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domingo, 16 de outubro de 2022

A China é o inimigo maior

 Governo chinês tem construído rodovias, ferrovias, portos e aeroportos por todo o mundo

Jurandir Soares


O presidente da Rússia, Vladimir Putin, enquanto segue bombardeando a Ucrânia, também parece disposto a uma negociação. Nos últimos dois dias fez dois acenos nesse sentido. O primeiro foi quando disse que estava disposto a se reunir com o líder americano, Joe Biden, no próximo mês, na Indonésia, por ocasião da reunião do G20. É claro que Biden não pode falar pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky. Porém, trata-se de uma reunião das duas potenciais envolvidas no conflito, o que pode ser um caminho. O outro aceno foi nesta quinta-feira, no Uzequistão, quando se reuniu, num encontro regional, com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, o qual, aliás, já foi o intermediário da negociação para liberar as exportações de cereais dos países em guerra. Putin propôs a Erdogan a criação de um entreposto de gás russo na Turquia, para que dali possa, segundo as suas próprias palavras, ser vendido para a Europa, se houver interesse dos europeus. Na realidade, Putin sabe que a Europa está com um grande problema ao abrir mão do gás russo, e o seu país está também com um grande problema ao deixar de vender para a Europa.

O mundo civilizado torce para que um desses caminhos leve a um fim dos confrontos bélicos. Porque, na retórica, a guerra está cada vez mais perigosa, com as ameaças de Putin de usar armas nucleares e o revide da Europa de, nesse caso, colocar a Otan em cena para acabar com o Exército russo. Um cenário, logicamente, que ninguém espera que venha acontecer. Assim, que avance esta disposição de Putin em negociar.

Por outro lado, periodicamente os Estados Unidos lançam um documento sobre sua política externa e estratégia de defesa. Fato que aconteceu na quarta-feira, embora o documento já viesse sendo elaborado desde antes de eclodir a guerra na Ucrânia. E, apesar do atual contexto de confrontação e de uma espécie de guerra indireta, a Rússia não é vista como o principal inimigo. Este papel é desempenhado pela China. E não deixa de ser compreensível. A Rússia, apesar de ter um excelente poder bélico e ser uma potência nuclear, tem uma economia fraca. Já a China, além do poder bélico e nuclear, tem o econômico. É a segunda maior economia do mundo, e marcha celeremente para ser a primeira. Pequim expande sua área de influência pelo mundo. Criou, inclusive, um agressivo programa para isto: o Belt and Road Iniciative, que está sendo chamado de a nova Rota da Seda.

Através desse sistema, a China tem construído rodovias, ferrovias, portos e aeroportos pelas mais diversas partes do mundo, mas, em especial, num trajeto que vai de seu território até a Europa, estendendo-se dali para a África. Estes sistemas servem não só para alavancar os negócios que interessam à China, como também para servir de suporte às forças chinesas em caso de confrontação com alguma potência. Assim, não é sem razão a preocupação de Washington, a qual vem desde os tempos de Donald Trump, que iniciou a chamada Guerra 2.0 com Pequim. “A China é o único país que busca reformular a ordem internacional e, cada vez mais, o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para avançar nesse objetivo”, diz o documento. É preciso ressaltar que essa confrontação com a China não é nem de Trump e nem de Biden, porque os EUA têm para com a potência asiática, assim como para com a Rússia, não uma política de governo, mas uma política de Estado.

É evidente, porém, que embora a China seja apontada como o principal inimigo, a Rússia não fica muito distante, especialmente pelo que ela está representando sob a liderança de Vladimir Putin. “Os EUA não permitirão que a Rússia ou qualquer potência busque alcançar seus objetivos usando ou ameaçando usar armas nucleares”, diz o texto. Ressalta também o fortalecimento da Otan que se deu a partir da guerra na Ucrânia. Porém, além de buscar “frear a ameaça russa”, o documento engloba uma série de outros objetivos como mudança climática, terrorismo, inflação, recessão, insegurança alimentar e transição energética. Na realidade, todas essas questões têm afetado fortemente os EUA, e a luta é por não perder a hegemonia mundial.


Correio do Povo

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