Lista de ministério omite suposta contaminação em granjas da BRF

Thâmara Kaoru e Nivaldo Souza

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

 

  • Getty Images

O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento divulgou uma lista com os motivos pelos quais as 21 empresas da Operação Carne Fraca estão sendo investigadas, mas não incluiu entre as suspeitas sobre a BRF (dona de Sadia e Perdigão) a hipótese de contaminação por salmonella em granjas e em um lote de carne barrado na Itália.

Questionado pelo UOL, o ministério afirmou que a lista divulgada pelo órgão foi feita pela Polícia Federal. A PF, por sua vez, não respondeu até a publicação desta matéria. A BRF nega irregularidades (leia mais abaixo).

Segundo o documento disponibilizado pelo ministério em seu site, a BRF é investigada por corrupção, embaraço da fiscalização internacional e nacional, e tentativa de evitar a suspensão de exportação. A lista não cita o problema da bactéria.

Diálogo mostra contaminação, segundo PF

No relatório de investigação da Polícia Federal, há um diálogo entre funcionários da BRF falando sobre a contaminação de granjas com bactérias.

Em um dos áudios, uma funcionária liga para um dos acusados na investigação e diz que a BRF tem 74 granjas de frango e 75 de peru que não são registradas e, por isso, teriam que atender normas mais rígidas e passar por análises feitas em laboratórios oficiais do Ministério da Agricultura.

Segundo o diálogo, granjas da empresa teriam contaminação por salmonella. Não fica claro se isso aconteceria nas 74 granjas de frango e nas 75 de peru. O juiz federal Marcos Josegrei da Silva, responsável pelos processos da Operação Carne Fraca, mencionou em decisão que só duas unidades da BRF estariam contaminadas --ele não informa qual.

"Qual o nosso problema aí? A gente tem incidência de salmonella", disse a funcionária.

Ela, então, pede ajuda a outro funcionário para conseguir registrar essas granjas e evitar que precisem passar por análises externas. Com isso, a própria BRF certificaria a carne. "E cada análise que a gente faz é um risco que a gente tá [sic] correndo de dar um resultado que o lote inteiro não vai ser recebido", afirma.

A investigação da Polícia Federal aponta, ainda, que a BRF teve uma carga de carne com salmonella proibida de entrar na Itália. Ao menos quatro contêineres teriam sido identificados com traços de uma das variações da bactéria.

O que dizem a empresa e o ministério

De acordo com a BRF, a conversa entre os funcionários "não revela nenhuma irregularidade, apenas o interesse dos funcionários em obter o cadastro das granjas". A empresa diz que a preocupação dos funcionários em relação aos testes está relacionada aos custos e à demora para obter informações.

"Em relação à salmonella, cabe à empresa, em conjunto com as autoridades sanitárias competentes, a decisão do procedimento que deverá ser tomado previamente à comercialização sem oferecer risco ao consumidor", disse a companhia, em nota.

Sobre a carne barrada na Itália, a empresa afirmou que a legislação europeia permite níveis de bactéria do tipo salmonella Saint Paul na carne in natura (fresca) que entra na região "e, portanto, não justificaria a proibição de entrada na Itália".

A BRF também rejeita a acusação de que poderia haver contaminação por salmonella em seus produtos finais, após o processamento da carne. Segundo a empresa, "existem cerca de 2.600 tipos da bactéria comum em produtos alimentícios de origem animal ou vegetal", mas a companhia afirma que "todos os tipos são facilmente eliminados com o cozimento adequado dos alimentos". 

O que a salmonella causa?

De acordo com a Secretaria de Vigilância em Saúde, órgão do Ministério da Saúde, a salmonella pode causar falta de apetite, náuseas, vômitos, diarreia, dores abdominais e febre. Segundo o dr. Eitan Berezin, infectologista e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, há também o risco de que a contaminação por salmonella evolua para uma infecção disseminada, que atinja diversos órgãos.

 

UOL Economia

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