terça-feira, 19 de março de 2024

Como Surgiu a "Marcha da Família com Deus pela Liberdade"

 

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 União Cívica Feminina de São Paulo distribuiu nota à imprensa, explicando como nasceu a ideia de se promover a Marcha da Família com Deus pela Liberdade, que, segundo afirma, "teve a sua grandeza e sua repercussão porque correspondeu a um sentimento da maioria dos brasileiros, aos quais se deve o mérito de seu êxito”.

 

"A União Cívica Feminina, tendo tomado conhecimento das várias versões que vêm sendo publicadas pela imprensa a respeito do movimento cívico-religioso Marcha da Família com Deus pela Liberdade, vem de público, devidamente autorizada pela irmã Ana de Lourdes (no século Lucila Batista Pereira), Sr. José Carlos Pereira de Sousa e Deputado Antônio Sílvio da Cunha Bueno, transmitir a todos os brasileiros os fatos ocorridos em São Paulo, na noite do dia 13 de março de 1964, e suas consequências:

1 - Atendendo a um compromisso previamente marcado com a irmã Ana de Lourdes, para tratar de assunto referente à Escola de Enfermagem, o Deputado Cunha Bueno, acompanhado dos Srs. José Carlos Pereira de Sousa e Augusto Inácio Bravo, compareceu, às 22 horas, no Hospital S. Paulo.

2 - Após ser discutido o objeto daquela reunião, o qual preocupava as irmãs Ana de Lourdes, Cristo Redentor e Áurea da Cruz (também presentes), foi abordado o assunto principal do dia — o Comício que acabara de ser realizado na Guanabara.


3 - Nessa ocasião, a irmã Ana de Lourdes insistiu em que o então Presidente pagaria pelas ofensas cometidas contra o Santo Rosário; que não haveriam de ficar impunes as palavras irreverentes com que Goulart se referira à grande arma da Igreja nas horas de perigo: o Rosário de Nossa Senhora, pois a história nos conta de outras batalhas cujas vitórias os cristãos deveram ao Santo Rosário.

4 - A irmã Ana de Lourdes sugeriu que as mulheres de São Paulo, acompanhadas por suas famílias, fossem para as ruas em marcha solene e, numa afirmação de Fé, rezassem pela paz no Brasil e contra o comunismo. De fato, naquela noite fatídica do dia 13, o Presidente Goulart acabara de oficializar seu apoio ao comuno-peleguismo.

5 - Sugeriu ainda a irmã Ana de Lourdes que essa manifestação - o desagravo ao Santo Rosário — fosse feita no dia 19 de março, data consagrada pela Igreja a São José, Padroeiro da Família e da Igreja Universal.

6 - Tendo os presentes acolhido a ideia com grande entusiasmo e confiança no sucesso da mesma, despediram-se os visitantes das irmãs e fizeram os primeiros contatos para a articulação do movimento que acabava de nascer.

7 - Após a reunião, a irmã Ana de Lourdes recolheu-se aos seus aposentos, não tendo mantido nenhum outro contato sobre aquele assunto senão no dia seguinte, dia 14, às 17 horas, na reunião preparatória realizada na Rua Bauru, nesta capital.

8 - Assim, a partir da madrugada do dia 14 passou a circular no Brasil a notícia de que no dia 19, em São Paulo, os fiéis a Deus ePátria sairiam às ruas, num desagravo ao Rosário e à Bandeira. Respondendo a este apelo, o grupo organizador foi ampliado pela adesão de mais de 50 entidades cívicas. Assim numa união entusiasta centenas de mulheres, adultos e jovens, com esforço incansável durante dias e noites, foi mobilizada a opinião pública, e meio milhão de aderiram à marcha.

9 - Ao mesmo tempo, os organizadores daquele movimento visitaram a maioria das capitais do país, convidando os democratas a participarem do movimento. A presença de inúmeras delegações da Guanabara, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Paraná e de outros Estados,nós, paulistas, a certeza de que marcharíamos unidos pelos mesmos ideais, até a vitória final — com Deus pela Liberdade.

Hoje, vitoriosa a nossa Revolução, iniciada a marcha pela redemocratização do Brasil e pela consolidação daqueles ideais por nós defendidos, não devem pairar dúvidas e incertezas sobre os acontecimentos de que tanto nos orgulhamos. É necessário restabelecer a verdade.

A Marcha da Família com Deus pela Liberdade teve a sua grandeza e sua repercussão porque correspondeu a um sentimento da maioria dos brasileiros, aos quais se deve o mérito de seu êxito.

Foi este objetivo que nos moveu a solicitar a publicação deste. Na certeza de merecermos a atenção de todos os brasileiros, através da mais ampla divulgação do que acima foi exposto".

 

Fonte: CARNEIRO, Glauco. História das Revoluções Brasileiras, vol. 2. Rio de Janeiro: Edições O Cruzeiro, 1965, p. 604. 

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