quinta-feira, 5 de junho de 2025

Trump x Harvard

 Jurandir Soares

O foco da indignação do presidente norte-americano é o grande número de chineses nas universidades americanas

Dentre as brigas compradas pelo presidente Donald Trump, uma delas é contra a mais antiga universidade dos Estados Unidos, Harvard, fundada em 1636. A Universidade de Harvard chegou a ser proibida de matricular alunos estrangeiros, porém a decisão foi suspensa por tempo indeterminado por uma juíza. Acontece que a tradicional instituição sediada em Massachusetts é apenas a ponta do iceberg que envolve todas as universidades americanas e os alunos estrangeiros que nelas estudam.

Mas o foco da indignação de Trump é o grande número de chineses nas universidades americanas. Entende que eles se valem do conhecimento adquirido nos EUA e depois voltam para a China, para ajudar o seu país a crescer e competir com o próprio Estados Unidos. Isto não deixa de ser verdade, mas é um número ínfimo perto do contingente estrangeiro em universidades americanas. E, além disto, uma boa parte desses estudantes chineses acaba ficando no território americano, ao arrumar um bom emprego ou tornar-se um empreendedor.

BENEFÍCIOS

O problema é que a decisão de Trump causa um impacto não só nas universidades, mas também na economia do país. Dados do Instituto de Educação Internacional dos Estados Unidos apontam que o número de estudantes estrangeiros no país chega a 1,1 milhão. E especialistas apontam que a cruzada de Trump pode desencadear um êxodo acadêmico, com impactos não só nas finanças das instituições, mas em toda a economia americana.

A anuidade de uma universidade americana gira em torno de 80 mil dólares. Além deste valor, os estrangeiros ainda gastam com hospedagem, alimentação, transporte e lazer. E ainda de acordo com as informações do Instituto, “o grupo foi responsável por injetar quase 44 bilhões de dólares na economia americana e gerar 378 mil empregos somente no ano passado. No último ano acadêmico, mais de 240 mil estudantes com autorização de trabalho temporária (OPT) foram contratados. Já o programa de vistos H-1B, que permite trabalho permanente nos EUA, teve mais da metade de suas 360 mil permissões emitidas entre 2020 e 2023 destinadas a estudantes internacionais — a maioria oriunda da China e da Índia”.

PERDAS

Hoje, a maioria dos estudantes internacionais busca diplomas na área de Stem (sigla em inglês para Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática). Após formados, muitos ocupam postos estratégicos no Vale do Silício ou em Wall Street. Em entrevista para o jornal O Globo, o advogado especialista em imigração Gustavo Nicolau disse que “o perigo que os EUA correm é começar a perder pessoal qualificado. Na área de tecnologia, há um esforço para trazer mão de obra de fora devido a um tradicional déficit de profissionais do setor”.

Para o advogado, “os estudantes estrangeiros representam uma enorme vantagem aos EUA: a maioria deles não tem visto de trabalho durante a sua formação, ou seja, não competem com os americanos, movimentam a economia americana durante a sua estada, uma vez que precisam residir no país, e, quando se formam, podem tanto integrar a força de trabalho do país quanto empreender”.

HARVARD

Como a Universidade Harvard é o foco do conflito criado por Trump, cabem algumas informações sobre ela, colhidas a partir da pesquisa. Pois a Universidade de Harvard, como muitas instituições acadêmicas, desempenhou um papel importante na pesquisa e desenvolvimento de armamentos durante a Segunda Guerra Mundial. O trabalho da universidade, principalmente no âmbito do Projeto Manhattan, foi crucial para o desenvolvimento da bomba atômica, que foi um dos principais fatores que contribuíram para o fim do conflito. Logicamente, que com trágicas consequências.

LISTA

A Universidade de Harvard, em parceria com a Marinha e a IBM, construiu o computador eletromagnético Mark I, que foi essencial para cálculos complexos relacionados à bomba atômica.

A pesquisa em física nuclear em Harvard, incluindo o desenvolvimento do primeiro cíclotron, foi fundamental para o Projeto Manhattan, com o cíclotron sendo enviado para Los Alamos para trabalhar na bomba atômica.

Além da física nuclear, a universidade também contribuiu com pesquisas em áreas como explosivos, rádio eletrônica e medicina militar, que foram importantes para o esforço de guerra.

Em resumo, a Universidade de Harvard foi uma das principais instituições acadêmicas envolvidas na pesquisa e desenvolvimento de armamentos durante a Segunda Guerra Mundial e suas contribuições têm sido cruciais para o crescimento dos EUA. Evidentemente, com os talentos que forma. Este é o carro-chefe da briga de Trump.


Correio do Povo

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