O Quilombo dos Palmares

Palmares foi o mais significativo e o mais simbólico dos quilombos não apenas do Brasil mas das Américas. Em nenhum outro lugar a resistência dos escravos fugidos foi tão bem-sucedida, organizada e longa como nos doze mocambos erguidos na serra da Barriga, no sertão das Alagoas, a 90 km de Maceió. Ainda assim, sua história permanece envolta em penumbra e mitificações e repleta de lacunas. Seu próprio líder, Zumbi, virou figura mais mitológica do que história.
Desde 1991, porém, um programa de escavações arqueológicas – financiado por entidades internacionais como a National Geographic – está sendo desenvolvido no mocambo do Macaco, a capital dos Palmares, e poderá elucidar muito de um episódio interpretado de várias formas.
Por ironia, Palmares entrou para a história pelas mãos de um rico senhor de engenho, Sebastião da Rocha Pita, que, em 1724, em sua História da América Portuguesa, celebrou “o fim tão útil como o glorioso (da) guerra que fizemos aos negros dos Palmares: As poucas fontes originais relatando a resistência épica e a trágica derrocada do quilombo foram redigidas pelas mesmas mãos que o destruíram.
A partir da década de 50 do século 20, a história dos Palmares seria lida por uma ótica “esquerdista”. Embora historiadores como Edison Carneiro e Décio Freitas tenham publicado documentos inéditos, o velho quilombo de Zumbi continuou sendo utilizado como símbolo e metáfora. A realidade – menos emblemática e glamourosa, mais efetiva e complexa – começa agora a emergir das covas abertas na terra. Três séculos após sua destruição, Palmares está renascendo.

O quê: Palmares não era apenas um, mas 12 quilombos unidos por uma rede de trilhas na mata. No quilombo do Macaco, de 2 mil habitantes, viveram o “rei” Ganga Zumba e seu sobrinho Zumbi. Palmares pode ter tido 20 mil habitantes e 6 mil casas.
Quando: O quilombo começou a ser erguido em 1602 por 40 escravos fugidos de engenho em Pernambuco. Tendo sido destruído em fevereiro de 1694, durou quase um século.
Onde: A serra da Barriga fica a cerca de 90 km a noroeste de Maceió, mas a área de influência do quilombo era muito maior: cerca de 200 km quadrados, em Pernambuco e Alagoas.
Quem viveu lá: Negros de todas as raças, mas também índios e até brancos fora da lei. Não se sabe que língua se falava no quilombo. De 1656 a 1678, o líder do quilombo foi Ganga Zumba (grande senhor). Em novembro de 1678, Zumba foi a Recife e firmou tratado de paz com o governador Sousa Castro: seriam livres os negros nascidos em Palmares, os outros habitantes do quilombo deveria ser entregues às autoridades. Zumbi discordou, destituiu Ganga Zumba e liderou a resistência dos Palmares.
Como o quilombo foi destruído: Ao longo de sua luta secular, Palmares foi atacado 25 vezes. As primeiras expedições foram as dos holandeses em 1644 e 1645. Em 1692, Domingos Jorge Velho, bandeirante paulista, foi contratado para atacar o quilombo. Palmares caiu em 6 de fevereiro de 1694, mas Zumbi escapou. Foi morto por André Furtado Mendonça quase dois anos depois. Sua cabeça foi exposta em praça pública “para satisfazer os ofendidos justamente queixosos e aterrorizar negros, que o julgavam imortal”.

O Guerrilheiro Negro

Zumbi, cujo nome quer dizer “deus da guerra”, era sobrinho-neto da princesa Aqualtune. Envenenou seu tio Ganga Zumba, “rei” de Palmares, e tomou o poder. Zumbi era casado com uma branca. Zumbi preferiu o suicídio à rendição: jogou-se dum penhasco para não ser capturado pelos que atacaram seu quilombo. Zumbi era homossexual. Todas as afirmativas acima estão erradas ou são improváveis.
Pouco se sabe sobre o guerreiro dos Palmares. Documentos comprovam que, de 1676 a 1695, de fato existiu um “general” negro de nome Zumbi. Ele era baixo, coxo e valente: “negro de singular valor, grande ânimo e constância rara: aos nossos serve de embaraço, aos seus de exemplo”, disse um cronista. Contrário à paz firmada por Ganga Zumba, Zumbi liderou a resistência final de Palmares. Delatado, foi morto em 20 de novembro de 1695. Sua cabeça ficou exposta na praça central de Recife, até se decompor por completo.


Fonte: História do Brasil (1996), página 80.

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