O
primeiro processo em que Joaquim Nabuco faz a defesa de um escravo
foi recentemente encontrado no arquivo do Instituto Histórico e
Geográfico de Pernambuco. O documento data de 1869, e se encontrava
perdido entre 63 mil inventários, testamentos e processos de
falências e crimes oriundos do acervo do antigo Tribunal de Relação.
O historiador João Paulo Costa pesquisava nos papéis da
instituição, quando deparou com as caixas contendo processos da
segunda metade do século XVIII até meados do XX. O documento
referente aos crimes de um escravo chamado Thomaz, que dizia “ter
38 anos e exercer a função de fogueteiro”, poderia ser uma a
mais, do período escravagista, se arrazoado não fosse assinado por
Joaquim Nabuco, causa de todos os seus biógrafos se referem sem
detalhes. Sabia-se que Thomaz, fora acusado de matar o homem que
mandara açoitá-lo, o farmacêutico Braz Pimentel. O negro evitou a
humilhação dos açoites, cometendo o crime, em Olinda, em 1867.
Fugindo da prisão, ele se entregara no Recife, onde fora levado para
a Casa de Detenção, enquanto aguardava a sentença. Condenado à
morte em Olinda, o escravo tentara uma segunda fuga, vindo a atacar
dois guardas, um dos quais, Afonso Honorato Bastos, matou. Preso, foi
mais uma vez condenado à morte. O juiz do Recife apelou, e Joaquim
Nabuco assumiu a defesa, como doutorando. Acusou a escravidão como a
verdadeira ré – pois Thomaz reagira contra a humilhação imposta
por Pimentel – e considerava que o negro matara o guarda por vê-lo
como obstáculo à liberdade. Essa foi a tese que defendeu no
julgamento de 18 de julho de 1869. Uma cópia dessa defesa irá
integrar o memorial Joaquim Nabuco, em fase de implantação. A
Academia Brasileira de Letras também está interessada em ter o
texto da lavra do acadêmico Joaquim Nabuco.
Fonte: História Viva do mês de
janeiro de 2005, página 25.
Nenhum comentário:
Postar um comentário