AdsTerra

banner

terça-feira, 25 de outubro de 2022

Dólar dispara e volta a R$ 5,30 após ataque de Jefferson

 Moeda norte-americana abriu semana com ganho de 3,01% neste segunda-feira



O dólar disparou no mercado doméstico de câmbio na sessão desta segunda-feira, e voltou ao nível de R$ 5,30, em meio a um ambiente externo desfavorável para moedas emergentes e ao aumento das tensões políticas domésticas, com o episódio envolvendo a prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, na semana derradeira antes do segundo turno da eleição presidencial. O real, que vinha apresentando desempenho superior a de seus pares, amargou nesta segunda a maior desvalorização entre as moedas mais relevantes do mercado global.

Já em alta superior a 1% na abertura, o dólar escalou rapidamente e tocou R$ 5,30 ainda pela manhã. Ao longo da tarde, houve um refresco, com divisa oscilando entre R$ 5,27 e R$ 5,29. Nos minutos finais do pregão, contudo, o dólar voltou a escalar e fechou a R$ 5,3029, a máxima do dia, em alta de 3,01% - a maior valorização no fechamento desde 22 de abril deste ano, quando subiu 4%. Com a arrancada desta segunda, as perdas da moeda americana em outubro passaram a ser de apenas 1,70%.

Analistas observam que as perspectivas para o real nesta data já eram negativas em razão das perdas em bloco de divisas emergentes e de países exportadores de commodities frente à moeda americana, em razão de dados ruins da economia chinesa (balança comercial e venda de moradias). Aumentam as preocupações com o futuro do gigante asiático após o Congresso do Partido Comunista Chinês resultar em mais concentração de poder nas mãos do presidente Xi Jinping, considerado mais hostil ao Ocidente.

Os ventos externos ruins foram turbinados por aqui pelo quadro político conturbado com o episódio envolvendo o aliado do presidente Jair Bolsonaro e ex-deputado federal Roberto Jefferson, que, em um primeiro momento, resistiu à ordem de prisão expedida pelo ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes e atacou policiais federais com tiros e granadas. A leitura nas mesas de operação é que o entrevero é prejudicial à campanha de Bolsonaro e pode frear a tendência de crescimento das intenções de voto do presidente identificada nas últimas pesquisas eleitorais.

Foi senha para que investidores retomassem posições defensivas e se aproveitassem para realizar lucros acumulados recentemente na Bolsa, sobretudo em papéis de estatais, como Petrobras e Banco do Brasil, que haviam disparado com a perspectiva de reeleição de Bolsonaro. O episódio envolvendo Roberto Jefferson aviva temores de que haja uma reação violenta de apoiadores do presidente em caso de vitória do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Essa questão política descolou a Bolsa lá de fora, com queda de Petrobras e Banco do Brasil, e bateu também no câmbio. Esse caso do Roberto Jefferson provoca ruído e faz o mercado entender que Bolsonaro pode ter dificuldades na reta final da campanha", afirma o diretor de produtos da Venice Investimentos, André Rolha. "Temos também uma questão técnica. O real e a bolsa tinham andando bastante, com o dólar beliscando R$ 5,15. Havia espaço para um ajuste".

Em relação a divisas fortes, o dólar teve um comportamento misto: leve baixa em relação ao euro e alta na comparação com o iene, apesar de rumores de intervenção do Banco do Japão (BoJ), e a libra esterlina. Os efeitos positivos da ascensão do ex-ministro de Finanças Rishi Sunak ao cargo de primeiro-ministro, que deve ser confirmada na terça, já teriam sido embutidos nos preços. Dado esse jogo de forças, o índice DXY operou a maior parte do dia em leve queda, no limiar dos 112,000 pontos.

Taxas de juros

Os juros começaram a semana do Copom em alta, mais pronunciada nos vencimentos longos, refletindo a piora na percepção de risco político-eleitoral nesta reta final do segundo turno das eleições. Por mais que Jair Bolsonaro tenha tentado desvencilhar sua imagem da do ex-deputado Roberto Jefferson, o mercado passou a precificar maior risco para o seu desempenho nas urnas, corrigindo parcialmente movimento da semana passada quando a melhora das intenções de voto mostrada nas pesquisas produziu um rali dos ativos domésticos.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou a etapa regular em 12,875%, de 12,832% no ajuste de sexta-feira, e a do DI para janeiro de 2025 subiu de 11,67% para 11,82%. A do DI para janeiro de 2027 passou de 11,51% para 11,71%. O giro, normalmente mais fraco às segundas-feiras, foi reforçado pelo ajuste de posições decorrentes do quadro eleitoral.

Enquanto no exterior o dia foi positivo para ativos de risco, por aqui o evento do domingo disparou correção, um pouco mais expressiva nas ações e na moeda justamente porque eram os ativos que mais tinham "andado" na esteira do quadro de empate técnico nas pesquisas eleitorais entre Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. Os juros, diante da pressão do Treasuries e risco fiscal, devolveram prêmios com mais parcimônia na semana passada e era natural que nesta segunda sofressem em menor intensidade.

De todo modo, a curva teve ganho de inclinação, com a ponta longa abrindo cerca de 20 pontos-base. "Tivemos indicadores de atividade fraca nos PMIs, mas o que está pegando de verdade são as notícias envolvendo o caso Roberto Jefferson. Sabemos que isso será explorado nas campanhas, apesar de Bolsonaro ter respondido até que bem, sem atacar o STF, condenando o episódio", afirmou a economista-chefe da MAG Investimentos, Patricia Pereira, lembrando que Bolsonaro afirmou que "quem atira em policial é bandido".

Jefferson atacou os policiais com tiros de fuzil e granadas, que feriram dois deles. Depois de resistir à prisão por horas, foi capturado e está detido em um presídio no Rio. Bolsonaro disse ser "mentira" que ele e o político já tenham sido próximos.

O inesperado ataque esquenta ainda mais a semana pesada de eleição, eventos e indicadores, o que por si só tenderia a chamar alguma cautela. Na terça, tem o IPCA-15 de outubro, que, segundo a mediana da pesquisa Projeções Broadcast, deve acelerar a 0,09%, depois de cair 0,37% em setembro. Na quarta-feira, o Copom decide sobre a Selic e o consenso das apostas aponta para manutenção no nível de 13,75%. No exterior, haverá decisão reunião do Banco Central Europeu (BCE) na quinta e a inflação do PCE (preços de gastos com consumo, em inglês), na sexta, que vai testar os discursos mais dovish do Federal Reserve na semana passada.

Bolsa

O fogo amigo do ex-deputado Roberto Jefferson na última semana de campanha trouxe elemento a mais de dúvida ao desfecho da corrida presidencial, no próximo domingo, 30. A reação dos investidores na B3 foi clara: venda de ações da Petrobras e do Banco do Brasil, que na semana passada estiveram entre as campeãs de preferência.

Assim, mesmo com o sinal positivo de Nova York e, mais cedo, também na Europa, o Ibovespa fechou o dia em baixa de 3,27%, aos 116.012,70 pontos, entre mínima de 115.792,69 e máxima de 119.924,17, quase correspondente à abertura, aos 119.921,67 pontos. A correção desta segunda-feira absorveu um pouco menos da metade da alta de 7,01% acumulada na semana passada, quando o Ibovespa ficou invicto, com cinco ganhos seguidos. Em porcentual, a perda foi a maior desde a queda de 3,39% em 26 de novembro de 2021. O giro desta segunda-feira ficou em R$ 30,8 bilhões. No mês, a referência da B3 avança 5,43% e, no ano, 10,68%.

Dessa forma, alguma gordura acumulada pelo Ibovespa no mês e no ano facilitou, nesta abertura de semana, a devolução de parte do entusiasmo do período anterior, com reversão do forte avanço de Petrobras e Banco do Brasil que havia dado substância aos ganhos do índice na semana passada. Nesta segunda, Petrobras ON e PN cederam respectivamente 9,89% e 9,20%, na ponta negativa do índice, logo após Banco do Brasil ON (-10,03%, mínima do dia no fechamento), e um pouco à frente de IRB (-8,49%) e de CSN ON (-8,10%). Ao longo da semana passada, Petrobras ON e PN, e BB ON, haviam acumulado ganhos, pela ordem, de 11,87%, 12,87% e 14,10%, decisivos para que o Ibovespa avançasse 7%.

"Petrobras e Banco do Brasil eram os nomes mais evidentes, as ações que reagiriam mais rápido, em valorização, à confirmação de eventual vitória de Bolsonaro no fim de semana. Se Lula vencer, tampouco se espera uma correção forte do Ibovespa, num primeiro momento. Haverá o benefício da dúvida até que seja anunciado ao menos o nome de quem seria o ministro da Fazenda desse eventual futuro governo. E há bons nomes também com Lula, de economistas com história ligada ao PSDB, e também o próprio Henrique Meirelles, que se mostraram simpáticos e se dispuseram a ajudar", observa César Mikail, gestor de renda variável da Western Asset.

A expectativa mais forte é de que Lula, se eleito, venha a optar por um nome com perfil de negociação política, como foi Antonio Palocci no primeiro mandato do ex-presidente, para lidar com um Congresso em que o governo não teria maioria, a princípio. Mas, ao lado do futuro ministro, independente de quem vier a ocupar o posto em eventual governo do PT, espera-se uma retaguarda técnica que assegure credenciais que atraiam alguma confiança do mercado sobre a trajetória fiscal.

Nesta segunda-feira, em novo aceno aos liberais e ao centro político, a campanha do PT foi a campo para convencer os economistas do Plano Real a participar, nesta noite, do 'Ato em Defesa da Democracia e do Brasil', marcado para as 19 horas no Teatro da PUC-SP, o Tuca. Ex-ministro da Fazenda do governo Temer, e ex-presidente do BC no governo Lula, Henrique Meirelles foi convidado a discursar e afirmou ao Broadcast Político (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado) que aceitou fazer uso da palavra.

"Na semana passada, o Ibovespa teve um rali impressionante, de 7%, inclusive chegando a descolar em certos momentos do exterior, como grande destaque do período, com o real também se apreciando um pouco. E Petrobras bateu na marca histórica de US$ 100 bilhões, em semana bastante positiva", diz Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, destacando para esta semana dados importantes, como o IPCA-15, na terça, e o PIB dos Estados Unidos, na quinta-feira, mesmo dia em que o Banco BCE anunciará sua decisão sobre juros - um dia antes, na quarta-feira, o Copom delibera sobre a Selic.

A semana reserva também o resultado da Vale, na quinta-feira, e o relatório de produção da Petrobras, após o fechamento desta segunda-feira. Nos Estados Unidos, o período também traz nova fornada de resultados corporativos de peso, especialmente do setor de tecnologia, como Alphabet, Meta, Apple e Amazon, entre outras, observa em nota a Guide Investimentos.

"Das 99 empresas do S&P 500 que já reportaram resultados, 75% superaram as expectativas de consenso para o lucro, segundo a Refinitiv. Os mercados seguirão de olho nesses números, já que a semana será marcada pelos balanços das 'big techs'", aponta Álvaro Feris, especialista da Rico Investimentos.

Agência Estado e Correio do Povo

Nenhum comentário:

Postar um comentário