segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Larri Passos vê o futuro do tênis brasileiro na Brasil Juniors Cup

 O técnico que levou Guga ao lugar mais alto do pódio revela que retornar às quadras da ALJ o motiva a seguir trabalhando cada vez mais

Ex-técnico do Guga, Larri Passos esteve no clube Leopoldina Juvenil durante a Brasil Juniors Cup na última semana | Foto: Luiz Candido/CBT


Larri Passos é referência quando se fala em tênis. O técnico que levou Gustavo Kuerten ao topo do ranking mundial esteve na sede do clube Leopoldina Juvenil em Porto Alegre durante a Brasil Juniors Cup, na última semana. O gaúcho voltou às quadras onde viu Guga levantar um de seus primeiros grandes títulos juvenis, antes de comandar o brasileiro na conquista de três troféus de Roland Garros.

Mais de 30 anos depois, o técnico retorna ao clube. Mas em um momento diferente da vida, ou melhor, treinando uma geração totalmente diferente da qual conviveu na época de Guga. O Correio do Povo conversou com o treinador sobre as mudanças no tênis brasileiro, a ascensão de jovens tenistas e relembrou os velhos tempos.

A Brasil Juniors Cup

Larri é um velho conhecido da competição. Antiga Copa Gerdau, o torneio ficou conhecido por revelar diversos jogadores que disputaram o circuito profissional. Guga, Andy Roddick, Bia Haddad, Carlos Alcaraz, Pablo Cuevas, Madison Keys, e, recentemente, João Fonseca são alguns desses nomes. O treinador revelou que a fama que o torneio carrega de apresentar as futuras promessas é verídica, e disse ser um de seus torneios favoritos.

"A coisa mais importante desse torneio é justamente formar esses jogadores para chegar com uma base boa no profissional. Sem dúvida nenhuma eu sempre digo, a Leopoldina Juvenil tinha que ser sede do torneio mais importante do circuito. Aqui estão as melhores quadras, as melhores condições,” diz o gaúcho, da cidade de Rolante.

Nesta edição, Larri trouxe alguns atletas que faz consultoria nos Estados Unidos para disputar o torneio. Em mais de 50 anos treinando tenistas, a alegria e motivação de trabalhar com os jovens atletas não mudou.

“Voltar aqui só me motiva, porque quando eu estou no meio dos juvenis, eu estou vendo a esperança de ter mais futuros tenistas. Nós precisamos ter mais jogadores entre os 500 e os 100, né? Entre os 200, nós estamos com uma defasagem muito grande” afirma.

“Mas toda vez que eu piso na quadra, não importa onde eu esteja, com quem eu esteja, a minha motivação só cresce. É uma coisa absurda. Há pouco tempo eu estava na quadra lá dentro, trabalhando com os jogadores e é impressionante a energia, não sei onde é que vem essa energia”, completa.

Larri Passos: "Há pouco tempo eu estava na quadra lá dentro, trabalhando com os jogadores e é impressionante a energia, não sei onde é que vem essa energia”. | Foto: Luiz Candido/CBT

 

Ascensão do tênis brasileiro

Atualmente não há dúvidas de que o nome do tênis brasileiro é João Fonseca. O jovem carioca recentemente venceu o ATP 250 de Buenos Aires, e, além disso, vem quebrando diversos recordes. Após a vitória contra Andrey Rublev na estreia do Australian Open, atraiu os holofotes da mídia internacional.

No entanto, o brasileiro segue sendo um em muitos que conseguem se destacar no circuito profissional. Larri garante que, apesar do tênis estar ganhando mais audiência por conta da ascensão recente de Fonseca, ainda há muito trabalho para ser feito.

“O João Fonseca é um produto muito parecido como era um produto que eu criei o Guga. Agora, os pais investiram e, apesar da CBT proporcionar condições de viagens para os jogadores, ainda não temos uma estrutura adequada. Ele tem 18 anos, ou seja, no mínimo mais 17 de tênis se tudo der certo. Temos mais 17 anos para consolidarmos uma estrutura boa para as pessoas, para os jogadores que estão vindo. Agora é a hora de aproveitar esse momento”, projeta Larri.

Importância de um ídolo

Graças a Guga, hoje, o tênis é mais apreciado na cultura esportiva dos brasileiros. Larri lembra que é importante notar as mudanças graças ao ex-número 1 do mundo, que por mais que não sejam tão explícitas foram fundamentais para jovens como João Fonseca estarem ganhando espaço no cenário mundial.

“Hoje você vê já os jogadores de tênis que nem são top, fazendo comerciais de televisão. Ele têm uma cultura melhor graças ao Guga. Nesta semana, eu estava caminhando na rua e uma pessoa sentada na rua me reconheceu. É uma coisa incrível isso”, conta sobre um episódio inusitado vivido em Porto Alegre.

"A gente colocou o tênis na mídia, colocou em um padrão diferente. Hoje eu, tu, vai na China, tu anda no Japão, eu caminho na rua, o pessoal me conhece, graças ao Guga” garante Larri. Por outro lado, o treinador sente que o Brasil não soube aproveitar aquele momento. "Em termos de estrutura, de um local para reunir os jogadores para trabalhar, não mudou nada, não mudou nada desde aquela época. Hoje, nós não temos ainda um centro, um centro onde possa dizer, aqui é o centro de tênis brasileiro", lamenta.

Entre Guga e João Fonseca são 30 anos de diferença. Três décadas em que surgiram jogadores brasileiros que se destacaram no profissional: Thomaz Bellucci, Thiago Monteiro, Teliana Pereira, Bia Haddad, Rafael Matos, Bruno Soares, Marcelo Melo, João Fonseca entre outros. Mesmo sem possuir as melhores condições estruturais e financeiras, continuaram e continuam representando o Brasil mundo afora.

"Agora o que nós precisamos é alavancar esse momento, não cometer os mesmos erros que foram cometidos antes, quando o Guga chegou no topo. Com certeza, ainda tem muito trabalho para ser feito. O trabalho continua, ” encerra Larri.

Correio do Povo

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