A guerra na Ucrânia completou nove meses no dia 24 de novembro
Jurandir Soares
A guerra na Ucrânia completou nove meses no dia 24 e o que está se vendo até agora é uma grande indefinição em termos militares e uma grande perda para os países envolvidos, tanto direta como indiretamente, no conflito. A ponto de que quem vencer terá o que se convencionou chamar de uma “Vitória de Pirro”. Para recordar, em 279 antes de Cristo, Pirro, rei e general do Epiro, travou contra os romanos a Batalha de Ásculo e conquistou a vitória. Porém, com um elevado número de baixas de oficiais e soldados, obteve prejuízos irreparáveis para o seu exército, o que comprometeu a continuidade da guerra contra Roma. Ao observar os saldos da batalha, Pirro teria dito: “outra vitória como esta e estamos acabados”. O episódio ficou conhecido como a “Vitória de Pirro”, termo que hoje é utilizado para descrever uma vitória com efeitos prejudiciais ao vencedor.
O que se está percebendo hoje no conflito da Ucrânia são efeitos prejudiciais para todos. A Ucrânia vê a fuga de grande parte de sua população, a morte de seus soldados e de seus cidadãos, além da destruição de cidades e da infra estrutura. A Rússia está gastando horrores para manter a guerra e está vendo seus soldados e oficiais morrerem, além da destruição de grande parte de seus equipamentos militares. Somam-se a isto as sanções econômicas impostas pelo Ocidente, as quais têm feito sua economia declinar.
Porém, o declínio da economia se dá também nos Estados Unidos e nos países da União Europeia, financiadores dos armamentos que estão sendo oferecidos à Ucrânia, bem como a ajuda humanitária àquele país. Somam-se a isto um aumento extraordinário nos preços dos combustíveis e dos alimentos, o que eleva a inflação. Sem contar o fato de que a Europa está entrando no inverno e ficando sem o aquecimento proporcionado pelo gás oriundo da Rússia. Até o chinês Xi Jinping está defendendo um diálogo para o fim da guerra, porque o seu país também está sentindo o reflexo na diminuição de suas vendas.
Diante deste quadro, surgiram nesta semana os acenos de um diálogo para pôr fim ao conflito. Na quinta-feira, ao receber na Casa Branca o presidente francês Emmanuel Macron, o presidente Joe Biden disse estar disposto a sentar a uma mesa de negociação com Vladimir Putin. Mas destacou que a conversa será possível depois que Putin deixar a Ucrânia. No dia imediato veio a aceitação por parte do Kremlin, porém, com uma condicionante relatada pelo porta-voz Dmitri Peskhov. Disse que a Rússia não sai da Ucrânia para negociar e que os Estados Unidos precisam reconhecer como russos os territórios da Crimeia e as quatro províncias do Donbas. A Crimeia, Moscou já anexou em 2014, quanto aos outros territórios, hoje não os controla totalmente, tendo retraído sua linha defensiva em Kherson (Sul) para o Sudeste do rio Dnieper, enquanto avança lentamente em Donetsk (Leste) e não ocupa uma faixa ao Norte de Zaporíjia (Sul). Só Lugansk (Leste) está praticamente toda dominada.
Ou seja, situação ainda muito complicada. Porém, diante desta situação, pode vir o que o presidente ucraniano Volodimir Zelensky mais teme: se ver forçado a entregar territórios. O Ocidente poderá forçá-lo a isto, quem sabe numa negociação com a Rússia para admitir a entrada da Ucrânia na União Europeia ou até mesmo na Otan, para que Kiev tenha a certeza de que não perderá mais território. Enfim, as peças do xadrez começam a se movimentar, resta ver quem dará o xeque-mate. Mas uma coisa é certa: todos se sentirão como Pirro.
Correio do Povo
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