Danrlei e Dinho relembram a campanha que culminou no título do Tricolor em Medellín
Para quem viveu, a emoção retorna como se fosse há poucos dias: quando o volante Dinho deslocou o acrobático Higuita na cobrança de pênalti, aos 39 minutos do segundo tempo, o Grêmio confirmou o título e pintou a América de azul, preto e branco pela segunda vez.
“A lembrança que eu tenho, claro, é o gol da Libertadores. O gol do título que eu fiz e que deu o bicampeonato da Libertadores para o Grêmio.” É com essas palavras que o ex-volante relembra 30 de agosto de 1995. Há exatos 30 anos, o Tricolor empatou com o Atlético Nacional por 1 a 1 e levantou a taça mais cobiçada do continente em Medellín, na Colômbia.
O capítulo final vivido no Atanasio Girardot foi reflexo de toda uma preparação iniciada ainda na pré-temporada. Danrlei, liderança essencial daquela conquista, recorda que o elenco do Grêmio foi formado no início de 1995: “Um grupo que foi montado naquele ano mesmo, no início do ano, então nós tínhamos muito o que trabalhar, muito o que fazer, e nós nos unimos, trabalhamos bastante. Então, quando se fala daquela Libertadores, para mim, pelo menos, vem todo o processo que aconteceu para que nós tivéssemos aquela equipe vencedora. O processo não foi fácil, foi um processo árduo de trabalho, de dedicação de todo mundo, para que chegássemos naquele momento final, que era ganharmos a Libertadores”.
Nomes emblemáticos daquela conquista, como Paulo Nunes, Jardel, Arce, Dinho, Adílson Batista, Rivarola e Goiano foram contratados pelo presidente Fábio Koff e o vice de futebol Luiz Carlos Silveira Martins, o Cacalo. Aliando-se a isso a juventude de atletas oriundos da base, como Danrlei, Roger, Arílson e Carlos Miguel. Para comandar esse time, Luiz Felipe Scolari, o Felipão, que despontou no cenário nacional pelo Criciúma e havia conquistado a Copa do Brasil no ano anterior pelo clube gaúcho.
“Tínhamos o treinador certo naquele momento certo, treinador para aquele tipo de jogo, para aquele tipo de futebol. Os atletas tiveram a capacidade de entender a importância, de se dedicar. Treinamos até três turnos durante a pré-temporada; para ficarmos bem preparados para os momentos importantes daquela competição. A união do grupo foi fundamental, porque todos ali queriam a mesma coisa, todos tinham a mesma visão, todos tinham a mesma ideia, que era ser campeão da América”, analisa Danrlei.
Naquela campanha, os confrontos contra o Palmeiras ficaram marcados. Como ressalta Danrlei, o Verdão era considerado o grande time da Libertadores: “Para toda a América do Sul, o Palmeiras era a equipe a ser batida. Uma equipe que era a base da Seleção Brasileira naquele tempo. Então, nós sabíamos disso e nos preparamos bastante para jogarmos contra eles”.
Após se enfrentarem na fase de grupos, com uma vitória paulista em São Paulo e um empate em Porto Alegre, os clubes voltaram a se encontrar nas quartas de final. “Foram jogos bem disputados. Até hoje se tornou um dos clássicos mais disputados no Brasil muito por aqueles jogos daquela época”, destaca Dinho, que foi expulso pela briga com Válber no jogo do Olímpico, quando o Tricolor goleou por 5 a 0 — com gols de Arce, Arílson e Jardel, três vezes.
Para o jogo da volta no antigo Parque Antártica (atual Allianz Parque), além de Dinho, Danrlei também foi desfalque. O goleiro foi punido pela Conmebol por ter se envolvido na briga com Válber e assistiu à partida, que terminou 5 a 1 para o Palmeiras, em casa: “Primeira vez na história que a Conmebol tira um atleta por vídeo depois do jogo, né? Eu joguei todo o jogo, não tinha sido expulso, não aconteceu nada no jogo. Mas aí fui suspenso do segundo confronto pelo vídeo”, lamenta. “Uma pressão grande, pelo que a gente entendeu, do próprio Palmeiras, de todos, e a Conmebol cedeu. E eu fiquei sabendo dessa punição já em São Paulo, no aeroporto, quando eu saí, entrei no avião em Porto Alegre para o jogo. Quando eu desci em São Paulo, ficamos sabendo que eu tinha sido suspenso, nem saí do aeroporto. O Grêmio me colocou de volta num voo para Porto Alegre, até por uma questão de segurança”, complementa.
Ao eliminar o principal concorrente, a confiança de que poderia ser campeão da América novamente aumentou ainda mais no vestiário. Porém, ainda tinha na outra chave um adversário forte: o River Plate, que viria a ser eliminado pelo Atlético Nacional nas semifinais. “Nós tínhamos ali, ainda sabendo disso, do outro lado da chave o River Plate. Que era uma equipe também muito forte. E que teria uma capacidade muito grande de chegar e ganhar. Mas, óbvio, termos passado do Palmeiras nos colocou também a credencial de podermos ser campeões”, diz Danrlei.
A passagem pelo Emelec nas semifinais recolocou o Grêmio na final da Libertadores após 11 anos, quando o Tricolor perdeu o título para o Independiente-ARG em 1984. O adversário foi o Atlético Nacional, que eliminou os Millonarios e apareceu com uma equipe recheada de jogadores que estavam despontando no cenário internacional.
Com a disputa do primeiro jogo em casa, o time gaúcho procurou fazer uma boa vantagem no Olímpico (3 a 1) para poder administrar em Medellín. No duelo disputado no Atanasio Girardot, Aristizábal, que depois viria fazer sucesso no Brasil, abriu o placar para os Verdolagas no início do primeiro tempo, mas Dinho, de pênalti, na reta final do segundo tempo deixou tudo igual. “Foi um jogo bem difícil, como todos. Nós conseguimos fazer um resultado bom aqui (Porto Alegre), apesar de ter tomado um gol ainda. Ficou um pouco mais difícil do que fosse 3 a 0, mas levamos uma vantagem que foi importante para lá (Colômbia) e conseguimos conquistar o empate em Medellín”, relembra Dinho.
Passados 30 anos da conquista, Danrlei frisa que a principal mudança no futebol está na utilização do VAR. Segundo o ex-goleiro, essa tecnologia ajuda os brasileiros, principalmente nos jogos fora de casa: “Essa diferença vem para ajudar os clubes brasileiros, porque naquele tempo não tinha VAR, não tinham tantas câmeras. Então isso dificultava muito, as equipes podiam praticar o anti-jogo e ser mais violentas nas divididas ou nas jogadas”, avalia. “Jogando fora de casa, a pressão da torcida contra o juiz. Às vezes, num lance duvidoso, normalmente era a favor do time da casa e é natural, isso fazia parte daquele tempo, a mesma coisa se fosse o contrário. Mas hoje tendo todas essas tecnologias, acredito que isso faz com que os times brasileiros cada vez mais tenham essa capacidade de chegar e ganhar a Libertadores, porque isso vem pra ajudar aquelas equipes que são mais competentes, que têm mais investimento”, finaliza.
Ficha técnica de Atlético Nacional 1 x 1 Grêmio (30 de agosto de 1995)
Atlético Nacional 1
Higuita; Sant (Herrera), Marulanda, Foronda e Mosquera (Pabón); Serna, Gutierrez, Arango (Matamba) e Alexis Garcia; Aristizábal e Juan Pablo Ángel. Técnico: Juan José Peláez.
Grêmio 1
Danrlei; Arce, Rivarola, Adílson Batista (Luciano) e Roger; Dinho, Goiano, Arílson e Carlos Miguel; Paulo Nunes (Alexandre Gaúcho) e Jardel (Nildo). Técnico: Felipão.
Gols: Aristizábal (AN); Dinho (G)
Árbitro: Salvatore Imperatore (CHI)
Assistentes: Márcio Sandez (CHI) e Mário Maldonado (CHI)
Estádio: Atanasio Girardot, em Medellín (COL)
Público total: 50.000 torcedores
Campanha do Grêmio na Libertadores de 1995
- 14 jogos
- 8 vitórias
- 4 empates
- 2 derrotas
- 29 gols marcados
- 14 gols sofridos
- 66,6% de aproveitamento
Fase de grupos
- Palmeiras 3 x 2 Grêmio (21/02/1995) - Estádio Parque Antártica, em São Paulo
- Emelec 2 x 2 Grêmio (14/03/1995) - Estádio George Capwell, em Guayaquil
- El Nacional 1 x 2 Grêmio (17/03/1995) - Estádio Atahualpa, em Quito
- Grêmio 0 x 0 Palmeiras (22/03/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
- Grêmio 4 x 1 Emelec (31/03/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
- Grêmio 2 x 0 El Nacional (07/04/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
Oitavas de final
- Olimpia 0 x 3 Grêmio (25/04/1995) - Estádio Defensores del Chaco, em Assunção
- Grêmio 2 x 0 Olimpia (03/05/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
Quartas de final
- Grêmio 5 x 0 Palmeiras (26/07/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
- Palmeiras 5 x 1 Grêmio (01/08/1995) - Estádio Parque Antártica, em São Paulo
Semifinal
- Emelec 0 x 0 Grêmio (09/08/1995) - Estádio George Capwell, em Guayaquil
- Grêmio 2 x 0 Emelec (16/08/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
Final
- Grêmio 3 x 1 Atlético Nacional (23/08/1995) - Estádio Olímpico, em Porto Alegre
- Atlético Nacional 1 x 1 Grêmio (30/08/1995) - Estádio Atanasio Girardot, em Medellín
Correio do Povo
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