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domingo, 11 de dezembro de 2022

Os desafios de Dina Boluarte

 Jurandir Soares

A primeira mulher a ocupar a presidência do Peru, Dina Boluarte, tem grandes desafios pela frente. O primeiro deles será desmobilizar o movimento que começou no Congresso no sentido de convocar novas eleições presidenciais. Ela foi eleita vice-presidente e com a cassação do presidente tem o direito constitucional de completar o mandato até 2026. Outro, e mais desafiador, será mostrar à nação que ela tem personalidade e competência para dirigir o país. E ainda, que não está envolvida em corrupção.

Acontece que o esquerdista Pedro Castillo chegou ao poder numa eleição em que os peruanos buscaram eleger o menos pior. Apresentaram-se 18 candidatos ao pleito e para o segundo turno restaram o líder sindical populista Castillo e a direitista Keiko Fujimori, filha do ditador Alberto Fujimori, que governou o Peru de 1990 a 2000. Ele passou ao segundo turno com 18% dos votos e terminou eleito por margem pequena (50,1%, contra 49,9%) porque a adversária foi vista naquele momento como, também se poderia dizer, um mal maior. Isto num quadro em que cinco presidentes foram depostos, todos envolvidos em falcatruas da brasileira Odebrecht. Alejandro Toledo (2001-2006), Alan Garcia (2006-2011), Ollanta Humala (2011-2016), Pedro Pablo Kuchinsky (2016-2018) e Martin Vizcarra (2018-2021). Na iminência de ser preso, Alan Garcia suicidou-se. Com todo este histórico de presidentes derrubados por corrupção, Pedro Castillo não se vacinou. Foi acusado de fazer parte do grupo Movadef, que é o braço político da guerrilha. Além disto, foi acusado de ter uma organização criminosa entrincheirada no governo só para acertar licitações e contratações. Pessoas próximas dizem que Castillo, que é de origem humilde, pois a família realizava trabalho semiescravo na Cordilheira dos Andes, não tinha afinidade com a vida no palácio. Dizia que preferia ordenhar vacas, sentir a vegetação do campo e frio das montanhas a viver no palácio. Só se sentia feliz quando alguém de seu povoado o visitava. O interessante é que, mesmo sentindo-se fora de seu habitat, não deixou de aderir ao sistema de corrupção. Mas, quando teve a percepção de que o Congresso iria detoná-lo do poder, tratou de ligar para o presidente do México, Andrés Manuel Lopez Obrador, pedindo asilo político. 

Dina Boluarte terá que deixar claro que não tem nada com isto. Que não teve conhecimento da corrupção e que irá combatê-la. Ela tem a seu favor o fato de ter se colocado imediatamente contra o golpe dado por Castillo. Sobre as pressões para uma nova eleição, ela disse que “a Constituição é a Carta Magna que todos os peruanos devem obedecer”, e o documento estabelece que permaneça no cargo até 28 de julho de 2026. Restabelecer o crescimento do país é outro desafio. O Peru experimentou duas décadas de crescimento do PIB numa média de 5%. Mas a pandemia foi um desastre, com crescimento negativo de 11,5% em 2020 e 40% da população mergulhando na pobreza. Esta advogada de 60 anos tem a seu favor o fato de ser formada em Direito, com especialização em gestão pública e de ter atuado como conciliadora extrajudicial. Pois o que o Peru mais precisa agora é conciliação.


Correio do Povo

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