sábado, 8 de março de 2025

RESUMO DO MOVIMENTO CÍVICO-MILITAR DE 1964

 O Estado Moderno exigiu a formação de Forças Armadas hierarquizadas e disciplinadas para a defesa da Nação com o uso legítimo  da força e submetidas ao Poder Político.

No Brasil, a Marinha, a força mais antiga, nasceu com a chegada da Corte de D.João VI, em1808, o Exército em 1810, com a criação da Real Academia Militar e a FAB em 1941, com a junção da Aviação Naval com a Aviação Militar, todas com o propósito de defender a soberania nacional, o território e a ordem constitucional

Em virtude da chamada Guerra do Paraguai (1865-1970), o Estado brasileiro sentiu a real necessidade de ter Forças Armadas prontas para enfrentar eventuais inimigos no futuro, dessa forma, imbuídos no pensamento positivista de Augusto Comte  (1798-1857), o pensamento militar brasileiro, já naquela época, idealizou a Doutrina da Escola Superior de Guerra, baseada na existente nos EUA, e planejou o desenvolvimento, a segurança e a integração de território brasileiro.

Uma grave crise política e militar teve início aqui com a renúncia do Presidente da República, Jânio Quadros, em 25 de agosto de 1961, posto que os ministros militares, Almirante Sílvio Heck, General Odylio Denys e Brigadeiro Grun Moss eram contrários à posse do Vice-Presidente João Goulart, o que foi resolvido politicamente com a instituição do Parlamentarismo, sendo escolhido como primeiro-ministro o Deputado Federal Tancredo Neves, medida paliativa  a fim de evitar o pior, uma guerra civil.

Realizado um plebiscito em janeiro de 1963. o governo voltou a ser Presidencialista, assumindo a presidência João Goulart, dando início outra vez a um período de intensa instabilidade político-social de agitações populares, nas universidades, na mídia, na Igreja, nas instituições políticas e no Congresso Nacional e finalmente nas Forças Armadas, ultimo ratio.

Tendo em vista o agravamento da situação, o ministro-chefe da Casa Militar da Presidência, General Assis Brasil, preparou um débil “dispositivo militar” em apoio ao governo.

Monumental comício do presidente João Goulart, em 13 de março de 1964, realizado na Central do Brasil, Rio de Janeiro, na presença de vários ministros, inclusive o da Guerra, foram pronunciados diversos discursos que pregavam a reforma agrária, a desobediência civil, a luta de classes, a encampação das refinarias, a revisão da Constituição e a subversão da ordem institucional.

O General Humberto de Alencar Castello Branco, Chefe do Estado-Maior do Exército, em Circular Reservada, datada de 20 de março daquele ano, prevenia ao Exército que uma nova Constituinte seria o caminho para o fechamento do Congresso e a instituição de uma ditadura sindicalista.

Em 25 de março deu-se o Motim dos Marinheiros, amotinados na Sede do Sindicato dos Metalúrgicos, no Rio de Janeiro. Uma tropa do Corpo de Fuzileiros Navais (CFN) mandada por ordem do Ministro da Marinha para prender os amotinados aderiu aos revoltosos, gritando palavras de ordem e vivas a João Goulart e ao Alte (FN) Aragão, Comandante do CFN, que foi carregado, fardado, no ombro da marujada. Uma tropa do Exército prendeu os amotinados.

O Ministro da Marinha pediu demissão e foi substituído por um almirante da reserva.

O Movimento cívico para afastar João Goulart prinipiou com a iniciativa do Governador de São Paulo, Ademar de Barros, que clamou à população vir às ruas pedir o impeachment do presidente. A oposição organizou a concorrida “Marcha da Família com Deus pela liberdade”. A Ordem dos Advogados do Brasil acusava o presidente de ameaçar a ordem jurídica e editoriais do Jornal do Brasil, O Globo, Folha de São Paulo, Correio da Manhã ,Estado de São Paulo defendiam, ostensivamnete, a deposição do presidente.

Em 28 de março, no aeroporto de Juiz de Fora (MG) o Governador de Minas Gerais, Magalhães Pinto, reúne-se com o General Mourão Filho, Comandante da 4 ª Região Militar, com o Comandante da PM de Minas Gerais, Coronel José Geraldo e outras autoridades. ficando acertado que o Movimento cívico-militar seria iniciado por Minas Gerais, dia 31 de março.

Dia 30 de março o Governador Magalhães Pinto dá início à Revolução, materializando o Movimento civil ao lançar em cadeia de rádio e televisão um Manifesto à nação desligando o Estado de Minas Gerais da Federação até a substituição do presidente João Goulart.

Naquele mesmo dia foi desencadeada uma megaoperação que prendeu subversivos, ocupou sede de partidos políticos e sindicatos. As divisas (fronteiras) do Estado com os demais Estados foram bloqueadas por contingentes da PMMG que passou a controlar rigorosamente os principais eixos rodoviários e ferroviários do Estado por meio de barreiras.

Cumpre notar que a fase do Movimento militar teve início com o  General Olympio Mourão Filho, Comandante da 4ª Divisão de Infantaria/4ªRM, sediada em Juiz de Fora, em 31 de março de 1964,  quando formou o “Destacamento Tiradentes”, comandado pelo General Antônio da Costa Muricy, integrado por unidades do Exército e por dois Batalhões da PMMG, que partiu no mesmo dia chegando ao Rio de Janeiro em 2 de abril, após passar por forças resistentes, sem combate, ficando acantonado no Estádio do Maracanã, cedido pelo Governador da Guanabara, tendo regressado à sede, Juiz de Fora, no dia 6 de março, após cumprir a sua missão.

Na madrugada de 1º de abril o General Amaury Kruel, Comandante do II Exército aderiu à Revolução e decidiu partir para a Guanabara, ao longo da BR-2, mantendo contato com o General Emilio Garrastazu Médici, Comandante da Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), que já havia colocado seus Cadetes do Curso de Infantaria em uma Posição Defensiva na rodovia BR-2 para barrar reforços do Exército para a Guanabara.

Às 18:00h do dia 1º da abril reuniram-se na AMAN os generais Ancora, Ministro interino do Exército, Kruel e Médici decidindo que todos deviam recolher as armas, não havendo ações de combate. Curiosidade, esses três generais eram gaúchos, sendo os dois primeiros da mesma Turma de 1921 da Escola Militar de Realengo.

É imperioso dizer-se que o Comandante da AMAN estabeleceu em sua Ordem de Operações: Empregar o Corpo de Cadetes para impedir o acesso de forças do I Exército à região  de Resende, até a chegada do  II

Exército.

Na madrugada de 2 de abril, o presidente do Senado, Aldo de Moura Andrade, a fim de atender aos apelos contra João Goulart do  Governador de Minas Gerais, a quem  se juntaram ,entre outros, Governador da Guanabara, Carlos Lacerda, São Paulo, Ademar de Barros ,do Paraná, Ney Braga,e do Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, declarou vago o cargo de presidente e às 03:45 h empossou interinamente no cargo de Presidente da República, na presença do presidente do Supremo  Tribunal  Federal, o presidente da Câmara dos Deputados , Ranieri Mazzilli.

Uma Junta Militar, composta pelo Almirante Augusto Rademaker Grünewald, General Costa e Silva e Brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo, constituiu-se em Comando Supremo da Revolução e assinou no dia 9 de abril o Ato Institucional que em seu preâmbulo consta: “A revolução vitoriosa se investe no exercício de Poder Constituinte. Fica assim bem claro, que a revolução não precisa legitimar-se através do  Congresso. Este é que recebe deste Ato Institucional a sua legitimação”. O Ato foi elaborado com a colaboração do jurista famoso na época, Francisco  Campos.

Dois dias depois foi eleito Presidente da República, por voto indireto de uma Comissão Eleitoral no  Congresso Nacional, o Marechal  Humberto de Alencar Castelo Branco, que tomou posse no dia 15 de abril.

Concluo repetindo as palavras do Coronel Manoel  Soriano Neto,”alguns preceitos são imutáveis para os militares, em que pese o sabor da época vivida, e deveriam ser bem compreendidas pela sociedade. A propósito os polemologistas nos ensinam paradigmáticos conceitos;

 

 

a) que toda Força Armada, em qualquer lugar do mundo, acata o princípio da autoridade, disciplina e hierarquia, usa uniformes e segue um ritual específico;

 

b) todo militar possui traços comuns, é conservador, disciplinado, autoritário e acendrado patriota;”

 

Uma árvore não pode ser derrubada com um só golpe.” Frase Judaica.


CMG (Ref°) PAULO MARCOS GOMES LUSTOZA

 

TEXTO BASEADO EM ARTIGO DO HISTORIADOR MILITAR CEL.VETERANO MANOEL SORIANO NETO ,PUBLICADO NO  OPÚSCULO “PENSAMENTO MILITAR BRASILEIRO” do CLUBE DE AERONÁUTICA-Ensios 11- 2014.

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