Moeda americana fechou cotada a R$ 3,33
Dólar sobe 0,72% e atinge maior valor em 9 meses com expectativa por STF | Foto: Paul J. Richards / AFP / CP Memória
As preocupações dos investidores com a proximidade do julgamento do habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganharam força no período da tarde desta terça-feira e sustentaram o dólar em alta firme, atingindo novo pico no ano. A moeda americana chegou a operar em baixa pela manhã, acompanhando influências externas, mas se rendeu a um clima de maior desconfiança à tarde e fechou em alta de 0,72% no mercado à vista, cotada a R$ 3,3389, maior valor desde 23 de junho do ano passado (R$ 3,3409). O volume de negócios somou US$ 1,569 bilhão, de acordo com dados da B3.
Em última análise, a busca por posições defensivas foi motivada pelo temor de que o petista, que lidera as pesquisas de intenção de voto, consiga se desvencilhar de empecilhos jurídicos e registre sua candidatura à Presidência da República. Com o clima de incerteza no ar, investidores montaram posições compradas no mercado futuro. Às 17h27min, o dólar para liquidação em maio tinha ganho de 0,86%, cotado a R$ 3,3465.
O componente político na maior busca por dólares fez o câmbio brasileiro andar na contramão da tendência no mercado internacional, que foi majoritariamente de queda da divisa dos Estados Unidos. Os preços do petróleo se recuperaram das quedas da véspera e deram fôlego às moedas de países exportadores de commodities, o que não aconteceu por aqui. "A alta do dólar hoje foi previsível e deve se sustentar até amanhã, quando tem início a sessão de julgamento do STF. É um movimento protecionista por parte de tesourarias bancárias, gerado exclusivamente pelo cenário político", disse Ricardo Gomes da Silva, diretor da Correparti.
Para Gomes da Silva, a questão crucial não está localizada apenas no placar da votação do STF, mas em outras questões jurídicas que possam, posteriormente, alterar as condições de elegibilidade do líder petista. Pela manhã, o dólar oscilou ao sabor do noticiário internacional e chegou a exibir sinal negativo, alinhado à alta das bolsas de Nova York, do petróleo e das moedas de países emergentes e exportadores de commodities.
A virada para o positivo ainda ocorreu sob influência externa, com o presidente Donald Trump voltando a fazer críticas à Amazon, que levaram o índice Nasdaq pontualmente ao terreno negativo. Ainda pela manhã, foi destaque a alta modesta da produção industrial brasileira em fevereiro. Tanto a elevação de 0,2% em fevereiro ante janeiro como a de 2,8% ante fevereiro de 2017 ficaram abaixo da mediana esperada no mercado para os dois períodos de comparação.
Bovespa
Em uma sessão volátil, o Ibovespa desgrudou da trajetória de alta de seus pares no exterior e se firmou em baixa nesta terça-feira, 3, com os investidores tomando posições mais cautelosas diante da cena política interna. Após oscilar 1.200 pontos entre a máxima e mínima, o índice à vista encerrou o pregão com perdas de 0,05% aos 84.623,46 pontos.
O giro financeiro de R$ 8,4 bilhões, novamente abaixo da média do ano, indicava o sentimento de precaução que tomou conta dos investidores. A bolsa vinha tentando se sustentar em meio à melhora nos mercados acionários nos Estados Unidos, mas virou a mão na segunda etapa do pregão, passando às mínimas. O Ibovespa oscilou entre a máxima do dia aos 85.411 pontos e a mínima, aos 84.209 pontos.
Perto de uma hora antes do final do pregão, o índice tocou o terreno positivo em um reflexo das máximas alcançadas em Wall Street para, em seguida, retomar as perdas. A cautela nos negócios foi atribuída à proximidade do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do pedido de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
A sessão plenária está marcada para amanhã e pode se estender até quinta-feira. "Ainda é difícil ter clareza do que pode acontecer no julgamento", disse Ignacio Crespo, da Guide Investimentos, que afirma ter recomendado aos clientes posição mais cautelosa nos investimentos em renda variável, até com o uso de derivativos, buscando se proteger da volatilidade no curtíssimo prazo.
As declarações do ministro do STF Gilmar Mendes dadas na manhã desta terça-feira sobre a comoção da população a respeito das questões que a Corte vai julgar foram lembradas pelo operador da mesa institucional da Renascença Corretora Luiz Roberto Monteiro para ressaltar que, em um cenário interno político que ele classificou como horroroso, é natural que os investidores assumam uma postura de maior precaução. Ainda mais porque estão marcadas para esta terça-feira ainda as manifestações populares em defesa da prisão após condenação em 2ª instância e contra o habeas corpus de Lula.
Taxas de juros
Os juros futuros encerraram a sessão regular desta terça-feira com viés de alta nos vencimentos curtos e com avanço mais intenso nos contratos mais longos. Um clima de cautela com a cena política conduziu os negócios. Entre agentes do mercado, surgiu um consenso de que reduzir risco nas carteiras é a melhor estratégia para a véspera do julgamento do pedido de habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no STF, programado para a quarta-feira. "Convém aliviar o risco agora e aguardar o desenrolar do julgamento, que deverá ser longo e durar uns dois dias", disse o sócio da Laic-HFM Gestão de Recursos, Vítor Carvalho.
Vale lembrar que os juros futuros abriram com viés de baixa, sob a influência do fraco desempenho da indústria em fevereiro (alta de 0,2% ante janeiro), segundo mostrou pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O DI para janeiro de 2019 encerrou a sessão regular a 6,235% ante 6,224% no ajuste de segunda-feira. O DI para janeiro de 2020 fechou a 7,090% ante 7,072% no ajuste de segunda-feira.
O DI para janeiro de 2021 fechou a 8,080% ante 8,032% no ajuste anterior. O DI para janeiro de 2023 encerrou a 9,080% ante 9,002% no ajuste anterior, enquanto o DI para janeiro de 2025 ficou em 9,570% ante 9,502%. A cautela com a cena política também impacta fortemente o mercado cambial. No segmento à vista, o dólar valia mais de R$ 3,34 perto das 16h45min. O fortalecimento da divisa dos EUA também pressiona para cima os juros futuros.
Estadão Conteúdo e Correio do Povo
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