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domingo, 24 de julho de 2022

Sobre sereias e tucanos

 MDB corre o risco de ser um coadjuvante no RS

Guilherme Baumhardt

O alerta foi feito por Cezar Schirmer, meses atrás: o MDB corria sérios riscos de virar coadjuvante nas eleições de 2022, no Rio Grande do Sul. Alguns não levaram o aviso a sério. Eis que o tempo e algumas traições acabaram dando razão a Schirmer. E o MDB, que nos últimos 35 anos governou o Estado em 16 deles – com Pedro Simon, Antônio Britto, Germano Rigotto e José Ivo Sartori –, corre agora sérios riscos de não ter o protagonismo que a história justificaria.

A mitologia grega apresentou ao mundo a figura das sereias – mulheres cujo corpo é metade humano e metade peixe. No popular, usamos “o canto da sereia” para situações nas quais alguém é ludibriado e arrastado para uma armadilha. No Rio Grande do Sul, temos um tucano chamado Eduardo Leite.

Leite prometeu não concorrer a um novo mandato (há toneladas de vídeos e áudios em que ele diz ser contra a reeleição). Hoje, ele adota o discurso de que não quer ver o Rio Grande do Sul recuar nos avanços da gestão tucana (e eles existem, sempre frisei). Mas para isso era preciso mesmo jogar a coerência na lata do lixo? Não, não precisava. Bastava apoiar quem ele sempre apoiou: Gabriel Souza, deputado estadual do MDB, ex-presidente da Assembleia Legislativa.

Durante os últimos anos, quando acalentava o sonho de disputar o Palácio do Planalto, o então governador Leite sinalizou ao MDB que apoiaria o candidato do partido nas eleições de 2022. A interferência tucana no ninho emedebista gerou revolta e dissabores entre os caciques do partido, que não gostaram de ver alguém alheio à sigla definindo seus rumos.

Como levou um tombo após não ser escolhido candidato do PSDB à Presidência da República (aliás, dos três nomes, nenhum vai concorrer, mais uma prova do encolhimento dos emplumados), Leite decidiu retornar às origens. E puxou o tapete de Souza. Caprichando na retórica e no malabarismo verbal, disse que na verdade não mudou de ideia sobre reeleição, afirmando que não será um “governador candidato”, mas sim um “candidato a governador” – ou qualquer outra groselha do gênero, que pretende muito, não diz nada, exceto encarar todos nós palhaços ou incapazes.

E o MDB? Para quem tem a segunda maior bancada da Assembleia Legislativa, quatro deputados federais eleitos e figuras como José Ivo Sartori, Pedro Simon e Sebastião Melo (atual prefeito de Porto Alegre) nos seus quadros, não ter candidatura própria significa reduzir sua importância e tamanho. Mas se a candidatura própria não vingar? Há dois caminhos. Ou embarcar na candidatura de Onyx Lorenzoni, como vice, e trabalhar para recuperar o terreno perdido. Ou, quem sabe, disputar como vice de Eduardo Leite, correndo sérios riscos de cair novamente no canto da sereia.

Uma pergunta final: no segundo turno presidencial, o MDB do Rio Grande do Sul apoiaria quem? Jair Bolsonaro, que é unha e carne com Onyx? Ou esperariam o posicionamento de Leite? Imagino que Eduardo Leite não abrirá voto para Bolsonaro, especialmente após os últimos três anos e meio de críticas direcionadas ao governo federal. Leite vai, então, apoiar Lula?

Uma novela...

Ontem, na BR-290, na altura de Eldorado do Sul, o motorista de um caminhão morreu, após um acidente envolvendo outros três veículos. Toda vez que ocorre algo assim, especialmente neste trecho da rodovia (não estou me referindo à freeway), lembro que a estrada já poderia estar duplicada. Há anos. Em 2008, Yeda Crusius, então governadora, propôs a prorrogação dos contratos de pedágio da época por mais 15 anos.

...que se arrasta...

Como contrapartida, as empresas fariam a duplicação do trecho entre Eldorado do Sul e Pantano Grande (a ideia inicial era levar a ampliação até o acesso a Cachoeira do Sul, na BR-153). Os contratos encerraram em 2013. Hoje teríamos mais 5 ou 6 anos de concessão pela frente. E uma rodovia certamente melhor do que a existente hoje. Mas...

... por tempo...

Na época, algumas cabeças iluminadas do PT fincaram pé e disseram que a obra seria feita pela União. E eu fico tão feliz (contém ironia). Toda vez que passo pela BR-290 vejo uma linda obra (mais ironia) liderada pelas gestões petistas (mais uma tonelada e meia de ironia). Uma rodovia segura, bonita e, claro, duplicada (ironia sem fim).

...demais

Para toda colisão frontal (as mais letais), há responsabilidades. Em rodovias não duplicadas, elas são infinitamente mais comuns. Geralmente, a culpa recai sobre o motorista que conduziu a uma manobra infeliz. Mas, opinião minha, uma ponta desse ônus deveria parar sobre o colo de todos aqueles que se opuseram à ideia de uma duplicação feita pelo setor privado, em nome de uma fantasia estatal. A depender do resultado da eleição deste ano, a duplicação tão aguardada deverá sair do papel a partir da concessão que está sendo desenhada no governo federal. A empresa vencedora vai administrar a BR-116 (em fase final de duplicação) e tocar as obras da BR-290.

Correio do Povo

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