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quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

GOVERNANÇA E GESTÃO NUM MUNDO DE PROPÓSITO SUSTENTÁVEL - 10.12.2020

 

por Telmo Schoeler (*)


 


Para entender a profundidade, extensão e inexorabilidade que o propósito sustentável ganhou, é preciso analisar seus fundamentos e razões de forma técnica, realística, sem paixões ou saudosismos.


Primeiro, é necessário perceber como o mundo empresarial e os negócios mudaram. Por exemplo, nos tempos de Henry Ford, literalmente, se fabricavam automóveis e em torno da sede em Detroit havia várias subsidiárias, como a US Steel que produzia o aço, a Firestone que fabricava os pneus, assim como vidros e outros insumos, tudo convergindo para a linha de montagem, de onde saiam carros cuja cor o cliente poderia escolher, “desde que fossem pretos”. Isto porque a concorrência praticamente inexistia. O foco da família Ford, como de todos os líderes empresariais da época, era maximizar os resultados para os acionistas, inclusive inspirados por Milton Friedman, que academicamente pregava ser este o único objetivo das empresas.


Avancemos aos dias de hoje. O mundo empresarial evoluiu para uma cadeia, globalizada, interconectada, onde a existência, viabilidade e, portanto, perenidade de qualquer empresa depende não apenas do acionista empreendedor, mas também de supridores que a abastecem, de clientes que comprem seus produtos, da equipe de colaboradores que fazem o produto existir, dos supridores de recursos, tecnologia e serviços, entre outros, imprescindíveis para que o negócio exista.


Da adequação dessa cadeia e de sua governança individual é que dependerá a capacidade de a empresa chegar a um mercado cada vez mais concorrido, com clientes dotados de poder de escolha e onde sua eventual compra terá que remunerar satisfatoriamente toda essa cadeia, inclusive, mas não exclusivamente, o acionista. Tecnicamente, significa que a sustentabilidade das empresas passou a depender do atendimento satisfatório de todos os stakeholders dessa cadeia de vida.


Em segundo lugar é preciso entender que no passado bastava simplesmente ao acionista saber fabricar produtos ou disponibilizar serviços, tomando decisões simples, sem grandes exigências de gestão. Mas a modernidade e a interatividade trouxeram uma complexidade que evoluiu e forçou a inserção numa estrutura de Governança Corporativa, um sistema composto do conjunto de acionistas + conselheiros + executivos + órgãos de controle, todos agindo com foco na perenidade da empresa e na criação de valor.


Dito de outra forma, o objetivo de todos os agentes da governança é promover a sustentabilidade da empresa e a sua valorização, conceitos intrinsecamente vinculados ao longo prazo. É claro que isto não dispensa atenção ao fluxo de caixa e aos resultados, mas perdeu sentido o objetivo de maximizar resultados no curto prazo.


Em essência, o mundo passou a exigir eficiência financeira coletiva, onde cada um dos agentes da cadeia circular de negócios precisa contribuir para a viabilidade da mesma, fazendo a gestão do seu negócio de forma a remunerar o seu capital empregado, mas também viabilizando quem vem antes, depois e durante o processo, pois de outra forma simplesmente deixará de existir.


Questões ambientais


Cabe uma terceira reflexão e consciência que tem a ver com a dimensão ambiental. Toda a cadeia de stakeholders, incluindo acionistas, investidores, gestores, se deu conta de que não cuidar de questões ambientais é prejudicial à sociedade, aos negócios e às finanças. Poluir ruas ou rios originará impostos maiores do que os custos da não poluição; se evitarmos os alagamentos, melhoramos a logística, evitamos fechar o comércio, reduzimos prejuízos; preservando a fauna, teremos mais e melhor comida, etc.


Assim, o moderno e adequado gerenciamento das questões ambientais tem uma lógica financeira e capitalista, para redução de riscos, sustentabilidade e criação de valor, com foco em benefício dos negócios, da sociedade e dos cidadãos, nada a ver com qualquer viés socialista, lúdico, político ou de governo.


Por tudo isso, a moderna governança e gestão que vem evoluindo no planeta, com posicionamentos crescentemente impositivos de vários stakeholders, inclusive e especialmente investidores e financiadores, recebeu a sigla de ESG – “Environmental, Social, Governance”.


Por questões de fonética a ordem é essa, pois o correto, por lógica de causa-efeito, seria GSE, pois apenas com uma Governança adequada, seremos capazes de levar adequadamente em conta os ingredientes Sociais e de contribuir para os positivos efeitos relativos ao Ambiente (Environment), em benefício econômico coletivo.


 


(*) Fundador e presidente da Orchestra Soluções Empresariais


Pontocritico.com

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