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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2021

EXPERIMENTO SOCIAL DA PANDEMIA SOB A ÓTICA DA TEORIA DA COMUNICAÇÃO

 Eis aí uma ótima análise feita pelo pensador Paulo Moura em 3 partes:                      


 


PANDEMIA E MANIPULAÇÃO DE MASSAS: COMO E PORQUE FOI POSSÍVEL


Esse artigo é o primeiro de uma série de três que produzi em 2020 para a Revista Terça Livre analisando o experimento social da pandemia sob a ótica da Teoria da Comunicação, mais precisamente sob enfoque de três hipóteses contemporâneas que, sob diferentes aspectos, analisam a maneira como se manipula a opinião pública através da comunicação e da política.


No presente artigo enfocarei o assunto sob a ótica da agenda setting, ou Teoria do Agendamento, que analisa a forma como a mídia agenda a pauta do debate público na sociedade sobre determinados assuntos.


No próximo artigo abordarei o assunto sob a ótica do Newsmaking, ou Teoria da “Manufatura” das notícias, que analisa a forma como os veículos de comunicação selecionam o que é e o que não é noticiável, e como a informação é descontextualizada e recontextualizada na cozinha das editorias e redações jornalísticas.


E no terceiro artigo da série abordarei o assunto sobre a ótica da Teoria da Espiral do Silêncio, que para além de uma teoria da comunicação é também, uma teoria sociológica sobre como se forma a opinião pública a partir da influência de líderes sobre liderados e dos “formadores de opinião” da mídia sobre leitores/espectadores em todos os círculos sociais de convivência.


O Covid19 é notícia no Brasil desde novembro de 2019, mas foi assumido com status de pandemia em meados de março de 2020, acompanhando decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS), que resistiu em decretar esse estágio da doença enquanto ela se alastrava pelo mundo muito antes de ser classificada como tal.


Nesse intervalo de tempo o assunto foi crescendo no noticiário à medida em que a doença era mostrada pela mídia com sua cara feia em outros países do mundo e se aproximava do Brasil.


A maneira como foi feita a cobertura jornalística dessa pandemia ainda será objeto de estudo, mas certamente ela produziu um acontecimento inédito ao atingir uma dimensão nunca antes vista na cobertura de um único assunto: a pandemia passou a dominar todos os espaços de todos os veículos de comunicação do mundo e do Brasil e assim perdurou por meses, esgarçando aquilo que no jornalismo se chama de “ciclo de vida da notícia”, até o limite da saturação.


No momento em que esse artigo é escrito, a pandemia, não obstante ter perdido espaço no noticiário, ainda recebe o status de centralidade dentre os assuntos que as editorias selecionam como merecedores de destaque.


Não sou adepto das teorias conspiratórias e não tenho elementos, além de parcas evidências e desconfianças, para afirmar que o que estamos vivenciando é um experimento social pré-concebido e executado a partir de um plano de forças ocultas com objetivos de avançar o controle social e o desenvolvimento de novas formas de exercício do poder sobre a população do planeta.


Não importa se foi ou não foi algo pré-concebido. O fato é que os acontecimentos e a forma como foram manipulados por autoridades, forças políticas não-governamentais, corporações empresariais e corporações de mídia tradicional e digital, prestou-se a isso.


Autoridade, poder, obediência, manipulação social, manipulação de informação, manipulação de mercados, segurança pública, segurança alimentar, segurança logística de abastecimento, segurança militar, soberania nacional, todas essas e outras dimensões da vida social, política e econômica da população do mundo foram objeto de jogos de experimentação pelos donos do poder no mundo.


Cada uma dessas categorias e outras mereceriam teses de doutoramento de pesquisadores comprometidos com a liberdade e a soberania dos povos sobre seus destinos, caso nossas universidades não estivessem tomadas pelos cúmplices dos manipuladores do maior de todos os experimentos sociais jamais praticados.


Nos primórdios dos estudos sobre comunicação, os pesquisadores e profissionais da área cultivavam uma visão um tanto quanto primária sobre a forma como a comunicação influencia os receptores e suas atitudes e comportamentos sob impacto das informações que recebem. Segundo esse ponto de vista, a informação seria introduzida na mente do receptor como uma vacina é inoculada no corpo humano através de uma agulha oca acoplada a uma seringa.


Teoria Hipodérmica é o nome dado a essa concepção que orientou, por exemplo, a prática do lançamento de panfletos por aviões sobre a população de territórios que seriam alvo de ataques nas guerras mundiais, que tinham como objetivo diminuir a resistência ou até mesmo conquistar a adesão das populações-alvo aos exércitos invasores.


Hoje há uma frase que se tornou clichê entre os profissionais de publicidade, principalmente, para definir a compreensão atual sobre a forma como a comunicação opera na mente dos receptores: “comunicação não é o que você diz, mas o que os outros entendem”. Por trás desse conceito está a compreensão de que cada ser humano reage de forma específica e distinta dos outros à recepção de uma mesma informação.


Explorando uma dimensão dessa descoberta, a teoria da agenda setting nos mostra que a mídia não opera como uma agulha hipodérmica injetando informação em nossas mentes para influenciar nossas atitudes e comportamentos, mas sim, definindo que informação nós receberemos e que informação nós não receberemos. A mídia, portanto, opera na definição das pautas do debate público, definindo o que é ou não é notícia e, assim, o que será ou não será objeto do debate público.


Para agendar um assunto como pauta do debate público, no entanto, é preciso que o assunto a ser pautado atenda determinados critérios de “noticiabilidade”. Um desses critérios é o de que o assunto tenha capacidade de sobreviver por um certo tempo no noticiário, permitindo que a notícia seja exposta por um período determinado.


Não há uma definição sobre o tempo de vida do ciclo da notícia, mas creio que cerca de dez a quinze dias, sob circunstâncias normais, é o espaço temporal em que a notícia ascende e descende no noticiário, com capacidade de manter o interesse da audiência, até ser substituída por outro fato selecionado para ficar em destaque.


Para agendar um tema no debate público faz-se necessário um certo tempo de exploração e repercussão do assunto no noticiário para que se forme aquilo que os teóricos do agendamento denominaram “efeito enciclopédia”, isto é, a acumulação de um certo volume de informações na mente dos receptores para alimentar o debate público em torno do assunto.


O mecanismo, portanto, implica em fazer com que os assuntos sobre os quais as pessoas conversam em seus círculos de convivência sejam aqueles que a mídia pautou através dos noticiários ou mesmo da programação de entretenimento, que, definitivamente, também é uma dimensão do mundo midiático que “vive”, ou sobrevive, melhor dizendo, de audiência.


A realidade objetiva é uma abstração das nossas mentes, isto é, a realidade é, de fato, aquilo que nós percebemos como realidade. Num mundo em que estamos cercados por imagens que nos afogam num oceano de informações que nos capturam a atenção por todos os sentidos, a nossa realidade é aquela que vamos compor pelas imagens/informações que selecionamos e absorvemos pelos nossos canais receptores.


Se, como aconteceu na pandemia do Coronavírus, todas as mídias abordam o mesmo assunto o tempo todo em todas as suas grades de programação, a pandemia amplificada dessa forma torna-se uma “realidade” única, uma pauta única sobre a qual obrigatoriamente debatem todos, mesmo os adeptos das teorias da conspiração que acreditam ser esse assunto invenção de uma seita Illuminati que quer dominar o mundo. Quando o círculo se fecha dessa forma e nessa dimensão e a pauta mediatizada se impõe dessa maneira, estamos irremediavelmente agendados em escala planetária.


Para que um assunto possa ser agendado, no entanto, é preciso que ele obedeça a alguns requisitos. O primeiro deles é o efeito acumulação, isto é, a capacidade que assunto tem de gerar novas informações que permitam manter o tema em evidência por longo tempo gerando o “ciclo de vida da notícia”.


O ciclo da notícia pressupõe uma curva ascendente, um platô e um ciclo descendente de intensidade e volume de espaço que o assunto ocupa no noticiário até se esgotar e cansar o interesse do receptor pela incapacidade de gerar novidades que mantenha a atenção e a repercussão vivas.


O segundo requisito é a consonância, que vem a ser a capacidade que a notícia tem de se tornar pauta comum de outros veículos com a finalidade de reforçar o efeito de acumulação, antes descrito. O terceiro requisito é a onipresença, que não deve ser confundido com o segundo, pois trata da capacidade da notícia ser tornar assunto em todos os espaços, inclusive espaços não midiáticos.


O quarto requisito é a relevância, que é a capacidade que o assunto tem de se tornar a notícia central de todos os noticiários de todos os veículos. O quinto requisito é o chamado frame temporal, que vem a ser a capacidade de o assunto se converter de agenda da mídia em agenda do receptor.


O sexto requisito é o time lag, expressão que define o intervalo de tempo para a agenda de um veículo ou de uma mídia se tornar agenda de outras mídias. O sétimo requisito é a centralidade, ou seja, a capacidade que o assunto tem de hierarquizar a pauta do jornalismo em geral, até atingir a escala de tema central.


O oitavo requisito é o da tematização, implicitamente relacionado ao anterior, e que diz respeito à capacidade de o assunto se tornar tema, ainda que não necessariamente central, mas com potencial de ocupar espaço relevante no noticiário.


O novo requisito é o da saliência, que está relacionado à capacidade do assunto de ser assumido como pauta central do receptor. Por fim, o décimo requisito é o da focalização, que diz respeito à possibilidade de as diferentes mídias abordarem o assunto sob diferentes enfoques.


A descrição aqui desenvolvida é resultado de uma pesquisa acadêmica que identificou, listou, classificou, hierarquizou e analisou as diferentes dimensões do fenômeno tal como se processa na relação das mídias com os receptores; da imprensa com a sociedade.


Na realidade prática nem tudo obedece a esse roteiro tal como descrito, mas a essência do mecanismo é essa. Se formos analisar o ciclo da pandemia como notícia, poderemos, com facilidade, enquadrar todas as etapas e dimensões da coisa nesse esquema teórico.


As hipóteses de pesquisa em comunicação, que são objeto dessa série de três artigos, foram sistematizadas antes do advento das mídias sociais. O que se pode constatar a partir do surgimento das tecnologias digitais e da ruptura de paradigma que elas representam na relação emissor/receptor, é que os estudiosos da comunicação terão que se debruçar sobre o modelo para compreender, por exemplo, como a sociedade adquiriu ou aperfeiçoou algo que já era possível antes: a capacidade de agendamento social pautada pelos cidadãos, de forma individual ou coletiva.


A vitória do Brexit na Inglaterra, de Trump nos EUA, o impeachment de Dilma Rousseff e a eleição de Bolsonaro no Brasil, não só atestam essa possibilidade como evidenciam que a sociedade pode resistir a uma avalanche midiática sem precedentes na história, e que foi, sem sombra de dúvidas, usada politicamente para tentar bloquear a dinâmica crescente da onda conservadora mundial na eleição norte-americana e no processo político brasileiro.


Os desdobramentos desse processo ainda estão em curso e não é possível saber até que ponto a manipulação social na escala desse experimento terá capacidade de fazer a roda da história dar marcha à ré. Intuo que não.


Mesmo sem ser adepto de teorias conspiratórias que acreditam que esse tenha sido um processo pré-concebido e executado a partir de um plano maquiavélico concebido e gerenciado por forças ocultas, não tenho dúvidas de que forças nada ocultas manipularam as comunicações e o processo social e político mundial com intenções de poder, dominação e controle social e de mercados.


 


A MANUFATURA DAS NOTÍCIAS DISTORCE OS FATOS


Esse é o segundo artigo da série de três que escrevi para a Revista Terça Livre analisando o experimento social da pandemia sob a ótica da Teoria da Comunicação, mais precisamente sob enfoque de três hipóteses contemporâneas que, sob diferentes aspectos, analisam a maneira como se manipula a opinião pública através da comunicação e da política.


No artigo de hoje o assunto será tradado sob a ótica da Newsmaking, ou fabricação (manufatura) das notícias, que analisa a forma como as redações dos veículos de mídia se converteram em “linhas de montagem” que descontextualizam a informação para depois recontextualizá-las num processo que distorce a realidade, convertendo a notícia num simulacro.


No próximo artigo abordarei o assunto sob a ótica da Espiral do Silêncio, enfoque teórico que se constitui em verdadeira sociologia do comportamento humano na sua relação entre líderes e liderados ou influenciadores e influenciados, se quisermos adorar uma linguagem mais contemporânea. Nesse jogo entram os “formadores de opinião” da mídia, mas também, os líderes naturais existentes em quaisquer grupos sociais.


Para compreender-se a transformação que se processou na forma como funcionavam os veículos de comunicação antes dessa mudança e como funcionam agora, é preciso recorrer à imagem dos repórteres policiais de meados do século XX, naquelas imagens dos filmes em preto e branco, que retratavam o jornalista como um investigador que ia a campo com sua gigantesca câmera fotográfica e aquele enorme flash, tinha suas fontes nos meios policiais e do crime, desenvolvia sua própria investigação e depois voltava para a sede do jornal para redigir a notícia em sua máquina de datilografar, em tom e estilo quase literários, descrevendo os fatos como uma crônica.


Outra imagem nem tão romântica da profissão é a dos correspondentes de guerra que iam à frente de batalha munidos de câmeras fotográficas ou câmeras de cinema 16 mm relatar o que viam no campo de batalha com seus próprios olhos, pontos de vista e risco de vida. Esse tipo de jornalista acabou; é espécie extinta sem que tenha sido derramada uma só lágrima dos defensores das “espécies em extinção”.


O jornalista de hoje é apenas a peça de um mecanismo sofisticado de recepção de informações e versões prontas, captadas pela internet ou pelo telefone celular, que trabalha com a bunda na cadeira, quando muito reescrevendo as versões de supostos “fatos” que a ele chegam através de fontes interessadas, assessorias de imprensa e agências de notícias.


Não obstante essa figura chamada hoje de jornalista dar a primeira re-redação à “informação” capturada, nem mesmo esse primeiro texto, que em geral pode e é redigido por um estagiário mal remunerado, é o texto que de fato será publicado. Esse simulacro será processado por uma verdadeira “linha de montagem” que irá desfigurar a versão “original” e submetê-la a um processo de copidesque e edição com várias etapas até que esse fragmento descontextualizado seja convertido em notícia, ou não.


A distorção que se processa nessa linha de produção envolve relação entre jornalistas e fontes, os gatekeepings (portais de captura de informações dos veículos), bem como as rotinas internas à cozinha das redações onde a informação (matéria prima) é manufaturada desde antes de ingressar na “esteira” mecânica até a publicação.


Quem decide o que será noticiado e o que será descartado entre as inúmeras, talvez milhares, de informações capturadas pelo gatekeepings?


Existem normas e critérios para definir o que é ou não noticiável?


O sistema de filtros das “fábricas de notícias” envolve a hierarquia das redações e editorias e os manuais de redação de cada veículo, muito parecidos uns com os outros embora comportem especificidades.


O que as pesquisas sobre o assunto revelaram é que existe um “ecossistema” e uma “atmosfera” que influenciam por vias formais e informais a definição do que será noticiado e do que será omitido do receptor.


O mapa de influência sobre as decisões editoriais inclui a hierarquia de autoridade da personalidade pública que será objeto da notícia, por exemplo. Se por um lado autoridades públicas são objetos de alto interesse do mercado receptor, por outro lado, esse universo dos noticiáveis é integrado por gente com poder. Aqui, quando falamos de poder, falamos de gente que têm instrumentos para a prática de sanção política ou econômica ao profissional ou ao veículo; e isso faz parte da equação decisória sobre publicar ou não publicar a notícia.


Pesa também nas decisões editoriais a hierarquia interna das redações e a relação do repórter com seus superiores. Há mecanismos de sansão e recompensa dentro de empresas jornalísticas, como em qualquer empresa. A ambição do profissional influencia sua objetividade e, dependendo do caráter do indivíduo, pode ser também um fator a operar como filtro de distorção.


Outro fator relevante a considerar como filtro de distorção é o das “panelinhas de profissionais”. Como em todo ambiente de trabalho ou segmento de mercado, os jornalistas também têm seus grupinhos, que podem ser integrados por colegas de emprego ou mesmo envolver profissionais de outros veículos.


Nesses ambientes trocam-se informações, comentários e impressões sobre o objeto do trabalho, isto é, as notícias que se publicam ou que se omitem. O viés de interpretação que predominará também pode ser influenciado nesses ambientes. Nesses círculos de relacionamento profissional, novatos tendem a copiar veteranos, podendo introduzir “vícios” influenciadores de critérios de decisão e viés.


A ausência de competição por pertencimento a grupos com viés diferente do mainstream, que no jornalismo é de esquerda, também tem seu peso. Pessoas sem espírito de liderança temem a exclusão de círculos sociais de convivência e tendem a adaptar suas atitudes e posições às posições dominantes nos grupos de pertencimento, conformando um espiral do silêncio sob pressão das posições de esquerda da maioria dos jornalistas.


Todas essas condicionantes podem ser atropeladas pelo acesso a uma notícia bombástica, de alto “valor” e capacidade de ganhar manchetes de destaque e alavancar uma carreira profissional, estimulando o profissional e o veículo a quererem publicar. A regra, no entanto, é à submissão aos condicionantes antes descritos.


Cultura profissional, rotinas de produção, relações entre jornalistas e fontes, portanto, são fatores de distorção dos fatos, no contexto da descontextualização e recontextualização que caracteriza a função de transmitir ao receptor a informação que é a matéria prima da notícia, e que deveria ser um processo pautado pela busca da objetividade, mas como se vê, não é.


Outro fator condicionante é a dimensão de entretenimento que contaminou o jornalismo, num contexto em que a publicidade paga proporcionalmente ao tamanho da audiência invade o noticiário com aquilo que se pode chamar de “jornalanda”, que caracteriza a propaganda camuflada como notícia.


Nesse contexto, não se pode deixar de registrar que a atenção do espectador é sempre mais mobilizada para a notícia ruim do que para a notícia boa. Todo noticiário ou veículo impresso trabalha com peso e equilíbrio temático de cada edição. À notícia ruim, portanto, corresponderá um contrapeso, jamais na proporção. A título de exemplo, um telejornal pode ocupar 90% do seu tempo com uma notícia ruim, mas impactante – a pandemia do Covid19 -, e no seu bloco final encerrar com a notícia do nascimento de mais um filhote de ursinho panda no zoológico de Shangai, a título de amenizar a tortura dos outros blocos do noticiário.


O tamanho/espaço disponível em cada edição, assim como a necessidade de equilibrar tipos diferentes de notícias, também são fatores condicionantes de distorção. Pressão de prazos e qualidade da matéria prima (imagem/som), da mesma forma, interferem na decisão de publicar ou não. Cada veículo trabalha com seus critérios e exigências de qualidade. Um fato relevante cuja qualidade de imagem/som podem não satisfazer esses critérios pode resultar na omissão de uma notícia que, sob o ponto de vista jornalístico, seria do interesse do mercado receptor.


A frequência de acesso às fontes também é um fator a influenciar a noticiabilidade, dada a importância de explorar o ciclo da notícia com a exploração de dimensões novas do fato, com vistas a manter vivos o interesse e a atenção da audiência. A limitação de acesso à fonte, portanto, é outro condicionante capaz de influenciar na publicação ou não de uma informação, ainda que a mesma seja relevante do ponto de vista do receptor.


A exclusividade do furo e a expectativa de publicação por veículos concorrentes é outro fator a influenciar a noticiabilidade.


Dito isso, basta o leitor fazer um exercício de raciocínio simples ao alimentar a boca da linha de montagem de uma agência de notícias internacional com a informação sobre o surgimento de um novo e perigoso vírus no mercado popular de uma cidade da China e acompanhar o que acontece ao longo da esteira mecânica nos doze meses seguintes, tendo em consideração o que agora já sabe, depois de ler sobre Agenda Setting e Newsmaking.


A notícia, submetida às rotinas de produção a às circunstâncias condicionantes tal como aqui descritas, alimenta as pautas que tendem a se tornar agenda midiática e, consequentemente, a agenda do receptor e pauta do debate social.


Como se vê, nem todo o problema recai sobre a responsabilidade do viés esquerdista da maioria dos jornalistas. O viés predominantemente de esquerda dos colegas, apenas agrava as distorções. O problema tem uma dimensão maior e requereria uma reformulação dos veículos de mídia, o que não parece estar no horizonte dos tomadores de decisões nesse mercado viciado.


 


ESPIRAL DO SILÊNCIO: A DINÂMICA SOCIAL DA FORMAÇÃO DA OPINIÃO PÚBLICA 


Esse é o terceiro e último artigo, da série de três, que escrevi para a Revista Terça Livre analisando o experimento social da pandemia sob a ótica da Teoria da Comunicação, mais precisamente sob enfoque de três hipóteses contemporâneas que analisam a maneira como se manipula a opinião pública através da comunicação e da política.


No artigo de hoje, o assunto será tratado sob a ótica da Espiral do Silêncio que, para além de ser apenas uma teoria do campo da comunicação, é também uma teoria sociológica sobre o comportamento do ser humano em círculos de convivência social e sobre a maneira como se dá o jogo de influências de líderes sobre liderados na conformação da opinião pública dominante sobre determinados temas.


A hipótese teórica original é da pesquisadora alemã, Elisabeth Noelle Neumann que, intrigada com a baixa autoestima do povo alemão na década de 1950, após as duas derrotas nas guerras mundiais e a experiência da República de Weimar no período entre guerras, decidiu investigar a influência dos colunistas de opinião da imprensa sobre a formação da opinião pública.


A origem da hipótese se situa na constatação da percepção seletiva dos jornalistas e suas rotinas de descontextualização e recontextualização dos fatos, e no “efeito acumulação”, que foram objetos dos dois artigos anteriores desta série.


Para Elizabeth Noelle Neumann, ao contrário do que afirmam os teóricos da agenda setting, para quem a mídia não tem o poder de “fazer a cabeça” dos espectadores através dos conteúdos publicados, mas sim, pelo poder de pautar ou não pautar quais assuntos serão ou não objeto do debate público.


Para a autora, o consenso social em torno de temas do debate público resulta de uma dinâmica de adaptação das opiniões individuais ao meio em que se vive. A construção desses consensos, concentrados pela soma das opiniões individuais, seria a base do poder dos governos que nas democracias modernas assenta-se sobre a opinião das maiorias.


Segundo Neumann, o ser humano é atavicamente inclinado à vida social e o temor ao isolamento seria um sentimento muito forte nos indivíduos, notadamente naqueles não vocacionados para a liderança. Esse sentimento seria exacerbado no contexto da sociedade de massas, convertendo-se em fator coercitivo à adaptação dos indivíduos aos seus grupos de convivência.


Esse sentimento acompanha o ser humano desde os tempos das cavernas, quando a vida em grupo se impôs como forma mais eficaz de proteção contra as adversidades da vida inóspita daqueles tempos, e teria deixado suas marcas geneticamente impregnadas nas gerações seguintes.


Inicialmente essa influência do grupo sobre os indivíduos era limitada aos círculos sociais de convivência física e geográfica próximas. Numa sociedade hiper mediatizada como a contemporânea, na qual vivemos imersos num oceano de imagens que nos cercam por todos os lados, essa influência se tornou mais forte e complexa, expandindo-se dos ambientes de convivência interpessoal para um contexto de influência mediatizada pelos diversos veículos de mídia.


A equação da influência não se baseia apenas no poder explícito que a opinião verbalmente externada por líderes exerce sobre liderados, mas também sobre o cálculo que os indivíduos não vocacionados à liderança fazem sobre o que imaginam que os outros pensam ou podem vir a dizer.


Dessa compreensão é que nasce a ideia de “espiral do silêncio”, pois o temor ao isolamento leva a maioria a moldar o clima de opinião pela opção deliberada de calar-se ou de passar a ser um mero reprodutor da opinião dominante, comportamento esse movido pelo desejo de aceitação social.


A percepção dessa dinâmica, que na construção teórica de Elizabeth Noelle Neumann, nasceu da observação da autora sobre a influência dos cronistas de opinião da imprensa alemã da época sobre a construção do clima nacional de opinião sobre a imagem que o povo da Alemanha fazia de si mesmo, foi, posteriormente aprofundado pelas pesquisas de dois norte-americanos, Tony Rimmer e Mark Howard,  que constataram que a descoberta de Neumann tinha implicações mais amplas, podendo ser aplicada à análise das influências interpessoais nos círculos de convivência.


O experimento social da pandemia do coronavírus talvez se preste a um estudo sem precedentes sobre a forma como foi possível enquadrar a população mundial, movida pelo medo da morte, a um processo de coerção social sem precedentes que operou com maestria a conformação de uma “rede mundial de comunicações”.


As mídias operando em uníssono, impuseram um verdadeiro monopólio da versão interpretativa dos fatos, despejados por todos os meios, o tempo todo pelo período de um ano, praticamente permitiram conformar o comportamento dos indivíduos e descer do patamar da coerção midiática para a coerção governamental e de indivíduos sobre indivíduos nos círculos de convivência social em todo o mundo.


Os pressupostos da teoria são de que a sociedade ameaça os recalcitrantes com o isolamento. Os indivíduos, por sua vez, temendo o isolamento, adaptam-se ao clima de opinião dominante. Esse comportamento individual, ao tornar-se coletivo, conforma a opinião pública dominante.


A tematização da pandemia por todas as mídias, o tempo todo abordando o assunto sob a mesma ótica e desmoralizando as visões divergentes, combinando o efeito psicológico do medo da morte com o temor ao isolamento social, e operando de forma explícita no noticiário e de forma latente no psiquismo dos indivíduos, explica de forma evidente o que estamos vivenciando desde as origens das primeiras notícias sobre o surgimento do vírus em Wuhan, na China, em outubro/novembro de 2019 até hoje, uma ano depois.


O que vai nas linhas desse artigo e dos outros dois que compõem a série é apenas um insight analítico em caráter de ensaio teórico. A gravidade e as implicações desse experimento autoritário para o futuro da liberdade na sociedade humana mereceriam uma pesquisa científica séria. Duvido que ela aconteça dada a espiral do silêncio vigente nas universidades do mundo todo, dominadas pela visão dos patrocinadores da pandemia do medo e do silêncio.




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