O
dia 14 de novembro de 2004 assinala os 160 anos da Traição de
Porongos, quando, às vésperas da assinatura da paz, os intrépidos
Lanceiros Negros farroupilhas, previamente desarmados por David
Canabarro, foram atacados de surpresa e dizimados pelas tropas
imperiais. Desde então, uma cortina de silêncio foi baixada sobre
esse triste episódio da Guerra dos Farrapos. Aliás, uma das
questões menos estudadas e conhecidas da Revolução Farroupilha é
a enorme contribuição dos negros nessa luta e o destacado papel que
nela tiveram os céleres Lanceiros Negros. Tudo de acordo com a
conhecida “invisibilidade” a que costumam ser relegados os negros
na história oficial do país e do Estado.
É preciso dizer que desde o seu
início a luta dos farroupilhas contou com a importante participação
de negros e mulatos. Em abril de 1836, logo após a captura de
Pelotas, o chefe farroupilha João Manuel de Lima e Silva libertou e
armou centenas de escravos. Em setembro de 1836, foi constituído o
1º Corpo de Cavalaria de Lanceiros Negros, decisivo na batalha de
Seival e na expedição a Laguna, verdadeira “tropa de choque” do
exército farroupilha. Foi tão importante o seu papel que em agosto
de 1838 foi formado o 2º Corpo de Lanceiros Negros.
Ao aproximar-se o final da guerra, as
negociações de paz emperraram por conta da exigência da maioria
dos chefes farrapos de que os negros que lutavam no exército da
República conservassem sua liberdade.
É nesse contexto que ocorre, na
madrugada do dia 14 de novembro de 1844, a Traição de Porongos, na
qual os Lanceiros Negros – previamente desarmado por Canabarro e
separados do resto das tropas – foram atacados de surpresa e
dizimados pelas tropas imperiais através de um conluio entre David
Canabarro e Duque de Caxias para livrarem-se dos negros em armas e
forçar a assinatura da Paz de Ponche Verde. O fato ocorreu nas
imediações do cerco dos Porongos, atual município de Pinheiro
Machado.
Poucos dias depois, os remanescentes
Lanceiros Negros e o seu chefe, Teixeira Nunes, foram liquidados em
um novo confronto, depois de uma ação temerária ordenada por David
Canabarro. Firmada a paz, Canabarro consumou a traição entregando a
Caxias os ex-escravos que ainda permaneciam em armas.
Ao registrarmos a passagem dos 160
anos do Massacre de Porongos procuramos não só resgatar a decisiva
participação dos negros na luta farroupilha como, ainda, denunciar
a ignominiosa traição que esses valentes sofreram ao final da luta.
*Historiador e vereador de Porto
Alegre (PCdoB)
Fonte: Zero Hora, edição de 13 de
novembro de 2004, página 13.
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