Romildo Bolzan: “Sucesso do Grêmio vem da preservação de jovens valores”

Presidente Romildo Bolzan Jr comenta os mil dias no comando do Grêmio – Foto: Angelo Werner / Especial / CP

Próximo de chegar aos mil dias no comando do Grêmio, o presidente Romildo Bolzan Júnior recebeu a reportagem do Blog Diálogos, do Correio do Povo, para falar sobre o sucesso que o clube vem conseguindo desde 2016, quando conquistou a Copa do Brasil. Além de comentar qual é a “fórmula do sucesso”, o mandatário gremista revela como estão as finanças do Tricolor, a importância de Renato Portaluppi para o momento, o futuro de Luan e se Lucas Leivas pode retornar ao clube. Confira:

Correio do Povo (CP): Qual é a avaliação que o senhor faz desde o seu primeiro mandato em 2015?

Romildo Bolzan Júnior: O Grêmio precisava ter uma situação de um novo posicionamento em relação as suas questões financeiras. Isso foi feito, principalmente, nos dois primeiros anos. Conseguimos, de certa forma, dar uma equacionada, mas não conseguimos criar receitas novas. Só fizemos o viés da despesa. Portanto, o processo ainda não está pronto. Ele precisa ser equalizado e resolvido. Desde o começo, nós demos quatro anos para resolvê-lo e estamos com o prazo de quatro anos para resolver tudo isso.

Presidente Romildo Bolzan sucedeu Fábio Koff pressionado pelo jejum de títulos – Foto: Luciano Amoretti / Divulgação / Grêmio / CP memória

O Grêmio constituiu um time muito competitivo e ganhou um campeonato. Neste ano, continuamos competitivo. O resumo da situação é essa: temos um controle da situação, mas os custos financeiros e os custos do Grêmio nos assustam, pois demandam o tanto de campeonato que disputamos e isso tem uma despesa enorme, ter que fazer grupo para tudo isso, e procuramos equalizar essas questões. Ainda é um processo em andamento, mas o Grêmio é competitivo e vai procurar buscar campeonatos ainda este ano.

CP: O senhor acredita que conseguirá completar o projeto em quatro anos?

Romildo Bolzan Júnior: O projeto de equalização financeira de receita e despesa equilibrada, sim. Mas, estamos com uma situação economicamente muito saudável, pois contratualizou receitas até 2024, mas tem coisas de curto prazo a cumprir. Elas nos deixam bastante comprometidos, pois não temos fluxo de caixa suficiente, mês a mês, para cobri-las inteiras. No momento que equalizar isso, vai.

Este ano tivemos que fazer algumas situações por conta da disputa, da grandeza do campeonato que ganhamos ano passado e por conta da continuidade. Então, a questão financeira  têm receitas previsíveis e também teremos que utilizar de venda de jogadores para poder fazer mais receitas para complementar a nossa realização orçamentária do ano de 2017.

CP: Como foram as dificuldades para montar esse grupo que é considerado um dos melhores do Brasil?

Romildo Bolzan Júnior: Primeiro lugar foi substituindo algumas peças que efetivamente já tinha dado para o clube tudo aquilo que poderiam ter dado. Eram jogadores importantes, mas acabou um ciclo. A segunda foi privilegiar a base e manter a continuidade. Depois foram agregados jogadores cujo perfil atendiam perfeitamente aquilo que se desejava de um grupo competitivo. Esta mescla teve continuidade de dois anos. Então, reputo o sucesso de tudo isso à política da base, a preservação de jovens valores, agregação de valores mais experientes e a continuidade de tudo isso somando as coisas que poderiam melhorar. Essa é a receita que deu certo no futebol do Grêmio.



CP: Como o senhor conseguiu superar a pressão da torcida por títulos, passar pelos confrontos políticos internos e montar um time em condições de disputar títulos sem sofrer as críticas ferozes que ocorriam contra o Grêmio?

Resultados em campo e boa administração apaziguaram os “ânimos políticos” no clube – Foto: Mauro Schafer / CP memória

Romildo Bolzan Júnior: Bom processo de diagnóstico e a política da base. Reputo a política da base e a promoção de novos jogadores, a questão mais importante. Quer dizer, não adianta ter isso como discurso. Isso tem que efetivamente acontecer. Tem que ter também comissão que pense desta maneira também e priorize isso. Tivemos essa situação e hoje praticamente metade do time que joga é oriundo da base. É uma cultura do clube. Uma formação do clube e o profissional pode só aperfeiçoar isso.

A melhor condição para formar o time foi a política realizada com a preservação dos jogadores da base. Não vendê-los no momento que estavam surgindo. Tirar o ganho desportivo deles, criar condições de jogar e, depois, realizar com eles uma perspectiva de carreira diferente. O Grêmio não quer trancar a porta de ninguém. No momento que for bom para eles e para o clube, onde todo mundo ganhe e que todos vão para a frente, vamos lá… Como aconteceu com o Walace e outros jogadores. Neste momento, o Grêmio está precisando deles para ter competitividade. Se sair um ou outro, é porque tem substituto em vista. Dentro do próprio elenco, na base ou que venha de fora.

CP: Quem são os responsáveis pelo momento que o Grêmio vive dentro de campo?

Presidente Romildo Bolzan deu a primeira oportunidade em um grande clube ao técnico Roger Machado, atualmente no Atlético-MG – Foto: Lucas Uebel / Grêmio / Divulgação / CP

Romildo Bolzan Júnior: Todos. O processo de decisão no Grêmio é um processo coletivo. Quer dizer, o Grêmio tem seu conselho de administração que atua de maneira muito orgânica. É um conselho que tem presidente e seis vices. Atua muito fechado e debate todos os assuntos relativos ao Grêmio. Tem uma comissão técnica muito identificada com o clube, muito atenta e muito competente. Além disso, tem no futebol um grupo que está muito disposto a vencer e muito vinculado entre eles. Creio que estas questões de um bom equilíbrio emocional, de uma boa situação de convivência, de cumplicidade para jogar bola… de se proteger, se defender, de se cobrir, de atacar e de ter superação no jogo, que é próprio desse elenco… isso tudo é a resposta para a tua pergunta.

CP: O Grêmio é o melhor time do Brasil no momento?

Romildo Bolzan Júnior: “O Grêmio joga um grande futebol, mas eu não sei se é o melhor time do Brasil. Fazendo uma colocação inversa, para derrotar o Grêmio tem que fazer força. Essa é a prova maior que o Grêmio joga um bom futebol.

CP: Após a derrota no Gauchão, o senhor se reuniu com o grupo e, a partir daquele momento, o futebol do Grêmio voltou a encantar o Brasil. Ela foi determinante para a mudança presidente?

Romildo Bolzan Júnior: Eu reputo como coincidência. Porque as condições de competição estavam postas naquele momento. A reunião se deu quando terminou o Campeonato Gaúcho e o começo das demais competições. Foram 11 dias de vazio. A impressão que se tinha é que estava todo mundo no mundo da lua naquele período. Porque não íamos disputar o Campeonato Gaúcho e estávamos em um processo assim… ‘Bom, aconteceu… fazia tempos que não ganhávamos o Campeonato Gaúcho e estamos acostumados com isso’. Na verdade, esse processo foi de ajuste com a comissão técnica. Com todo mundo para organizar esse ambiente.

Romildo identifica na base é um dos pontos que fez o Grêmio voltar a conquistar títulos – Foto: Lucas Uebel / Grêmio / Divulgação / CP

O ambiente tinha uma metodologia para que isso acontecesse. Quer dizer, íamos conversar com os jogadores no vestiário. O Renato ia conversar com os jogadores. Iríamos tornar públicas algumas questões que poderiam ser tornadas públicas daquele debate. Jogadores iriam se manifestar. Criamos um ambiente de começo de campeonato. Zerou aquele processo e vamos começar uma nova fase.

Para fazer a nova fase, tínhamos que diagnosticar o que estávamos enfrentando, principalmente, no mês de maio. Naquele mês, tínhamos as oitavas de final da Copa do Brasil. A finalização da primeira fase da Libertadores e o começo do Brasileiro. Se não passássemos do Fluminense sofreríamos com questionamento. Se não começássemos bem o Campeonato Brasileiro sofreríamos questionamentos. Aquilo deu, de certa forma… não a minha contribuição para o debate, mas o diagnóstico daquele momento foi avaliar tudo isso. O que queremos? Vamos terminar o ano no mês de maio? Vamos avançar a partir daqui.

Depois da avaliação e de mais algumas colocações de ordem de temperamento, de comportamento, de justificação, do recebimento de críticas, do sucesso excessivo, de como se comporta quanto a isso… quer dizer, as questões de confiança que a direção estava dando ao grupo, tudo isso foi objeto daquele debate e resultou em uma situação extremamente positiva que fez o grupo se mobilizar. Não foi o trabalho do presidente, mas o trabalho conjunto de metodologia que deu aquele grupo a dimensão que ele tem hoje porque ele precisa ouvir algumas questões de confiança. Que todo mundo confiava neles. E eles fizeram exatamente o que tinha que ser feito.




CP: Desde que assumiu, o senhor fala para a torcida o Grêmio que tem o desejo de conquistar o Campeonato Gaúcho. Muitos gremistas não entendem essa sua atitude, os senhor poderia explicar?

Romildo divide o bom momento do Grêmio com o conselho de administração e com todos que fazem o dia a dia do clube – Foto: Fabiano do Amaral / CP memória

Romildo Bolzan Júnior: “É que quando estamos jogando Gauchão não tem muita coisa para jogar. É o Gauchão e mais alguma fase da Libertadores, que temos jogado todas. Então, o Gauchão é o seguinte. Estava muito preocupado e queria derrubar a hegemonia do Inter. Seis anos, mas agora estou mais tranquilo porque o Novo Hamburgo fez esse serviço (risos). Então, a gente fica em uma situação mais tranquila.

Gostaria, como presidente, ganhar um campeonato regional. Acho importante recuperar a hegemonia gaúcha. Faz sete anos que não ganhamos e acho que está na hora de ganhar.



CP: Existe perspectiva de algum reforço?

Romildo Bolzan Júnior: Trabalhamos neste sentido. Tem situações que estamos avaliando, Não é fácil fechar, mas é uma situação que me parece possível. Se for possível, vamos fechar.

CP: O Grêmio já revelou que gostaria de contar com ele e o Lucas Leivas revelou que um dia voltará ao clube, alguma novidade presidente?

Romildo Bolzan Júnior: Não! O Lucas tem uma história conosco e quando o jogador, de uma maneira insistente, diz na mídia que, se tiver que voltar para o Brasil, a prioridade é o Grêmio, temos que olhar com outros olhos. Além de ter vínculos, ele também vai ter um comportamento de exemplo com os seus colegas e empatia com a torcida”.

Não sei se vai ser possível. Acho muito difícil, pois acho que o Lucas tem um bom tempo de Europa. Mas se um dia voltar para o Grêmio, voltará em uma posição diferente. Voltará como atleta, mas também com perspectiva de, talvez, fazer um encaminhamento no clube muito mais longo do que jogador de futebol. Ele tem o perfil para isso. Imagino um projeto com ele desta natureza. É fácil construir esse projeto? Não, não é fácil, pois ele têm perspectivas bem mais compensatórias de jogar na Europa.

Marca de Romildo Bolzan na presidência do Grêmio é a tranquilidade. Na imagem, o presidente corta o cabelo na véspera da decisão da Copa do Brasil em Minas Gerais – Foto: Mauro Schaefer / CP memória

CP: E a situação do Luan? Tem proposta? O clube vai conseguir renovar? Teme perder o jogador?

Romildo Bolzan Júnior: Tenho mantido um contato de alto nível com os representantes deles e não tenho medo de perdê-lo. Ele é um jogador que, pelo que está jogando, tem que ser valorizado. Se tiver proposta que seja condizente com esse raciocínio, vamos tentar… Ele é um jogador de 24 anos. Ele, naturalmente, tem condições de ascender na sua vida profissional e temos que respeitar isso. É um jogador que precisa, talvez, fazer coisas diferentes. Receber novos estímulos e ter uma consolidação da sua vida financeira. Tem bola para jogar em qualquer time do mundo e isso gera uma expectativa para ele. Nos deu um ganho importante. Nos deu um campeonato (Copa do Brasil). É um jogador que está chegando na hora daquilo que é o pensamento mais comum destes momentos. O que é bom para ele, bom para o clube, temos que sentar e ver. Mas, até o momento, não chegou nada que pudesse ser avaliado.

CP: O clube terá um impacto financeiro muito grande caso ele fique no Grêmio?

Romildo Bolzan Júnior: É o preço do craque. Não tem o que fazer. (risos). Craque é craque e se paga como craque. Na medida que o clube pode. Vamos pagar mais ou menos o que os clubes brasileiros pagam para os seus craques.

CP: A importância do Renato Portaluppi para esse novo momento do Grêmio?

Romildo Bolzan Júnior: O Renato tem uma relação com o clube, tem uma empatia com a torcida, sua forma de se relacionar com o grupo de jogadores, a sua maturidade técnica, a sua maturidade de profissional dá o resultado que está dando. Se alguém se surpreende é porque não convive com ele no dia a dia. O resultado do seu trabalho é exatamente essa excelência que se tem do seu resultado.

Contratação de Renato Portaluppi também foi realizada por Romildo Bolzan – Foto: Lucas Uebel / Divulgação / CP memória

Eu vejo o Renato hoje como um treinador de ponta no futebol brasileiro e extremamente preparado para isso. Vamos usar a linguagem que ele gosta. Não é um sujeito que tenha tido grandes cursos, mas é um sujeito que se preparou na experiência vivida. Nas experiências que teve nos clubes que passou. Nas suas experiências de vida. No campo observando e, principalmente, aprendendo com outros treinadores. Além de ser cercado por uma excelente comissão técnica. (…) Acho ele um treinador fantástico. Tenho por ele uma profunda admiração profissional.

CP: Novidades no caso da Arena presidente?

Romildo Bolzan Júnior: A Arena é um assunto muito complexo, muito difícil e envolve muitas partes. Enquanto todas não foram abotoadas, não tem solução. Ainda existem algumas pendências. Em especial duas: uma com um banco e com a própria resolução do entorno, que é uma inadimplência da própria OAS com os empreendimentos aqui. Resolvidas essas questões, avançaremos. Como tem muitas pessoas tratando destes assuntos, eles podem ser resolvidos. Não sei quando e não tem um prazo para isso, mas eles podem andar. A gente trabalha no sentido de ajudar para a finalização destas pendências.

CP: Como está a vida do presidente do Grêmio que, além dos problemas naturais, ainda mora em Osório?

Romildo Bolzan Júnior: A minha vida é organizada. Tenho a minha vida profissional (o presidente é advogado e atua na sua cidade natal) e procuro cumprir os horários que me destinei. Os horários que cumpro com o Grêmio são os que eu destinei para o Grêmio. Cada em seu devido tempo. Qual é o que dispenso mais tempo? Para o Grêmio e faço isso com decisões compartilhada com o conselho de administração. Com muita conversa.

O presidente de um clube de futebol tem um papel importantíssimo na hora de justificar as decisões e os processos de decisão. Elas são coletivas, mas é o presidente que justifica elas. A coisa mais importante é você posicionar o clube nestes processos de modo que todo mundo entenda, compreenda e aceite. Tem que estar convencido que aquele é o caminho correto e convencer uma nação inteira que tem que te ouvir e aceitar o que você está dizendo.

Ser presidente do clube, dar informações e dizer que a torcida assimilou tudo isso, que compreendeu o momento do clube e está participando dele, fico muito honrado. Tirando o sono que eu perco todos os dias com as questões financeiras, a minha vida de presidente é só alegria.

Romildo Bolzan terá que vender um jogador para fechar o orçamento dentro do previsto – Foto: Carmelito Bifano

CP: O Grêmio tem necessidade de vender algum jogador na temporada?

Romildo Bolzan Júnior: O Grêmio precisa realizar receitas com venda de jogadores ou de outra forma na ordem de R$ 60 milhões, aproximadamente. Se for por venda ou de outra maneira, não importa, mas terá que realizar R$ 60 milhões para concluir a realização de receita do seu orçamento. A mais fácil é buscar na venda de jogadores. Acho que vamos ter que vender jogadores, sim.

CP: Qual o recado final para o torcedor do Grêmio?

Romildo Bolzan Júnior: Compareça, acredite, vibre, torça, sem violência, mas o Grêmio hoje é motivo de muito orgulho para todos nós, que estamos envolvidos e para aqueles que estão participando do Grêmio. Não é de graça que essa torcida levou o Grêmio a ser o clube mais popular do Rio Grande do Sul em todas as faixas sociais, segmentos e regiões. É o maior clube do Rio Grande do Sul, estatisticamente comprovado. Então, esperamos que essa torcida nos acompanhe em todos os jogos para que estimule o time a manter esse perfil e essa forma de jogar que está encantando todo o Brasil.

* por Carmelito Bifano


Correio do Povo

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