Os Correios iniciam hoje (11) a campanha Papai Noel dos Correios de 2016. Realizada há 27 anos, a campanha tem o objetivo de responder às cartas das crianças que escrevem ao Papai Noel e atender aos pedidos de presentes daquelas que estão em situação de vulnerabilidade social.
“É a campanha mais bacana dentro da empresa. As cartas ficam à disposição para a pessoa adotar e proporcionar um Natal diferente àqueles que estão pedindo para serem lembrados. Às vezes, é a única oportunidades para as crianças ganharem um presente no fim do ano”, disse o presidente dos Correios, Guilherme Campos.
O lançamento oficial da campanha será na sede histórica da empresa, em São Paulo. A ação vai até o dia 16 de dezembro e as informações estarão disponíveis no blog dos Correios.
Em 2015, mais de 830 mil cartas foram recebidas pela empresa, cerca de 570 mil selecionadas e 460 mil adotadas.
Em todo o Brasil, as cartas enviadas pelas crianças são lidas e selecionadas pelos funcionários dos Correios. As que atenderem aos critérios da campanha são disponibilizadas para adoção na casa do Papai Noel ou em outras unidades. Os Correios não entregam cartas para adoção diretamente à população, em suas residências, elas ficam disponíveis apenas nos locais indicados pela empresa.
Os presentes destinados a cada carta adotada são encaminhados para que posteriormente os Correios façam a entrega. Não é permitida a entrega direta do presente e, para assegurar o cumprimento desse critério, o endereço da criança não é informado ao padrinho.
Entre os requisitos, as cartas devem ser manuscritas, remetidas por crianças e conter, preferencialmente, pedidos de brinquedos, material escolar e roupas. Desde 2010, os Correios estabeleceram parcerias com escolas públicas, creches e abrigos que atendem a crianças em situação de vulnerabilidade social. O objetivo é auxiliar no desenvolvimento da habilidade de redação e de endereçar a carta.
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Contrariando expectativas
A Petrobras contrariou expectativas e anunciou prejuízo de R$ 16,458 bilhões no terceiro trimestre. Analistas esperavam lucro de R$ 1,517 bilhão.
A empresa tinha divulgado saldo positivo no segundo trimestre do ano, de R$ 370 milhões, depois de três semestres consecutivos de deficit.
Pela segunda vez em menos de uma semana, as contas do governo do Rio foram bloqueadas por atraso no pagamento de dívidas com a União. Desta vez, R$ 140 milhões foram congelados. O primeiro bloqueio tinha sido de R$ 170 milhões.
Sem acesso ao dinheiro, o governo deve ter mais dificuldades para pagar os salários dos servidores. A secretaria da Fazenda do Rio prevê que o congelamento dure até sexta-feira. O Estado deve cerca de R$ 64 bilhões para o governo federal. Leia mais
O dólar teve hoje a maior alta em diária em oito anos. A moeda subiu 4,73%, cotada em R$ 3,361. Esse também é o maior valor de fechamento desde julho deste ano.
Já a Bovespa fechou em queda de 3,25%, para 61.200,96 pontos. Essa é a maior baixa percentual diária em dois meses e a segunda perda seguida da Bolsa. As quedas nas ações da Petrobras e principalmente nas dos bancos influenciaram no desempenho negativo do índice. Leia mais
Em um ano de epidemia, vírus Zika mudou a forma como mulheres encaram a gravidez
Débora Brito – Repórter da Agência Brasil
Grávidas no ambulatório da Maternidade da Encruzilhada, no Recife Imagens/TV Brasil
O medo das consequências da infecção do vírus Zika e o impacto emocional das primeiras notícias sobre a epidemia mudaram o significado da gravidez para a mulher brasileira desde o fim de 2015. Nesta sexta-feira (11) completa um ano desde que o Ministério da Saúde decretou a epidemia como Situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional.
A técnica de enfermagem Rosângela Veloso trabalha há mais de 20 anos no Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros, conhecida como maternidade da Encruzilhada, no Recife (PE). Acostumada à rotina de auxiliar os médicos nos exames de ultrassom, ela conta que a epidemia afetou o comportamento das pacientes. “Antigamente, a preocupação era o sexo, hoje em dia é o tamanho da cabeça. Os médicos dizem que a fase da gravidez mais atuante para desencadear a síndrome é de cinco meses em diante, mas no primeiro ultrassom ela já quer saber o tamanho da cabeça”, relata Rosângela.
O obstetra e gestor executivo da maternidade, Olímpio Moraes Filho, tem a mesma impressão de sua colega. “Antigamente as mulheres iam felizes fazer ultrassom, hoje parece que estão entrando numa câmara de gás, parece uma tortura, é um medo tremendo. A gravidez tornou-se um sofrimento muito grande para as mulheres e não estamos oferecendo informações seguras para elas, porque a zika surgiu há pouco tempo”.
Mulheres buscam no exame de ultrassom descobrir se o tamanho da cabeça do bebê está adequada ao desenvolvimentoImagens/TV Brasil
A percepção dos profissionais da maternidade comprova-se por estudos feitos com as grávidas. O Instituto Patrícia Galvão e o Data Popular divulgaram pesquisa com gestantes de todas as regiões do país que fizeram o pré-natal pelo SUS, no contexto da epidemia. O estudo mostra que 6 em cada 10 têm medo de fazer o ultrassom e descobrir que o bebê tem microcefalia. Apesar do temor, mais da metade delas gostariam de fazer mais exames durante o pré-natal. A pesquisa revela ainda que 31% dessas mulheres não programaram a gravidez, 23% temem o período da gestação devido à possibilidade do bebê ter algum problema e 99% delas sabem que se a gestante for infectada pelo zika, o bebê pode ter microcefalia.
A preocupação é ainda maior entre aquelas que não planejaram a gestação, realidade comum entre as pacientes da maternidade da Encruzilhada. “Nós temos uma clientela normalmente de baixa renda, com pouca informação. Só procura informação a respeito da zika e dos males que o mosquito provoca quando engravidam. A maioria do nosso público é jovem, meninas com menos de 20 anos. Elas chegam aqui amedrontadas, com pouca informação sobre como lidar com aquela situação, porque para elas é tudo muito novo. E agora mais essa problemática do vírus com a probabilidade do bebê nascer com sequelas.”, relata a técnica de enfermagem Vilma Martins.
Saiba Mais
- Mulheres afetadas pelo Zika se mobilizam em busca de apoio e informação
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Planejamento e direitos reprodutivos
Os riscos da epidemia e o desconhecimento sobre os reais efeitos da Síndrome Congênita do Zika levaram o Ministério da Saúde, e em seguida a Organização Mundial da Saúde, a recomendarem que as mulheres adiassem os planos de engravidar. A recomendação acendeu o debate acerca do planejamento familiar e dos direitos relacionados à reprodução e à sexualidade.
Para a representante do Fundo de População das Nações Unidas, Fernanda Lopes, a crise trouxe uma oportunidade de falar sobre os direitos reprodutivos e planejamento familiar. “A epidemia do vírus Zika revela primeiro que os direitos das mulheres não são considerados como direitos de primeiro plano, em especial o direito em decidir por uma gravidez nesse momento, dentro desse contexto de emergência sanitária, em especial, o direito de planejar de forma voluntária, sem coerção, sem discriminação, sem violência a sua vida reprodutiva” defende Fernanda.
A decisão de engravidar ou não e quantos filhos ter é um direito previsto na Constituição Federal. O artigo 226 diz que o casal tem liberdade de planejar sua vida familiar e reprodutiva e o Estado deve garantir os recursos para exercício desse direito. Em 1990, o Brasil regulamentou essa questão com a edição da Lei do Planejamento Familiar que, entre outros pontos, inclui o direito à esterilização voluntária. Apesar das políticas, a gravidez não planejada é uma realidade no Brasil: segundo o Inquérito Nacional sobre o Parto e o Nascimento, 30% das mães entrevistadas não queriam engravidar.
A recomendação para adiar ou planejar a gravidez esbarra em outro direito: o de acesso aos métodos contraceptivos, principalmente entre a população que está mais vulnerável à epidemia. A Pesquisa Nacional sobre Acesso, Utilização e Promoção do Uso Racional de Medicamentos no Brasil (PNAUM 2014) revela que 89,4% das mulheres não grávidas tinham acesso a contraceptivos orais e injetáveis, em serviços públicos ou privados de saúde. Entre as jovens de 13 a 19 anos, 13,2% não tinham acesso. As regiões Centro-Oeste e Nordeste apresentaram as maiores proporções de acesso nulo aos métodos, 15% e 10,4%, respectivamente.
As Unidades Básicas de Saúde deveriam ter todos os métodos contraceptivos disponibilizados para a população. Mas, na prática, há dificuldades para atender toda a demanda. A farmácia popular da maternidade do Cisam, no Recife, por exemplo, mantém o estoque com as doações que recebe de laboratórios farmacêuticos e as remessas não são constantes. Os postos de saúde passam por problemas semelhantes. Em João Pessoa (PB), uma das unidades de saúde da família oferece todos os métodos contraceptivos, mas os que são mais utilizados, pílula combinada e injetável, acabam logo. A remessa que deve ser enviada anualmente pelo Ministério da Saúde para municípios acima de 500 mil habitantes não chega no prazo.
A coordenadora de Saúde da Mulher e da Rede Cegonha de João Pessoa, Tanea Lucena, reforça que a oferta de todos os métodos é essencial para o trabalho de planejamento familiar, principalmente entre jovens e adolescentes.“Eu sempre digo que tudo começa no planejamento da vida sexual e reprodutiva. Quando a gente fala no planejamento da vida sexual e reprodutiva são mulheres e homens, não tem como eles ficarem de fora. Porque a gente entende que tendo acesso na unidade de saúde, com o aconselhamento correto, com atividades educativas, isso vai reduzir bastante a questão não só das DST's, mas de gravidez indesejada. Sabemos que hoje alguns problemas de saúde que acometem o bebê podem ser evitados por meio das consultas. Ela chega na unidade de saúde e diz que quer engravidar daqui a dois ou três meses. A partir dali ela começa a fazer uso de alguns medicamentos que previnem vários problemas neurológicos. A gente sabe que uma grande parte dos nascidos, em quase todos os municípios, são de gravidez que não foi planejada”, afirma Tanea.
Em nota, o Ministério da Saúde respondeu que “apoia e promove ações de saúde sexual e reprodutiva, por meio da disponibilização de orientações, informações e métodos contraceptivos, sempre com respeito à autonomia e ao direito de exercer a sexualidade e a reprodução, livre de discriminação, imposição e violência.” A nota diz ainda que, de 2011 a 2015, o ministério distribuiu em todo o país 2,4 bilhões de preservativos masculinos e femininos e investiu, no mesmo período, R$ 160,6 milhões na aquisição de diferentes métodos. No caso do estado da Paraíba, o ministério alega que foram enviados em 2015 e no primeiro semestre de 2016, mais de 400 mil contraceptivos, entre ampolas injetáveis, cartelas de pílulas e o dispositivo intrauterino (DIU).
Considerando a possibilidade de transmissão sexual do vírus Zika e outras doenças, o ministério orienta que “deve haver envolvimento e corresponsabilização de homens adultos, adolescentes e jovens na escolha e no uso do método e na dupla proteção” e recomenda, em especial às gestantes e seus parceiros, a utilização de preservativos masculinos ou femininos em todas as relações sexuais (oral, anal e vaginal).
Mulheres afetadas pelo Zika se mobilizam em busca de apoio e informação
Débora Brito - Repórter da Agência Brasil
Mulheres afetadas pela epidemia do Zika se unem para trocar experiências e apoioImagens/TV Brasil
Se por um lado as mulheres figuram como as principais vítimas do vírus Zika no país, por outro elas emergem como líderes e empreendedoras de iniciativas de apoio. Seja na internet ou em associações, as mães de bebês com microcefalia vêm se unindo em redes de solidariedade para se proteger, informar e amenizar as consequências da epidemia. Nesta sexta-feira (11) completa um ano desde que o Ministério da Saúde decretou a epidemia do vírus Zika como Situação de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional.
A mobilização começou por aquelas que foram afetadas diretamente pelo vírus: as mães. Juntas nos corredores de hospitais, elas compartilham suas vivências e se unem pela garantia de direitos. No Hospital Municipal Dom Pedro I, em Campina Grande (PB), salas antes ocupadas para fins médicos, agora estão cheias de doações de fraldas, latas de leite, roupas e calçados infantis. “O que a gente tem feito aqui desde o começo foi encampar essa dor e essa angústia dessas mãe. Então, independente da especialidade, todo mundo é meio que assistente social e psicólogo”, conta Adriana Melo, especialista medicina fetal.
A roda de psicologia é um dos momentos mais aguardados pelas mães que frequentam a unidade. Depois das sessões de fisioterapia dos filhos, elas tomam café da manhã e conversam sobre seus anseios. O momento de troca de experiências é seguido da sessão de terapia, em que elas são conduzidas por uma psicóloga a pensar nas mudanças de suas vidas.“Todo aprendizado humano ocorre num processo coletivo. Seja troca de conhecimento, seja de afeto. O grupo tem um potencial enorme de transformação. A gente aposta nessa técnica para que elas possam realmente perceber que não estão sozinhas nessa luta, que estão junto com outras mulheres que estão vivendo algo parecido.”, explica a psicóloga Jaqueline Ramos Marinho.
Um dos focos do trabalho é ressignificar a maternidade para essas mulheres, que em grande parte descobriu a microcefalia no pós-parto. “Elas precisaram fazer toda uma desconstrução de uma maternidade idealizada para substituir por uma maternidade real. É um trabalho árduo. A gente percebe que elas conseguiram dar outro sentido à maternidade, transformando uma situação que é tão difícil, em algo positivo. Não mais olhar o filho como uma criança que possui uma deficiência, mas como uma criança que tem também potencial de transformação”, comenta a psicóloga.
Jéssica de Jesus, mãe de Ícaro, mobilizou ajuda para apoiar mulheres atendidas no Centro de Reabilitação da Irmã Dulce, em Salvador.Imagens/TV Brasil
Transformar a dificuldade em algo produtivo foi o que fez Jéssica de Jesus, mãe de Ícaro, um dos bebês com microcefalia de Salvador (BA) atendido no Centro de Reabilitação da Irmã Dulce. Antes de ser mãe, ela já desenvolvia um trabalho social realizado junto ao bloco de carnaval “Comanches do Pelô”, com foco em ajudar crianças com algum tipo de deficiência. Jéssica e o marido perderam o emprego, mas ficou a experiência de mobilização. A partir da própria vivência das mães ao seu redor, começou a mobilizar os blocos de carnaval de Salvador para arrecadar fraldas e leite nos shows. “O nosso foco principal são as mães que fazem tratamento de fisioterapia com seus filhos aqui. Então, é muito importante que o pouco que a gente tenha, a gente possa doar”, diz.
A iniciativa foi reconhecida pela direção do hospital e por vários empresários da cidade. Jéssica ainda tem apoiado as mães para que elas procurem, junto à prefeitura ou mesmo no SUS, o atendimeno adequado. “O sonho que eu tenho agora é de ver a felicidade das mães, independente da situação que está acontecendo”, revela Jéssica.
Apoio nas redes sociais e na vida real
Em Recife, estado mais afetado pela epidemia, as mulheres foram acolhidas pela Associação de Mães e Famílias Raras, a Amar. A presidente da associação, Pollyanna Dias, conta que tudo começou nas redes sociais, onde as mães desabafam e buscam ajuda. “A Amar surgiu de uma necessidade de cuidar da mãe. Essa mãe vinha na minha fanpage no Facebook buscando ajuda, dizer que era muito sozinha, que não estava suportando mais aquela pressão e a solidão. Diante disso surgiu o grupo para a gente poder fortalecer essa mulher”, lembra.
A associação foi procurada por um número muito grande de mães que não têm condição financeira para cuidar das crianças com microcefalia. Por isso, promove eventos de arrecadação de donativos para garantir alimentação, fraldas e transporte, entre outras necessidades. “Uma coisa que diferencia a zika das outras síndromes raras é que, nas outras síndromes, as mães são de todas as classes sociais. Na Síndrome Congênita do Zika, a maioria é de extrema pobreza. Então, a dificuldade inicial foi socorrê-las com essa parte financeira”, explica Pollyanna.
Do trabalho da Amar, surgiu a União de Mães de Anjos, conhecida como UMA, que já conta com mais de 300 cadastradas. Por meio de eventos públicos e nas redes sociais, o grupo promove ações de combate ao preconceito, arrecada doações e presta assistência às mães e bebês atingidos pela síndrome, como Elaine Michelle, 29 anos. “Foi com a UMA que eu consegui enxergar o meu filho, foi onde eu vi que não estava só, que tinhamos outras mães na mesma situação. Eu vi que não é o fim, que eles vão se desenvolver e crescer. A gente luta para isso”, declara Elaine.
Ela tornou-se uma das secretárias da UMA e explica que uma das principais lutas do grupo é o combate ao preconceito e a busca por uma sede própria. Hoje, as mães coordenadoras se reúnem semanalmente em um espaço improvisado, na sede de uma ONG cristã situada na periferia do Recife.
Apoio comunitário e empoderamento
Magdalena, Marta e Azânia participam da mobilização de mulheres na comunidade do Calafate, situada no Bairro Fazenda Grande do Retiro, em Salvador (BA)Imagens/TV Brasil
Muitas integrantes da UMA são religiosas e encontram na fé o consolo e a motivação para prosseguir. As religiões de matriz africana também têm sido fonte de apoio. Na periferia do Recife, a ONG Uiala Mukaji acolhe a demanda de mulheres afetadas pela epidemia. A organização prepara um projeto para levar informação sobre os direitos das mulheres às comunidades mais pobres. Vinte jovens negras foram selecionadas como multiplicadoras de conhecimento em seus bairros. “Nós vamos contribuir para que mulheres negras tenham a informação, possam disseminá-la e, com isso, ela vai ajudar o Estado a fazer o enfrentamento ao vírus. Mas nós não vamos substituir os organismos da saúde, que têm a responsabilidade e a obrigação de cuidar da população. Vamos fazer isso porque entendemos que os terreiros são espaços de acolhimento e promoção da saúde”, ressalta a coordenadora da ONG e advogada sanitarista, Vera Baroni.
Nas comunidades e bairros mais afetados pela epidemia, as mulheres têm encontrado mais do que a ameaça do mosquito. Rodas de conversa, visitas às vizinhas e oficinas de capacitação são algumas das estratégias idealizadas por mulheres para disseminar informações. E os principais mobilizadores das ações tem sido os coletivos feministas.
Nesses locais, as mulheres tem transformado o caos da epidemia em oportunidades de fortalecimento de outros atributos, como a liderança. Em Salvador(BA), o Grupo de Mulheres Alto das Pombas (Grumap) tem organizado apresentações artísticas, debates e rodas de conversa. Rita de Cássia Pereira, secretária do grupo, destaca que o que mais tem inquietado as mulheres do bairro hoje é o vírus Zika. “O que está em jogo para gente é a situação de nós, mulheres negras, nesse contexto e nesse enfrentamento da microcefalia. Porque nós sabemos que estamos dentro de um país altamente racista que não nos inclui enquanto povo, imagine garantir assistência à saúde pública de mulheres negras e de seus filhos com problemas de microcefalia”, diz.
Em outra região da capital baiana, três gerações de uma mesma família atuam juntas na mobilização da comunidade do Calafate, situada no Bairro Fazenda Grande do Retiro. Aos 82 anos, Magdalena Tavares Leiro lidera um projeto de conscientização dos vizinhos sobre o lixo jogado na rua, principalmente depois da epidemia do Zika. A inspiração para o trabalho é de família. Na sala de sua casa, Magdalena exibe as fotos antigas de mulheres que lutaram por melhorias na comunidade, entre elas uma de sua tias. “Minha tia era de liderança mesmo. Era para a gente ter luz, ela andou muito e conseguiu botar rede aqui dentro. Aí ela conseguiu, a luz entrou e a gente começou a botar energia dentro de casa. Depois trabalhou para conseguir água e conseguiu.”, lembra.
Magdalena repassou a herança de ativismo adiante. Sua filha, Marta Leiro, é um das fundadoras do Coletivo de Mulheres do Calafate, que surgiu em 1992 para combater a violência de gênero. Hoje, o coletivo se dedica à prevenção da epidemia do vírus Zika, que mudou a rotina das mulheres da comunidade. “Em maio de 2015, a gente via muitas queixas das mulheres sobre os sintomas da zika, que resultavam em momentos mesmo de ficar de cama. Só que a zika chega em um contexto de muitas violações de nossos direitos, ela vem complementar muitas coisas que nós já sentimos em uma comunidade popular.” Marta reclama ainda que a epidemia evidenciou a precariedade do direito à saúde. “A gente se depara com mulheres indo à procura dos postos por conta dos sintomas, das dores nas articulações, da febre. E nesse período, a gente não recebia o diagnóstico de zika, a gente chegava no posto de saúde, davam um dipirona e uma injeção e diziam ficar em repouso, que era uma virose.”, diz.
Azânia Leiro, 24 anos, filha de Marta e neta de Magdalena, também está à frente da mobilização das jovens do Calafate e lembra o impacto da epidemia sobre a comunidade. “Foi uma coisa sem previsão, muito rápida, inesperada e uma quantidade enorme de pessoas contaminadas ao mesmo tempo”, lembra. Azânia foi infectada pelo vírus zika. Felizmente, sem maiores consequências. Foram três dias de mal-estar e algumas manchas pelo corpo. Marta, porém, além do zika, pegou chikungunya. Há meses sente as dores da febre.
Sentindo na pele os efeitos da epidemia, mãe e filha agora se dedicam a acolher as mulheres da vizinhança, em especial as que foram diretamente afetadas e tiveram bebês com microcefalia."Quando foi comprovado que a microcefalia era derivada da zika foi que a gente começou a se cuidar mais. Quem teve começou a se prevenir mais e quem já estava grávida teve que esperar porque, infelizmente, só é diagnosticado na hora do parto. É lógico que a gente sabe que tem um acompanhamento para o bebê, mas e para essa mulher? A pessoa não fica mais sendo vista como a mulher, fica como a mãe do menino que nasceu com microcefalia e a gente não pode dizer isso. Ela continua sendo mulher independente da criança”, destaca Azânia.
A iniciativa dessas mulheres recebe o apoio da Organização das Nações Unidas, que tem promovido ações de publicidade, mobilização e empoderamento de jovens e mulheres em contextos vulneráveis à epidemia. “Para o Fundo de População da ONU, uma resposta que seja efetiva e que tenha as mulheres, as jovens no centro, prescinde de mobilização comunitária e de participação social. Não existe transformação que possa ser mantida se você não investir nas pessoas”, afirma Fernanda Lopes, representante do fundo.
Greice Alves recebeu o apoio das Mulheres do Calafate para cuidar do filho com microcefaliaImagens/TV Brasil
Uma das mulheres acolhidas pelo coletivo é Greice Alves, 30 anos. Mãe de um menino de 9 anos, ela não pretendia ter outro filho. A surpresa da segunda gravidez chegou bem no início do surto do vírus. As manchas na pele antecederam o diagnóstico de que seu filho Gabriel tinha sido afetado. Greice foi a primeira mulher da comunidade a ter um bebê com microcefalia. Ao contrário de muitas mães, Greice recebeu o apoio de seu companheiro, da família e do coletivo de mulheres. Apoio que fez toda a diferença na aceitação do filho. “O coletivo me ajudou conversando, me mostrando o que é a microcefalia, que não é um bicho de sete cabeças”, diz. Hoje, ela é uma das mobilizadoras de seu bairro e encoraja outras mulheres a erguerem a cabeça e seguirem em frente na luta por direitos.
Zika no Brasil atinge mais mulheres do que homens
Aline Leal - Repórter da Agência Brasil
Boletim divulgado hoje (10) pelo Ministério da Saúde aponta que dos 196.976 casos prováveis de infecção pelo Zika notificados no país até agosto de 2016, 16.264 foram em mulheres grávidas, sendo 10.325 confirmados. A infecção pelo vírus durante a gestação pode gerar diversas malformações na criança, como microcefalia e outras alterações neurológicas.
Saiba Mais
- Ministério muda critérios para identificar danos causados pelo Zika em bebês
- Mulheres afetadas pelo Zika se mobilizam em busca de apoio e informação
Os dados mostram que a infecção pelo vírus Zika em 2016 foi mais frequentes em mulheres do que em homens e que a faixa etária predominante dos casos em mulheres foi de 20 a 39 anos. Do total de casos, 132.524 (67,3%) foram notificados em mulheres dos quais 96.494 (72,8%) em idade fértil (faixa etária de 10 a 49 anos).
A maior concentração de casos ocorreu entre os meses de fevereiro e março. Mato Grosso, com 925,9 casos por 100 mil habitantes, Rio de Janeiro com 471 e Bahia, com 449,6 foram os estados com maior incidência da doença no país durante esse ano.
Síndrome Congênita
Ao todo, 2.071 crianças com Síndrome Congênita do Zika recebem a estimulação precoce preconizada pelo Ministério da Saúde, e 1.413 são acompanhadas pela assistência social. Ao todo, 2016 tiveram a confirmação da síndrome.
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