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quarta-feira, 3 de novembro de 2021

Brasil caminha para cenário de estagflação, alertam economistas

 Os preços sobem e a vida não melhora. Essa combinação de percepções atingiu com mais força a vida do brasileiro nos últimos meses e pode ficar pior.

Isso porque falta pouco para o país reviver um quadro de estagflação, alertam especialistas. Esse cenário se configura quando dois monstros da economia se juntam: inflação alta com baixo crescimento.

Pressionado sobretudo pelos combustíveis e pela energia elétrica, o IPCA, índice oficial de preços, já encostou nos dois dígitos em 12 meses, muito acima do teto da meta para o ano. Enquanto isso, a previsões para o avanço do PIB (Produto Interno Bruto) no terceiro trimestre já ficam perto de zero, depois de uma leve queda na atividade de 0,1% de abril a junho.

“Isso é preocupante. Se tivermos outro trimestre com PIB negativo, já entramos em uma estagflação técnica, já que a inflação está bastante alta. E tudo indica que nosso crescimento no terceiro período do ano vai ser muito baixo”, diz Matheus Peçanha, economista e pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV/Ibre).

O desempenho da atividade dos próximos trimestres pode ser só uma mostra de um cenário mais consolidado de estagflação que está sendo desenhado para 2022, já que, para este ano, a expectativa é que a economia brasileira cresça em torno de 4% devido à baixa base de comparação. No ano passado, a queda superou 4%, devido à pandemia.

As menores previsões reunidas pelo Boletim Focus, do Banco Central, apontam para uma alta de 0,5% no PIB de 2022, com IPCA chegando a 5,34%. Ou seja, atividade estagnada com inflação acima do teto da meta que, para o ano que vem é de 5%.

Um cenário como esse penaliza sobretudo os trabalhadores mais pobres, já que o desemprego sobe em meio a uma alta acentuada no custo de vida.

A expressão estagflação foi disseminada em meio à crise do petróleo, que atingiu as principais economias nos anos 1970. Naquele cenário, a commodity passava por uma acentuada valorização, pressionando os preços da economia e piorando o quadro de desemprego, sobretudo nos Estados Unidos.

O último processo claro de estagflação que o Brasil viveu foi nos anos de 2015 e 2016. No primeiro, a economia retraiu 3,5% com um IPCA maior que 10%. No segundo, a retração foi de 3,3%, com inflação de 6,29%. Desde então, a atividade veio se recuperando de forma tímida e com dificuldade, até levar o baque da pandemia.

Hoje, apesar de a atividade estar patinando em meio à alta dos preços, o País ainda não pode ser enquadrado num cenário de estagflação, na opinião de Alexandre Espirito Santo, economista chefe da Órama e professor do Ibmec do Rio de Janeiro. No entanto, o quadro pode mudar em breve, caso a situação fiscal se agrave.

“Nossa principal âncora fiscal, o teto dos gastos, está em xeque. Não conseguimos andar com as reformas estruturantes e ainda surgem problemas de tempos em tempos, como a questão dos precatórios. Tudo isso torna o Estado cada vez mais difícil de ser administrado”, diz.

Baixo crescimento

O Brasil está longe de ter uma economia aquecida já há algum tempo, o que leva Sergio Vale, economista chefe da MB Associados, a acreditar que o país já vive num processo de estagflação, considerando um período mais longo.

“É um pouco do que estamos passando agora. Se considerarmos o intervalo de 2020 a 2022, são três anos de inflação pressionada com crescimento muito baixo”, diz.

O economista considera nos cálculos para essa conclusão um crescimento acumulado de 0,8% nesse período, considerando a previsão de 0,4% no PIB de 2022, ante uma inflação acumulada de 18,2%, que considera a expectativa de IPCA em 4,7% no ano que vem.

Se formos mais longe e considerarmos a última década, o cenário se torna ainda mais gritante: de 2011 a 2020, o IPCA acumulou alta de 74% com crescimento médio em torno de 0,3% ao ano, calcula Espirito Santo.

“Esse cenário foi agravado pela recessão de 2015 e 2016 e pela pandemia”, diz.


O Sul

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