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segunda-feira, 4 de abril de 2022

IRRELEVÂNCIA - 04.04.22

 Por


Mateus Bandeira


 


Na eterna ambivalência entre seus próprios atos de governo e a vontade de discursar em sentido contrário, o PSDB perdeu o signo original|


 


Em novembro do ano passado, observando a inacreditável série de trapalhadas acontecidas na prévia do PSDB para escolher seu candidato a presidente da República, escrevi um artigo que terminava com uma bem humorada frase do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “Consequências tem o sério costume de sempre virem depois”. Usei a elegante frase como fim de texto e para ilustrar uma afirmativa que eu fizera em algum parágrafo anterior: o PSDB não havia se apequenado nas prévias. O que o Brasil estava testemunhando naqueles dias de prévia suspensa eram as consequências de seu apequenamento – aquelas que costumam vir depois.


 


Finda a prévia, escolhido o candidato e ouvidas as advertências de seu presidente de honra – foi o ex-mandatário da nação quem falara nos riscos de apequenamento que eu havia dado como posto –, imaginei um futuro de juízo nas ações políticas e seriedade nas condutas pessoais dos personagens tucanos. Ledo engano. O partido que escolheu João Doria como candidato ao Planalto superou-se e, aparentemente, ainda não cansou. Quem não havia conseguido organizar sua prévia ainda não conseguiu organizar sua suposta candidatura nem apaziguar seus homens de boa vontade.


 


Na dança tucana dos últimos dias, entre renúncias, denúncias veladas, ameaças de desistências e disputas abertas, velhas e novas mazelas disseram “presente”. Os projetos pessoais parecem falar mais alto que as convicções partidárias: desde sempre candidatos de si mesmos, os cuidados dos governadores tucanos com o exercício de seus mandatos junto às sociedades paulista ou gaúcha foram subordinados, o tempo todo, a suas estratégias eleitorais. A irresponsabilidade chegou ao ponto de transformarem em palanque a tragédia de uma pandemia.


 


Nascido sob o discurso da honestidade civil e ideológica, e incapaz de entender seus êxitos, o partido renegou ao longo do tempo suas conquistas liberais (o Plano Real é a mais bem sucedida intervenção econômica da história do Brasil e seu programa de privatizações foi amplo e eficaz) e ficou flertando, abandonado pelos eleitores, com os sonhos de uma esquerda juvenil. Seu ex-candidato a presidente em 2018 saiu ontem do partido para ser candidato a vice na chapa de quem, até anteontem, chamava de criminoso.


 


 


Na eterna ambivalência entre seus próprios atos de governo e a vontade de discursar em sentido contrário, o PSDB perdeu o signo original e fez de seu não decidir um refúgio fantasiado de moderação – vaga certa no vestíbulo do Inferno de Dante. É nele que o poeta florentino coloca os que fazem da negação da escolha a escolha da indecisão; é a morada dos indecisos, dos covardes e dos que passaram a vida “em cima do muro”.


 


Agora, tomada a decisão, votos computados e, aparentemente não satisfeitos, sem terem aprendido nada e esquecido o que já fizeram bem feito, entre ameaças não realizadas de troca de partido por parte de quem perdeu as prévias e insípidas notas oficiais, surge a hipótese de novas, traiçoeiras e continuadas articulações.


 


Se o fim deste artigo for pela ótica da epopeia, recomendo cuidado. Dante reservou o nono círculo do Inferno aos traidores. A Esfera de Antenora, especificamente, é destinada aos “traidores de sua pátria ou partido político”. Se a conclusão do texto for pela ótica dos eleitores, também recomendo cuidado. O Partido da Social Democracia Brasileira, o PSDB, os números mostram, caminha para a irrelevância.


 


Entretanto, fiel às referências, abrindo espaço para os conselhos, recorro outra vez às palavras de Fernando Henrique Cardoso, sábio ex-presidente, em mensagem no seu Twitter no dia 28 de março: “As prévias do PSDB foram realizadas democraticamente. Assim sendo, penso que devem ser respeitadas”.


Pontocritico.com

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