Dilma anuncia ida aos EUA e indica que crise de espionagem foi superada

Dilma reúne-se com Obama na 7 Cúpula das AméricasDilma reúne-se com Obama na 7ª Cúpula das Américas e marca primeira visita aos Estados Unidos desde que tornou-se pública a espionagem que a agência norte-americana NSA promoveu em comunicações da presidenta e também de dirigentes da Petrobras / Foto: Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

A presidenta Dilma Rousseff viajará aos Estados Unidos no dia 30 de junho para uma visita de trabalho que marca a retomada da relação entre os dois países, abaladas pelo escândalo de espionagem de 2013.
A revelação de que a Agência Nacional de Segurança (NSA) tinha espionado as comunicações de Dilma e da Petrobras levaram a presidenta a cancelar o encontro de outubro de 2013 que tinha marcado com o presidente norte-americano, Barack Obama, em Washington. No final da 7ª Cúpula das Américas, neste sábado (11), Dilma e Obama tiveram uma reunião e deram a crise por superada.

“O governo americano disse que os países irmãos não seriam espionados”, disse Dilma Rousseff, em entrevista após o encontro com Obama. “E Obama falou para mim que, quando ele quiser saber qualquer coisa, ele liga para mim. Eu não só atendo como fico muito feliz”.

Segundo Dilma, ao Brasil interessa discutir a cooperação nas áreas de educação, defesa, aeronáutica e comércio, como também a adoção de políticas para desenvolver energia limpa e combater os efeitos das mudanças climáticas que este ano castigaram vários países – inclusive os Estados Unidos, “que viveram o pior inverno da história” e o Brasil, atingido pela seca na Região Sudeste.
“Precisamos assumir a responsabilidade de liderar esse processo”, disse Dilma, referindo-se à necessidade de coordenar políticas entre a Índia, China, União Europeia, os Estados Unidos e o Brasil, para garantir o sucesso da Conferência do Clima, que será realizada em dezembro em Paris.

O Brasil e os Estados Unidos também poderiam cooperar no desenvolvimento de energia limpa. "O Brasil avançou muito na energia eólica, mas não na energia solar, que é cara”, disse a presidenta.

“O Brasil é, obviamente, não apenas um dos países mais importantes do hemisfério, mas um líder muito importante. Então, eu espero com muita satisfação por esse encontro onde vamos discutir temas como mudança climática, energia, educação, ciência e tecnologia”, disse Obama, antes do encontro com Dilma.
Na entrevista, a presidenta contou aos jornalistas que a edição deste ano da Cúpula das Américas foi realmente marcada pela concórdia. “Dava para sentir”, disse. Dilma fez questão de ressaltar a importância da reaproximação dos Estados Unidos e Cuba, encerrando mais de 50 anos de um confronto que contribuiu para dividir a região.

Mas nem todos os líderes que discursaram na cúpula manifestaram a mesma confiança em relação a essa nova etapa no relacionamento entre os Estados Unidos e os seus 33 vizinhos latino-americanos. O presidente venezuelano, Nicolás Maduro, disse que estava disposto a conversar com Obama, mas que “não confiava” nele e exigiu a suspensão do recente decreto declarando a Venezuela “ameaça à segurança nacional” dos Estados Unidos.

Dilma não conversou com o presidente dos Estados Unidos sobre a Venezuela, mas disse que “Maduro e Obama têm condições para traçar um caminho para voltarem aos bons tempos”. Segundo ela, a União de Nações Sul-Americanas (Unasul) está empenhada em promover o diálogo entre o governo venezuelano e a oposição.

Segundo ela, “a tranquilidade e a institucionalidade” na Venezuela interessam a toda a região. “Uma ruptura pode levar a um conflito sangrento”, que prejudicaria a todos, disse Dilma.

 

 

Agência Brasil

 

O que funcionou e o que deixou a desejar no show de Roberto Carlos no Beira-Rio:

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Vida e obra de Cora Coralina são marcadas por ideais feministas e libertários

 

Professora da Universidade Estadual de Goiás Ebe Maria de Lima Siqueira explica que a academia mudou sua percepção sobre a obra de Cora Coralina

A poetisa Cora Coralina é considerada por estudiosos e especialistas em sua obra como uma mulher forte e libertária. Embora não tenha incorporado o discurso feminista, a forma como ela se impôs na sociedade machista e conservadora em que vivia fez com que também pudesse ser estudada sob a perspectiva de gênero.

Nascida e criada na cidade de Goiás, Cora saiu de lá em 1911 para poder viver ao lado do advogado Cantídio Tolentino de Figueiredo Bretas, que era casado. Criou quatro filhos trabalhando no interior de São Paulo, após a morte do marido. E, 45 anos depois, teve a coragem de voltar para buscar suas memórias e escrever sobre aquele espaço. “Na cidade de Goiás, como antiga capital do estado, havia uma agitação cultural forte e mulheres inscritas no tradicionalismo, no conservadorismo da cidade, mas que também atuavam”, disse a professora de literatura da Universidade Federal de Goiás (UFG) Goiandira de Fátima Ortiz de Camargo.

>> Confira o especial sobre Cora Coralina

Cora publica seus primeiros textos no semanário A Rosa, dirigido por ela própria e outras poetisas. De acordo com Goiandira, a poetisa, que viveu até os 95 anos, não se inspira apenas nas mulheres, mas lia poetas como Almeida Garrett e textos que vinham do exterior. “Ela estava alguns passos à frente dessas mulheres que escreviam nos moldes tradicionais, sonetos, poesia metrificada, ou simbolista ou parnasiana. Elas tinham medidas. Cora não, Cora era da desmedida. Seus primeiros versos assustaram tanto as pessoas que os imputaram ao primo dela Luiz do Couto”, contou Goiandira.

Professora da Universidade Federal de Goiás Maria Meire de Carvalho ressalta a poesia de Cora Coralina como ação política de emancipação das mulheres (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Professora da Universidade Federal de Goiás Maria Meire de Carvalho ressalta a poesia de Cora Coralina como ação política de emancipação das mulheresMarcello Casal Jr. / Agência Brasil

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“Eu vejo a Cora como uma feminista de vanguarda”, explicou a professora da UFG Maria Meire de Carvalho.

Doutora em gênero e estudos feministas pela Universidade de Brasília (UnB), a especialista diz que Cora atuou ativamente, mas não se reconhecia como feminista, assim como outras mulheres que romperam padrões a seu tempo.

“Às vezes as mulheres têm medo de dizer que são feministas porque pega mal. Mas esse pegar mal na sociedade já mostra a cultura machista. Uma feminista é aquela que tem metas que ultrapassam as impostas. E as ações de Cora estavam totalmente envolvidas no processo de emancipação das mulheres”, explica Maria Meire.

Professora de literatura da Universidade Estadual de Goiás Ebe Maria de Lima Siqueira diz que vida e obra de Cora Coralina ainda precisam ser compreendidas pela população da cidade (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Professora de literatura da Universidade Estadual de Goiás Ebe Maria de Lima Siqueira diz que a vida e a obra de Cora Coralina ainda precisam ser compreendidas pela população da cidadeMarcello Casal Jr. / Agência Brasil

Para a professora de literatura da Universidade Estadual de Goiás Ebe Maria de Lima Siqueira, essa face de Cora, como uma mulher que estava rompendo limites, estava muito clara na cabeça dela, embora o conservadorismo da formação que recebeu também fosse muito presente.

“Ela dizia que mulher não devia trabalhar, tanto que ela cuidou dos filhos, foi dona de casa, e, enquanto esses filhos não se encaminharam, ela não deu seu grito de independência”, disse Ebe.

Para a pesquisadora, Cora tinha essa consciência de gênero, mas não no sentido de uma liberação sexual. Embora tenha sido ousada para o tempo dela, pelos registros históricos e depoimentos, ela foi fiel ao marido e a essa memória até a morte. “Para romper isso ainda precisaria de mais 50 anos de vida de Cora, tanto que voltar para a cidade de Goiás tinha esse papel [de rompimento]. Quando ela diz que está escrevendo para gerações futuras, ela sabia que não ia encontrar eco na sua geração”, disse Ebe.

Para Maria Meire, a crítica dela é um autorretrato. “Ela fala muito de memórias da infância, ela tinha a perspectiva de que era a menina mal-amada, a menina feia da ponte da Lapa, aquela que estava fora dos padrões normativos, todos esses rótulos. E depois de ter a coragem de voltar à cidade, ainda continua sendo rotulada. Por isso que eu falo, não precisa descrever e colocar na testa de nenhuma mulher que ela é feminista. São suas ações que imprimem esses significados.”

A professora Ebe Maria conta que desenvolve um projeto na cidade de Goiás chamado Mulheres Coralinas, que tem o papel de levar a poesia de Cora como inspiração para 150 mulheres que estão, de certa forma, excluídas de uma vida social, política e econômica. “Gostaríamos que a poesia de Cora reverberasse nas mulheres para que elas pudessem ver que podem conseguir uma independência. É uma porção de pejorativos e ablativos que imprimiram na carne dessa poetisa, e tenho apostado nas novas gerações para desmanchar isso.”

 

Agência Brasil

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