domingo, 9 de junho de 2024

Comércio de itens essenciais e de limpeza é o setor mais aquecido da economia no momento, aponta CDL POA

 Mercados, postos de combustíveis, farmácias, ferragens e alguns segmentos do comércio estão entre os que mais vendem produtos ou serviços no RS


Vendedor na Ferragem Simonetti, Moisés Sheffer aponta a grande procura por itens que auxiliam na limpeza de imóveis atingidos pela enchente 

Um estudo realizado pela Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Porto Alegre, com base em dados do Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), aponta que os segmentos que comercializam produtos essenciais são que mais estão vendendo no momento no Rio Grande do Sul, após as enchentes que assolaram o estado. O estudo leva em conta o período de final de abril até o final de maio em 2023 e em 2024.

Apesar do singelo aumento nas vendas neste segmento, ainda há um impacto negativo nas vendas do setor varejista, principalmente para as empresas que trabalham com itens não essenciais. Segundo o economista-chefe da CDL Porto Alegre, Oscar Frank Júnior, quem acaba se sobressaindo com esta situação são as empresas que trabalham com produtos essenciais, como mercados, postos de combustíveis, farmácias e alguns segmentos do comércio.

“Diante da incerteza com relação ao futuro, é natural verificar uma corrida para esse tipo de mercadoria visando a formação de estoques. Já aqueles segmentos que em o consumidor pode cortar gastos, sem que isso traga grandes prejuízos do ponto de vista de bem-estar, sofrem mais. Entendo que a retomada tende a ser bastante lenta”, pontuou o economista.

Os dados da Cielo foram divididos em três recortes: um geral do RS, ou só de Porto Alegre e uma última com as 30 cidades mais impactadas exceto a capital. Em todo o estado, o varejo sofreu uma queda significativa na primeira semana da enchente, mas vem registrando uma variação positiva desde a segunda semana de maio. Conforme a análise da CDL Porto Alegre, o RS movimentou R$ 103,8 milhões a mais entre 29 de abril e 26 de maio de 2024 do que no mesmo período em 2023.

No recorte mais recente, da última semana de maio, as empresas que comercializam itens essenciais foram as únicas com variação positiva. Os supermercados e hipermercados puxam a frente, com 17,1% a mais de vendas do que no mesmo período em 2023, seguido pelo comércio de itens essenciais (6%) e postos de combustíveis (5,3%).

Já nos itens considerados não essenciais, as lojas de vestuário apresentaram variação de -5,6%, seguida de bares e restaurantes (-18,5%) e óticas e joalherias (19,6%). Na primeira semana de maio, apenas mercados e combustíveis apresentavam variação positiva.

Entretanto, ao analisar as 30 cidades mais atingidas, exceto Porto Alegre, a movimentação só começou a ficar positivo na segunda quinzena de maio, mas o saldo de todo o período das enchentes segue negativo. “Diferentemente da pandemia, tivemos também perdas patrimoniais e de estoque. Então a retomada tende a demorar mais tempo. Claro que a intensidade disso depende também dos programas de apoio por parte do poder público, mas não é algo que vai acontecer do dia para a noite”, completou Frank.

Já o pior cenário ocorre em Porto Alegre. Até a última semana de maio, a economia da capital registrou apenas resultados negativos se comparado com o mesmo período em 2023. O pior momento foi na segunda semana do mês, a partir do dia 6, quando Porto Alegre registrava o pico da enchente do Guaíba. A estimativa da CDL Porto Alegre é que a capital movimentou quase R$ 500 milhões a menos entre 29 de abril e 26 de maio do que no mesmo período no ano passado.

“Nós fomos duramente impactados em Porto Alegre. Até no RS o crescimento posterior já foi suficiente para compensar o déficit na primeira semana, por conta das regiões que foram pouco ou nada atingidas e que também entram na conta do estudo. Mas em Porto Alegre o impacto muda de figura”, lamentou o economista.

Movimento ainda baixo no comércio local

Na capital, o movimento do comércio é mais sentido em estabelecimentos que vendem itens necessários para o retorno das pessoas atingidas pela enchente para as suas casas. Conforme o relato de empresários e comerciantes do Centro Histórico, há uma procura grande em lojas de caça e pesca ou ferragens por itens como botas de borracha, macacão de pesca (jardineira) e até mesmo munições, em função do medo de furtos e saques nas regiões que estavam alagadas.

“Aqui a procura foi maior por bota de borracha, mangueira, engate para lava jato. Enfim, itens que ajudam nessa limpeza inicial das casas e empresas que foram atingidas”, relatou Moisés Sheffer, vendedor na Ferragem Simonetti, na rua dos Andradas. Conforme o profissional, a empresa ainda teve dificuldade de estoque pode conta da alta procura pelas botas em determinados tamanhos.

Já em bairros, a retomada das vendas ainda é pouco sentida. Segundo Ademir Zanatta, proprietário do Mercado do Mestre, na Cidade Baixa, a procura ainda está pequena pois a região sofre com um menor movimento que o habitual. Além disso, ele cita que é mais fácil para o consumidor adquirir itens em maior escala, como produtos de limpeza, em redes de atacados.

“Nos primeiros dias, eu abri o mercado e não tinha ninguém na rua. O movimento ainda está muito baixo e as vendas estão devagar. Ainda é tudo muito recente. Os clientes estão vindo, mas não se vende como se vendia em um dia normal. Estamos voltando aos poucos, mas a falta de movimento na região que me afeta bastante”, lamentou.

Correio do Povo

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