Ao longo de sua história, o Brasil viveu estágios de desenvolvimento incompletos. Iniciados estes processos, na grande maioria das vezes produziram resultados parciais, entregas provisórias e obras inacabadas. Estamos fadados a sermos o eterno país do futuro, o país do “quase”? Governos se sucedem e uma aparente regra não escrita parece posicionar o governante que entra a não terminar o que foi iniciado por outro de forma que possa ser o único promotor ou beneficiário do bem-estar gerado.
Então, por que somos o país onde quase conseguimos concluir projetos? Desde a colonização nossa formação filosófica e jurídica foi extrativista e exploradora. As riquezas vegetais, minerais ou a monocultura agrícola tinham como função servir a outros em detrimento do Brasil.
O Brasil viria atrair ainda muitos outros povos e os holandeses que por aqui se aventuraram através de uma empreitada privada – a sociedade por cotas da Companhia das Índias Ocidentais -, construíram no Pernambuco cidades, portos e fortes. Expulsos daqui estes homens e mulheres navegaram norte estabelecendo vários pontos de comércio e colônias onde findaram comprando uma ilha dos índios locais. O vilarejo, inicialmente chamado Nova Amsterdam, foi revendido aos ingleses e rebatizado de Nova Iorque. Nova Iorque, foi quase aqui.
Nossa independência acabou acontecendo quase que por acaso, quando um príncipe playboy revolta-se com seu pai e declara: “Eu fico”. Sem planejamento ou propósito, o novo país se endivida com a Inglaterra. O próximo imperador assume criança e embora mais preparado para reinar, circula entre seu espírito inovador e uma corte acostumada a privilégios e conduz o país no rastro da revolução industrial, com quase um século de atraso. No final do século XIX, fomos uma das últimas nações do mundo a dar liberdade aos escravos, ou quase isso, pois lhes foi dada a liberdade formal, mas não os meios ou as condições de serem seres humanos realmente livres. O final do reinado ocorre com a deposição da família real e nossa 1ª república foi quase republicana, sendo na verdade uma sucessão de pequenos impérios, no prazo e na
estatura moral.
estatura moral.
Após uma sucessão de revoltas e revoluções, com a intenção de modernizar o país e traze-lo para o século XX, surge um líder pretensamente forte e esclarecido que acaba, como não poderia deixar de ser, transformando-se em um ditador sangrento e populista. Relutantemente Vargas foi à guerra contra a assassina máquina nazista, lutando pela liberdade e pela sobrevivência da sociedade ocidental. Nossos “praçinhas” lutaram brava e heroicamente contra Hitler, guiados por uma ditadura que não estava lá muito afim deste confronto. Terminada a guerra nos vemos em frente aquilo que a II Guerra representou: a luta pela liberdade e contra a tirania. Nos livramos do ditador, mas quase, pois os 15 anos de populismo e demagogia cobraram seu preço. Quase estabelecemos uma democracia e quando se faria o golpe final contra o ditador ele resolve se transformar em um fantasma que nos assombra até hoje. A frase de Vargas “saio da vida e entro para a história”, representa a vingança do suicida covarde contra a nação que não o queria mais.
Democracia novamente estabelecida iniciamos um período de crescimento econômico e como nação e durante quase 30 anos crescemos a taxas “chinesas”. Transferimos a capital para o meio do nada com um projeto urbanista e uma arquitetura denominada moderna, que priorizava a forma e não a função, uma cidade autoritária, limitada a seu tempo, que não previu seu desenvolvimento futuro.
Crescemos e entramos para a categoria “país em desenvolvimento”, ou seja, quase desenvolvido. Ampliamos o mercado, porém sem o devido entendimento do que seria um mercado livre. O capitalismo brasileiro solidificou-se como um clube mercantilista, onde poucas empresas abocanharam grandes mercados, com subsídios e proteção. A instabilidade politica do início dos anos 1960 levou-nos a uma ditadura controlada pelas Forças Armadas com todas as implicações decorrentes. Adotou-se uma politica econômica de substituições de importações no sentido de exercer uma pretensa soberania nacional. Enquanto o Chile adotava um modelo econômico liberal, em que pese a violência daquele regime, adotamos um modelo estatista e centralizado. Os militares que tomaram o poder para lutar contra o comunismo estabeleceram um modelo econômico comunista.
Esgotado o modelo econômico, a forma truculenta e equivocada de se construir um mercado “na marra” resulta em inflação corrosiva. O lento processo de volta a democracia não se concluí, uma vez que, às portas do Palácio do Planalto, o presidente eleito de forma indireta, Tancredo Neves, morre. José Sarney e o Nordeste suplantam o Sul na condução do país, tomando as mesmas decisões econômicas equivocadas e mergulhando o Brasil em uma espiral hiperinflacionária. O “caçador de marajás” Collor assume prometendo trazer o Brasil para o século XX e acaba por sofrer um inédito impeachment. Da quase modernidade voltamos ao cenário de crise econômica e política de sempre.
O improvável presidente Itamar Franco consegue finalmente criar e implantar um plano de reestruturação econômica eficaz. FHC assume e aplica, não por acreditar, mas por que estava obrigado a fazer caixa, um plano de privatizações, fazendo com que o estado brasileiro pudesse ficar mais leve, menos oneroso. Andando celeremente em direção à um mundo em que a liberdade apregoada e conduzida por Ronald Reagan, Margareth Tatcher e o papa João Paulo II tomava forma, FHC se reelege, mas tergiversa. As necessárias reformas política, previdenciária e fiscal são abandonadas e novamente quase conseguimos construir uma economia livre. As privatizações das empresas públicas e concessões foram boas, porém como não foram realizadas pela venda pulverizada de ações no mercado acabaram voltando de forma indireta às mãos do governo através dos fundos de pensão e investimentos do BNDES.
Em 2002, Lula e a esquerda vencem a eleição presidencial alcançando o poder e durante o período de 4 mandatos, ou quase isso, colocam em prática seu plano de poder procurando estabelecer uma versão “jabuticaba” de socialismo tupiniquim. Quase, e que bom que não, viramos uma Venezuela. Cansados do petismo arrogante, corrupto e incompetente, o Brasil da classe media, dos trabalhadores de verdade e pagadora da farra, cansou-se e chutou Dilma e seu grupo para o lixo da história. Bem, tem gente achando que foi golpe (golpí…sic!) e que a democracia está em risco, quando é bem pelo contrário. De comum entre os governos dos generais, Sarney, FHC, Lula e Dilma é a infinidade de obras inacabadas, sejam por licitações fraudulentas ou projetos ruins ou execuções medíocres. A operação Lava-jato inicia um novo momento na justiça brasileira condenando e prendendo empresários, políticos e o ex-presidente Lula.
O capitão Bolsonaro vence a eleição em um processo eleitoral rápido e midiático e assume refletindo a esperança e a alta expectativa de seus eleitores. Lastreado em um grupo de ministros e secretários de alto nível em alguns postos, Bolsonaro têm pela frente um árduo trabalho. A luta para não pararmos no meio do caminho persiste. Completam-se os primeiros meses do governo e lentamente as novas engrenagens começam a se mover.
Voltando à pergunta inicial, porque não concluímos todas as etapas dos processos de mudança ou das transformações? Será por nossa realidade de terceiro mundo, latino americana, ou nosso comportamento vitimista? Somos tão incapazes que não conseguimos ter uma visão clara e objetiva do futuro? Por que quase chegamos lá?
Acredito que um dos motivos é o medo de que, efetivamente, essas transformações sejam boas e melhorem a nossa vida. É o medo de que dê certo. O sucesso obrigará muitas pessoas a reverem seus posicionamentos e admitir erros não é uma prática comum aos brasileiros. A perda, em um primeiro momento, de alguns privilégios mundanos por grupos e corporações públicas, será recompensada com um universo muito mais positivo e inclusivo em um horizonte de 2 a 4 anos. A necessidade fundamental da reforma previdenciária no país afetará negativamente alguns milhares de brasileiros, beneficiários de direitos adquiridos – leia-se privilégios concedidos -, mas irá melhorar a vida de milhões, inclusive a destes que se consideram afetados. Todos viveremos em um país com uma economia mais saudável, com mais renda disponível, mais negócios e maior liberdade para empreender. Será benéfico para todos.
Todos mesmo.
O medo de ser eficiente e acertar e a aparente incapacidade de observar o mundo de forma sistêmica faz com que grande parte de nossa elite governante (ou reinante), atingisse um dos mais baixos níveis de solidariedade, onde o discurso é “nenhum direito a menos” ou “o que eu levo nisso?”. Direitos devem ser universais e simples, ou serão privilégios para poucos.
Estamos quase lá de novo, posicionados à frente de mais uma oportunidade histórica. Novamente nós brasileiros teremos a oportunidade de dar outro rumo à nação. Conseguiremos? Poderemos construir uma nova realidade.
Ou quase.
(Ricardo Sondermann é empresário e autor do livro Churchill e a ciência por trás dos discursos)
Opinião Livre
Municipários de Porto Alegre estão reunidos em frente à Prefeitura em protesto ao projeto de lei aprovado pela Câmara de Vereadores e que altera o Estatuto da categoria. Entenda: http://bit.ly/2HIoAUf
A Dilma cancelou em 2012 e o Bolsonaro agora determina que o governo militar de 64 tenha ‘comemorações devidas’. Se não fosse os militares já seriamos uma Cuba a muito tempo. Aqui os militares estão do lado certo. https://twitter.com/luciano_hang/status/1110745607772299264
Nenhum comentário:
Postar um comentário