Darcy Ribeiro | |
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Darcy Ribeiro | |
Vice-governador do estado do Rio de Janeiro | |
Período | 15 de março de 1983 a 15 de março de 1987 |
Governador | Leonel Brizola |
Antecessor(a) | Hamilton Xavier |
Sucessor(a) | Francisco Amaral |
Ministro-chefe da Casa Civil do Brasil | |
Período | 18 de junho de 1963 a 2 de abril de 1964 |
Presidente | João Goulart |
Antecessor(a) | Evandro Lins e Silva |
Sucessor(a) | Getúlio Barbosa de Moura |
Ministro da educação do Brasil | |
Período | 18 de setembro de 1962 a 23 de janeiro de 1963 |
Presidente | João Goulart |
Antecessor(a) | Roberto Lira |
Sucessor(a) | Teotônio Monteiro de Barros |
Senador do Rio de Janeiro | |
Período | 1 de fevereiro de 1991 a 17 de fevereiro de 1997 |
Antecessor(a) | Jamil Haddad |
Sucessor(a) | Abdias do Nascimento |
Dados pessoais | |
Nascimento | 26 de outubro de 1922 Montes Claros, MG |
Morte | 17 de fevereiro de 1997 (74 anos) Brasília, DF |
Nacionalidade | brasileiro |
Alma mater | FESPSP |
Cônjuge | Berta Gleizer Ribeiro |
Partido | PCB (1940-1964) PDT (1979-1997) |
Religião | catolicismo |
Darcy Ribeiro[a] (Montes Claros, 26 de outubro de 1922 — Brasília, 17 de fevereiro de 1997) foi um antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político brasileiro, filiado ao Partido Democrático Trabalhista (PDT) e conhecido por seu foco em relação aos indígenas e à educação no país.[1]
Suas ideias de identidade latino-americana influenciaram vários estudiosos latino-americanos posteriores. Como Ministro da Educação do Brasil realizou profundas reformas, o que o levou a ser convidado a participar de reformas universitárias no Chile, Peru, Venezuela, México e Uruguai, depois de deixar o Brasil devido à ditadura militar de 1964.
Foi casado com a etnóloga e antropóloga Berta Gleizer Ribeiro, até 1974.
Juventude
Darcy Ribeiro nasceu em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922. Filho de Reginaldo Ribeiro dos Santos e de Josefina Augusta da Silveira. Em Montes Claros fez os estudos fundamentais e secundário, no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros.[2]
Foi para Belo Horizonte estudar Medicina, porém ao cursar disciplinas de Ciências Sociais, decidiu-se por esta área. Em 1946, formou-se em antropologia pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e dedicou seus primeiros anos de vida profissional ao estudo dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia (1946-1956).[3]
Carreira
Notabilizou-se fundamentalmente por trabalhos desenvolvidos nas áreas de educação, sociologia e antropologia tendo sido, ao lado do amigo a quem admirava Anísio Teixeira, um dos responsáveis pela criação da Universidade de Brasília, elaborada no início da década de 1960, ficando também na história desta instituição por ter sido seu primeiro reitor. Redigiu o projeto, como funcionário do Serviço de Proteção ao Índio, do Parque Indígena do Xingu, criado em 1961. Também foi o idealizador da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF). Publicou vários livros, vários deles sobre os povos indígenas.[3]
Darcy Ribeiro foi ministro da Educação durante Regime Parlamentarista do Governo do presidente João Goulart (18 de setembro de 1962 a 24 de janeiro de 1963) e chefe da Casa Civil entre 18 de junho de 1963 e 31 de março de 1964. Durante a ditadura militar brasileira, como muitos outros intelectuais brasileiros, teve seus direitos políticos cassados e foi obrigado a se exilar, vivendo durante alguns anos no Uruguai.[3]
Durante o primeiro governo de Leonel Brizola no Rio de Janeiro (1983-1987), Darcy Ribeiro, como vice-governador, criou, planejou e dirigiu a implantação dos Centros Integrados de Ensino Público (CIEP), um projeto pedagógico visionário e revolucionário no Brasil de assistência em tempo integral a crianças, incluindo atividades recreativas e culturais para além do ensino formal - dando concretude aos projetos idealizados décadas antes por Anísio.[3]
Nas eleições de 1986, Darcy foi candidato ao governo fluminense pelo PDT concorrendo com Fernando Gabeira (então filiado ao PT), Agnaldo Timóteo (PDS) e Moreira Franco (PMDB), mas foi derrotado nas urnas, com a eleição de Moreira.[carece de fontes]
Foi responsável pela criação e pelo projeto cultural do Memorial da América Latina, centro cultural, político e de lazer, inaugurado em 18 de março de 1989, no bairro da Barra Funda, em São Paulo, assim como foi responsável pelo projeto de lei que deu origem a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), lei 9 394/96 aprovado pelo senado brasileiro.[3]
Exerceu o mandato de senador pelo Rio de Janeiro de 1991 até sua morte em 1997 - anunciada por um lento processo canceroso que comoveu o Brasil. Darcy, sempre polêmico e ardoroso defensor de suas ideias, teve, em sua longa agonia, o reconhecimento e admiração até dos adversários. Publica O Povo Brasileiro em 1995, obra em que aborda a formação histórica, étnica e cultural do povo brasileiro, com impressões baseadas nas experiências de sua vida.[3] Foi sepultado no Cemitério de São João Batista no Rio de Janeiro.[4]
Ideias
As ideias de Darcy Ribeiro pertenciam à escola evolucionista de sociologia e antropologia, e suas principais influências eram os neovolucionistas Leslie White e Julian Steward, além do arqueólogo marxista V. Gordon Childe. Ele acreditava que os povos passavam por um "processo civilizatório", começando como caçadores-coletores. Este "processo civilizatório" teria sido marcado por revoluções tecnológicas e, entre elas, Darcy enfatizou as oito mais importantes:[carece de fontes]
- a revolução agrícola
- a revolução urbana
- a revolução da irrigação
- a revolução metalúrgica
- a revolução pecuária
- a revolução mercantil
- a revolução industrial
- a revolução termonuclear
Classificação dos países latino-americanos
Ribeiro propôs também um esquema de classificação para os países americanos onde identificou:
- Povos Novos (Chile, Colômbia, Paraguai, Venezuela, etc.), que se fundiram da mistura de várias culturas;
- Povos Testemunho (Peru, México, Equador, Guatemala e Bolívia), restos de civilizações antigas; e
- Povos Transplantados (Argentina, Uruguai, Estados Unidos e Canadá), essencialmente europeus, após imigração maciça. São basicamente uma reprodução da Europa no continente americano.[6]
Classes sociais no Brasil
Em seu livro O Povo Brasileiro, Ribeiro apresenta uma divisão empírica das classes. Isto é, trata-se de uma divisão baseada não em níveis de renda, mas apenas na observação da sociedade.[7]
No topo da hierarquia, há três grupos. O patronato, cujo poder e riqueza vêm da exploração econômica. O patriciado, por sua vez, é composto por indivíduos que exercem altos cargos (general, deputado, bispo, etc.) Mais tarde, surgiu entre as classes dominantes outro grupo: o estamento gerencial das empresas estrangeiras.[7]
Os setores intemediários, por sua vez, são compostos por "pequenos oficiais, profissionais liberais, policiais, professores", entre outros. As classes subalternas englobam os indivíduos que, apesar de pobres, estão integrados no mercado. Possuem empregos estáveis, Também englobam pequenos empresários, arrendatários, gerentes de propriedades rurais, etc.[7]
A mais ampla classe é, contudo, as oprimidas, ou dos "marginais", composta principalmente de negros e mulatos. Estes não estão plenamente integrados na vida social, no sistema econômico, etc., e vivem de subempregos, ou de empregos instáveis. Para Ribeiro, a eles cabe a tarefa de reformar a sociedade.[7]
O que é o Brasil
Esta seção requer expansão. |
Para Ribeiro, o Brasil é tanto um Povo Novo (no sentido explicado na seção mais acima), mas também é velho. Conforme O Povo Brasileiro, é velho "[...] porque se viabiliza como um proletariado externo. Quer dizer, como um implante ultramarino da expansão européia que não existe para si mesmo, mas para gerar lucros exportáveis pelo exercício da função de provedor colonial de bens para o mercado mundial, através do desgaste da população que recruta no país ou importa".[9]
Desculturação
Ribeiro trabalhou com o conceito de desculturação, processo segundo o qual um povo ou uma etnia (como os negros e índios no Brasil) são despojados de seus elementos culturais originais para se aculturarem em um novo ambiente (no caso, a protocélula étnica brasileira). A desculturação é, para Ribeiro, a primeira etapa da aculturação.
Academia Brasileira de Letras
Darcy Ribeiro foi eleito em 8 de outubro de 1992 para a cadeira 11, que tem por patrono Fagundes Varela, sendo recebido em 15 de abril de 1993 por Cândido Mendes.[10]
Em seu discurso de posse, deixou registrado:
“ | Confesso
que me dá certo tremor d'alma o pensamento inevitável de que, com uns
meses, uns anos mais, algum sucessor meu, também vergando nossa veste
talar, aqui estará, hirto, no cumprimento do mesmo rito para me
recordar. Vendo projetivamente a fila infindável deles, que se
sucederão, me louvando, até o fim do mundo, antecipo aqui meu
agradecimento a todos. Muito obrigado. Estou certo de que alguém, neste resto de século, falará de mim, lendo uma página, página e meia. Os seguintes menos e menos. Só espero que nenhum falte ao sacro dever de enunciar meu nome. Nisto consistirá minha imortalidade. |
” |
— Darcy Ribeiro.[11] |
Obras
Antropologia |
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Com obras traduzidas para diversos idiomas (inglês, o alemão, o espanhol, o francês, o italiano, o hebraico, o húngaro e o checo), Darcy Ribeiro figura entre os mais notórios intelectuais brasileiros. Divididas tematicamente, foram elas:
- Etnologia
- Culturas e línguas indígenas do Brasil – 1957
- Arte plumária dos índios Kaapo – 1957
- A política indigenista brasileira – 1962
- Os índios e a civilização – 1970
- Uira sai, à procura de Deus – 1974
- Configurações histórico-culturais dos povos americanos – 1975
- Suma etnológica brasileira – 1986 (colaboração; três volumes).
- Diários índios – os urubus-kaapor – 1996, Companhia das Letras
- Antropologia
- O processo civilizatório – etapas da evolução sócio-cultural – 1968
- As Américas e a civilização – processo de formação e causas do desenvolvimento cultural desigual dos povos americanos – 1970
- O dilema da América Latina – estruturas do poder e forças insurgentes – 1978
- Os brasileiros – teoria do Brasil – 1972
- Os índios e a civilização – a integração das populações indígenas no Brasil moderno – 1970
- The culture – historical configurations of the American peoples – 1970 (edição brasileira em 1975).
- O povo brasileiro – a formação e o sentido do Brasil – 1995.
- Romances
- Ensaios
- Kadiwéu – ensaios etnológicos sobre o saber, o azar e a beleza – 1950
- Configurações histórico-culturais dos povos americanos – 1975
- Sobre o óbvio - ensaios insólitos – 1979
- Aos trancos e barrancos – como o Brasil deu no que deu – 1985
- América Latina: a pátria grande – 1986
- Testemunho – 1990
- A fundação do Brasil – 1500/1700 – 1992 (colaboração)
- O Brasil como problema – 1995
- Noções de coisas – 1995
- Educação
- Plano orientador da Universidade de Brasília – 1962
- A universidade necessária – 1969
- Propuestas – acerca da la renovación – 1970
- Université des Sciences Humaines d'Alger – 1972
- La universidad peruana – 1974
- UnB – invenção e descaminho – 1978
- Nossa escola é uma calamidade – 1984
- Universidade do terceiro milênio – plano orientador da Universidade Estadual do Norte Fluminense – 1993
Homenagens
- O principal campus da Universidade de Brasília tem o nome Campus Darcy Ribeiro.[12]
- A Universidade Estadual do Norte Fluminense se chama oficialmente "Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro".[13]
- A Usina de Biodiesel da Petrobras Biocombustível, em Montes Claros, se chama "Usina de Biodiesel Darcy Ribeiro".[14]
- É o patrono da Cadeira 28 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.[15]
- Agraciado em 1996 com o Prêmio Anísio Teixeira.[16]
- O Sambódromo do Rio de Janeiro tem oficialmente o nome de "Passarela Professor Darcy Ribeiro".[17]
- O edifício sede da Controladoria-Geral da União em Brasília, chama-se oficialmente Edifício Darcy Ribeiro.[18]
- Um dos espaços culturais do Memorial da América Latina chama-se "Pavilhão da Criatividade Darcy Ribeiro".[19]
- Em 2005, foi agraciado com a Ordem do Mérito Cultural.[20][21]
- No carnaval 2020, a Império da Uva, situada em Nova Iguaçu e desfilando no Carnaval Carioca, terá Darcy Ribeiro como seu enredo.[22]
Prêmio Darcy Ribeiro de Educação
Premiação anual instituída em 1998 pela Câmara dos Deputados do Brasil, que concede um diploma de menção honrosa e outorga uma medalha com a efígie de Darcy Ribeiro a três personalidades físicas ou jurídicas que se destacaram na defesa e promoção da educação brasileira. Entre os indicados, os três vencedores são escolhidos por um colegiado formado por membros do Congresso Nacional.[23]
Biografias
- Toninho Vaz: Darcy Ribeiro – Nomes que honram o Senado. Ed. Senado, 2005.
- BRITO, Carolina Arouca Gomes de. Antropologia de um jovem disciplinado: a trajetória de Darcy Ribeiro no serviço de proteção aos índios (1947-1956). Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 2017. 240 f.
- MATTOS, Andre Luis Lopes Borges de. Darcy Ribeiro: uma trajetoria (1944-1982). 2007. 341p. Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Campinas, SP.
- Em 2014, a TV Brasil lançou um documentário com cinco episódios de 52 minutos denominado "O Brasil de Darcy Ribeiro", dirigido por Ana Maria Magalhães.[24]
Notas
- O prenome foi alterado para "Darci" durante algumas décadas, em conformidade com regras ortográficas então vigentes no Brasil (Formulário Ortográfico de 1943), que eliminavam a letra "y" do alfabeto. Com a volta do "y" no Acordo de 1990, a grafia "Darcy" pode ser aceita.
Referências
- Sobre, acesso em 14 de julho de 2016.
Ligações externas
- «Academia Brasileira de Letras»
- Fundação Darcy Ribeiro
- Entrevista ao Programa Roda Viva, 1988 no YouTube
- Série documental O Brasil de Darcy Ribeiro, dirigida por Ana Maria Magalhães, disponível na TV Brasil
Precedido por Roberto Lira |
Ministro da Educação do Brasil 1962 — 1963 |
Sucedido por Teotônio Monteiro de Barros |
Precedido por Evandro Lins e Silva |
Ministro chefe do Gabinete Civil da Presidência da República do Brasil 1963 — 1964 |
Sucedido por Getúlio Barbosa de Moura |
Precedido por Jamil Haddad |
Senador do Rio de Janeiro 1991 – 1997 |
Sucedido por Abdias do Nascimento |
Precedido por Deolindo Couto |
ABL - sétimo acadêmico da cadeira 11 1993 — 1997 |
Sucedido por Celso Furtado |
Wikipédia
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