AdsTerra

banner

domingo, 11 de dezembro de 2022

A tragédia ganha nomes

 Guilherme Baumhardt


Dias atrás, diante da cada vez mais remota possibilidade de ver Henrique Meirelles, Armínio Fraga ou Pérsio Arida comandando a economia do país, escrevi: a tragédia ganha forma. O tempo passou, o horizonte ficou mais claro e, a partir desta sexta-feira, ela – a tragédia – agora ganha nomes. E o pior deles, disparado, é o de Fernando Haddad.

O ex-prefeito de São Paulo (que conseguiu ser pior do que Celso Pitta e Marta Suplicy) não passa de um poste lulista. Não tem luz própria e sobre economia entende quase nada. Do pouco que sabe, leu nos livros errados – é declaradamente um marxista. Ou seja, se ele tem uma receita, é a receita do fracasso. Mas, se Haddad é um zero à esquerda, quem ditará os rumos da economia? Lula, ora bolas.

Correndo o risco de errar, mas usando como base o material que está disponível no momento, arrisco algumas previsões. A primeira delas: o sonho de entrar no seleto grupo da OCDE ficará mais distante. Aconteceu com a Argentina, que durante a gestão de Maurício Macri estava às portas da organização, mas após a eleição do esquerdista Alberto Fernández foi parar no final da fila.

A partir de 2023, viveremos uma nova onda populista, que começa com a aprovação do rombo do teto de gastos (classificar como furo é suave demais para os bilhões que estão em jogo). O que virá? Dinheiro sendo injetado na economia, sem lastro e de maneira irresponsável. Quando isso ocorre, a consequência inevitável é o aumento de preços.
Há um alento, uma esperança para os próximos dois anos. A independência e autonomia do Banco Central representam uma espécie de tábua de salvação. Há no comando do BC uma figura responsável e de respeito. Roberto Campos Neto tem ainda dois anos de mandato pela frente, com poder para esgrimar contra a alta de preços – a elevação dos juros é o remédio mais comum, mas existem outros.

Isso não impedirá, porém, a implantação de medidas que são insustentáveis no médio e longo prazos. Querem um exemplo? Linhas de financiamento, com juros subsidiados para determinados setores da economia. Já vivemos isso antes. Nos governos petistas, para atender a interesses bastante específicos e manter a aura de “Brasil Maravilha”, o crédito para compra de caminhões era tão vantajoso que até eu pensei em comprar um caminhão. O custo do dinheiro era inferior à inflação. O resultado? Muitos modernizaram a frota, enquanto outros resolveram ampliá-la. Com a recessão instalada a partir do final de 2014, a economia gelou. Havia caminhão, havia motoristas, mas não havia demanda. Resultado? Greve dos caminhoneiros.

Outro setor que desperta as mais tentadoras sensações populistas é a construção civil. Emprega muita gente (o que é ótimo), qualifica profissionais (algo sempre bem-vindo), mas que precisa de um crescimento responsável. Aí mora outro risco. Está nas mãos do governo federal o principal agente financeiro, que concede empréstimos para a compra da casa própria. Chama-se Caixa Econômica Federal. Existem regras, é óbvio, mas o governo é quem manda no banco. Diferentemente do Banco do Brasil, que tem ações negociadas em bolsa e tem regras mais rígidas de gestão, a CEF não possui esta blindagem.

O que o horizonte nos reserva? Um 2023 e, talvez, um 2024 com uma expansão fabricada pelo próprio governo, não pela confiança dos investidores no país – cada vez mais distantes e fugindo do Brasil. E o que fazer em casos assim? Não deixe de viver, não deixe de consumir. Mas mais importante do que isso é a precaução. Guarde recursos, faça poupança. Se possível em moeda forte estrangeira. Uma bomba está sendo armada e bombas são feitas para explodir. Não será diferente agora.

 

A novela da água

Enquanto escrevo estas linhas, a manchete nos sites da Rádio Guaíba e do Correio do Povo apontam para a suspensão do leilão da Corsan – a estatal de água e esgoto do Rio Grande do Sul. Aqui escreve um liberal, portanto, um sujeito simpático às privatizações e concessões feitas à iniciativa privada. Mas está para nascer um processo tão tortuoso (e mal executado) quanto este. Primeiro, o governo resolveu continuar sócio da empresa (algo que só afasta investidores – ninguém quer ter o Estado como sócio). Agora há um questionamento sobre o valor de venda da companhia. Que novela.

Prêmios

Em novembro foi o Prêmio Press, um dos mais importantes do Rio Grande do Sul – em que este colunista venceu nas categorias Jornalista do Ano, Colunista de Jornal e, ao lado de Jurandir Soares, José Aldo Pinheiro e da equipe da Rádio Guaíba, conquistou o troféu de Melhor Programa de Rádio, pelo Agora. Nesta semana veio a notícia de que outra premiação de relevo será conferida a este que vos escreve: o prêmio de Jornalista de Economia do Ano, conferido pelo Conselho Regional de Economia do Rio Grande do Sul. Obrigado, obrigado, obrigado. O alemão aqui fica de bochechas coradas.

Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário