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quarta-feira, 20 de julho de 2022

Lojistas do Esqueletão saem em busca de novos pontos de comércio em Porto Alegre

 Laudo prévio da Ufrgs indicou que estrutura corre risco de desabamento



Há quase dez meses ocorria a desocupação da Galeria XV de Novembro, o famoso Esqueletão, localizado no Centro Histórico de Porto Alegre. Era mais de 23h quando a ex-lojista Maria de Lourdes Santos saiu do prédio. “Fui a última a sair, coloquei parte da minha mercadoria no meio-fio da calçada, pois tínhamos que desocupar. Quando consegui tirar todas as coisas passava de 5h da manhã”, conta ela. Lourdes foi uma dos 13 comerciantes que ainda estavam em atividade até evacuação total do prédio, no domingo do dia 26 de setembro de 2021. Quase um ano depois da saída, o Correio do Povo conta a história dela e de mais dois ex- lojistas que durante um tempo ganharam o seu sustento no velho edifício.

“Estou tentando refazer a minha vida”, diz a confiante vendedora de produtos esotéricos. Há 25 anos no ramo, quatro no Esqueletão, ela nunca viveu altos e baixos nesse período. Em 10 meses, ela já trocou duas vezes de local. No primeiro negócio, sofreu um golpe: alugou uma loja na avenida Salgado Filho que não pertencia à quem disse ser o dono. “O espaço pertencia ao Estado, fui enganada, dei R$ 10 mil reais de caução”. Ali na Salgado Filho, ela ficou por 6 meses até que teve que devolver a peça. “Estava bom, mas tive que sair”, lamenta Maria. Se mudou para a Cidade Baixa. “Gastei mais uma grana novamente. Ao todo foram mais de R$ 40 mil”, observa.

Da Prefeitura de Porto Alegre a comerciante afirma não ter recebido nenhuma ajuda. “Eles disseram que íamos ter acesso ao microcrédito, mas eu não consegui, já estava no vermelho”. Sem empréstimos pediu dinheiro a amigos. Mas foram mais obstáculos, a comerciante diz que a gestão municipal não ofereceu nenhum espaço. “No camelódromo (Centro Popular de Compras) eu não queria, mas eles não deram nem opções. Por que não foi oferecido um espaço no Mercado Público, por exemplo?”, questiona.

Esperança 

Na Venâncio Aires ela tenta retomar o lucro, apesar do aluguel mais caro e do pouco movimento. “Aqui não tenho o mesmo volume, tu vais ver quantas pessoas vão entrar na loja”. Durante uma hora, tempo que a reportagem ficou no estabelecimento, nenhum cliente entrou. Mesmo com as dificuldades, ela não perde a esperanças. “Na verdade quero voltar para o Centro, é onde estão os meus clientes. Eles vêm da Grande Porto Alegre.”

Nem todos tiveram tantos revezes como Maria de Lourdes. Sérgio Oliveira ficou 15 anos no Esqueletão, onde tinha uma loja de conserto de óculos. Quando saiu do velho prédio já tinha pra onde ir. “Um pouco antes de sairmos, meu filho descobriu esse espaço aqui na galeria. Dei a maior sorte do mundo”. Hoje, ele diz estar bem estabelecido, “até melhor que lá” em um Centro Comercial na rua Vigário José Inácio. “Os clientes vieram junto”, explica. Sobre as conversas com a Prefeitura, ele diz não ter recebido ajuda. “Quando soubemos que tínhamos que sair, eles fizeram uma apresentação na reunião, mostraram que queriam Porto Alegre mais bonita”, conta ele. 

Oliveira ressalta que considera importante a preocupação com a segurança das pessoas em relação ao prédio, mas acha que não foi dada a devida atenção para quem trabalhava ali. “Cada um teve que procurar o seu caminho, não houve realmente ajuda nenhuma”, reclama. 

O outro lado 

Em nota, a prefeitura disse que não agiu diretamente na realocação dos lojistas, mas que ofereceu vaga no Center Pop (Camelódromo) e microcrédito: “Nenhum dos lojistas teve interesse na locação de lojas do POP Center. A SMDET acompanhou a mudança deles para novos locais como, por exemplo, Bolsas Leal para a Otávio Rocha, a Loja de Lingeries para Marechal Deodoro, a loja Caça e Pesca e o Bazar Capital para a Galeria do Rosário.”

Histórico 

O edifício, inicialmente conhecido como Galeria XV de Novembro, localizado na rua Marechal Floriano Peixoto, tem uma área superior a 13 mil metros quadrados. Começou a ser construído na década de 1950 pela Sociedade Brasileira de Construção e nunca foi concluído. Foram construídos 19 andares, dos quais os três primeiros serviram de moradias por muito tempo. No térreo, havia um centro comercial, com lojas ocupadas por proprietários e inquilinos. O valor do imóvel foi avaliado por cerca R$ 3,4 milhões pela Secretaria Municipal da Fazenda (SMF).

Durante sete décadas várias ações e imbróglios fizeram parte da história do hoje abandonado prédio. A primeira delas foi em 1988 quando houve interdição judicial parcial. Em 2003, o município ingressou com ação civil pública pedindo a interdição e a desocupação da Galeria XV de Novembro. Desde o governo de Nelson Marchezan Júnior, a prefeitura tenta desocupar o imóvel. Um laudo de nível 1 foi elaborado após uma vistoria realizada por técnicos da prefeitura em 2018. 

Constatou-se grau de risco crítico da edificação. No ano passado, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) foi contratada para elaborar um laudo de nível 3, necessário para determinar a condição estrutural do prédio. A Ufrgs tem até o dia 8 do mês de agosto para complementar informações necessárias ao projeto. O laudo prévio da universidade demonstrou que a estrutura corre risco de desabamento.

Correio do Povo

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