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segunda-feira, 19 de abril de 2021

O PIOR DO BRASIL, POR ANDRÉ BURGER

 Acabei de ler o livro “A Organização” de Malu Gaspar (Companhia das Letras, 2020). Conta a história da Odebrecht e seus sócios. Mais que um relato empresarial, é a história da corrupção no Brasil nos últimos 30 anos. A Odebrecht chegou a ser a segunda maior empresa privada brasileira com receitas da ordem de U$ 45 bilhões em 2014 e quase 170 mil funcionários. Poderia ser um exemplo de empreendedorismo num país tão carente deles, mas é justamente o contrário. A empresa é uma história de corrupção desde a sua fundação, em 1944, por Norberto Odebrecht e sucedido pelo filho Emílio e o neto Marcelo. Um exemplo do que de pior existe no mundo corporativo. Para eles, os fins justificam os meios, é de Norberto a frase “O que funciona está certo”. Souberam como poucos se aproveitar de uma economia estatizada onde as regras da política substituíram as de mercado. Quem decide são os que detém o poder. Exatamente como acontecia na Alemanha nazista. Os gestores da Odebrecht desenvolveram a habilidade de identificar a quem deveriam pagar para conseguir vender seus serviços. Para isso sempre estiveram agarrados ao poder, independente do partido. Alguns poderão argumentar que no Brasil a corrupção é endêmica, como subornar um guarda de trânsito para evitar uma multa. Mas a Odebrecht foi além. Seus subornos eram antecipados. Ela pagava políticos com potencial de lhe prestar favores, mesmo antes do objeto do favor existir. Propina pré-paga. A cultura da empresa era comprar favores. A Odebrecht elevou a corrupção a níveis jamais vistos em todos os países onde atuou. É fácil identificar onde seus negócios prosperaram, exatamente onde o estado se fazia mais presente, onde havia burocratas para vender benefícios: América Latina e África. Chegaram a ter negócios em 28 países e admitiram praticar suborno em 12. Entre 2001 e 2016 a empresa declarou ter pago mais de U$ 1 bilhão (Odebrecht+Braskem) em propinas para presidentes de república e funcionários de governo, incluindo aí os brasileiros Sarney, Collor, FHC, Lula, Dilma e Temer, direta ou indiretamente. Para administrar esse cipoal de corrupção criaram um setor específico: o “Departamento de Operações Estruturadas” que no auge tinha seu próprio banco offshore e um ERP exclusivo para agilizar o uso do dinheiro frio. No caso da Odebrecht não valia a máxima “casa de ferreiro, espeto de pau”, pois tanto a alta gestão quanto a média gerência usavam para si dinheiro não rastreável.

Não acredito na mudança de cultura de uma empresa como a Odebrecht, onde os valores e visão de mundo dos acionistas são completamente distorcidos daquilo que deve ser uma empresa e um empresário: obter lucro como resultado da venda de algo demandado. Não foi por falta de códigos de ética e manuais de atuação e conduta que a empresa vivia corrupção diariamente. Existia inclusive um livro chamado TEO Tecnologia Empresarial Odebrecht escrito por Norberto para ser o guia da atuação ética de todos os funcionários. De nada serviu, sempre praticaram o oposto do declarado nos seus relatórios anuais: ética, integridade e transparência. Valia o compadrio, o uma-mão-lava-a-outra. Mesmo nos momentos mais críticos da Lava Jato os executivos da Odebrecht seguiram pagando propina, além de mentir mesmo sob juramento.

Nunca, ao longo dos 77 anos da empresa, houve qualquer manifestação de algum Odebrecht de que agiram errado. De que suas práticas empresariais são ignóbeis, viciosas e destrutivas. Empresas como a Odebrecht, agora Novonor, são o que de pior temos no Brasil. Com empresários com esse caráter seguiremos sendo uma república bananeira com poucas perspectivas de desenvolvimento.

O índice remissivo do livro serve como um guia dos corruptos. Recomendo a leitura para quem quiser entender um pouco o Brasil atual, mas tenha um Dramin à mão.


Pontocritico.com



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