Por Jurandir Soares
Logo que assumiu o seu atual governo, Donald Trump, se arvorando dono do mundo, disse que queria tomar a Groenlândia como território dos Estados Unidos. E alegava dois fatores: segurança e recursos minerais. Falava como se a maior ilha do mundo fosse uma terra devoluta, sem povo e sem dono.
Nesta semana, foi mais longe, tendo nomeado o governador da Louisiana e defensor da ideia, Jeff Landry, como seu enviado especial para a Groenlândia, com o objetivo de discutir a anexação do território aos EUA. A medida gerou forte reação diplomática da Dinamarca. No dia seguinte, o governo dinamarquês convocou o embaixador norte-americano em Copenhague para esclarecimentos.
REAÇÃO
Esta situação revela a total desconsideração que Trump tem para com outros países, mesmo que se trate de um aliado, como é o caso da Dinamarca. Esse país faz parte tanto da Otan, a Organização do Tratado do Atlântico Norte, liderada pelos EUA, assim como da União Europeia. É um dos países que fazem parte das duas organizações e é membro fundador de ambas.
A Groenlândia, desde os primórdios, pertence à Dinamarca, porém, desde 2009, tornou-se autônoma. Tem amplos poderes sobre seus assuntos internos, incluindo governo parlamentarista próprio, mas a Dinamarca mantém responsabilidade sobre política externa, segurança e moeda. A rainha da Dinamarca segue como a chefe de Estado, sendo representada na ilha por um alto comissário.
INTERESSE
Até meados do século passado, a Groenlândia era vista apenas como uma grande ilha coberta de gelo e sem importância alguma, localizada numa região isolada do planeta. Só que, com o advento dos navios quebra-gelo, a região do Ártico passou a ser rota de navegação. E a importância da ilha cresceu ainda mais quando foram descobertos seus vastos recursos minerais, como terras raras e petróleo.
O fato de navios da Rússia e da China passarem a trafegar pela região aguçou a determinação norte-americana. O problema é a forma truculenta como Trump trata o assunto. Tudo poderia ser feito por meio de negociação e não de uma grosseira intervenção, como ocorre.
BASE
E o fator principal que induz a uma negociação é o fato de os EUA já possuírem base militar na ilha. Trata-se de Pituffik, localizada no noroeste, a cerca de 1,2 mil quilômetros do Polo Norte. Mesmo que a maioria dos cidadãos norte-americanos nunca tenha ouvido falar dela, é considerada um dos locais militares estrategicamente mais importantes do mundo.
“É literalmente o olho mais externo dos EUA”, escreveu no X Peter Ernstved Rasmussen, um analista de defesa dinamarquês. “Pituffik é onde os norte-americanos podem detectar um lançamento, calcular a trajetória e ativar seus sistemas de mísseis. É insubstituível,” concluiu. Cerca de 150 integrantes da Força Aérea e da força espacial estadunidense estão permanentemente estacionados em Pituffik. Eles lidam com defesa de mísseis e vigilância espacial e o radar de alerta antecipado, que pode detectar mísseis balísticos em seus primeiros momentos de voo.
RAZÕES
Por tudo isso, existem razões de sobra para o governo dos Estados Unidos ampliar o acordo que lhe possibilitou a instalação dessa importante base de operações. Afinal, tudo fora feito de forma harmônica, com a assinatura do tratado em 27 de abril de 1951, pelo então presidente dos EUA, Harry Truman. Aliás, um exemplo que Trump deveria seguir.
Mas não é só Trump e o governador Landry que estão se prestando a este papel. A atual missão à Groenlândia também envolveu o vice-presidente J. D. Vance, a segunda-dama Usha Vance, o conselheiro de Segurança Nacional, Mike Waltz, e o secretário de Energia, Chris Wright. Estes desembarcaram em Pituffik, onde almoçaram com oficiais estadunidenses.
Ou seja, todos referendaram o modo truculento de Trump agir, criando um conflito com um importante país aliado, quando tudo poderia se resolver pela diplomacia. Mas esta, sabidamente, não é a forma Trump de agir. Ele se consagrou no mercado imobiliário, ficou bilionário com o seu estilo de chegar metendo o pé na porta. Só que este não é o método para a diplomacia.
Correio do Povo
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