Estados como Paraná e Mato Grosso do Sul, e o vizinho Paraguai, discutiram ao longo do Show Rural Coopavel, em Cascavel, as perspectivas da safra diante das perdas nas lavouras da oleaginosa decorrentes da estiagem atual
Os danos à lavoura da soja em razão da estiagem, ocorridos no Rio Grande do Sul, também se verificam, de forma similar, no Paraná, no Mato Grosso do Sul e no Paraguai. À exceção de Mato Grosso do Sul, as demais regiões têm em comum o fato de, até o momento, desconhecerem os números que forneceriam, com maior precisão, a extensão das perdas sofridas pelos agricultores com a escassez hídrica iniciada há dois meses.
No Rio Grande do Sul, a Emater/RS-Ascar deve apresentar um relatório consolidado sobre a quebra na safra 2024/2025 durante a Expodireto Cotrijal, feira que será realizada em Não-Me-Toque, entre os dias 10 e 14 de março. O diretor técnico da Emater-RS/Ascar, Claudinei Baldissera, explica que a dificuldade para apresentar dados quantitativos resulta da fase do plantio da oleaginosa e da distribuição heterogênea das chuvas no RS.
No final de janeiro, a estiagem no Mato Grosso do Sul atingia 1,7 milhão de hectares de soja, o equivalente a 38% da área total cultivada, de acordo com dados do projeto Sistema de Informação Geográfica do Agronegócio, da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso do Sul (Aprosoja-MS), divulgou a Agência Estado. Apesar de problemas causados pela falta de chuvas, foi mantida a previsão de colheita de 13,9 milhões de toneladas. Os cenários mais críticos são percebidos na fronteira com o Paraguai e em parte da divisa com o Paraná. A região Sul-Fronteira tem 44,6% das lavouras em condições ruins. A Região Sul, 31,2%.
No Paraguai, as chuvas igualmente mantiveram volumes diferenciados dentro de áreas muito próximas uma das outras.
“É difícil estimar o impacto porque os cultivos ainda estão em processo de floração”, diz o presidente da Unión de Gremios de la Producción, Héctor Cristaldo.
A falha no desenvolvimento dos grãos ou o não surgimento de grãos é constatado principalmente em plantações com cultivares mais precoces. Ainda que não tenha sido possível mensurar quantos hectares foram perdidos, Cristaldo prevê uma produção abaixo dos 11 milhões de toneladas projetados originalmente. A estimativa de baixa leva em consideração que 80% da área semeada enfrenta déficit hídrico. Os problemas mais graves na sojicultura paraguaia, provocados pela falta d’água, são identificados no noroeste do território, junto à fronteira com o Brasil no Mato Grosso, e no oeste, próximo à fronteira com o Brasil no Paraná.
Em 2022, o Paraguai enfrentou uma das secas mais fortes. Naquele ano, a produção baixou da previsão de 10 milhões de toneladas para 4 milhões de toneladas, uma redução de 60%. No mesmo ano, no Rio Grande do Sul, a quebra na safra da oleaginosa atingiu um percentual pouco abaixo do país vizinho, de 54,3%, de acordo com dados do Departamento de Economia e Estatística (DEE) do Estado.
No Paraná, o diretor-secretário do Sindicato Rural de Cascavel, Paulo Cezar Vallini, aponta haver uma perda consolidada de 5% na produção de soja do norte do estado. No oeste, onde se localiza Cascavel, a contabilidade dos danos deverá estar concluída entre os dias 20 e 25 de fevereiro, com o encerramento da colheita. Até o dia 13, 80% da área havia sido ceifada.
“A soja precoce, colhida no início do ano, não teve assim tanto problema. A mais tardia teve algum problema. Estamos prevendo uma quebra, mas não sabemos de quanto”, diz Vallini, ao apontar diferenças dentro de cada região do estado.
Diante das altas temperaturas, o oeste antecipou a colheita com uma produtividade de 200 sacas por alqueire (medida utilizada no Paraná; um alqueire é equivalente a 2,42 hectares). “Não vou dizer que é uma produtividade excelente, mas é boa”, afirma Vallini. O oeste responde por 20% da produção de soja do Paraná.
Um exemplo é apresentado por Carlos Alberto Zucchetto, produtor com 300 alqueires semeados com a oleaginosa em Catanduvas, município do oeste paranaense. Cercado de propriedades que sofreram com a estiagem, Zucchetto comemora ter chegado próximo às 200 sacas por alqueire, rendimento igual ao do ano passado. “Minha fazenda fica a 850 metros de altitude, numa posição bem favorável”, explica Zucchetto. “Esse ano foi muito forte a chuva de manga, como é conhecida no Paraná, que, num mesmo município, chove e em outros não.
Tem gente colhendo médias de 200 sacos por alqueire e vizinhos colhendo a metade ou até menos”, disse um produtor do noroeste, que não quis ser identificado.
Correio do Povo

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