Entenda como funciona a habilitação e fiscalização de pilotos e aviões de pequeno porte

 Especialista em segurança de aviação detalha como funciona o controle e avalia que exigências para habilitação de pilotos estão menores



acidente envolvendo um avião de médio porte que caiu na avenida Marquês de São Vicente, na zona oeste de São Paulo, foi pelo menos o oitavo caso de queda de avião de porte inferior no Brasil nos últimos quatro meses. A queda da aeronave Beechcraft King Air F90 deixou dois mortos. A quantidade de ocorrências recentes envolvendo pequenas e médias aeronaves levanta questionamentos sobre a fiscalização de aeronaves e a formação de pilotos.

Fábio Borille, especialista em segurança de aviação e examinador de pilotos, explica que a fiscalização sobre aeronaves novas e no pós-manutenção costuma ser bastante rigorosa. No entanto, o especialista destaca que o grau de exigência em relação à habilitação de pilotos foi reduzido nos últimos anos.

Borille explica que a fiscalização das aeronaves é feita pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). “No caso das aeronaves pequenas, o pessoal da Anac fiscaliza oficinas e pega por amostragem algumas ordens de serviço e confronta. A fiscalização é feita também nas próprias aeronaves, com blitz em pátios de aeroportos, hangares, com solicitação de documentos de voo, de manutenção e dos tripulantes. É a chamada inspeção de rampas.”

A manutenção de aeronaves também tem previsto um processo de fiscalização bastante rigoroso.

“Cada peça vem com formulário específico. Uma bateria, vem com formulário específico, de que é homologada, testada e atestada; o mecânico instala e assina; o inspetor inspeciona e assina. É super controlado. As peças têm rastreabilidade, quase todas são serializadas, é bem restrito mesmo.“

Formação de pilotos

A formação de um piloto começa em uma escola de aviação - não é necessário ter nível superior em Ciências Aeronáuticas. O aspirante a piloto realiza um curso teórico, passa por horas de prática de voo e por provas prática e teórica.

“Se aprovado, ele faz a primeira licença, que é piloto privado. Com ela, o piloto pode voar em aeronave monomotor em proveito próprio, sem atividade remunerada. O segundo passo é a licença de piloto comercial, mais um curso teórico e mais horas de voo. O que mais importa na formação são horas de voo”, explica.

Borille afirma que um abrandamento na classificação do King Air, em 2016, reduziu o grau de exigência para se pilotar esse tipo de aeronave. Antes, era necessária a realização de um curso específico com uso de simulador. Atualmente, explica Borille, um piloto habilitado para aeronaves multimotor precisa apenas realizar um voo acompanhado de um outro piloto, que tenha habilitação específica para esse tipo de aeronave e que ateste sua capacidade.

“Essa alteração foi muito por pressão de empresários e fazendeiros, que têm muito esse tipo de aeronave e que precisavam de treinamento específico. Aí o piloto sabe voar em condições ótimas, com tudo funcionando. Está habilitado mas não necessariamente preparado para lidar com problemas”, argumenta.

Susto no ar e simulador

O especialista recorda que, quando obteve habilitação para pilotar aeronaves King Air, utilizou o simulador. “Passei por um curso de 15 dias de aulas e mais 7 sessões de 2h de simulador. E o simulador prevê todo tipo de problema que pode acontecer no voo. Já passei por uma situação de problema no ar com um King Air e o treinamento de simulador me deu a cancha para resolver.”

Correio do Povo

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