, além de não resolver os problemas que levaram ao seu desencadeamento (até mesmo agravou-os), ainda teve como resultado importante o triunfo da revolução socialista na Rússia, que separou um sexto das terras emersas do sistema capitalista e rompeu o sistema internacional.
O pós-guerra apresentou um quadro de crise generalizada na Europa. O desemprego, a inflação e a recessão somaram-se a uma intensa mobilização política e a conflitos sociais acentuados, que em alguns países desembocaram em revoluções socialistas (Alemanha e Hungria). O esmagamento sangrento destes levantes não restaurou, entretanto, a estabilidade político-social. Os anos de 1919 a 1923 são marcados pelas graves dificuldades da reconversão econômica. O período que se entende de 1923 a 1929 ficou conhecido como os "anos da grande ilusão" ou da "falsa prosperidade", marcados que foram pela recuperação econômica e relativo afrouxamento das tensões sociais.
O conflito enfraqueceu a posição europeia no mundo e fortaleceu os Estados Unidos.
A Sociedade das Nações (SDN), criada em Genebra em 1919 como organização internacional, que visava regular os conflitos mundiais.
A falta de realismo e a incompreensão das dimensões da crise foram fatais aos propósitos da SDN, que se formou como um verdadeiro "clube dos vencedores" da Primeira Guerra Mundial (excetuando os EUA, que a ela não aderiram).
A guerra legou, especialmente à Europa, uma série de graves problemas. A questão das minorias nacionais, que havia sido um dos estopins da guerra, acentuou-se com o fortalecimento da consciência nacional e do princípio de autodeterminação dos povos.
Os tratados de paz também agravaram os problemas europeus. Todas as nações vencidas reivindicaram sua revisão. No tocante à Alemanha, as consequências foram desastrosas. Uma potência industrial que em 1914 aspirava à liderança econômica (pelo menos na Europa), era reduzida em Versalhes a uma nação de segunda grandeza. Além dos graves efeitos econômicos das indenizações e perdas territoriais, as consequências políticas deste tratado foram muito piores. A chamada "humilhação" promovida pelo "diktat" de Versalhes, constitui um verdadeiro caldo de cultura para a radicalização do nacionalismo alemão pelos conservadores.
As potências capitalistas, após o fracasso das intervenções estrangeiras na União Soviética, adotam uma política de isolamento da revolução socialista através do "Cordão Sanitário". A URSS procura então aproximar-se da outra "ovelha negra" da Europa, a Alemanha de Weimar, através da assinatura de um acordo de cooperação, o Tratado de Rapallo, em 1922. Seguem-se tentativas ocidentais de recuperar a Alemanha economicamente e afastá-la da URSS: o Plano Dawes (1924) investe recursos, sobretudo norte-americanos e ingleses, na Alemanha: Conferência de Locarno (1925) acordado tratados bilaterais de paz, melhorando suas relações com os aliados; em 1926 a Alemanha é convidada à ingressar na SDN (em seu conselho de segurança), no lugar pretendido pelo Brasil, que se retira da organização; além disso, as condições das reparações de guerra são atenuadas ainda nos anos 20.
No plano social observa-se a formação da sociedade de massas, configurava sobretudo com a emergência da classe operária e de seus partidos políticos, ainda que esta estivesse dividida entre social-democratas (reformistas) e comunistas (revolucionários), cujos partidos associaram-se à Internacional Comunista (Komitern). O sindicalismo tornou-se particularmente atenuante, e obteve muitas concessões das classes dirigentes, que desejavam evitar novas revoluções socialistas. A guerra também trouxe a crise da democracia liberal. A desilusão, ceticismo e incerteza em relação ao futuro, que marcavam o pós-guerra, a crise socioeconômica e o temor das elites, a pressão dos grupos financeiros e industriais pelos seus interesses e a crescente organização operária, levam ao descrédito das instituições liberais e ao ascenso do autoritarismo e do fascismo, que pregam a violência, o nacionalismo expansionista, a ditadura, e que utilizam amplamente os novos métodos de propaganda e a comunicação de massa.
Já antes da crise de 1929, regimes autoritários e fascistas chegam ao poder: em 1919 na Hungria (alm. Horty), em 1922 na Itália (Mussolini), em 1923 na Espanha (Primo de Rivera) e Turquia (Kemal"Atatürk"), em 1925 na Albânia (Ahmed Zogu), em 1926 na Polônia (Pilsudoski), na Lituânia (Smetona Voldemaras) e em Portugal (Gomes da Costa), e em 1929 na Iugoslávia (onde o Rei Alexandre suspende a constituição e organiza um governo autoritário).
No mundo colonial a "guerra civil europeia" repercute como um incentivo às lutas anticoloniais. A guerrilha no Marrocos espanhol, os protestos na Índia britânica e no Egito, e o aprofundamento da luta social e de libertação nacional na China são exemplos mais significativos deste processo. No oriente, a conferência de Washington (1921-22) impõe um recuo ao imperialismo japonês na China, Sibéria e regula as proporções de tonelagem militar naval de cada potência. Os acordos apenas adiam o confronto entre os interesses japoneses, norte-americanos e britânicos na Ásia e na bacia do Pacífico.
A grande crise e a ascensão do fascismo
A quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em outubro de 1929 foi o ponto de partida de uma grande crise econômica mundial, que era pressentida por alguns críticos já nos anos 20, e que abarcaria a década de 30 como uma grande depressão do mundo capitalista. Nos anos 20, os EUA viveram uma euforia consumista (automóvel, rádio, geladeiras, etc.) e especulativa, que parecia apontar para um futuro grandioso. Em 1928, o presidente Hoover declarou que em poucos anos a pobreza estaria erradicada do país.
Um anos depois, as falências e demissões atingiram cifras astronômicas. Esta crise cíclica de superprodução parece, paradoxal: há excesso de produção e há uma população carente da mesma: há fábricas fechadas, mas há tanta matéria-prima e mão-de-obra quanto antes; há terras férteis sem cultivo, mas há agricultores sem trabalho e fome. A solução parece ainda mais paradoxal: destruir o "excedente", enquanto milhões de pessoas dele carecem (matar o gado nos EUA, queimar café no Brasil, etc.), para que os preços aumentem e o mercado volte a tornar-se lucrativo.
A crise atingiu todos os países capitalistas, na intensidade de sua associação ao mercado mundial. Esta depressão gera um protecionismo comercial que acentua as diferenças entre "potências ricas", que possuem grandes impérios coloniais e reservas financeiras e materiais (EUA, Grã-Bretanha e França) e "potências pobres", carentes de colônias e recursos naturais, além de relativamente superpovoadas (Alemanha, Itália e Japão). Esta situação corresponde ao conceito fascista de oposição entre "nação imperialista" e "nação proletária". Milhões de trabalhadores desempregados ou empobrecidos adotavam uma atitude cada vez mais radical nos países capitalistas. A expansão dos partidos de esquerda preocupa as forças conservadoras. Enquanto a decepção com o capitalismo não cessava de crescer no ocidente, a URSS, lançava seu primeiro plano quinquenal. A URSS lança em fins dos anos 20 a coletivização acelerada, com recursos próprios. Assim, consolidava-se em sua base socialista e o país ascendia à condição de potência no momento em que o ocidente capitalista mergulhava num profunda depressão econômica e intensificavam-se os conflitos sociopolíticos. Grande parte dos trabalhadores ocidentais olhavam com admiração o exemplo soviético, especialmente porque o desemprego na URSS praticamente desapareceu na segunda metade dos anos 30. DE modo, o fortalecimento dos movimentos de esquerda nos países capitalistas e a ascensão da URSS à condição de Estado industrial criam, na percepção da direita internacional, o espectro de uma revolução social mundial, que se sobrepunha às disputas entre potências capitalistas.
A ideologia do fascismo italiano aglutina-se em quatro postulados principais: o primado do Estado, que nega o indivíduo como instância política, defendendo um Estado forte e centralizado (segundo Giovani Gentile, ideólogo do fascismo, totalitário); o primado do chefe que procura legitimar a centralização da autoridade numa liderança unipessoal ("o Duce tem sempre razão"); o primado do partido, que se vincula às questões ideológicas, propagandísticas e de mobilização popular; e finalmente o primado da nação, que constitui o elemento nacionalista e patriótico, destinado a conduzir a Itália ao nível das grandes potências mundiais, com fins expansionistas.
O fascismo católico apresentava, ainda que de forma um tanto difusa, as características nacionalistas, um sistema político centralizado geralmente unipessoal (embora em muitos casos sem partidos políticos), um forte clericarismo, aversão ao liberalismo e a todas as formas de socialismo, além de buscar uma organização corporativa para a sociedade.
Entretanto, possuía um caráter desmobilizador de massas, ao contrário do fascismo italiano e alemão. O fascismo católico implantou-se em países de periferia europeia de base agrícola, como Portugal, Espanha, Áustria, Hungria e Polônia. Seu caráter desmobilizante deve-se ao atraso da estrutura socioeconômica. Esta forma de fascismo constitui um regime intermediário entre o fascismo ítalo-alemão e as ditaduras conservadoras da direita tradicional. A nível internacional, a diplomacia destes países está orientada pela política do Vaticano.
Quanto ao fascismo alemão, ou nazismo, sua estrutura ideológica era bem mais complexa. O Partido Nazista, fundado em 1919 e liderado pelo austríaco Adolf Hitler a partir de 1921, era um movimento político contrarrevolucionário e antiparlamentar. O movimento carecia de unidade ideológica e de uma base lógica, apoiando-se em fontes heterogêneas, tais como "a vontade da potência", de Nietzsche, as teorias racistas de Gobineau e Chamberlain, a "fé no destino", de Richard Wagner, as teorias sobre a herança, de Mendel, a Geopolítica, de Hanshofer, o neodarwinismo de A. Ploetz e A decadência do Ocidente, de Oswald Spengler.
Assim, o nazismo apoiava-se em teorias nebulosas, românticas, místicas, medievais. Fazia apelo ao sentimento, à violência, e baseava-se no irracionalismo. Adotava uma postura reacionária, ao buscar no passado medieval ou ariano uma "idade de ouro perdida". O obscurantismo do fascismo alemão pretendia destruir a civilização oriunda do renascimento, do iluminismo e do liberalismo do século XIX. Era também firmemente anticomunista e antimarxista, embora manipulasse a ideia de um "nacional-socialismo". Em relação à nação, sua postura era de um ultrachauwinismo, expansionista e militarista. O Deutscharaum, ou incorporação dos alemães do exterior ao Grande Reich, w o Lebensraum, ou conquista de regiões aos eslavos (que deveriam ser em parte exterminados, em parte escravizados) para fornecer o espaço vital necessário ao progresso do povo alemão, eram orientações fundamentais deste expansionismo violento. É importante notar que o racismo funciona como um complemento e um impulso ao velho imperialismo alemão, justificando-o.
A expansão para o leste (Polônia e URSS) não seria mais apenas uma vontade governamental, mas o destino de uma raça eleita.
No plano interno, um Estado policial que extirparia, também pela violência, os "males" que corroíam a sociedade alemã. Isto tudo era pregado abertamente como valores positivos, sendo que os propósitos nazistas estão descritos com clareza no livro Minha Luta, escrito pot Hitler.
Mas a ideia-força que movia todos esses princípios era o racismo (que considerava os arianos, em especial os alemães, como uma raça superior), e sua derivação antissemita (o mito do "judeu malvado"). Os germânicos, como raça superior, deveriam dominar, escravizar e até exterminar povos inteiros, diziam orgulhosamente os chefes nazistas. Quanto à questão judaica, baseava-se em parte no velho antissemitismo alemão medieval, mas constituía principalmente um "bode expiatório", culpada de todos os males que afligiam a Alemanha: as Igrejas cristãs, o comunismo e o capitalismo financeiro (liderados pelos "judeus", Jesus Cristo, Karl Marx e Rothschild). É importante mencionar que as teorias racistas de superioridade da raça ariana geralmente elaboradas por alemães que viviam em núcleos minoritários em outros países (como Alfred Rosemberg), ou germânicos não-alemães (como o inglês Houston Stewart Chamberlain e o aristocrata francês Gobineau) careciam de qualquer base científica, e possuíam uma visão romântica e a-histórica.
A década de 30 marca, além da Alemanha, o ascenso ou radicalização de novos regimes fascistas e ditaduras conservadoras: entre 1930 e 1938 na Romênia (rei Carol II), em 1932 na Hungria (Horthy implanta estruturas políticas fascistas), em 1933 na Áustria (Dolfus) e em Portugal (Salazar), em 1934 na Letônia (Karlis Ulmanis), na Estônia (Konstantin Paets), na Bulgária (Rei Boris), em 1936 na Grécia (general Metaxás), entre 1936 e 1939 na Espanha (Guerra civil vencida por Franco) e na Finlândia e movimento fascista Lapua influencia decisivamente as reformas autoritárias do governo. Também quase todos os países latino-americanos tornam-se ditaduras nos anos 30. O liberalismo sobrevive apenas na Europa nórdica e noroeste, bem como na América do Norte. Mas os golpes fascistas apoiados pela direita internacional fracassam na França (1934), graças à reação popular, e na Espanha (1936), onde será obtida a vitória ao custo de uma guerra civil desgastante.
No Japão dos anos 30, a articulação das forças conservadoras é cada vez maior, seja devido aos conflitos internos, seja pelo impacto da crise de 1929 sobre a economia exportadora. A oligarquia dominante teme um movimento operário cada vez mais ativo e consciente. As "ideias perigosas" são combatidas pela censura, pela polícia e por uma educação voltada ao nacionalismo e ao tradicionalismo.
Em 1931 inicia-se a primeira de uma série de guerras regionais, que possuem características comuns: são desencadeadas ou fomentadas pelos países fascistas. A debilidade da economia japonesa faz com que o país seja duramente atingido pela crise de 29 e pelo protecionismo comercial dos EUA, Grã-Bretanha e França. Com a radicalização dos conflitos sociais interno, acelera-se por parte do exército a aplicação do Plano Tanaka, de 1927, que visava a conquista do norte da China, Sibéria e das colônias europeias do sudoeste asiático.
A Manchúria é invadida em 1931, e o Jehol em 1933. Nestas regiões cria-se uma monarquia dependente do Japão (Mandchukuo). A SDN protesta timidamente, enquanto Chang Kai-chek é obrigado a aceitar este fato consumado, devido ao acirramento da guerra civil na China. A perseguição destes aos comunistas liderados por Mao Zedong (Mao Tsé-Tung), leva-os a empreender a "Longa Marcha", até o norte do país, no Chen-Si (1935). O Presidente Hoover declara que a invasão japonesa é útil aos EUA, "para manter a ordem e impedir a bolchevização da China".
Entretanto, a situação europeia torna-se mais tensa, com a ascensão de Hitler ao poder. A Alemanha parte para uma arrancada industrial, monta um grande exército moderno e parte para ousadas jogadas diplomáticas, destruindo o Tratado de Versalhes e ocupando países e regiões vizinhas, sem maiores problemas. Como isto tornou-se possível a uma potência que se encontrava em profunda estagnação econômica, e em tão curto espaço de tempo?
Na verdade, o rearmamento alemão não foi iniciado após 1933. Na primeira metade dos anos 20, a Alemanha de Weimar contou com o apoio da URSS para burlar o Tratado de Versalhes (através de acordos do Tratado de Rapallo). Na segunda metade dos anos 20, os créditos necessários ao reerguimento da indústria bélica alemã viriam dos EUA e Grã-Bretanha. Em 1932, o suposto "fracasso" das conversações sobre o desarmamento em Genebra foi, na realidade, apenas uma aprofundamento da política consciente das potências ocidentais em permitir o rearmamento alemão, ainda antes de Hitler chegar ao poder. Mas com que propósito? Os "mercadores de canhões", como Krupp (alemão) e Scheneider (francês), ou ligados à indústria do aço e do carvão, como Thyssem (alemão) e De Wendel (francês), buscam apoios numa Europa tensa, já que antes de 1929. Neville Chamberlain e Lord Halifax, expoentes de um grupo do Partido Conservador britânico, juntamente com o casal Astor, organizam o chamado grupo Cliveden, que articulará politicamente o cartel do aço e do carvão a nível mundial, ampliando seu apoio na Suíça, Suécia, Bélgica e Holanda. Segundo este grupo, a Grã-Bretanha não resistiria a outra luta fratricida europeia. Era necessário criar uma frente das potências capitalistas, onde o Império Britânico e a França exerceriam seu poder nos impérios coloniais, e à Alemanha caberia a tarefa de dominar a Europa centro oriental, destruindo o Estado soviético w o movimento operário no continente. O apoio destes políticos e industriais a Hitler foi decisivo, quando as opções se esgotaram na Alemanha em crise, no início dos anos 30. E serão eles os principais mentores da chamada política de apaziguamento, que vai permitir aos nazistas ampliar o território e o poder militar-industrial da Alemanha sem encontrar resistência séria.
Em 1935 a região do Sarre é reincorporada à Alemanha, com seus grandes recursos econômicos, é instituído o serviço militar obrigatório e permitida a expansão da marinha alemã até 35% da inglesa, através do Acordo Naval Anglo Germânico. No ano seguinte a Renânia é reocupada e inicia-se a construção da Linha Sigfried. Entretanto, o avanço da direita internacional e do fascismo não é tão linear como aparenta à primeira vista. Na Alemanha, será necessário um expurgo dentro do próprio Partido Nazista em junho de 1934 (a "Noite das Longas Facas"), em que os setores mais ligados aos meios populares foram assassinados, e o esmagamento completo da oposição antifascista.
Em 1934 fracassa o golpe fascista na França, enquanto na Áustria os nazistas assassinaram o ditador fascista católico Dolfus, mas Mussolini e a Igreja os impedem de tomar o poder. A invasão e a conquista da Abissínia (atual Etiópia) pela Itália em 1935 evidenciam a fragilidade do fascismo italiano e católico. Mas a guerra na África oriental serviu para aproximar a Itália da Alemanha, através da criação do Eixo Roma-Berlim em 1936, devido ao boicote inglês à Itália.
A Guernica de Picasso alertará sobre o perigo do nazismo. A opinião dos povos se cristaliza, apesar das intrigas dos diplomatas". (Roche, Alexander. A Segunda Guerra Mundial. História: ensino e pesquisa. Porto Alegre, Sulina, 1985).
Em julho de 1936, o General Francisco Franco subleva-se contra a República espanhola, com o apoio da ala reacionária do exército da Igreja Católica e dos latifundiários. Aviões britânicos e tropas coloniais francesas do Marrocos fornecem um apoio logístico decisivo para o desenvolvimento do golpe, juntamente com a Itália e Alemanha. Mas a população reage. O mito da Guerra Civil Espanhola com um "ensaio geral", em que as potências fascistas exercitam-se militarmente, não resiste a uma investigação histórica honesta. Tratava-se de um golpe fascista, com o apoio internacional, para destruir o movimento operário, os partidos de esquerda e democracia liberal, que deveria estar concluído em uma semana. Em lugar disto, quase três anos de guerra de desgaste, que impedirá Franco de ajudar Hitler na Segunda Guerra Mundial.
Com o aprofundamento do conflito na Espanha, a Alemanha começa a estruturar alianças internacionais e a tentar aproveitar a política de apaziguamento, nesta conjuntura difícil, através de uma postura anticomunista. Em novembro de 1936 assina com o Japão o Pacto Anti-Komintern (colaboração na luta contra a URSS e a Internacional Comunista), que juntamente com o Eixo Roma-Berlim vão embasar a aliança fascista, o Eixo (a Espanha une-se ao Pacto em 1939).
A Guerra Civil Espanhola constituirá um dos exemplos das misérias e grandezas da época. A luta encarniçada entre espanhóis envolveu outros povos, para os quais tratava-se de uma luta entre o fascismo e a democracia. A República recebe o apoio material da URSS e a Internacional Comunista organiza os voluntários de todas as origens nacionais e ideológicas antifascistas nas Brigadas Internacionais (15.000 aproximadamente). Franco é apoiado pela legião condor alemã (10.000 soldados) com a aviação e blindados modernos, pelo corpo Expedicionário Italiano (120.000 soldados), além de fascistas de vários países (algumas centenas). Houve combates de brigadistas alemães e italianos contra seus conterrâneos da Legião e do Corpo Expedicionário. Além disso, Franco recebe o apoio estratégico de Portugal, petróleo dos EUA, e é favorecido pela política anglo-francesa de "não-intervenção" (que só era efetiva contra a República), num jogo duplo que visava a derrota da República. Apesar da vitória franquista em março de 1939, o conflito mostrara a importância ao avanço político e militar do fascismo.
Em 1937, entretanto, a crise econômica volta a se manifestar com intensidade. O boicote de Chang Kai-Chek aos produtos "made in Japan" e a proposta de Mao Zedong para a formação de uma aliança antijaponesa entre o Partido Comunista da China e o Kuomitang (com uma trégua na guerra civil), aliados ao recrudescimento da crise, levam o Japão a invadir o restante da China, ocupando o litoral do país e a maioria das cidades importantes, criando nesta região o governo fantoche pró-japonês de Wang Ching Wei. Em 1938 o Primeiro Exército japonês ataca a URSS, na região do Lago Khassan, mas é derrotado pelo Exército Vermelho.
No ano seguinte, é o território da Mongólia que é atacado pelo exército japonês, na região do rio Khalkhin-Gol, sendo novamente derrotado pelas tropas soviético mongóis. Tal experiência terá profundas repercussões na estratégia japonesa, sobretudo enfraquecendo as tratativas para um acordo dos EUA e Grã-Bretanha com o Japão, contra a URSS.
A nova conjuntura leva Hitler a iniciar a segunda etapa de seu plano de expansão. Estando agora aliado à Itália, ele utiliza o Partido Nazista austríaco para criar no país uma situação propícia aos "Auschluss", ou anexação da Áustria à Alemanha.
Isto se completa sem dificuldades em março de 1938, com tímidos protestos franco-britânicos.
A Guerra Estranha (1939-1940)
Na verdade, este período ainda faz parte da preparação da guerra mundial decisiva, a iniciar-se em 1941 com a entrada da URSS e dos EUA. Por enquanto, os principais atores evitam empenhar-se a fundo.
A Questão Polonesa
Após apresentar um ultimatum à Varsóvia sobre concessões no corredor polonês e forjar o incidente fronteiriço de Gleiwitz, a Alemanha nazista invade a Polônia na madrugada de 1° de setembro de 1939. Com 2.000 aviões e 44 divisões (com 20 a 25 mil soldados cada uma), sendo cinco blindadas e seis motorizadas, a Welmarcht procura colocar em prática a Blitzkrieg (guerra-relâmpago), para vencer rapidamente a um exército polonês que dispõe de 33 divisões de infantaria, 12 brigadas de cavalaria, 400 aviões e algumas dezenas de tanques antiquados. Colunas de tanques avançam rapidamente, seguidas pela infantaria motorizada e apoiadas pelos caças-bombardeiros Stuka. A ocupação do território conquistado cabe à infantaria.
Os Panzer atingem os subúrbios de Varsóvia dia 8 de setembro. Muitos historiadores, como o estrategista Liddell-Hart, procuram atribuir a facilidade deste avanço à eficácia da Blitzkrieg. Mas este argumento é um mito. Primeiro, porque a cúpula polonesa não resistiu e, em segundo lugar, porque as expectativas do Estado-Maior alemão com a guerra-relâmpago não se confirmaram.
Da "Drôle de Guerre" à Queda do Ocidente
A farsa da qual o povo polonês havia sido a grande vítima era apenas parte de uma grande intriga internacional, e que continuava a desenrolar-se. Durante mais de oito meses as tropas franco-britânicas permaneceram praticamente inativas na fronteira da Alemanha, contra a qual estavam em guerra. Inclusive em setembro de 1939 e em abril de 1940, quando o exército alemão encontrava-se em combate em outra frente (portanto, com forças mínimas na fronteira ocidental). A esta situação, a historiografia e a diplomacia denominaram "drôle de guerre" (guerra estranha ou guerra engraçada).
No front, apenas algumas escaramuças e a troca de tiros. Os franceses ocuparam duas pequenas saliências de fronteira alemã, mas delas se retiraram sem que se tivesse havido qualquer contra-ataque.
A mobilização militar e industrial processou-se numa lentidão visivelmente intencional, tanto na França como na Grã-Bretanha. Nenhuma preparação defensiva consistente (confiança excessiva na Linha Maginot?). O governo francês deixou arquivados projetos de aviões e tanques modernos (e que jamais foram fabricados). Todo um exército poderia ter sido criado neste interregno, mas nada foi feito. Enquanto isto, o Partido Comunista Francês era proibido, a esquerda e o movimento sindical perseguidos. Em realidade, o tempo que Hitler precisava para completar seus preparativos estava sendo concedido pelos governos conservadores de Londres e Paris.
Os governos destes países foram forçados pelas circunstâncias a declarar a guerra quando da invasão da Polônia, pressionados por grupos de oposição e para não perder sua legitimidade interna e diplomática. Para o povo e para a opinião pública, a guerra era aceita como uma fatalidade e sem nenhum entusiasmo, uma vez que os próprios grupos dirigentes desencadeavam a mobilização com indisfarçável má vontade.
Atentos a estes acontecimentos (ou "não-acontecimentos"), os soviéticos procuram neutralizar seus vizinhos pouco confiáveis. Assim, pressionam a Estônia, Letônia e Lituânia a assinarem acordos de assistência mútua, que permitiriam à URSS estacionar tropas nestes países, se "ameaçados" por terceiros (alemães). As três pequenas (e estratégias) ditaduras fascistas assinam estes tratados em outubro de 1939, pois pelo Pacto Germano Soviético estavam em área de influência da URSS. Mas a mesma política fracassou em relação à Finlândia. Aqui, as exigências soviéticas eram outras: o arrendamento de uma base naval (Haruko), na entrada do golfo da Finlândia, e a troca de uma faixa de território finlandês no istmo da Carélia (pois Leningrado estava a 30 quilômetros da fronteira) por uma área com o dobro da extensão cedida, em qualquer outro ponto da fronteira. Esta negociação arrastava-se desde o Acordo de Munique, quando Moscou passou a temer seriamente um ataque externo. Mas o governo direitista liderado pelo Marechal Mannerhein (que havia massacrado a esquerda na guerra civil finlandesa e construído as fortificações defensivas na fronteira frente a Leningrado e que levavam seu nome) opôs-se, e foi encorajado pelos aliados e pelos EUA. A situação criada era ideal para forçar Stalin a sair de seu isolamento e envolver-se na crise mundial.
Em 30 de novembro os soviéticos atacam a Finlândia pelo istmo da Carélia, mas encontram uma ferrenha resistência. A URSS é expulsa da SDN, enquanto os anglo-franceses anunciam a preparação de uma força expedicionária para apoiar Helsinque (atravessando o norte da Noruega e Suécia). A imprensa internacional descreve diariamente em detalhes a luta finlandesa e as elevadíssimas baixas do Exército Vermelho em seu lento avanço durante um inverno rigoroso. Finalmente a resistência é vencida pelo peso material e pela mudança tática soviética. Na paz, Moscou (12 de março de 1940), Helsinque tem que ceder mais do que havia sido pedido anteriormente, sem nada receber em troca. O provável engajamento militar anglo-francês contra a URSS poderia ter estimulado Hitler a uma guerra contra esta (Houve também concentração de novos continentes na Síria, Iraque e Irã). Mas ele tinha outros planos, e a possível presença de tropas aliadas na região produtora de ferro da Suécia produziu efeito contrário, reforçando seus planos.
Ao cogitar no envio de uma força expedicionária através do Norte da Noruega e Suécia (países neutros), os governos britânico e francês estimularam a aceleração dos planos de invasão alemã à Dinamarca e à Noruega (operação Wesehrüburg), para garantir a importação de ferro da Suécia via Narvik (pois o golfo da Bótina congela no inverno). Tratava-se também de um flanco importante para as operações contra o ocidente, através de bases aéreas e navais que dificultariam um bloqueio marítimo britânico ao continente.
A Dinamarca é ocupada pela Alemanha em abril sem nenhuma resistência, enquanto a Noruega é atacada (desembarques navais e paraquedistas). Simultaneamente, a Grã-Bretanha ocupa as ilhas Feroe e a Islândia (colônias dinamarquesas e pontos estratégicos do Atlântico norte), enquanto tropas anglo-francesas desembarcam na Noruega e entram em combate com os alemães. Combates navais não decisivos (com perdas de ambos os lados) e uma atuação bastante desordenada das forças terrestres levam à evacuação do país pelos aliados em maio. É o máximo que o grupo de Cliveden consegue. Em maio, enquanto os alemães atacam o ocidente, Churchill chega ao poder na Grã-Bretanha. Entretanto, a influência da direita ainda é forte no exército britânico (mas não na marinha e na RAF).
Com a ocupação da Noruega e a fuga do rei Haakon (que forma um governo no exílio), os alemães entregam o poder local a Vidkun Quisling, um fascista norueguês, que organiza um governo colaboracionista. Na Dinamarca, os nazistas mantêm o governo anterior, embora ocupem o país militarmente.
A 10 de maio de 1940 os alemães atacam a Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França, utilizando o velho Plano Schlieffen da Primeira Guerra Mundial, só que agora executado com a Blitzkrieg.
A Alemanha conta com pouco menos de três milhões de soldados, contra dois milhões e seiscentos mil soldados franceses, seiscentos e cinquenta mil britânicos, o mesmo número de holandeses e setecentos mil belgas. A queda dos três países neutros é rapidíssima, e os Panzer do General Guderian, evitando a Linha Maginot, chegam ao Canal da Mancha em dez dias, cortando em dois o exército franco-britânico. O bolsão norte foi pressionado pelos blindados alemães até ficar encurralado em Dunkerque.
Aqui ocorre um episódio até hoje mal explicado. O Alto Comando alemão ordena os Panzer que sustem o ataque à cabeça de praia de Dunkerque, que é apenas bombardeada pelos Stuka, sem maiores perdas para os 350 mil soldados (a maioria ingleses), que são evacuados por mar para a Grã-Bretanha, sem que os alemães tentassem seriamente impedir a operação.
Durante esta primeira fase da campanha, a resistência anglo-francesa foi desordenada e sobretudo as tropas britânicas empenharam-se de forma bastante limitada.
Esta mútua e ambígua "cordialidade" entre Wehrmacht e o exército de terra britânico reaparecerá em outras ocasiões da guerra ( o grupo de Cliveden encontra-se na defensiva, mas possui ainda influência considerável).
A segunda fase da campanha (a batalha da França), apenas confirma dramaticamente a política que vinha sendo seguida pela direita internacional e pela francesa em particular. A facilidade encontrada pelo avanço alemão surpreende até a Hitler. Paris é declarada "cidade aberta" pelo Estado-Maior francês e ocupada sem luta pelos alemães. Importantes reservas militares não são usadas. Toda infraestrutura econômica é entregue intacta aos invasores, enquanto as tropas desmoralizadas encontram-se entregues à própria sorte. O governo conservador francês parece mais preocupado em impedir uma revolta popular contra sua política de desmantelamento das conquistas sociais da III República do que em combater os nazistas. O fantasma da rebelião popular da Comuna de Paris de 1871 parece rondar a imaginação da direita política e militar, p pelo menos justificar seus projetos.
Em 10 de junho, a Itália declara guerra à França e ocupa pequenos trechos juntos à fronteira alpina. O armistício franco-alemão é assinado a 22 de junho de 1940, em Compiègne, pelo velho Marechal Pétain (num ato repleto de simbolismo). A França é dividida, sendo o norte ocupado militarmente pelos alemães, que anexam a Alsácia-Lorena, Luxemburgo e alguns distritos belgas. A monstruosa comédia que fora a queda da França estava concluída. Agora começava a tragédia para o povo francês. Seis anos depois da primeira tentativa, a direita e a extrema-direita conseguem implantar uma ditadura apoiada por uma invasão estrangeira. No sul da França cria-se um regime fascista e corporativo, liderado por Petáin, com a capital em Vichy. O regime de Vichy é apoiado pela greja Católica, pelos partidos de direita e fascistas, como os Croix-de-Feu, bem como por grande parte dos industriais e de alta finança francesa, e colabora com o III Reich. A política de homens como Laval, Reynaud, weygand e Pétain realiza as aspirações da direita francesa. Intensifica-se a repressão à esquerda, ao sindicalismo, anulam-se todas as conquistas sociais, enquanto o lema da Revolução Francesa "liberté, egalité, fraternité", é substituído pelo lema da direita "patrie, famille, travail".
A resistência organizam-se no exterior com De Gaulle e no interior do país. As colônias ficam sob o poder de Vichy (exceto a África equatorial francesa, que apoia De Gaulle), mas a marinha britânica (Royal Navy) afunda boa parte da esquadra francesa em Oran (Argélia).
Na Holanda, com a fuga da família real e a formação de um governo no exílio, Hitler nomeia Seyss-Inquart, Comissário do Reich, que administrará o país com o apoio do líder fascista holandês Mussert. Na Bélgica, com o internamento do Rei Leopoldo III, os alemães governam apoiados pelos fascistas belgas ("rexistas"), liderados por Leon Degrelle. Este é, aliás, um fenômenos comum nos países dominados: a colaboração dos grupos fascistas e de parte da direita tradicional.
Entrementes, Stalin sente-se bastante inquieto com a facilidade com que Hitler conquista a França, tanto pelo poder da Wehrmacht , como pela maneira com que o país lhe fora entregue. Durante o verão a esquerda é encorajada a tomar o poder da Lituânia, Letônia e Estônia, derrubando os governos direitistas, pró-alemães, enquanto a conjuntura era favorável.
Governadas por grupos pró-soviéticos, as três repúblicas bálticas foram anexadas à URSS como repúblicas federadas, em agosto de 1940. Estas três repúblicas haviam feito parte do império russo e tornadas independentes pelos "brancos", alemães e ingleses durante a guerra civil na URSS (que também opunha "brancos" e "vermelhos" dos países bálticos). A URSS também anexou a Bessarábia, que Hitler convenceu a Romênia a ceder "por enquanto". A região também pertencera à Rússia e fora ocupada pela Romênia durante a Guerra Civil, ocupação não reconhecida pela URSS. A Bessarábia tornou-se República Federada da Moldávia. Também o norte da Bukovina, povoado por ucranianos, foi anexado à Ucrânia. Desta forma, a fronteira soviética fora deslocada para o ocidente em quase toda sua extensão.
Logo depois (agosto de 1940), a Romênia cedeu o norte da Transilvânia à Hungria e a Dobrudja meridional à Bulgária, onde habitavam populações dos respectivos países. Enquanto isto, Antonescu torna-se primeiro-ministro romeno, aumentando a influência alemã no país.
A produção bélica alemã intensifica-se, atingindo em 1940 vite e duas vezes o volume de 1933.
Em 1941 a Alemanha controla direta ou indiretamente, além de seus 70 milhões de habitantes, mais de 220 milhões nas zonas ocupadas ou de seus aliados, sendo que além dos 10 milhões de operários industriais, o país dispõe nestas nações de mais de 18 milhões. Também os recursos naturais (agropecuários e minerais) ampliam-se com estas conquistas. A produção de aço e carvão é duplicada e outros minerais (como o petróleo), com que a Alemanha não conta, passará a estar `s sua disposição. Além disso, a produção sintética de matérias-primas estratégicas se intensifica.
Não se pode deixar de ser mencionado o fato de que os países neutros europeus exportam grande parte de seus recursos para a Alemanha ou servem de intermediários nas importações alemãs, para burlar o controle britânico sobre as rotas navais. Isto não apenas ocorre com as ditaduras neutras que simpatizavam com o III Reich, como Portugal, Espanha e Turquia, mas com as democracias liberais também neutras, como A Suíça e a Suécia. Os minérios suecos e espanhóis serão de vital importância para esta gigantesca economia militarizada.
A Batalha da Inglaterra desenrolou-se no sul do país, entre 10 de julho e 31 de outubro de 1940.
Os bombardeiros alemães visavam inicialmente a navegação, depois os aeroportos e, finalmente, as cidades e indústrias. Após sofrer grandes perdas, os alemães passaram a efetuar bombardeios noturnos indiscriminados sobre as cidades, sobretudo Londres. Depois de outubro, os bombardeios tornaram-se esporádicos, estando encerrada a batalha em que os alemães perderam aproximadamente 1.700 aviões, contra 900 caças britânicos. Grandes destruições e sofrimentos foram causados à economia e à população, embora em nível muito inferior ao que a própria Alemanha viria a sofrer.
No Mediterrâneo, os ataques da Royal Navy à marinha italiana revelam a debilidade desta. Em outubro, Mussolini ataca a Grécia a partir do território albanês, mas o exército grego, apoiado pela RAF, contra-ataca e ocupa parte da Albânia. Os italianos atacam também o Egito, a partir do território líbio, mas em dezembro o exército britânico empurra as tropas fascistas de volta à fronteira. O exército italiano acantonado na África oriental italiana, por sua vez, ataca e ocupa a Somália britânica e francesa, um trecho no Quênia e algumas cidades além da fronteira sudanesa, ambas colônias britânicas, onde são contidos. Para estas derrotas contribuíram não apenas a conhecida ineficácia do exército fascista de Mussolini, mas também a determinação do exército britânico em combatê-lo. Se alguns aspectos do expansionismo alemão interessam ao grupo de Cliveden, o mesmo não ocorre em relação ao italiano, que afeta diretamente os interesses de Londres no Mediterrâneo, África do norte e oriental (que ameaçam o Oriente Médio, onde desde os 30 anos o petróleo torna-se o novo objeto de disputa imperialista).
Com a eclosão da guerra na Europa e com a derrota da França, o militarismo japonês aproveita para ampliar suas conquistas no sul da China. Após celebrar uma aliança com a Tailândia, o Japão ocupa a Indochina francesa (Vietname, Camboja e Laos), apoiado pelo exército tailandês e com a conivência do governo de Vichy, que teme a presença britânica na região.
A Tailândia anexa parte da Indochina, sendo que a maior parte continua administrada pelo Almirante Decoux da França de Vichy, mas com tropas, bases militares e exploração econômica do Japão. Este será um trampolim importante para a expansão nipônica pelo sudeste asiático no ano seguinte.
A concessão feita por Vichy responde, ainda, à tentativa da Alemanha de estreitar sua colaboração com o Japão, consagrada num acordo assinado também pela Itália em Berlim (27/9/1940).
A expansão fascista e a "Nova Ordem" (1941-1942)
O ano de 1941 marca a intensificação da guerra, com a invasão alemã à união Soviética é o ataque japonês à esquadra norte-americana em Pearl Harbour. Só então o conflito adquire dimensões mundiais e o caráter de guerra total. Esta fase é marcada pela supremacia do Eixo e de sua expansão, embora sofra suas primeiras derrotas. Nos imensos territórios conquistados, estas potências vão instaurar sua "nova ordem", mas terão de enfrentar dura resistência dos povos ocupados.
Na Albânia, as tropas italianas enfrentam com dificuldade a contra ofensiva grega. Para a Alemanha chega o momento de dominar os Bálcãs e o Mediterrâneo oriental, como parte da preparação do ataque à URSS (reforçando o flanco direito da ofensiva). Em fins de 1940 as tropas alemãs já haviam entrado na Romênia, com o consentimento de Antonescu. Em 20, 23 e 24 de novembro deste ano, a Hungria, a Romênia, e a Eslováquia aderem ao pacto de Berlim. Na Bulgária, foi necessária uma forte pressão alemã, devido à oposição popular (inclusive o país não enviará tropas contra a URSS, pois estas podiam voltar-se contra os alemães). Somente em março de 1941 Sófia adere ao Pacto, seguida poucas semanas depois pela Iugoslávia. Entretanto, uma revolta popular derruba o rei, levando ao poder seu sucessor, Pedro III, que assina um pacto de amizade e não-agressão com a URSS. No dia seguinte, os alemães bombardeiam Belgrado e invadem o país ("Operação Marita"), apoiados por tropas húngaras e italianas. O país logo dominado e desmembrado: a Alemanha anexa o norte da Eslovênia; a Itália incorporou parte da Dalmácia, o sul da Eslovênia, as regiões povoadas por albaneses e estabelece um protetorado sobre Montenegro; a Bulgária anexa a Macedônia, enquanto a Hungria ocupa Voivodina e Batchka; a Croácia torna-se um Estado fascista católico independente, governado por Ante Pavelic, líder do movimento fascista Ustacha, e adere ao Exo. O que resta da Sérvia é ocupado pela Welmacht, com a colaboração do fascista sérvio Nedic, enquanto o rei foge e funda um governo no exílio.
Simultaneamente, os alemães invadem a Grécia, cujas forças são derrotadas rapidamente, enquanto as tropas britânicas desembarcadas no país pouca resistência opõem ao invasor. Novamente a atitude do Exército britânico é complacente com o avanço alemão. A Bulgária anexa a Trácia, enquanto o restante do país é ocupado por alemães e italianos. O Rei Jorge II foge para Londres, onde organiza um governo exilado. Mas a política alemã para o Mediterrâneo oriental tem dificuldades, devido às perdas que a marinha italiana sofreu desde o segundo semestre de 1940. Para poder atacar as rotas navais britânicas na região, os paraquedistas alemães desembarcaram na ilha de Creta, defendida por britânicos e neozelandeses. A ilha poderia também servir de apoio para o controle do Oriente Médio. Enquanto os paraquedistas ocupam Creta, com duras perdas, as tropas britânicas intervêm no Iraque para sufocar o levante pró-Eixo de Rachid Ali Gailani (maio de 1941).No mês seguinte, tropas de De Gaulle e forças britânicas atacam a Síria e o Líbano, controlados pelo governo de Vichy.
Em maio de 41 Hitler envia reforços aos italianos em dificuldade na Líbia, à condição que o comando das tropas conjuntas caiba aos alemães. A Itália perde sua vontade própria como potência fascista, tornando-se uma aliada submissa à estratégia alemã. O Afrika Korps, comandado pelo General Rommel, importante estrategista militar alemão, passa à ofensiva e recupera a Cirenaica líbia, exceto o porto de Tobuk, onde os australianos resistem cercados.
"Operação Barbaroxa": a invasão da URSS
Os preparativos para a invasão da URSS iniciaram-se no segundo semestre de 1940, e deveria ser desencadeada em maio de 1941. Os problemas encontrados para enquadrar os países balcânicos obrigaram Hitler a adiá-la por um mês. Entrementes, enviou seu fiel colaborador Rudolf Hess para negociar o apoio ou a neutralidade da Grã-Bretanha. Voano num Messerschmitt 110, ele saltou de paraquedas no norte deste país, próximo à propriedade rural de Lord Hamilton, simpatizante da Alemanha e do grupo de Cliveden. Ivon Kirkpatrik e os Lords Hamilton, Simon e Beaverbook negociam com Hess, mas Churchill nega-se a uma aliança com o III Reich. Esta aliança também é recusada pelo Partido Trabalhista e pelos sindicatos operários britânicos durante as conversações, o que isola o grupo de Cliveden.
A oferta de Hess ao Império Britânico de dar-lhe carta branca nas colônias que já lhe pertenciam, devolução das colônias alemãs e confirmação do poder nazista sobre a Europa, em troca do apoio britânico contra a URSS, é insatisfatória para Londres.
Dia 22 de junho, 153 divisões alemãs, 17 finlandesas, 18 romenas e duas húngaras atacam a URSS de surpresa, desencadeando a maior campanha militar da história (numa frente de 3.000 quilômetros, 5.000 aviões, 5.000 tanques e, no auge da luta, 300 divisões). O Plano Barbaroxa pretendia a ocupação da linha Arkehangel-Volga antes do auge do inverno. O Grupo de Exércitos do Norte (Von Leeb) deveria ocupar Leningrado e chegar ao mar Branco; O G. E. Centro (Von Bock) deveria ocupar Moscou e o centro da Rússia europeia; e o G. E. Sul (Von Rundstedt) deveria avançar na Ucrânia, ocupando Kiev, a bacia siderúrgica do Donetz e a Crimeia, junto ao mar Negro. A concentração de tropas em cidades que logo são cercadas aparenta ser um absurdo. Mas o tempo perdido e o desgaste sofrido pelos alemães acabam compensando o incrível sacrifício humano. Kiev cai após longo cerco. Leningrado é cercada pelas tropas alemãs e finlandesas, mas resistirá 900 dias, até ser libertada. O esforço e os sacrifícios de seus três milhões de habitantes, que ingeriram apenas alguns gramas de pão por dia, é algo que deita por terra certos argumentos tendenciosos sobre a resistência soviética. As forças alemãs não conseguem avançar mais, enquanto o Exército Vermelho contra-ataca (6 de dezembro). O exército alemão é obrigado a recuar bastante em toda a frente. A batalha de Moscou é a primeira derrota militar nazista na guerra. É o fim da Blitzkrieg. Começa uma luta de desgaste material e humano, desfavorável à Alemanha.
Quais as razões da derrota? Historiadores conservadores lembram o valor tradicional do soldado russo na resistência ao invasor. Então por que não resistiram na guerra da Crimeia? E na Primeira Guerra Mundial? E contra o Japão em 1905? As razões são muitas e complexas.
É verdade que Stalin fomentou o nacionalismo e lembrou a resistência aos cavalheiros teutônios. Mas o nacionalismo também foi fomentado em todos os países nos anos 30. Certamente isto ajudou, mas não se trata de defender a "velha mãe Rússia", pois agora ela também a "pátria do socialismo" (a expressão é válida, pois era o único país socialista). Apesar dos excessos da política de Stalin na industrialização e coletivização da agricultura soviética, o povo sabia o que vinha atrás dos exércitos nazistas: não apenas a destruição de todas as conquistas sociais da revolução, mas a escravização ou exterminação pura e simples.
A abnegação completa com que a população e os soldados resistiram à Welvrmacht deitou por terra a previsão de Hitler de encontrar um povo apático e um regime corrupto, impopular e incompetente. Além do mais, a pilhagem e a crueldade individuais ou oficiais contra os povos da URSS mostrou quais eram os propósitos dos invasores. A Romênia anexou parte da Ucrânia e a Finlândia anexou os territórios ocupados por seus exércitos a Alemanha nomeou comissário do Reich para administrar os países bálticos, Bicho da Rússia e o restante da Ucrânia, enquanto ficava sob administração militar direta
Pearl Harbor e a expansão japonesa
Para se ter uma ideia clara das razões do ataque japonês às posições norte-americanas no Pacífico, é preciso avaliar a diplomacia anglo americana, antes e após a invasão da URSS. Os EUA iniciaram o seu rearmamento desde o Acordo de Munique, e apoiaram materialidade a Grã-Bretanha desde o início da guerra. Esta colaboração é oficializada com a Lei de Empréstimos e Arrendamento (em que a ajuda americana constitui um instrumento de domínio sobre uma Grã-Bretanha devedora, no pós-guerra) e a Carta do Atlântico, de agosto de 1941. Roosevelt e Churchill resolveram aliar-se à URSS, apesar das reservas do segundo. São enviados materiais, sobretudo de transporte e apoio militar, pois a indústria soviética concentraria-se principalmente na produção de armamentos após o ataque nazista.
A Alemanha pede no Japão que também invada a URSS, invocando os acordos de Berlim (setembro de 1940). O exército nipônico aumenta sua concentração na Manchúria, o que obriga parte do Exército Vermelho a permanecer na Sibéria (apesar do pacto de neutralidade soviético japonês em abril de 1941), enquanto os alemães atacam no ocidente. Mas os japoneses observam a guerra sem atacar. A recordação das derrotas de 1938 e 39 e a presença militar soviética, aliada às necessidades econômicas imediatas em matérias-primas localizadas no sudeste asiático (sobretudo petróleo), faz com que os japoneses abandonem seu interesse pela Sibéria. Paralelamente, a política anglo americana para o extremo oriente, implícita no contexto da Carta do Atlântico, entra em ação. O Japão sofre um embargo petrolífero, boicote comercial e a fonte de pressão diplomática. Os anglo-saxões temem pelas colônias europeias da região, pois a França e Holanda foram derrotadas e a Grã-Bretanha encontra-se em dificuldades. Os EUA procuram pressionar o governo do Príncipe Konoye, que está disposto a ceder parcialmente. Mas os interesses nipo-americanos na região são excludentes. A situação do Japão torna-se difícil, e eles denunciam o "cerco ABCD" (americanos, britânicos, chineses e holandeses-Dutch). Só resta a rendição aos EUA ou o ataque imediato, pois os estoques japoneses esgotam-se rapidamente. Konoye demite-se, e o cargo de primeiro-ministro é ocupado em setembro de 1941 pelo Almirante Hideki Tojo, membro da extrema direita militância japonesa. Prepara-se o ataque, que já era esperado pelos EUA.
Na manhã de 7 de dezembro de 1941 uma força-tareça japonesa comandada pelo Contra-Almirante Naguno e integrada por vários porta aviões ataca a base naval norte-americana de Pearl Harbur, no Havaí, enquanto o embaixador japonês em Washington entrega a declaração de guerra ao governo dos EUA. O ataque destrói muitos navios de superfície, e a opinião pública norte-americana, chocada, apoia a entrada do país na guerra. Aparentemente o ataque foi uma ação de surpresa.
Ojapão inicia imediatamente após Peral Harbur uma grande ofensiva em três frentes, dando início à guerra aeronaval no Pacífico. Os recursos técnico industriais são os fatores decisivos para este tipo de guerra. E a superioridade dos EUA sobre o Japão neste campo é esmagadora. Mesmo assim, a ofensiva inicial é vigorosa. Na frente principal, na direção sul, a marinha e o exército nipônicos atacaram as Filipinas (colônias dos EUA) e as Índias holandesas (Indonésia), que abasteceriam o pa[is de matérias-primas. A conquista das Filipinas inicia com o desembarque em Luzón e Mindanas, e conclui-se em maio com a rendição da ilha-fortaleza de Corregidor. Milhares de soldados norte-americanos são aprisionados. As índias holandesas são ocupadas entre janeiro e março, com a rendição das tropas coloniais holandesas.
Na frente leste, os japoneses desencadeiam ataques radicais em série, sobre as ilhas da Oceania. Guan Wake, bases avançadas dos EUA, são conquistadas ainda em dezembro de 1941. Em janeiro-marco de 1942 são ocupados os arquipélagos de Bismark, Salomão, Gilbert e a metade morte de Nova Guiné, graças à ação combinada da frota naval; aérea e do exército japoneses. Em junho, são ocupadas algumas das ilhas Alentas (Alaska), no Pacífico Norte. Enquanto isto, na frente oeste, os japoneses afundam os encouraçados britânicos Repulse e Prince of Wales e ocupam Hong-Kong em dezembro de 1941. Aliados à Tailândia, os japoneses desencadeiam uma ofensiva terrestre na região, invadindo a Malásia e Cingapura (fevereiro de 1942) e ocupando a Birmânia (Burma), que faz parte da Índia britânica, em abril do mesmo ano. Na fronteira entre a Índia propriamente dita e a Birmânia, são detidos pelo exército indo-britânico. Estas conquistas japonesas foram facilitadas porque as ocupações coloniais não estavam interessadas em defender seus dominadores, que por sua vez temiam em mobilizar os "nativos" contra os invasores. O colonialismo e o racismo faziam com que a luta inicial se restringisse aos soldados das metrópoles e tropas japonesas.
Nos territórios dominados pelo Japão em 1942 encontravam-se 450 milhões de habitantes. Nos territórios dominados pela "nova ordem" oriental, os japoneses fomentam o nacionalismo antieuropeu e anti norte-americano, mas a exploração da força de trabalho local, a pilhagem dos recursos locais (e as grandes fomes resultantes) e o colapso das estruturas de dominação colonial facilitam a formação de movimentos de resistência na Indochina, Birmânia, Filipinas, Malásia e Índias holandesas. A Tailândia anexa novos territórios (da Birmânia e Malásia britânicas) como retribuição por seu apoio aso Japão.
Na Guerra do Pacífico, a expansão japonesa ocorreu nos seis primeiros meses. Com a derrota de sua esquadra na Batalha do Mar de Coral em maio de 1942, a expansão rumo ao sul é detida próximo à Austrália. Em junho, os japoneses perdem a "Batalha dos Porta Aviões" em Midway, bloqueando-se a expansão rumo ao leste (tiveram quatro de seus porta-aviões afundados). Com o desembarque norte-americano-australiano em Guadalcanal em agosto, inicia-se a resistência às forças dos EUA durante quase um ano, em relativo equilíbrio militar. Guadalcanal só será conquistada em fevereiro de 1943, após terríveis combates. A contra ofensiva geral dos EUA só será desencadeada em julho de 1943.
A frente leste: de Moscou ao Cáucaso
A derrota às portas de Moscou (a primeira da guerra), a contra ofensiva, soviética no inverno de 1941-42, as fortes baixas sofridas pela Wehrmacht e o ataque do Japão aos EUA, e não à URSS (sem comunicar Hitler), foram um duro golpe para os planos alemães. Mas o avanço japonês obtém tal sucesso nos primeiros meses, que os fascistas europeus recuperam seu otimismo. Os alemães conseguem, na Batalha de Kharkov, deter a contra ofensiva soviética na primavera e preparam sua campanha de verão. Para repor as perdas sofridas, os recrutas alemães parecem insuficientes. Novas tropas são socialistas aos países do Eixo: um exército italiano, um húngaro, mais tropas romenas e eslovacas, um grande número de divisões SS e novos blindados são enviados à frente leste.
As forças alemãs, reocupam a península de Kerch e tomam a cidade de Sebastopol, cercada há quase um ano. Em junho, inicia-se a ofensiva de verão. Mas a resistência do Exército Vermelho em Voronezh é de tal ordem que o ataque alemão desvia seu impacto principal para o sul, onde a resistência parece menor. Moscou fica definitivamente fora do alcance alemão, mas no norte os soviéticos não conseguem libertar a cidade de Leningrado do cerco alemão-filandês.
Os exércitos fascistas avançam em dois eixos, um rumo a Stalingrado, outro ao Cáucaso. As tropas alemãs atingem em agosto o monte Elbus, o mais alto do Cáucaso, mas não conseguem avançar além seja através das montanhas até a fronteira turco-soviética, seja através das estepes até o mar Cáspio, cortando as comunicações da URSS com os aliados, via Irã. O IV Exército Panzer e o IV Exército alemães entram em Stalingrado e travam uma batalha de desgaste, rua por rua, casa por casa, conquistando quase toda a cidade (16 de setembro a 18 de novembro). Aqui observa-se novamnete traços do irracionalismo nazista, pois os recursos usados contra Stalingrado ultrapassam em muito sua importância puramente militar e econômica. Tratava-se da "Cidade de Stalin", ou seja, um símbolo do poder socialista, bem como da resistência do Exército Vermelho e do povo soviético. Sua conquista tornou-se uma questão de honra para Hitler e seus generais. A tensão da Batalha de Stalingrado pode ser bem expressa pelo volume de tropas empregadas por ambos os lados: um milhão e setecentos mil homens. Trata-se da maior batalha da história em número de soldados envolvidos e, em termo político-militares, a mais importante da Segunda Guerra Mundial. Enquanto isto, os pedidos soviéticos de um desembarque aliado na Europa ocidental, a pressão sobre a frente leste, recebe negativas sobretudo britânicas.
O Japão, por sua vez, coloca as suas tropas no norte da China, Manchúria e Coreia em estado de alerta. Uma derrota em Stalingrado daria aos japoneses a oportunidade de atacar a Sibéria. Mas eles aguardam o resultado da batalha. A Turquia, por sua vez, é pressionada pelos alemães para atacar o Cáucaso pelo sul. Embora a Turquia tivesse grandes ambições na área, prefere aguardar o desfecho da luta e observar a política britânica, para depois se manifestar. Trata-se do auge da expansão do Eixo e de sua "nova ordem" fascista na Europa e na Ásia.
A "nova ordem" e os movimentos de resistência
Centenas de aldeias foram massacradas em gigantescas campanhas punitivas. O movimento de resistência e a repressão alemã a estes movimentos era de qualidade diferente no leste e oeste europeus. A "solução final" (eliminação física dos judeus) choca pela sua simples menção. Mas não se pode esquecer também os ciganos no mesmo caso e as populações eslavas que, segundo os nazistas, deveriam ser eliminadas para deixar seu lugar aos germânicos (sobretudo russos e poloneses). Os recursos naturais como minérios, madeira e alimentos eram canalizados para o Reich, o que implicava em racionamentos na Europa ocidental e fome generalizada na Polônia e URSS. Muitas obras artísticas e valores bancários (sobretudo ouro) foram transferidas para a Alemanha A se ter uma ideia do grau de pilhagem dos recursos dos países ocupados, basta ver que as florestas de uma ampla região entre a Polônia, Lituânia e Belo Rússia tiveram que ser totalmente replantadas após a guerra.
A questão do trabalho é particularmente interessante para mostrar as "realizações da civilização fascista" na Europa. A intensidade do recrutamento militar no III Reich tornava necessária a contratação de trabalhadores estrangeiros. Progressivamente estes passavam a ser enviados à força, enquanto as indústrias introduziam o trabalho escravo. Os prisioneiros de guerra também passaram a ser utilizados, enquanto muitas indústrias instalavam-se nos campos de concentração (Siemens, Krupp, entre tantas), onde os escravos trabalhavam até a morte.
A Polônia era o país com maior população judaica. Lá, estes foram concentrados em guetos, campos de trabalho e finalmente campos de extermínio. Milícias locais apoiavam as tropas e a polícia alemãs na perseguição aos mesmos. Nos campos de exermínio de Auschwitz, Chelmno, Belzec, Sobibor e Treblinka, a política nazista de genocídio foi responsável pela eliminação de seis milhões de judeus (cuja esmagadora maioria era constituída de humildes trabalhadores da Europa centro-oriental, pois grande parte dos "ricos" pôde emigrar do Reich antes de 1939) e seiscentos mil ciganos, além de milhões de poloneses, ucranianos e russos. Na Europa fascista apenas A Itália, França, Finlândia, Bulgária e Dinamarca resistiram à "solução final".
Desde o seu surgimento, os movimentos de resistência estiveram divididos: grupos conservadores antinazistas que desejavam a restauração do regime anterior à guerra e grupos de esquerda que desejavam que a luta de libertação fosse acompanhada de reformas sociais progressistas. Em alguns países os grupos de resistência travaram uma verdadeira guerra civil paralela, pois estava em jogo o poder no pós-guerra. Na Iugoslávia e Grécia, os grupos conservadores chegaram a apoiar os alemães em várias ocasiões, para enfraquecer os concorrentes, ou geralmente mantiveram longas tréguas com as tropas nazistas. Entre 1939 e o verão de 41, os partidos comunistas enfrentaram as dificuldades decorrentes do Pacto Germano Soviético, pois eram dissuadidos por Moscou a não enfrentar abertamente os alemães. Mesmo assim, os comunistas de cada país aderem à resistência e procuram organizar-se para o momento decisivo. Com a invasão da URSS em 1941, os PCs intensificam a luta antinazista, imprimindo grande dinamismo ao conjunto do movimento. O acerto da estratégia adotada, o grande empenho dos comunistas na resistência e a simpatia popular despertada pelos sacrifícios e sucessos da URSS na luta contra o III Reich fizeram com que a força dos grupos de esquerda crescesse com o desenvolver da guerra. Os aliados ocidentais apoiavam e reconheciam preferencialmente os grupos conservadores.
Na Iugoslávia a luta de guerrilhas atingiu seu maior desenvolvimento. A guerrilha de inspiração comunista liderada por Tito libertou vastas áreas do território do país enquanto os "Tchetniks" conservadores, liderados por Mihailovich, chegaram a aliar-se aos alemães ( a ponto dos ingleses romperem com o grupo, ficando sem alternativas na política interna do país). Na Grécia, com a retirada alemã, eclode uma guerra civil entre os grupos ELAS (frente liderada pelos comunistas) e EDES (conservador). Durante a ocupação o ELAS chegou a manter zonas libertadas. Na Albânia, a guerrilha organizada pelos comunistas (liderada por Enver Hodja) lutou contra os italianos. Na Noruega, Dinamarca, Holanda e Bélgica, os grupos de resistência conservadores predominavam, e recebiam apoio britânico, embora as ações nestes países fossem menos intensas que em outros. Na França, as FFI (Forces Françaises de lˊInteriaur), subordinadas ao General De Gaulle, e os FTP (Franc-Tireurs et Partisans), ligados aos grupos de esquerda, lutaram lado a lado contra os ocupantes. Na Polônia, o AK (Armia Krajowa – Exército do Interior, de orientação conservadora) e o AL (Armia Ludowa-Exército Popular, frente de esquerda pró-soviética) combateram os alemães, mas mantiveram relações tensas.
Na Itália, a resistência só será intensificada com a rendição e divisão do país em 1943. Os grupos vinculados à frente liderada por comunistas e socialistas eram mais fortes, e combateram os alemães e os fascistas no centro-norte do país. Na Tchecoslováquia, a guerrilha liderada pelos comunistas promoveu desde sabotagens a insurreição armadas contra os nazistas. Na Romênia e Bulgária, a resistência somente pode intensificar sua ação quando da aproximação das tropas soviéticas e enfraquecimento dos respectivos governos. Na Alemanha e Hungria a resistência teve grandes dificuldades, concentrando-se na espionagem, organização de greves e propaganda antifascista, além de complôs na Alemanha. Havia grande divisão político-ideológica dentro da resistência destes países. Já na URSS, a guerrilha teve um caráter um pouco diferente. O comando e organização dos grupos espontaneamente formados estava a cargo do próprio Exército Vermelho, e a guerrilha trabalhou em estreita vinculação com este. Amplas regiões do país foram libertadas e a guerra na retaguarda alemã obrigou estes a promoverem enormes campanhas contra a insurgência. A ação dos "comandos especiais" A, B, C e D (da SS), que iam de aldeia em aldeia exterminando a população, e a crueldade da repressão levava o povo russo à intensificar sua luta de resistência. É digno de nota, ainda, que milhares de guerrilheiros eram prisioneiros fugidos que lutavam em outros países.
As guerrilhas de resistência retiveram grande volume de tropas alemãs longe da frente e causaram grandes danos à economia de guerra do III Reich e ao abastecimento das tropas. Os movimentos de resistência não só procuraram estimular a deserção no exército de seus países (integrantes do Eixo), como acolheram até desertores alemães (em países ocupados). Na verdade, os movimentos de resistência acabaram se tornando uma forma de guerra popular, que em muitos casos representou não só uma luta contra o invasor, mas um conflito de classes. Os complôs dos diplomatas perdem força face à guerra dos povos. Para os aliados ocidentais, isto vai representar uma grande preocupação no "final da guerra e no início da paz".
Também no oriente formam-se movimentos de resistência à ocupação japonesa. Na Coreia as guerrilhas esquerdistas são comandadas por Kim Il Sung, enquanto na China o Partido Comunista fomenta a resistência nas áreas ocupadas pelos japoneses. Mas as relações entre o Kuomitang e o PC são tensas, apesar da trégua acertada para a luta antijaponesa. Nas Filipinas a organização popular Hukbalahap luta contra os invasores. Na Birmânia a Liga Antijaponesa de Libertação Nacional também se engaja na luta. Na indonésia e Malásia também se formam movimentos de resistência. A guerrilha vietnamita antijaponesa é comandada por Ho Chi Minh.
Embora os aliados procurassem fomentar movimentos antijaponeses, estes esbarravam num grave problema: o que tinha para oferecer à população além da restauração colonialista? Embora a resistência tenha se organizado como frente antijaponesa, a força de esquerda fomenta ideais anticolonialistas. Assim, não se tratava apenas de uma luta contra o invasor, mas pela independência nacional. No Vietname, Coreia, Malásia e China soma-se, ainda, o princípio de transformação social e criação de regimes socialistas. Na Indonésia, Birmânia e Filipinas surgiram fortes partidos esquerdistas das frentes antijaponesas. Novos problemas para os aliados no "final da guerra e no início da paz".
A Contra-ofensiva aliada (1943-1944)
O inverno de 1942-43 marcou o ponto de virada da Segunda Guerra Mundial. No início de novembro, o Eixo atingia sua máxima expansão e a conquista de Stalingrado estava quase completa. A situação parecia indicar o triunfo da Alemanha nazista, enquanto no Pacífico a situação não evoluíra. A própria diplomacia parecia estar em compasso de espera, aguardando uma denifição da situação na frente russa.
A Frente Leste: de Stalingrado a Varsóvia
No dia 19 de novembro de 1942 o Estado Maior alemão e os líderes fascistas são bruscamente despertados de sua aventura otimista, que se transforma em pesadelo. A contra-ofensiva soviética desencadeada ao norte e sul de Stalingrado cerca o VI Exército comandado por Von Paulus. As tentativas de resgatar a guarnição cercada fracassaram. Também no Cáucaso a contra ofensiva é vigorosa. As divisões alemãs recuam para não serem isoladas. Só então o Alto Comando nazista compreendeu a estratégia soviética, quando o melhor de seu exército encontrava-se ameaçado nos confins da periferia russa, longe dos centros de abastecimento. Mais de duzentos mil soldados rendiam-se dois meses de cerco. Desde as guerras napoleônicas que o exército alemão não sofria uma derrota de tal magnitude.
O Exército do Cáucaso abandona a região (menos a península de Kuban), para evitar o cerco, enquanto o Exército Vermelho avança em todas as frentes, até 600 quilômetros durante o inverno. Um estreito corredor ligando Leningrado às linhas soviéticas foi estabelecido, mas a cidade permaneceria semicercada e bombardeada diariamente ainda durante mais de um ano. Uma centena de divisões alemãs foi destruída, juntamente com as forças romenas, húngaras e italianas. A derrota teve enorme repercussão sobre o III Reich e sobre a lealdade de seus aliados, além de estimular a atividade de resistência nos países ocupados, e influenciar o plano diplomático.
Entre janeiro e março de 1943, os alemães travam duras batalhas defensivas sobre os rios Don e Mius, conseguindo estabilizar a frente. O novo traçado da linha de frente formava uma grande saliência em Kursk, que penetrava o território ocupado pelas tropas alemãs. Contra este setor, Hitler e o Alto Comando decidiram lançar uma ofensiva de tanques é recuperar a iniciativa. O Stavka esperava o ataque, preparou as defesas em profundidade e concentrou tropas e tanques para a batalha. Dia 5 de julho de 1943 os alemães lançam seu ataque ("Operação Cidadela") pelo norte e pelo sul, com 2500 tanques e canhões de assalto, além de 1.000 aviões. Esta foi a maior batalha de blindados da história.
A concentração de forças foi tal que no eixo norte os alemães dispunham de uma divisão para cada três quilômetros da frente e 45 tanques para cada quilômetro. No eixo sul, uma divisão ocuparia 4,5 quilômetros e havia 45 tanques e 50 canhões por quilômetro de frente. As forças soviéticas possuíam aproximadamente a mesma quantidade de blindados e ligeira superioridade em tropas.
O avanço alemão era lento e a resistência soviética encaminhada. As melhores divisões de Welvhmacht e das SS sofriam pesadas baixas. Os melhores tanques produzidos durante a Segunda Guerra Mundial mediam forças: o Tigre alemão e o T-34 soviético. Após uma semana na ofensiva, os exércitos alemães haviam avançado apenas sete quilômetros no norte e pouco mais de 30 quilômetros no sul, sendo então detidos. Dia 12 o Exército Vermelho parte para a ofensiva, liberta Orel e Bielgorod, e no fim de agosto reconquista Kharkov, retificando a frente de batalha.
Os nazistas sofreram uma grave derrota, perdendo a maior parte de seus blindados. Mas também perderam a iniciativa da guerra. No norte da África seus exércitos encontram-se em retirada; a Itália assina o armistício, enquanto no Pacífico os aliados partem para a ofensiva geral. Excetuando-se a retomada temporária de Kharkov e os frustrados contra-ataques nas Ardenas e Hungria, o III Reich apenas se defenderá das ofensivas da coalizão antifascista.
A ofensiva soviética em Kursk prossegue. O grupo de exércitos Centro sofre pesadas perdas, graças à ação combinada do exército soviético e das guerrilhas. As tropas alemãs evacuam a península do Kuban para evitar o cerco, e concentram-se na Crimeia, onde logo são isoladas pelo avanço do Exército Vermelho, que durante a ofensiva de verão liberta a bacia do Donetz e Kiev. A Welvhmacht cria as chamadas "praças fortes" para tentar deter o avanço soviético, mas etas são cercadas e eliminadas gradativamente. Na Alemanha o pessimismo cresce, enquanto velhos, adolescentes e estrangeiros começam a ser recrutados para o exército alemão. A desconfiança dos nazistas com relação a estes, leva-os à expansão do exército SS (Waffen-SS), destinando-lhes os melhores recrutas e as novas armas aperfeiçoadas. Tropas de ocupação do ocidente são transferidas para o leste. As conspirações contra Hitler intensificam-se, como forma de livrar-se de um "bode expiatório" e obter uma nova base política para um acordo com os aliados ocidentais e minar a aliança com a URSS.
Durante o ano de 1943, uma série de acontecimentos políticos também marcaram algumas alterações no relacionamento da URSS com as potências anglo-saxônicas. Em abril os alemães anunciam a descoberta de fossas contendo cadáveres de quatro mil oficiais poloneses em Katyn (próximo à Smolensk), e acusam a URSS pelo assassinato. O incidente destina-se a envenenar as relações entre os aliados, num momento em que as tropas soviéticas avançam para o ocidente. Apesar de muitas evidências incriminarem os alemães, o massacre de Katyn continuou envolto numa aura de mistério e o caso levou ao rompimento entre a URSS e o governo exilado em Londres. O que estava em jogo por trás desta "rede de intrigas" é o controle do poder na Polônia após a guerra. O levante de Varsóvia foi outro lance deste intricado xadrez diplomático.
Em março do mesmo ano, com a nomeação do Metropolita Sérgio como novo Patriarca, o Partido Comunista da URSS estabelece um acordo com a Igreja Ortodoxa. Em maio a Internacional Comunista é extinta, o que melhora as relações com os aliados (muito provavelmente esta atitude de Stalin é um gesto de "boa vontade", com vistas a convencer os aliados a abrir uma segunda frente, na Europa ocidental). A Komintern perdera grande parte de sua força durante o ano de 1939, com a derrota dos republicanos e da esquerda espanhola e com o pacto germano-soviético, e depois de 1941 pela aliança da URSS com os aliados ocidentais.
No dia em que os soviéticos passavam à ofensiva em Kursk, fundavam o "Comitê Nacional da Alemanha Livre", reunindo comunistas alemães exilados na URSS e prisioneiros de guerra que adotaram uma política antinazista. Von Paulus foi uma das figuras dirigentes do Comitê, que visava a propaganda antinazista e pela paz junto às tropas alemãs, e reforçar as correntes políticas democráticas para as mudanças na Alemanha do pós-guerra. Além disso, a URSS aproxima-se do Vaticano. As vitórias militares criaram condições políticas para romper uma espécie de isolamento não declarado sofrido pela URSS entre 1941 e 1943, apesar da "grande aliança".
No início de 1944 prossegue o avanço do Exército Vermelho, que em março liberta a Ucrânia ocidental e a Galícia, enquanto Hitler evacua por mar as tropas romenas e alemãs isoladas na Crimeia. Durante a ofensiva de verão, as tropas soviéticas e a guerrilha destroem o Grupo de Exércitos Centro em Minsk e avançam até o rio Vístula, dentro da Polônia, enquanto as frentes ucranianas atingem o norte da Romênia. Na frente norte, as forças soviéticas expulsaram os alemães dos arredores de Leningrado (pondo fim ao cerco de 900 dias), eliminam a maior parte do Grupo de Exércitos Norte, empurram seus remanescentes para os países bálticos e atingem a fronteira alemã na Prússia oriental. A ofensiva do norte derrotou os exércitos alemães e finlandeses no istmo da Carélia. Em setembro a Finlândia assina a rendição e as tropas alemãs retiram-se para o norte da Noruega.
Com a entrada das tropas soviéticas na Polônia, o governo liderado por Micolajezyk em Londres decidiu criar um fato novo, que lhe permitisse impedir o reforço do Comitê de Lublin (Governo polonês apoiado pela URSS). Ordenou o levante da Armia Krajowa em Varsóvia, para libertar a cidade antes do Exército Vermelho e, assim, reforçar a posição do governo conservador e impedir a influência da URSS sobre a Polônia libertada. Embora a Armia Ludowa, ligada ao Comitê de Lublin, também tenha lutado, o exército soviético e as divisões polonesas formadas na URSS detiveram seu avanço. O levante é brutalmente sufocado pelos alemães no início de outubro, depois de dois meses de lutas. A cartada do Governo polonês conservador exilado em Londres falha, e as relações deste com a URSS torna-se ainda mais hostis, pois a autoridade local das regiões libertadas pelos soviéticos é entregue ao Comitê de Lublin.
A luta submarina, o esforço de guerra e os bombardeios
Desde o início da guerra na Europa ficou evidente a inferioridade naval alemã face à Royal Navy. Como era impossível desafiar os ingleses em combates de superfície, a marinha alemã especializou-se na luta submarina e de "corsários" (incursões isoladas de navios de guerra ou de navios armados camuflados em mercantes). A guerra de submarinos destinava-se a isolar a Grã-Bretanha através da destruição dos navios que conduziam suprimentos às ilhas. Operando a partir de bases nas costas francesas e norueguesas, os submarinos alemães atuavam de início isoladamente. Houve uma verdadeira competição organizativa e tecnológica entre os U-Boat e as forças aeronavais aliadas destinadas a combatê-los. A luta submarina abarcou espaços cada vez maiores, especialmente quando os EUA entraram na guerra. Entre 1941 e 1943 travou-se a Batalha do Atlântico e em 1942 os submarinos alemães afundaram a maior tonelagem de navios mercantes aliados.
Entretanto 1943 marca a virada da guerra naval. As medidas de desarmamento da frota alemã de superfície determinadas por Hitler levam o Almirante Raeder a renunciar, sendo substituído por Dönitz. Paralelamente, os aliados aperfeiçoam as armas antissubmarino, organizam comboios de cargueiros com fortes escoltas armadas, estabelecem um eficiente patrulhamento aéreo sobre o Atlântico, além de aperfeiçoar o radar e as técnicas de detecção de submarinos. O resultado é que a partir de 1943 diminui a tonelagem de cargueiros afundados e aumenta o números de submarinos destruídos. As melhorias técnicas alemãs, como Schnorchel e os torpedos acústicos chegam tarde para alterar s correlação de forças. Mesmo assim, os submarinos alemães continuarão agindo até o final da guerra. Os submarinos italianos atuaram sobretudo no Mediterrâneo e nas águas do Atlântico próximas a Gibraltar.
Enquanto isto, no continente, os alemães intensificam o esforço de guerra. A capacidade industrial não cessa de crescer, quantitativa e qualitativamente. O recrutamento forçado de mão-de-obra nos países ocupados e a introdução do trabalho escravo de prisioneiros visa compensar a mobilização dos operários alemães para o serviço militar. O desnevolvimento de matérias-primas sintéticas atinge seu auge (inclusive combustível), apesar de que os territórios controlados pelo III Reich começam a diminuir, após 1943.
Os aliados anglo-saxões desencadeiam grandes bombardeios sobre as cidades e a infraestrutura alemãs. Enquanto as fortalezas voadoras norte-americanas realizam suas ações durante o dia, os bombardeios da RAF aperfeiçoam-se em ataques à noite. Cresce geometricamente a tonelagem de bombas lançadas sobre a Alemanha em atasques que chegam a reunir mais de mil aviões sobre cidades de porte médio, enquanto a Luftwaffe praticamente pouco pode fazer para defender o Reich. Em 1944 a Alemanha recebe 16 vezes mais bombas do que havia lançado sobre a Grã-Bretanha durante a Batalha da Inglaterra.
As cidades alemãs são transformadas em ruínas e as vítimas entre a população civil atingem cifras impressionantes. O bombardeio do Dresden em fevereiro de 1945 (já semidestruída, declarada Cidade Aberta e repleta de refugiados) é uma espécie de avant-première de Hiroshima e Nagasaki (quase 300 mil civis alemães mortos em apenas uma noite). A razão destes bombardeios é mais sutil e complexa do que aparenta à primeira vista, pois seu impacto sobre a produção industrial é medíocre.
Os nazistas descentralizaram as indústrias, que atingiam seu máximo rendimento no segundo semestre de 1944, justamente durante o auge dos bombardeios. Os ataques aéreos visaram à rede de transportes e à área residencial, alegando que os objetivos militares e industriais eram difíceis de encontrar e de atacar. O princípio condutor da guerra aérea era a Teoria do Bombardeio Estratégico.
Tal teoria baseava-se no ataque intensivo e indiscriminado a objetivos situados fora das zonas de combate, sobretudo civis, localizados na retaguarda inimiga. Era uma forma de guerra total que exigia alta tecnologia e uma Força Aérea ofensiva de grande alcance. Foi desenvolvida, como concepção, pela Grã-Bretanha durante a Primeira Guerra Mundial, e pela primeira vez em 1924 contra aldeias iraquianas "que se recusavam a pagar impostos". O caráter "mais econômico e seguro" do que as expedições punitivas, fizeram do bombardeio estratégico o método do colonialismo britânico. Os nazifascistas utilizavam-no contra o povo espanhol na Guerra Civil, e como a morte maciça de "brancos" chocava mais que a de povos coloniais, convocaram-se conversações em Genebra para proibir tal recurso. Lord Londonderry, orientado por Chamberlain, voltou exultante a Londres por haver impedido a proibição.
Dois anos depois, as cidades britânicas eram vítimas da arma teorizada por seus próprios estrategistas e legalizada com o apoio de seu próprio governo. O Bombardeio Estratégico tornou-se durante a Segunda Guerra Mundial a grande arma anglo americana, sobretudo com o desenvolvimento da Bomba Atômica. As V1 e V2alemãs não foram mais que tentativas desesperadas de recuperar o terreno perdido, pois o III Reiich, a URSS e o Japão transformaram suas forças aéreas em armas de apoio dos respectivos exércitos (e também da marinha, no caso do Japão). A bem da verdade, é necessário dizer que a União soviética foi a única potência que não usou o Bombardeio Estratégico na guerra (não desenvolveu sequer os aviões necessários para este tipo de ataque). No caso dos anglo-saxões, tratava-se concretamente de uma forma de aterrorizar a população civil, de exercer pressão política sobre a Alemanha e também uma demonstração de poder à URSS (no caso de Dresden, o Exército Vermelho avançava em direção à cidade). Às razões da indústria alemã, sobretudo bélica, ter sido em grande parte conscientemente poupada, vão se tornar clara nos meses finais do conflito e no pós-guerra (a Alemanha precisava ser derrotada, mas não debilitada).
Os alemães desenvolveram modernas tecnologias para tentar compensar sua inferioridade em quantidade de material. Aviões a jato (Me-262 e Me-163) entram em operação nos meses finais da guerra. As bombas voadoras V1 e V2, ponto alto da tecnologia de foguetes, entram em operação em julho e setembro de 1944, respectivamente. Até fuzis de carro curvo para luta de rua foram produzidos. Mas, ao contrário do que pensam alguns, uma guerra não pode ser ganha com base em elementos puramente militares e tecnológicos. Além disso, estes avanços requeriam um aperfeiçoamento que demandava um certo tempo, que a Alemanha não tinha mais. Assim, apenas alguns nazistas visionários e generais sonhadores acreditam realmente que estas novas armas poderiam mudar os rumos da guerra. Seu resultado depende de uma soma de fatores políticos, sociais e econômicos, além dos aspectos técnico-militares.
As chamadas armas secretas alemãs servirão principalmente para reforçar uma certa aura de romantismo nazista no ocaso do III Reich, embora abrissem possibilidades novas para estratégia militar do pós-guerra.
A diplomacia oficial e a diplomacia secreta
As vitórias do Exército Vermelho em Stalingrado e Kursk e o recuo contínuo dos alemães na frente leste criaram uma situação política mais definida. As negociações entre os aliados da coalizão antifascista formalizaram-se numa série de conferências, em que foi acertada uma estratégia comum para a derrota do Eixo e começaram a ser discutidos alguns problemas da reorganização europeia do pós-guerra. Entretanto, paralelamente a estes eventos, intensificava-se a diplomacia secreta, sem a qual é impossível compreender certos acontecimentos político-militares da guerra. Esta diplomacia secreta é, na verdade, uma continuação das ambiguidades da diplomacia triangular, e que não foram interrompidas mesmo durante a fase de expansão do bloco fascista.
A conferência de Casablanca (janeiro de 1943), a V Conferência de Washington (maio) e a Conferência do Quebec (agosto) foram encontros diplomáticos entre os aliados anglo-saxões. Acertados alguns pontos divergentes entre estes, reúnem-se com os soviéticos nas conversações de Moscou (outubro), onde decide-se a manutenção da aliança até a derrota completa do Eixo, solicita-se a participação da URSS na guerra contra o Japão, a instalação de um tribunal internacional para julgar os crimes de guerra do III Reich (O Julgamento de Nuremberg) e a criação de uma organização internacional para substituir a Sociedade das Nações (a ONU). A questão da abertura de uma segunda frente foi durante estas conferências um tema delicado nas relações entre os soviéticos seus aliados anglo-saxões, e será analisada adiante. Na Conferência do Cairo (novembro), Roosevelt e Churchill entrevistaram-se com Chang Kai-Chek, regulando questões relativas à luta contra o Japão. A tentativa de fortalecer o governo do Kuomintang, elevando a China à condição de um dos "quatro grandes" devia-se à preocupação em relação ao fortalecimento dos comunistas de Mao Zedong e à crescente hegemonia dos grupos anticoloniais e socialistas nas guerrilhas antijaponesas das colônias do sudoeste asiático.
A Conferência de Teerã (novembro-dezembro) considerou os princípios definidos na de Moscou e reforçou a posição internacional da URSS, graças a sua decisiva contribuição na luta contra a Alemanha nazista, a que os soviéticos denominaram "Grande Guerra Nacional" ou "Grande Guerra Patriótica". Foi designado o norte da França para a abertura da segunda frente, em maio de 1944. Também foi acertado que a fronteira soviético polonesa seria demarcada pela Linha Curzon.
Entrementes, as derrotas alemãs conduziram à intensificação dos contatos secretos entre os grupos conservadores do ocidente e setores militares e a burguesia alemã, com vistas a uma paz em separado com as potências anglo-saxônicas e a continuação da guerra apenas contra a URSS, preferentemente com o apoio destas. Na Grã-Bretanha o grupo de Cliveden e nos Estados Unidos o grupo Hoover-Lindbergh preocupavam-se cada vez mais com as vitórias do Exército Vermelho e a perspectiva de que grande parte da Europa viesse a ser libertada por este, bem como pelo fortalecimento das guerrilhas esquerdistas dos Bálcãs. Os "sonhos" de 1939 transformaram-se em pesadelo em 1943/44.
A burguesia alemã e os generais da Wehrmacht (e até setores da SS) preocupavam-se também pela derrota que se avizinhava. Era necessário fortalecer a ideia de uma frente anticomunista, da qual a Alemanha seria uma peça indispensável. Para tanto, era preciso intensificar os contatos com as potências ocidentais em bases concretas. Algo deveria ser oferecido a estes, ainda que como um pretexto, como base de um novo acordo. Uma Alemanha sem Hitler era a solução. Este tornara-se um "bode expiatório" único responsabilizado por todos os crimes e, sobretudo, pelos erros cometidos.
A Suíça, a Suécia, e também Portugal, Espanha e o Vaticano tornaram-se palco de grandes articulações da diplomacia secreta. O suíço Burckhardt, os banqueiros suecos Wallenberg, os norte-americanos John e Allen Dulles, e os alemães Canavis, Rommel, Goerdeler, entre tantos outros, formam parte de um intrincado quebra-cabeças conspirativo.
Na Alemanha, estes "conspiradores de última hora" associaram-se aos grupos de resistência verdadeiramente anti-nazistas para assassinar Hitler ("Operação Valquíria"). O atentado do jovem oficial von Stauffenberg fracassa em 20 de julho de 1944. Mas o conjunto da operação aborta principalmente pela inatividade de alguns conspiradores, o que revela as divergências internas do grupo (Stauffenberg e os círculos antigos de resistência desejam uma Alemanha democrática, enquanto a burguesia e os generais desejam apenas mudar a fachada do nazismo). De qualquer maneira, é o divórcio dos nazistas "ideológicos" e da burguesia alemã. Nos dez últimos meses do III Reich, o nazismo recuperará integralmente sua essência pequeno-burguesa (e irracional), e lutará até a morte, sem aceitar os compromissos políticos tentados pela burguesia e pelos generais conspiradores. Hitler desencadeia uma violenta repressão contra estes.
A segunda frente: África, Itália, França. O Brasil na guerra. A libertação dos Bálcãs
Com a invasão da URSS pela Alemanha e seus aliados europeus e com o ataque japonês a Pearl Harbour, estruturou-se em 1941 a "Grande Aliança" entre os EUA, URSS e Grã-Bretanha. A União Soviética enfrentava a maior e melhor parte do exército alemão (entre 70 e 80%), sofrendo grandes perdas humanas e materiais.
Desde o momento do ataque nazista e da formação da Grande Aliança, Stalin solicitava com insistência aos anglo-saxões a abertura de uma segunda frente na Europa ocidental para aliviar a pressão sobre a frente leste. Embora afirmassem estar interessados num desembarque na Europa, apenas Roosevelt parecia disposto a levar adiante tal projeto. Churchill, e principalmente o exército britânico, argumentavam que os alemães estavam "fortes demais" e que um desembarque seria perigoso. Preferiam uma estratégia indireta, com combates periféricos no norte da África e nos Bálcãs, "para enfraquecer a Wehrmacht".
Na verdade, os argumentos de ordem puramente técnico-militar estavam apoiados na política do grupo de Cliveden e do grupo anti-Roosevelt (Hoover-Lindbergh), que ainda conspiravam nos bastidores para obter uma aliança com a Alemanha ("sem Hitler"), para uma guerra contra a URSS.
Mas a razão dominante pra o adiamento do desembarque era a posição de Churchill e dos democratas norte-americanos, expressa numa frase simplória, mas objetiva, de HarryTruman: "Se vimos a Alemanha ganhar, devemos ajudar os russos. Se a Rússia estiver em cima, devemos ajudar os alemães, e de modo que eles se matem uns aos outros ao máximo". Ou seja, o resultado era uma política de fazer os soviéticos pagarem o preço da derrota dos nazistas, desgastando-se ao máximo.
Em fins de 1942, durante a Batalha de Stalingrado, os britânicos lançaram uma ofensiva em El-Alamein, no norte da África. O avanço de Montgombry é rápido, e ocupa a Líbia em janeiro de 1943. Simultaneamente as forças anglo americanas desembarcaram no Marrocos e Argélia ("Operação Torch", em 7 de novembro de 1942). Em menos de uma semana as forças de Vichy rendem-se e passam a apoiar os aliados. Como laval, primeiro-ministro de Vichy, nega-se a firmar uma aliança militar com o III Reich a Wehrmacht ocupa a França de Vichy, enquanto as tropas ítalo-alemãs desembarcaram na Tunísia para tentar reforçar o flanco sul da "Fortaleza Europeia". Mas a resistência nazi-fascista desmorona-se em maio de 1943, e 250 mil soldados rende-se próximo a Túnis.
O VII exército dos EUA e o VII britânico desembarcaram na Sicília em 10 de julho e completam a ocupação da ilha em cinco semanas, tendo enfrentado uma débil resistência. Nesta conjuntura, o Grande Conselho Fascista destitui e ordena a prisão de Mussolini, enquanto o Marechal Badoglio (grande colaborador do Duce há 20 anos), apoiado secretamente pelo Vaticano e pelos aliados ocidentais, organiza um novo governo e dissolve o Partido Fascista (mas não sua legislação). No início de setembro os aliados desembarcaram na Calábria. Enquanto Badoglio assina a rendição da Itália, os alemães ocupam o país e criam no norte a República Social Italiana (ou República de Saló) com os fascistas, após a libertação de Mussolini. Badoglio e o Rei transferem o governo para Brandisi, na região controlada pelos aliados, e declaram guerra à Alemanha em outubro.
Os norte-americanos pelo litoral do Tirreno e os britânicos pelo Adriático avançam lentamente, às vezes efetuando desembarques na retaguarda alemã (Tarento, Salerno e Ânzio).
A geografia da Itália facilita a defesa alemã, utilizando poucas tropas. Os montes Apeninos cortam a península de norte a sul, com ramificações transversais rumo ao mar, com um formato semelhante a uma espinha de peixe.
Sucessivas linhas defensivas são sustentadas pelos alemães, de forma que um mês antes do final da guerra quase um quarto da Itália ainda encontrava-se dominada pelos nazistas. Se o objetivo era "enfraquecer o III Reich", o lugar escolhido foi o pior. Na medida em que se preparava o desembarque na França, as tropas anglo-americanas eram substituídas por soldados italianos, marroquinos, sul-africanos, poloneses, judeus, neozelandeses, brasileiros, etc. Nas regiões ocupadas pelos alemães, desenvolveu-se um vigoroso movimento de guerrilha contra estes e as milícias fascistas .
A "Resistenza" italiana, liderada pelos comunistas, parece ter sido a principal preocupação anglo-americana na região. Assim como nas colônias de Vichy do norte da África, as autoridades aliadas mantiveram a legislação fascista e as autoridades locais da Itália, e desarmaram os guerrilheiros que os apoiavam.
Após vários adiamentos, os aliados desembarcaram no norte da França (Operação Overlord, 6 de julho de 1944), encontrando pela frente tropas compostas de alemães adolescentes e de meia-idade, além de soldados de outras nacionalidades alistados à Wehrmacht, a maioria dos quais quase não lutou (o comando alemão emitia ordens em mais de uma dúzia de idiomas). Soment em 16 de agosto ocorreu a primeira batalha com unidades alemãs expressivas (Falaise). A política de desmobilizar os "maquis" da resistência é explícita (eles haviam libertado a Córsega em fins de 1943, sem auxílio), mas estes desobedecem o Alto Comando aliado e atacam os alemães e sublevam-se em Paris, obrigando os aliados a correr rumo à cidade, para que De Gaulle pudesse entrar em triunfo, roubando a "glória" à resistência. É importante relacionar o desembarque aliado com o atentado a Hitler, pois a nova situação dava ensejo à rendição aos anglo-saxões, agora próximos da Alemanha.
Em 15 de agosto os aliados desembarcaram no sul da França ("Operação Dragoon"), enquanto os alemães, fustigados pela guerrilha, retiram-se para evitar o cerco. Até o fim de 1944 os aliados libertam a Bélgica e chegam à fronteira alemã, mas fracassa a operação de paraquedistas que tenta capturar pontes sobre o Reno na Holanda. Preocupados com o uso do porto de Antuérpia pelos aliados, os alemães lançam bombas voadoras V-1 e V-2 contra o sul da Inglaterra e contra os portos belgas, com resultados inexpressivos. Também inesperada foi a ofensiva dos Panzer desencadeadas nas Ardenas em 16 de dezembro contra os norte-americanos, com o objetivo de avançar até a Antuérpia.
O Brasil participou da coalizão antifascista. A diplomacia Vargas, voltada para obter recursos para o desenvolvimento brasileiro, oscilou entre a cooperação com a Alemanha e com os EUA. Mas justamente quando Vargas implanta a ditadura do Estado Novo em 1937, o Brasil começa a afastar-se do Eixo e a aproximar-se dos EUA, devido à pressão deste e aos problemas com as populações ítalo-alemãs do sul do país. As primeiras vitórias nazistas na guerra e a pressão dos elementos mais direitistas de seu governo levaram Vargas a vacilar. Entretanto, Roosevelt concede ao Brasil os meios para implantar sua primeira usina siderúrgica e enquadra-o na participação da defesa do hemisfério, obtendo bases no nordeste brasileiro para a defesa das rotas navais. Com o afundamento de vários navios brasileiros que levavam matérias-primas importantes para os EUA, por submarinos alemães, Vargas vê-se pressionado a declarar guerra à Alemanha e Itália em 1942. Como a participação política estava bloqueada aos setores democráticos, a campanha pela entrada do Brasil na guerra colocou Vargas frente a um dilema, pois sua ditadura direitista lutaria ao lado das democracias. Portanto, além da declaração de guerra ser um elemento de defesa nacional, foi também um avanço democrático.
A participação brasileira deu-se em vários setores: auxiliou na luta anti-submarina próoxima ao nosso litoral, com unidades navais e aéreas; enviou uma unidade da Força Aérea e uma divisão de infantaria, a Força Expedicionária Brasileira, ao teatro de operação da Itália. As dificuldades desta frente já foram descritas anteriormente, e a FEB participou numa luta de desgaste, atacando as linhas defensivas alemãs no centro-norte da Itália (como a "Linha Gótica"), situado no alto de montes escarpados. A FEB, equipada com material norte-americano, conquistou posições importantes como Monte Castello e Montese, além de obter a rendição da 148ª divisão de infantaria alemã, e libertar parte da planície do rio Pó.
Em sua luta contra o exército nipônico, as forças americanas procuram também neutralizar a forte guerrilha esquerdista antijaponesa. A ofensiva, que iniciou-se justamente pelas ilhas menores e menos guarnecidas do centro das Filipinas, só libertará a maior parte do arquipélago em 1945, onde ainda permanecerão bolsões japoneses cercados.
A vitória da coalizão antifascista (1945)
Ao iniciar-se 1945, apesar das grandes derrotas sofridas nos dois anos anteriores e das sombrias perspectivas de um fim próximo, a Alemanha nazista ainda dispunha de forças importantes e defendia o território do próprio Reich. Os setores conservadores do ocidente lamentavam a falta de flexibilidade da liderança nazista após o fracasso dos complôs, recusando o armistício e prolongando a guerra até a derrota total. Quanto ao Japão, apesar dos revezes dos anos 1943 e 44, ainda controlava um grande império, com grandes recursos e forças militares (sobretudo no continente). Mas o predomínio naval norte-americano não permitiria qualquer esperança de vitória militar.
A Queda do III Reich
Desde o final de 1944, os alemães promoveram a mobilização de todos os homens aptos, dos 16 aos 60 anos, e de mulheres para as tarefas de apoio. A guerra nos últimos quatro meses de existência do III Reich possui maior importância no plano político-diplomático. Churchill está cada vez mais preocupado em limitar o alcance político da participação soviética na derrota da Alemanha e Roosevelt morre em 12 de abril, sendo substituído pelo vice-presidente Harry Truman, que defende uma posição mais rígida com a União Soviética.
A 16 de abril o Exército Vermelho lança a ofensiva contra Berlim, que é cercada uma semana depois. Os 200.000 soldados nazistas lutam em cada linha defensiva, e em cada rua. Dia 30 de abril os soviéticos tomam o prédio do Reichtag, onde hasteiam a bandeira vermelha. O prédio fora defendido encarniçadamente por soldados franceses da divisão SS Charlemagne! Nesta mesma noite, Hitler e outros dirigentes nazistas suicidam-se, enquanto a cidade queima, num final que lembra as óperas de Wagner (tão caras a estes). Enquanto isso, os aliados ocidentais, através do sueco Bernadotte, negociam com Himmler e outros líderes nazistas. Em seu testamento, Hitler expulsou a este e a Goering, por negociarem a rendição com os aliados ocidentais e o prosseguimento da luta contra a URSS.
O território ocupado pelos alemães foi dividido em dois, com o encontro americano-soviético no rio Elba; o litoral da Holanda, Alemanha e Dinamarca (ao norte) e a Boêmia e parte da Áustria e norte da Itália (ao sul).
Em Flensburg, na fronteira com a Dinamarca, instalou-se o governo do sucessor indicado por Hitler o Almirante Doenitz. Churchill negocia com este governo, composto pela cúpula nazistas, e propõe aos americanos não desarmar os alemães porque "poderiam ser úteis" e reconhecê-lo como autoridade civil alemã. Os anglo-americanos iniciaram, inclusive, negociações em separado com o governo Doenitz em Reins.
Mas a oposição violenta dos soviéticos fez com que fossem suspensas e a rendição oficial ocorresse em 9 de maio, frente a britânicos, americanos e soviéticos. Mas o IX Exército alemão, com quase um milhão de soldados e comandado por Schoerner, resiste na Tchecoslováquia.
O general Patton abre caminho, entra no país e desmobiliza a resistência tcheca, mas áreas que ocupa, enquanto negocia com alemães. A resistência, onde a esquerda predomina, subleva-se em Praga e, enquanto os nazistas procuram sufocá-la, o Exército Vermelho avança para o sul e liberta a cidade (12 de maio). Semanas antes, o mesmo se passava na Itália, onde os guerrilheiros desencadearam uma insurreição geral, salvando as cidades e indústrias do norte da destruição pelos alemães em retirada. Também aí os aliados ocidentais inclusive atacaram forças de guerrilha antinazista, visando desarma´las. Estas capturaram e fuzilaram Mussolini.
Na Alemanha, o governo Doenitz só foi destituído em 23 de maio, devido aos fortes protestos soviéticos. Era o fim do III Reich, numa Europa em ruínas e em meio às indignidades diplomáticas entre os aliados.
Os deuses-guerreiros arianos foram derrotados não apenas pelo poderio técnico-industrial de seus "primos" anglo-saxões, mas sobretudo pela resistência obstinada das massas populares dos povos desprezados. E o movimento operário, derrotado pela direita internacional, com o apoio do fascismo e das burguesias nacionais, ressurge em 1945 mais forte do que antes (exceto na Alemanha).
Em 26 de junho de 1945 os aliados tratam da criação da ONU.
As questões sobre a reorganização pós-guerra foram tratadas nas conferências de Yalta e Potsdam, onde aparecem claras algumas divergências entre aliados ocidentais e os soviéticos, e que estavam ligadas às origens do conflito denominado Guerra Fria.
Roosevelt obteve da URSS o compromisso de entrar em guerra contra o Japão na Manchúria três meses após a capitulação alemã.
A Conferência de Yalta foi o ponto alto da colaboração entre EUA e URSS, e demonstrou o declínio da Grã-Bretanha como potência mundial.
O clima da Conferência de Potsdam (arredores de Berlim, de 17 de julho a 2 de agosto de 1945) já era bem diferente. Truman representa agora os EUA, e tem uma psoição bastante rígida com a URSS.
Acima de tudo, a Conferência de Potsdam marca a intensificação da rivalidade EUA-URSS, a afirmação de ambos como as novas superpotências mundiais (embora a URSS devastada e sem arma atômica tivesse apenas um poder defensivo naquele momento) e o declínio da Europa e do sistema de equilíbrio do poder, agora substituído por uma política internacional bipolar (embora os "blocos" ainda não estivessem constituídos, bem como o campo socialista).
No primeiro semestre de 1945 as forças norte-americanas concluíram a conquista das Filipinas e trataram de dispersar o movimento de guerrilhas antijaponês de tendência esquerdista. Dois grandes bolsões japoneses, a leste de Luzón e Mindao, permanecem cercados.
Em ¼/45 os americanos realizam um desembarque na pequena ilha de Okinawa, que é território metropolitano japonês (embora a 500 quilômetros das ilhas principais). Os EUA só dominaram a ilha em 21 de junho. Nela, instalaram uma importante base aeronaval, devido à posição estratégia para a derrota do Japão militarista.
Quando aproxima-se a rendição do Japão as forças políticas que o apoiaram nestes países desmoronam. No Vietname, Ho Chi Minh declara a independência do país (Revolução de Agosto). As Filipinas encontram-se ocupadas pelos aliados, o mesmo ocorrendo em seguida na Malásia e Birmânia.
Dia 6 de agosto uma superfortaleza voadora B-29 lança uma bomba atômica sobre Hiroshima, causando imediatamente 100.000 mortos e outros 100.000 feridos. É importante mencionar que a data do ataque soviético ao Japão estava marcada para dois dias após, pelo Alto Comando Aliado. Dia 8 a URSS declara guerra ao Japão e o Exército Vermelho ataca a Manchúria e Coreia, apoiado por tropas mongóis e pela guerrilha comunista chinesa e coreana.
Dia 9, com o Japão já em negociações, Truman ordena que outra bomba atômica seja jogada, agora sobre Nagasaki (quase o mesmo número de mortos que Hiroshima).
As forças soviético-mongóis e as guerrilhas chinesas e coreanas libertaram a Manchúria (600.000 japoneses renderam-se dia 23) e o norte da Coreia, além de parte do norte da China propriamente dita.
Em 28 de agosto, as tropas americanas começaram a ser desembarcadas no Japão, e a 2 de setembro foi assinada a capitulação final do Império Japonês no encouraçado Missouri, ancorado na baía de Tóquio.
Desta vez Truman nega-se a aceitar zonas de ocupação no Japão, afirmando que tratava-se de assunto americano. Mesmo com a entrega do sul da ilha de Sacalina e das ilhas Curilas à URSS (conquistadas à Rússia na guerra de 1905), e que fora aceita como legítima nas conferências anteriores, foi contestada pelo governo dos EUA. Mas ocorre que a marinha soviética já havia ocupado estas áreas, e Stalin recusou-se a entregá-las a Truman e também não aceitou a instalação de bases militares norte-americanas em seu território. Entretanto os EUA tornaram-se a única potência ocupante do Japão.
Este, derrotado e obrigado a assinar uma rendição incondicional, só recebeu uma concessão: conservar o regime monárquico e o Imperador Hiroito no trono. Não era apenas o militarismo japonês que fora vencido, mas o único imperialismo que realizava com o norte-americano no Pacífico e Ásia oriental. Quinze anos depois, encerrava-se na mesma região em que iniciara o longo ciclo de conflitos a que a historiografia denominou Segunda Guerra Mundial.
Fonte: O NAZISMO
BREVE HISTÓRIA ILUSTRADA
Voltaire Schilling
Editora da Universidade
(Universidade Federal do Rio Grande do Sul)
Segunda Edição
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