Mao Tsé-tung, o grande teórico do marxismo-leninismo

Resultado de imagem para mao tsé-tung


Por entre as cortinas de neve, que cai às rajadas na Praça Vermelha de Moscou, um grande cerimonial cerca os restos mortais de Stalin, que foi embalsamado e vai ser sepultado no mausoléu em que repousa o corpo ressequido de Lênin. No meio das personalidades que seguem  urna, fustigadas pelo vento glacial, a silhueta cinzenta de Chu En-lai, com seu cabelo negro cortado rente, destaca-se na primeira fila, à frente de todos os outros dirigentes comunistas, à frente do próprio Molotov.
     Enquanto esteve vivo, o ditador, a China, considerada país atrasado, ocupava o terceiro lugar, depois da Polônia e Tchecoslováquia.
     Hoje, seu representante tem procedência sobre todos. E não se trata sequer do próprio Mao Tsé-tung, mas de seu representante. Porque Mao, depois de ter hesitado, desistiu de vir pessoalmente a Moscou. Não era a ele que cabia incomodar-se – mesmo para prestar homenagem a seu amo (que não tivera tempo de se transformar em rival) – mas Malenkov é que iria a Pequim. Chu En-lai chegava bem. Por seu lado, Mao contenta-se em publicar um artigo necrológico, no qual, em termos cuidadosos, exalta as qualidades do falecido membro do Partido, “que foi, que é, que ficará sendo nosso modelo”.
     A agência “Nova China” deu a conhecer ao mundo inteiro que, sabendo da morte de Stalin, Mao Tsé-tung manifestou viva emoção, que foram vistas lágrimas assomar-lhe aos olhos. A verdade é que era hábil e de bom verter uma lágrima pelo homem que excluíra Mao do Partido Comunista, que apoiara seu adversário Chang Kai-chek, que medira mesquinhamente seu auxílio à jovem China Popular, que tentara “satelizar” o país de Mao e arrastá-lo a uma operação perigosa na Coreia. Mao Tsé-tung sabia perfeitamente que, à medida que seu poder aumentasse, haveria choques com Stalin. Era tão patriota e racionalista como ele; tão ambicioso e tão inteligente, se não mais.
     Esta morte evitava o choque entre os dois homens. Permitia plasmar para sempre, na galeria de imagens da China de Mao, um Stalin com expressão de mestre respeitado, admirado, seguido. Evitava a questão de saber quem era o herdeiro espiritual de Lênin – pelo menos só a Mao deixava a missão de responder. – Autorizava o chefe da China Vermelha a reivindicar a herança. E libertava-o do dever da deferência: de futuro poderia dirigir-se aos “irmãos” soviéticos num plano de total igualdade, se não até de uma certa superioridade.
     Mais uma vez, Mao enxerga longe. Apenas vinte e um dias passados sobre a morte de Stalin, Chu En-lai assina em Moscou um novo acordo, nos termos do qual a Rússia vai fornecer, no curso de seis anos seguintes, os meios para a China realizar 141 projetos industriais de grande envergadura: barragens, complexos metalúrgicos, fábricas de tratores, refinarias de petróleo, centrais elétricas, fábricas de produtos químicos. A modificação da atitude de Moscou não se manifesta apenas no setor de auxílio econômico. Traduz-se também – o que é ainda mais importante  para Mao – no plano ideológico. Quando o senhor da China Nova faz sessenta anos, o Comitê Central do Partido Comunista Soviético envia-lhe uma mensagem, em dezembro de 1953, em que figura textualmente esta frase: “grande teórico do marxismo e do leninismo”. É um fato sem precedentes. Situa de golpe o destinatário acima dos signatários da mensagem.
     A lua de mel com os sucessores de Stalin vai continuar. A 1º de outubro de 1954, Kruschev, Bulganine e Mikoyan vêm a Pequim assistir às comemorações do primeiro aniversário da Rpública Popular. Malenkov, que continua presidente ttular do Conselho, já não passa de um títere. A nova equipe prodigaliza a Mao Tsé-tung as mais evidentes manifestações de deferência. Meio milhão de chineses, aglomerados na praça de Tien An Men, verificam maravilhados o respeito que seu presidente merece dos chefes da “nação guia” do bloco comunista.
     Um novo acordo, assinado durante essa visita, transforma em verdadeira aliança o tratado de 1950 e sublinha que “as relações amigáveis entre a URSS e a China constituem a base de uma estrita colaboração entre os dois Estados, de acordo com os princípios de igualdade de direitos, de vantagens recíprocas, de respeito mútuo, de soberania nacional e de integridade territorial”. A assistência soviética à China é ainda aumentada: mas “tendo em conta o reforço militar da China”, os russos evacuam definitivamente de Porto Artur e transferem para os chineses as parcelas de que são detentores nas sociedades mistas criadas em 1950. O domínio soviético sobre o Sikiang e sobre a Manchúria atenua-se.
     Mao Tsé-tung aproveita a oportunidade para se desembaraçar de seu opositor, de seu concorrente mais perigoso, Kao-Kang, o “Stalin Manchu”, até então almoxarife da penetração na Manchúria. A 31 de março de 1955, o Comitê Central do Partido Comunista Chinês anuncia que foi excluído do partido o “ditador do nordeste”, acusado de “múltiplos desvios e crimes”, denunciado como “traidor, conspirador, individualista ambicioso, agente do imperialismo, incorrigível renegado”, que “não só nunca reconheceu suas faltas, como até se suicidou, para exprimir sua última traição ao partido!”...
     Cinco anos mais tarde, em Bucareste, Kruschev dirá que o único crime de Kao-Kang foi opor-se à política errônea de seu Partido em relação à União Soviética. Mas por enquanto, a imprensa moscovita, dominada pelo mesmo Kruschev, felicita Mao por sua firmeza na repressão dos “oportunistas renegados e agentes do imperialismo internacional”. É o que se chama de aguentar de cara alegre...



     Com o desaparecimento de Kao-Kang, com a adesão incondicional dos outros dirigentes chineses filo-soviéticos, como Li Li-san, e Lin-Piao (este ainda vai suir muito...), Mao Tsé-tung conquistou, se não o primeiro lugar no movimento comunista internacional, pelo menos uma espécie de condomínio do “campo socialista”, lado a lado com os dirigentes moscovitas. Que grande caminho percorrido desde as laboriosas negociações de Moscou em 1950..
     Só falta agora conquistar a chefia do que se começa então a chamar “Terceiro Mundo” – essa massa de povos ex-coloniais que procuram seu lugar no tabuleiro de xadrez da política mundial.
     A conferência de Bandung vai dar-lhe o necessário trampolim.



     A 18 de abril de 1955, na cidade indonésia de Bandung, que tem um milhão de habitantes e está na ilha de Java, algumas centenas de delegados, que representam a maior parte dos países africanos e asiáticos, reúnem-se para a primeira conferência do “terceiro Mundo”.
Qual é o fato mais importante desta conferência?
Pergunta a Nehru um jornalista norte-americano.
O simples fato de se realizar – declara o primeiro-ministro indiano, que tem a esperança de se impor como líder deste “terceiro mundo”.
     Nehru não será, porém, a única vedete de Bandung. Mal começa a conferência, num palácio construído pelo holandeses e encastoado em exuberante vegetação tropical, todos os observadores, dimplomatas e jornalistas olham com atenção outros dois homens-chaves: o egípcio Nasser e o chinês Chu En-lai.
     Nasser causa boa impressão. Toma a chefia do grupo árabe e cosegue encaminhar sua tese sobre o caso da Palestina. Mas é Chu En-lai, na noite de 24 de abril , quando as agências noticiosas espalham pelo mundo “a declaração de Bandug” e os “dez princípios” aprovados, que é considerado o grande vencedor.
     E, por intermédio dele, a silhueta de Mao Tsé-tung domina o conjunto do “Terceiro Mundo”, que tomou consciência de sua força.
     Já nove meses antes, na conferência de Genebra sobre a Indochina – a primeira grande conferência internacional em que a China Popular esteve representada – Chu En-lai se impusera, sobrepondo-se a Molotov, que se mostrava inquieto, sem instruções precisas, prestes a ser desautorizado no caldeirão efervescente de intrigas do Kremlin. Já então, em Genebra, Chu En-lai se beneficiara do restígio deixado pela vitória dos “voluntários” chineses na Coreia do Norte e pela batalha de Dien-Bien-Phu, na qual, por trás das divisões de Giap, se sentira a batuta do chefe da orquestra de Pequim.
     Em Bandung, atinge-se o segundo objetivo importante de Mao Tsé-tung. Seu representante, numa semana de discursos, de declarações, de recepções dá à China a chefia do magma afro-asiático, o que deixa os ocidentais espantados e demonstra a Kruschev que Mao Tsé-tung não é apenas co-diretor do campo comunista mas também o potencial chefe da fila de quantos contestam a supremacia do branco.
     Para começar, a Rússia não foi convidada para Bandung, e a China – que não se poderia deixar de convidar, muito embora a maioria dos participantes fosse anticomunista – não se empenhou para que se reconhecesse na Rússia sua qualidade de nação asiática. E não se deixaria assim pairar desde logo a dúvida sobre a legitimidade da presença na Sibéria e na Ásia Central?
     Depois, Chu En-lai ouviu sem um protesto os discursos mais anticomunistas, as acusações mais graves contra o “colonialismo soviético”, com Nehru espumando de indignação e invectivas. Mostrou-se campeão da coexistência pacífica, mestre da conciliação, a própria encarnação da afabilidade. Não disse uma palavra em defesa da União Soviética, sentada no banco da infâmia por muitos delegados. Melhor ainda, convidou – com grande furor de Nehru – os oradores de mais exaltado anticomunismo a visitarem Pequim.
     “É preciso que se avistem com o Presidente Mao” – dizia-lhes, enquanto na tribuna declarava:
     “A delegação chinesa veio a esta conferência em busca de unidade e não de discussões. Nós, comunistas, não escondemos nossa fé no comunismo e a convicção de que o sistema socialista é um bom sistema. Mas não é do interesse desta conferência proclamar cada um sua ideologia. A delegação chinesa veio em busca de bases comuns, não para criar divergências...” Resultado: na altura em que se abriu em Bandung a conferência, dos vinte oito países ali representados só sete tinham reconhecido o regime de Mao. E a 24 de abril de 1955, uma semana depois, na recepção de encerramento, o Presidente da Indonésia, Sucarno, fez sentar à sua direita, não o neutralista Nehru, mas o comunista Chu En-lai
     E a maioria dos vinte e oito países anunciou a intenção de reconhecer o governo de Pequim. O grupo árabe, com o Egito à frente, fê-lo imediatamente. Muitas outras delegações estabeleceram acordos comerciais com a China. E a própria Índia considerou de boa política a presença da China no Tibete.
     Assim, depois de ter assumido a direção do bloco comunista, Mao Tsé-tung torna-se o inspirador dos países que se afirmam “não comprometidos”.



     Em sua vivenda, a um quarteirão da “Cidade Proibida” de Pequim, nessa primavera de 1955, Mao Tsé-tung, rodeado pelos elementos da comissão política, ouve com satisfação o relatório de Chu En-lai, de regresso de Bandung. Sua autoridade e seu prestígio nunca foram tão grandes.
     Quando todo mundo se retira, depois de trocar impressões com Liu Chao-chi (que então ainda é “seu fiel” Liu Chao-chi) cada vez mais magro e mais curvado, Mao vai ao encontro da terceira mulher e da filha. E num grande divã da sala de estar, mobiliada à chinesa, sente que certa fadiga o abate. Os efeitos da idade começam a fazer-se sentir. Cada vez é menos o tempo – e o desejo – de nadar no lago do Palácio de Verão, ou no Yang-Tsé, embora estas atividades esportivas sejam muito úteis para manter a lenda de que o cercou. E cada vez é menor o prazer que lhe dá a composição de versos. Sente nos ombros o peso das responsabilidades que se tornam esmagadoras.
     Mao olha para um espelho e tem dificuldade em reconhecer o revolucionário pálido da “Grande Marcha”, o chefe magro que fazia lembrar aos jornalistas  norte-americanos a figura de Lincoln. O rosto arredou-se e a bochechas gordas começam a cair. A célebre verruga do queixo aumentou de volume. A calvície vai subindo, fazendo alastrar a testa, cujo cimo se alonga e afasta para os lados a cabeleira que perdeu a cor negra da “asa de corvo” e vai ficando grisalha. As mãos que outrora eram finas e fortes, tornaram-se nodosas. O reumatismo deforma as articulações dos dedos e já não lhe é fácil segurar o pincel para escrever ou para pintar, porque continua gostando da pintura, especialmente de paisagem em que corre um riacho tranquilo.
     Só o vestuário em nada mudou. Continua sendo o mesmo terno cinzento-escuro, de lã, abotoado até ao pescoço, as mesmas calças demasiadamente largas, as mesmas meias caindo sobre os sapatos pretos sempre ml engraxados.
     A mulher traz-lhe “mao-t'ai”, um licor de sua terra do Hu-Nan. Com a idade, Mao faz-se mais guloso. Continua comendo muito, mas quer a comida cada vez mais condimentada, bem regada de vinho tinto chinês. Está fumando mais: quase cem cigarros por dia, fumo de rolo, que gosta de enrolar o cigarrinho fino.
     Também gosta de mascar sementes de girassol e não se envergonha de as cuspir depois, mesmo em público.
     Na verdade, à medida que envelhece vai ligando menos à boa educação. Já tem chegado, quando o calor aperta, a tirar as calças para presidir de ceroulas às reuniões da Comissão Política. Não tenta sequer uma atitude cortês. Pelo contrário, com o correr dos anos vão-se acentuando a rusticidade do camponês e a liberdade de linguagem do soldado que foi. Chama as coisas pelos seus nomes, funga, arrota, não procura esconder ruídos de seu corpo gorducho. Sabe muito bem que ninguém ousaria mostrar-se incomodado. A esposa é lhe dedicada, admira-o como a um deus.
     É a terceira mulher. Desposou-a durante o período de Yenan, em 1939. Antes de se apaixonar por aquele chefe quase sem tropas, por aquele presunçoso que desafiava até mesmo Chang Kai-chek, o Ocidente europeu, a América, o Japão, Stalin e a própria China imensa, foi atriz e participou de filmes sob o nome de Lan Ping. Virá a ser, anos mais tarde, uma impulsionadora da “Revolução Cultural”.
     O casal tem uma filha, que é estudante e parece não se interessar pela política mais do que se sente obrigada como cidadã da China Vermelha e de filha do Presidente Mao. Quanto ao filho de um anterior casamento de Mao, é engenheiro na província e também não é figura pública.



     Mao tem sessenta e dois anos... É jovem, apesar de tudo, para chefe de Estado. Mas numa altura em que seu Império consegue uma posição especial no mundo, que a China sai do isolamento e começa a desempenhar o papel que lhe proporcionam seus seiscentos milhões de habitantes, não terá chegado a altura de se fazer substituir?
     Mao Tsé-tung pensa nisso por vezes, mas depressa afasta esses pensamentos. Não, ainda não chegou o momento do repouso. Há muito que fazer: conseguir que sua China entre pela porta grande dessa ONU que pretende excluí-la. É preciso – e esse é o único meio de ser admitido no clube dos supergrandes deste mundo – dispor de armas atômicas. E para isso não pode contar com a Rússia, só pode contar consigo mesma.
     Precisa que a economia se organize, que a indústria chinesa se torne comparável pelo menos à da Inglaterra, que, por seu turno, já interrompeu o diálogo nuclear russo-americano.
     Mao não pode por isso ceder à tentação de abandonar o poder, de se consagrar a literatura, à pintura, à redação da obra que tem no espírito e que será uma nova doutrina comunista, doutrina que terá a raiz, mas apenas a raiz, no marxismo-leninismo e que dará soluções modernas a essa metade da humanidade cimentada pela miséria comum e pelo mesmo desejo ardente de se livrar dela. Deve esperar ainda algum tempo pela hora de legar à posteridade a carta de um novo comunismo, nacional, revolucionários em escala de povos, e não de classes sociais. No momento, precisa continuar a reforma da China, porque a revolução está se se enquistando.
     E, antes de decidir o novo rumo em que vai lançar sua República Popular, agora triunfante no exterior mas ainda vegetando no interior, Mao Tsé-tung fez o balanço do que se passou nos últimos anos.



     As primeiras medidas que Mao decidiu a tomar em 1950 eram transitórias orque, sob pena de paralisia geral do país, era preciso poupar os tíbios, os opositores moderados, mesmo os adversários quando podiam contribuir para o estabelecimento futuro de uma gigantesca nação coletivizada.
     A luta na Coreia, com a extraordinária psicose da “guerra santa contra o imperialismo e o colonialismo”, que suscitou, permitiu substituir a tolerância pelo terror. Friamente, Mao Tsé-tung redigiu a famosa lei de 21 de fevereiro de 1951, sobre a “supressão das atividades contra-revolucionárias”. É uma lei única, em seu gênero.
     Considera “a priori” suspeitas as seguintes categorias da população chinesa:
Os guerrilheiros nacionalistas, os espiões, os elementos da sociedades secretas, os bandidos, os “não sociais”.
Os elementos das profissões burguesas ou liberais, os comerciantes que tenham trabalhado com o estrangeiro, os intelectuais da oposição.
     Nenhuma garantia legal é assegurada aos suspeitos. Não é necessária a menor prova para o julgamento sumário por um “tribunal popular” improvisado. Basta uma simples denúncia.
     E logo em todo o país, a começar pela capital, se organizam monstruosos processos públicos nos estádios, nas praças das cidades e das aldeias. Por toda a China reina uma atmosfera exaltada, feita de entusiasmo, de denúncia e de terror. Numa só noite, são detidas em Xangai vinte mil pessoas e logo julgadas. As execuções em massa, nas quais dezenas ou centenas de condenados são fuzilados na presença de toda a população reunida, encerram os processos em que a multidão ululante que “julga” os grupos de “suspeitos” reúne por vezes muitas centenas de pessoas. Chu En-lai anuncia que 16 por cento dos “suspeitos” julgados são executados. Nas estimativas mais prudentes fala-se de um a três milhões de vítimas desta campanha de terror, percentagem que, mesmo em relação ao número de habitantes (entre 500 e 600 milhões), é enorme.
     Quando acabam os fuzilamentos, em outubro, chega a vez de irem para o banco dos réus intelectuais que haviam escapado ao terror. O escritor Kuo Mo-jo é encarregado por Mao Tsé-tung de obrigar os intelectuais que se afastaram da “linha” do partido a procederem à autocrítica. Kuo Mo-jo é um trânsfuga do antigo regime e na tarefa que lhe é confiada demonstra todo zelo habitual dos neófitos.
     Ao mesmo tempo, Mao reforma o ensino e obriga os mestres a abandonarem a tendência tradicional para as artes e filosofia e a dedicarem-se às ciências extas, à técnica, à especialização acelerada dos alunos de todos os graus.
     Depois de arrasar assim seus compromissos iniciais, Mao trata das próprias engrenagens do sistema, dos hábitos de trabalho, dos costumes públicos e privados do funcionalismo, cujo número cresce demasiadamente. É a campanha dos “três anti”:
anticorrupção,
antiesbanjamento,
antiburocracia.
     Aos “três anti” vêm suceder, em breve os “cinco anti”, desta vez para o combate ao que resta dos “capitalistas nacionais”, dos “burgueses”, dos comerciantes:
anticorrupção de funcionários,
antifraude fiscal,
antidesvio dos bens públicos,
antifraude comercial,
antiextorsão de informações em prejuízo do Estado.
     Esta segunda campanha serve especialmente para se liquidar a menor influência das classes sociais burguesas que sobreviveram à revolução e ao terror, e para transferir para o Estado suas empresas. Já então se encontram nacionalizadas toda indústria pesada e a maioria da indústria dos bens de consumo. As campanhas dos três e dos cinco “anti” mergulham de novo a China numa atmosfera de loucura coletiva: as denúncias, as reuniões públicas, a desorganização da administração e dos circuitos de produção e de distribuição parecem preceder a anarquia. Mas o punho de ferro de Mao Tsé-tung restabelece a ordem. No plano rural, o presidente estimula a constituição de “equipes de auxílio mútuo” em toda a aldeia. Começa a coletivização geral. E os resultados desta braçada de madeira verde, lançada na fogueira da grande confraternização da vitória, vai dar seus primeiros frutos: a produção agrícola e industrial iguala, em fins de 1952, o melhor nível que se registrara antes da guerra com o Japão; controme-se novas vias férreas e novas barragens.
     Sobre este ponto de partida estabelece-se o primeiro plano quinquenal de recuperação econômica dirigido por Mao Tsé-tung. Como fato sem precedentes, a indústria está superando a agricultura, e as empresas, em sua totalidade, passam para o Estado. Até os artesãos se reúnem em cooperativas. Entre os camponeses começa implacavelmente a coletivização das terras, dal alfaias agrícolas e dos animais de trabalho, embora cada um possa conservar uma jeira de terra, uma vaca ou um porco.
     Pouco a pouco, a China adapta-se ao molde preparado por Mao Tsé-tung. Mas o movimento é lento e o aumento econômico, que é incontestável, deve-se em grande parte ao auxílio soviético, aos técnicos que o Kremlin cede à China, à maquinaria que lhe envia. Ora esta ajuda incomoda Mao, devido à quebra de seu prestígio pessoal e pela importância que tomam aos olhos da nova geração chinesa tantos “conselheiros” soviéticos, tantos técnicos vindos da Rússia, toda a ajuda evidente que, a longo prazo, poderá restabelecer os laços de dependência que a morte de Stalin parecia ter desfeito. Por outro lado, é preciso reconhecer que os militares de russos vieram para a China em missão de assistência começam a se comportar exatamente como seus predecessores americanos, ingleses, franceses ou alemães... E para isso contribuem o antigo racismo latente nos russos em relação aos amarelos, o complexo de superioridade dos que se encontram num só país muito menos desenvolvido que o seu.
     Em resumo, depois de ter dissecado as repercussões dos acontecimentos que marcaram o desenvolvimento interno de seu país nos últimos seis anos, Mao Tsé-tung chega à conclusão de que é necessário atuar em dois pontos preciosos: alimentar novamente o ardor dos chineses pelo trabalho, sobretudo nos quadros intelectuais e técnicos, esmagados pelos anos de terror e pelo renascimento da burocracia; voltar ao bom caminho nas relações com a União Soviética, cuja política internacional, em sua opinião demasiadamente conciliadora, o está inquietando, e cujo chefe, Nikita Kruschev, lhe parece ter pouca envergadura. Ora, para Mao Tsé-tung o bom rumo nas relações sino-soviéticas é o da igualdade absoluta. Os acontecimentos vão-lhe dar oportunidade para intervir.


Fonte: Mao Tsé-tung, o imperador vermelho de Pequim, E. Krieg. Páginas 204 a 216.

STJ nega habeas corpus e Lula poderá ser preso após recurso julgado na segunda instância

Cinco ministros rejeitaram pedido para evitar prisão do petista, condenado a 12 anos e 1 mês de prisão

Barroso questiona acesso da defesa de Temer a dado sigiloso de investigação

Em despacho, ministro do STF quer inclusão de investigação sobre vazamento de informações




COLUNA DO ESTADÃO

Investigação faz Temer rever reforma ministerial


ELIANE CANTANHÊDE

O Alckmin do PT


JOÃO DOMINGOS

Muito a mostrar



FAUSTO MACEDO

Reboot investiga compra de 450 tablets pela Saúde de Marília


COLUNA DO ESTADÃO

Investigação faz Temer rever reforma ministerial


LEGIS-ATIVO

Por que "fazem o que fazem" os deputados estaduais?

Defesa pede que STF analise habeas corpus de Lula

Nenhum comentário:

Postar um comentário