1. O ano de 2016 dá sinais de que Moçambique pode estar ingressando num círculo vicioso. O país passa por um conflito de baixa intensidade. Notícias de escaramuças entre as Forças de Defesa e Segurança e os homens armados da RENANO ocupam com frequência quase diária os veículos de comunicação e as mídias sociais. Os incidentes ocorrem, sobretudo, na região central do país (Zambeze, Sofala, Tete e Manica). Para além dos 11 mil refugiados moçambicanos no Maláui, aumentam os casos de deslocados internos. Estimativas indicam que os enfrentamentos já causaram o fechamento de 97 escolas, afetando 38 mil alunos nas quatro províncias.
2. A retomada do diálogo entre Governo e RENANO permanece indefinida. A RENANO insiste nos mediadores internacionais (União Europeia, Jacob Zuma, a Igreja Católica). O Governo permanece refratário à ideia, mas tem dificuldades em propor uma agenda concreta para o encontro. O Presidente Nyusi ainda não possui controle suficiente da máquina partidária para implantar seu discurso favorável à acomodação com a RENANO. A FRELIMO passa por complexo processo de transição de poder geracional - com 57 anos, Nyusi é o primeiro Presidente que não lutou na guerra de independência - e étnico - pela primeira vez, o Presidente pertence a uma etnia do norte, a Maconde. Tendências divergentes disputam influência política e econômica.
3. O ex-presidente Armando Guebuza, adepto da ala radical, logra manter considerável influência; mas o grupo ligado a Nyusi tem, pouco a pouco, expandido seu poder. Durante o V Congresso Ordinário do Comitê Central da FRELIMO, realizado de 13 a 16/4, conviveram declarações de apoio ao diálogo com RENANO com manifestações favoráveis a "extirpar o partido da vida RENANO política nacional", sob o argumento de que a RENANO "nunca deixará de ser aquilo para que foi criada, um partido armado direcionado para o mal".
4. O quadro político é agravado por um preocupante horizonte econômico. Previsões apontam para um crescimento de menos de 5% em 2016, o pior nos últimos 15 anos. A inflação nos primeiros três meses do ano atingiu quase 7%. Revelação recente de que o país teria secretamente contraído, para além da EMATUM (US$ 850 milhões), dívida de cerca de US$ 650 milhões para compra de equipamentos militares durante o penúltimo ano da presidência de Armando Guebuza, causou perplexidade entre os doadores (telegrama à parte seguirá sobre o tema).
5. O FMI cancelou a missão que iria a Moçambique para tratar do desembolso da segunda tranche do empréstimo de US$ 283 milhões feito em dezembro de 2015.Equipe técnica do Ministério de Economia e Finanças está neste momento em Washington para prestar informações ao FMI sobre o novo débito que ameaça deteriorar a sustentabilidade da dívida moçambicana. Em meio ao turbilhão político e econômico, o Presidente Nyusi iniciou, em 16/04, visita à Alemanha e às instituições da União Europeia em Bruxelas. Oficialmente, o Governo informa que o objetivo principal é atrair investimentos, em consonância com a diplomacia econômica que tem orientado a política externa do Presidente Nyusi. É provável que a situação política e econômica esteja entre os pontos de conversação.
6. Às dificuldades políticas e econômicas, soma-se a severa estiagem que castiga centro e o sul de Moçambique. O Governo decretou alerta vermelho institucional nessa região por um período de 90 dias, a fim de incrementar ações para minimizar o impacto da seca. Estima-se que 1,5 milhão de pessoas estejam em situação de insegurança alimentar. Sem recursos, resta ao Governo apelar à ajuda internacional.
Ex-Blog do Cesar Maia
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