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quinta-feira, 9 de dezembro de 2021

Ex-prefeito de Santa Maria, Cezar Schirmer diz que sua gestão não teve responsabilidade sobre a tragédia na boate Kiss

 


Prefeito de Santa Maria na época do incêndio da boate Kiss, em janeiro de 2013, Cezar Schirmer foi ouvido no Fórum Central de Porto Alegre nesta quarta-feira (8), oitavo dia de julgamento dos réus pela tragédia. Ele criticou a investigação do caso pela Polícia Civil e disse que a sua gestão não teve responsabilidade pelo incidente que matou 242 pessoas.

“’Falta mais gente no julgamento’. Faz anos que ouço isso. É uma estratégia de defesa. Essa foi a narrativa montada desde o início”, prosseguiu o emedebista de 69 anos, atual titular da Secretaria de Planejamento e Assuntos Estratégicos da capital gaúcha. Em 27 de janeiro de 2013, Schirmer iniciava seu segundo mandato à frente da administração municipal.

“Recebi mais de 50 ofícios, 2 mil perguntas e respondemos adequadamente. A prefeitura de Santa Maria foi a mais investigada do planeta”, declarou. O expediente criminal contra Schirmer acabou arquivado pela 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça em 18 de julho de 2013, a pedido do Ministério Público (MP).

Legislação

Quando a boate Kiss foi inaugurada, eram outros sócios, e não os réus Elissandro Callegaro Spohr e Mauro Londero Hoffmann, que a administravam. Kiko passou a responder pela casa a partir de abril de 2010. De acordo com o ex-prefeito, no momento do incêndio, a Boate Kiss tinha licença para operar.

Sobre as condições legais para funcionamento do estabelecimento, Schirmer citou o Decreto Executivo nº 32/2006, vigente à época. Tal legislação estabelecia que, entre as exigências para emissão do alvará de localização (que permite o funcionamento das casas noturnas), é necessário apresentar os alvarás sanitário, de prevenção e proteção contra incêndio (APPCI), licença ambiental de operação, estudo de impacto de vizinhança, laudo técnico de isolamento acústico etc.

O primeiro documento expedido para a casa noturna foi o APPCI, em 22 de agosto de 2009, a pedido dos seus antigos sócios. Nesse período, houve uma série de problemas com a casa, que chegou a ser multada 7 vezes e a sofrer um embargo em 25 de novembro de 2009 por não ter toda a documentação exigida para se manter funcionando. Isso só ocorreu em 14 de abril de 2010, quando foi emitido o alvará de localização. A partir de então, “a Kiss estava regular e em cumprimento com a legislação”.

A licença ambiental de operação e o alvará sanitário são renovados anualmente (com vistoria in loco). O alvará sanitário estava vencido e em processo de renovação. “Santa Maria tem 16 mil estabelecimentos e 4 mil servidores. A renovação do alvará sanitário demorou, sim, mas ele não é essencial para uma boate”, afirmou o ex-prefeito.

O Ministério Público mostrou um documento emitido pelos bombeiros, em 2012, recebido pela irmã de Elissandro Spohr, que era uma das gerentes da boate, advertindo para que não houvesse a queima de material inflamável no interior do estabelecimento. O ex-prefeito disse que só teve o conhecimento desse documento após a ocorrência do incêndio.

No que se refere à prevenção e proteção contra incêndio, Schirmer disse que a responsabilidade, de acordo com regulamentação estadual, de 1997, é do Corpo de Bombeiros. “A prefeitura não se envolvia nisso. Quando a prefeitura recebia este documento [APPCI], ele tinha fé pública.”

Também o uso de artefatos pirotécnicos não era de atribuição do município, segundo ele. Afirmou também que nunca houve nenhum movimento para a cassação do alvará de localização da boate.

Dia da tragédia

O ex-prefeito lembrou que foi acordado de madrugada com a informação do incêndio na Boate Kiss. Chegou no local por volta das 5 horas. Ele disse que conversou com autoridades de diferentes áreas para montar uma frente de atendimento a vítimas e famílias. “Passei a verificar o que a prefeitura poderia fazer. Criamos um pronto-socorro 24 horas, contratamos 42 profissionais da área de saúde mental para oferecer atendimento às pessoas.”

Decidiu-se que o velório seria no Centro Desportivo Municipal (CDM). O Exército ajudou a montar a estrutura. A então Presidente da República, Dilma Rousseff, ligou para ele para prestar solidariedade e disse que estava interrompendo a sua viagem no Chile e indo para Santa Maria. “Tivemos uma conversa emotiva”, contou.

Críticas à polícia

No começo do seu depoimento, ao fazer um relato geral ao magistrado, Schirmer fez duras críticas ao trabalho realizado pela Polícia Civil, responsável pelo inquérito policial que apurou as causas e responsabilizações iniciais do incêndio, que considerou ter sido realizado de forma “medíocre e espetaculosa”.

“Eu disse, à época, que o inquérito era uma ‘aberração jurídica’ e eu vou explicar porquê”, declarou. Schirmer apontou indiciamentos que considerou incoerentes. Disse que era “notável e notória a má vontade da polícia”. Informações falsas eram passadas à imprensa, “de forma subterrânea”. “O inquérito foi feito pela imprensa, não era um inquérito sério.” Disse ainda que “faltou coragem, isenção, responsabilidade aos responsáveis”.

O Sul

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