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sexta-feira, 8 de abril de 2022

Dólar sobe pela terceira sessão seguida e volta a nível de R$ 4,74

 Pregão foi marcado pelo fortalecimento da moeda norte-americana no exterior


Em dia marcado por fortalecimento da moeda norte-americana no exterior, com alta frente à maioria das divisas emergentes pares do real, o dólar à vista subiu pelo terceiro pregão seguido no mercado doméstico de câmbio e fechou no patamar de R$ 4,74. Operadores notam recomposição parcial de posições defensivas no mercado futuro e movimentos de realização de lucros, dado que o real experimentou uma rodada forte de apreciação no primeiro trimestre, sobretudo em março.

Essa demanda maior por dólares se dá em meio à desaceleração do fluxo estrangeiro para ativos domésticos e à perspectiva de ajuste mais rápido e intenso da política monetária norte-americana. Ao tom da ata do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) na quarta, com sinalização de alta de 50 pontos-base da taxa de juros em maio e início da redução do balanço patrimonial, somaram-se nesta quinta-feira declarações duras do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, para quem a taxa básica dos EUA deveria estar acima de 3% no segundo semestre deste ano.

"O comportamento do dólar no Brasil hoje está muito ligado a questões externas, principalmente refletindo ainda ata do Fed com tom mais duro. Isso acabou pressionando os juros dos Treasuries, o que tem reflexo no comportamento das moedas emergentes", diz a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest, acrescentando que uma elevação mais forte dos juros nos EUA, aliada à proximidade do fim do ciclo de aperto monetário no Brasil, significa um estreitamento do diferencial de juros interno e externo, embora ele ainda seja elevado e estimule o carry trade.

Tirando uma pequena baixa no início dos negócios, o dólar à vista trabalhou em alta ao longo de todo o dia, tendo atingindo máxima a R$ 4,7728 (alta de 1,23%) no início da tarde, momento em que a moeda americana acelerava os ganhos frente a divisas fortes e as bolsas em Nova York operavam perto das mínimas. O ímpeto altista amainou à tarde, com o Ibovespa renovando máximas na esteira da melhora dos índices acionários americanos.

Após rodar perto do nível de R$ 4,75 na maior parte da segunda etapa de negócios, a moeda terminou o dia cotada a R$ 4,7409, em alta de 0,56%. Com isso, o dólar acumula ganhos de 1,58% na semana, reduzindo a queda em abril para 0,43%. Em 2022, a desvalorização agora é de 14,98%.

"O dólar acumulou uma queda expressiva do começo do ano para cá. É normal que haja um leve retorno agora. Tem espaço para subir um pouco mais, até R$ 4,80 ou R$ 4,85, mas a tendência é que volte a cair em seguida", diz Kaue Franklin, especialista em renda variável do Grupo Aplix.

Dados da B3 mostram que os investidores estrangeiros retiraram R$ 11,880 milhões na sessão de terça-feira (dia 5). Embora o saldo ainda seja positivo em R$ 566,17 milhões em abril, nota-se um ritmo menor de entrada de recursos em comparação a março.

Leilão realizado nesta quinta pelo Tesouro Nacional com oferta de NTN-F, papel público preferido pelo estrangeiro, foi fraco. Da oferta de 450 mil papéis com vencimento em 2023, foram vendidos apenas 50 mil títulos. O Tesouro não aceitou propostas para a NTN-F de 2029, cuja oferta era de 300 mil papéis. Operadores ressaltam que sem os dados do fluxo cambial, dada a greve dos servidores do Banco Central, não é possível saber se há entrada líquida de dólares pelo canal financeiro.

Em live à tarde, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou que a entrada de dólares para o Brasil segue "bastante razoável" no curto prazo. Em relação à política monetária, Campos Neto disse que o BC está no caminho certo. Ressaltou, porém, que "a calibragem depende da extensão dos choques", deixando aporta aberta para uma eventual continuidade do aperto monetário para além da reunião do Copom em maio, para a qual já acenou com uma alta da taxa Selic em 1 ponto porcentual, para 12,75% ao ano.

A mudança da bandeira tarifária de energia elétrica a partir do dia 16, anunciada na quarta à noite pelo presidente Jair Bolsonaro no Twitter, deve provocar desaceleração do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em abril, segundo analistas. Diversas casas mantêm, contudo, projeção de inflação ao redor de 7% em 2022. A AZ Quest, por exemplo, reduziu a expectativa de IPCA neste mês de 1,40% para 0,92%, mas ratificou a estimativa de 7,4% para o índice em 2022.

Na sexta-feira, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulga o IPCA de março, que, segundo a mediana de Projeções Broadcast, deve ser de 1,35%, uma aceleração frente ao resultado de fevereiro (1,01%).

Lá fora, o índice DXY, termômetro do desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes, chegou a operar em leve queda pela manhã, após divulgação da ata do Banco Central Europeu (BCE), mas virou para o terreno positivo e estava acima dos 99,800 pontos quando o mercado local fechou. A taxa da T-note de 10 anos subiu mais de 2%, girando ao redor de 2,65%. Após uma sessão volátil, o petróleo tipo Brent para junho, referência para a Petrobras, fechou em baixa de 0,48%, a R$ 100,58 o barril, com a informação de que a Agência Internacional de Energia (AIE)confirmou a liberação de reservas estratégicas nos próximos seis meses.

O head de câmbio da HCI Invest, Anilson Moretti, diz que a alta dos Treasuries, na esteira da ata do tom duro da ata do Federal Reserve, tende a tirar atratividade dos países emergentes, o que explica em parte a alta do dólar nesta quinta. Após a forte queda nos últimos três meses, a moeda brasileira pode passar agora por um momento de correção, diz Moretti, que estima pontos de resistência para a taxa de câmbio em R$ 4,90 e R$ 5,00.

Taxas de juros

Os juros futuros fecharam o dia em alta, com exceção dos de curtíssimo prazo que ficaram estáveis. As taxas locais acompanharam a nova escalada dos retornos dos Treasuries longos e o avanço do dólar, com o Federal Reserve emitindo mais sinais de postura agressiva no combate à inflação. No Brasil, a informação de que já a partir de 16 de abril entrará em vigor a bandeira tarifária verde de energia aliviou a curva na primeira parte do dia, mas o efeito depois se esvaiu com o mercado voltando suas expectativas ao IPCA de março, que será divulgado na sexta-feira.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou estável ante o ajuste de quarta-feira, em 12,75%, e a do DI para janeiro de 2024 subiu de 12,01% para 12,155%. O DI para janeiro de 2025 encerrou com taxa a 11,53%, de 11,44% na véspera, e o DI para janeiro de 2027, com taxa de 11,30%, ante 11,205%.

Os mercados têm sido bombardeados nesta semana pelas indicações do Fed de atuação mais dura na política monetária, penalizando principalmente ativos de risco. Depois da fala na terça-feira da diretora "dovish" Lael Brainard, indicada à vice-presidência do BC americano, na quarta veio a ata e, nesta quinta, o presidente da distrital de St. Louis, James Bullard, afirmou que "se inclina" a apoiar uma alta de 50 pontos-base nos juros na reunião de maio e que o Fed precisa agir "inequivocamente". Foi a senha para os yields dos Treasuries longos engatilharem máximas. "O tom mais hawkish do Fed na semana estabeleceu de vez a leitura de que os juros vão subir em 50 pontos-base na próxima reunião", disse o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito.

Segundo ele, o efeito positivo do anúncio da bandeira verde, esperado para maio, já este mês sobre a curva foi mais forte na primeira parte do dia e, ainda assim, limitado aos vencimentos mais curtos. À tarde, as taxas zeraram a queda. "Ninguém quer comprar bandeira verde antes do IPCA amanhã", resumiu.

A previsão é de que com o fim da bandeira de escassez hídrica haja um desconto de até 20% na conta de luz. Várias casas ajustaram suas previsões para o IPCA no curtíssimo prazo, reduzindo a expectativa para abril e elevando a de maio, mas a medida não conseguiu alcançar as projeções nem para 2022 nem para 2023. "A decisão não altera o nosso IPCA projetado para o ano, que já contemplava uma bandeira verde em maio, mas antecipa parte desse impacto para abril", afirmaram os economistas do Banco Original.

Bolsa

A virada em Nova York e o forte desempenho de Petrobras - com ambas as ações (ON e PN) em alta na casa de 5% no fechamento, após o encaminhamento da transmissão de comando na estatal - permitiram que o Ibovespa interrompesse sequência de três perdas. Nesta quinta-feira, a referência da B3 encerrou o dia em alta de 0,54%, a 118.862,12 pontos, entre mínima de 117.508,58 e máxima de 119.247,25, saindo de abertura aos 118.226,04 pontos. Moderado, o giro foi de R$ 27,3 bilhões na sessão. Na semana, o índice acumula perda de 2,23% e, no mês, de 0,95% - no ano sobe 13,39%.

Em movimento que se estendia com a ata "hawkish" do Federal Reserve, dólar e Ibovespa pareciam retomar a correlação dos tempos difíceis, com o primeiro em alta e o segundo em baixa em boa parte da sessão, embora em movimento mais contido na Bolsa do que no câmbio, desde a quarta-feira.

Nesta quinta, declarações fortes do presidente do Fed de St. Louis, James Bullard, contribuíram para reforçar o recado "hawkish" da ata, indo além: ele disse que gostaria de ver a taxa de juros de referência nos EUA acima de 3% no segundo semestre. Atento à mensagem, o mercado voltou a buscar dólar, resultando também em fortalecimento da moeda americana frente a divisas emergentes pares do real, como o peso mexicano, o rand sul-africano e o peso chileno.

O sentimento de cautela e a aversão a risco continuam a ser condicionados pelo "receio de que os altos preços não sejam controlados a tempo pelo Fed, e os altos juros acabem por desaquecer a economia americana a ponto de uma recessão adiante", aponta Rachel de Sá, chefe de economia da Rico Investimentos. "Os impactos do documento (ata do Fed) foram sentidos no mundo todo, inclusive no Brasil, onde vimos o dólar ganhar força e retomar o patamar de R$ 4,70 e as ações, especialmente nos setores de consumo e tecnologia, sofrerem na bolsa", acrescenta.

Para Pam Semezzato, analista gráfica da Clear Corretora, o avanço do dólar, visto na quarta e estendido nesta quinta, é um "movimento de repique dentro da tendência de baixa", com a moeda americana se aproximando de "uma resistência, não muito forte, em R$ 4,770". Quanto ao Ibovespa, a analista observa que o índice "perdeu um pouco a força na queda", mas ainda é cedo para falar em retomada da tendência de alta - embora permaneça acima do suporte de 115 mil pontos, "sem continuidade muito forte na queda", acrescenta Semezzato.

Outro aspecto-chave para a dinâmica recente da Bolsa, o preço do petróleo voltou a ceder terreno nesta quinta-feira, embora de forma discreta ante o que se observou mais cedo, com o Brent a US$ 100 e o WTI a US$ 96 por barril no fim do dia, tendo ambas as referências sido negociadas abaixo dos três dígitos durante a sessão.

A Agência Internacional de Energia (AIE) confirmou nesta quinta, em comunicado, que os países associados à organização vão liberar mais 120 milhões de barris de petróleo pelos próximos seis meses, ao detalhar decisão inicialmente revelada na semana passada. Somando-se a um compromisso anterior já assumido, a AIE liberará no total 240 milhões de barris de petróleo de reservas estratégicas ao longo desses seis meses, em esforço conjunto para tentar conter a escalada de preços decorrente da guerra entre Rússia e Ucrânia.

Na semana passada, os Estados Unidos já haviam se comprometido a lançar 180 milhões de barris, em uma média de 1 milhão de barris por dia (bpd). Nesta quinta, Washington informou que, do total já anunciado, vai liberar 60 milhões de barris no âmbito do acordo da AIE, com os outros 60 milhões vindos dos demais membros.

Também nesta quinta-feira, o Congresso dos Estados Unidos votou para banir as importações de petróleo da Rússia, depois de ter aprovado a suspensão do status comercial de nação mais favorecida. O projeto de lei será encaminhado ao presidente Joe Biden para que seja assinado e entre em vigor.

Na ponta do Ibovespa nesta quinta-feira, logo à frente de Petrobras ON (+5,01%) e PN (+5,19%), destaque também para Braskem (+6,96%). No lado oposto, IRB (-3,54%), Hapvida (-3,23%), MRV (-2,82%). Entre as blue chips, além de Petrobras, Vale ON também ajudou o movimento de recuperação, limitado ao fim, em alta moderada a 0,60% no fechamento, com os grandes bancos também ao positivo (Unit do Santander +3,52%, na máxima do dia no encerramento), à exceção de Itaú PN (-0,07%).

O Bank of America (BofA) elevou projeção para o Ibovespa no fim de 2022, de 125 mil para 135 mil pontos, em razão dos preços de commodities no mercado internacional. Em relatório, o banco reforça a visão de desempenho acima da média do mercado no Brasil (overweight) este ano. "À frente, nossos analistas estão positivos com petróleo, minério de ferro e celulose, que são os principais vetores do Ibovespa", escrevem os analistas do BofA David Beker, Paula Andrea Soto e Carlos Peyrelongue.

Na agenda de sexta-feira, destaque para o IPCA de março. "A inflação de dois dígitos deve continuar a assombrar a economia brasileira por um longo tempo. Há poucas esperanças de que (na sexta) o índice fique abaixo de 10%, se não muito perto desse nível (em 12 meses). A prévia foi desanimadora: o IPCA-15 apontou alta de 0,95% no mês, e o acumulado de 12 meses alcançou 10,79%. Esses números revelam que o Brasil convive há 7 meses com índice de dois dígitos no período de 12 meses", diz Fabio Astrauskas, professor do Insper e CEO da Siegen Consultoria.


Agência Estado e Correio do Povo

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